expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Amílcar Cabral - Assassinado há 47 anos, em Conacri 20-01-73 – Mas também outros seus parentes. Um sem-abrigo, em Lisboa, confessa que o conheceu “em Angola, onde ele lhe parecia como o fantasma, que aparecia e desaparecia” entre a vida profissional e as ações da clandestinidade –


Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigadorAmílcar Lopes Cabral, nasceu em Bafatá, Guiné Portuguesa, atual Guiné-Bissau, 12 de setembro de 1924 e foi assassinado  em  20 de janeiro de 1973, em Conacri, por dois membros de seu próprio partido. O combatente e herói da Guiné e Cabo Verde, que profetizara seu fim, ao afirmar: "Se alguém me há de fazer mal, é quem está aqui entre nós. Ninguém mais pode estragar o PAIGC, só nós próprios."

Um sem-abrigo, em Lisboa, nascido em Angola, mas de origem cabo-verdiana, confessa que  o conheceu em criança, em casa de seus pais, de que era parente, onde ele lhe  parecia como o fantasma, que aparecia e desaparecia” entre a vida profissional e as  ações da clandestinidade  Baltazar Gomes Monteiro,  doente e desempregado,  declara que os seus pais e uma avó, foram vitimas  do regime colonial,  por via dos laços familiares e das  relações  de convivência que tiveram com ele quando para ali foi trabalhar como agrónomo Video e pormenores mais à frente. 

Amilcar Cabral

Afinal, Amílcar Cabral, não foi a única vitima no seio da  sua própria família, ao deixar  viúva, a esposa Ana Maria de Sá, quando foi assassinado  em 20 de Janeiro de 1973,  por dois membros do seu partido, em Conacri:  o mesmo pesadelo também  colhera a vida de   alguns dos seus parentes, estes vitimas da repressão colonial,  em Angola, como represália pelos contatos clandestinos que ali estabelecera com o MPLA, fundado em Dezembro 1956, no  período dos três anos (1956-1959), em que o então engenheiro Amílcar Cabral realiza vários trabalhos na área da pedologia, a serviço de grandes companhias angolanas, onde, à semelhança do que já havia observado na Guiné-Bissau, “ teve a oportunidade conhecer de perto as condições de trabalho precárias, a exploração e os abusos por parte dos patrões, a que os trabalhadores estavam sujeitos nos campos de cultivo”.  

Conheça o drama  e as revelações do cidadão angolano, de origem Cabo- Verdiana, numa noite chuvosa e de invernia em que apelamos à linha de emergência para lhe prestar apoio social e hospitalar: que acabou por recusar: - doente, traído e desempregado, por ter sido roubado,  prefere agora mais a morte de que a vida: em ir juntar-se ao destino dos seus entes queridos, vitimas  de represálias pelos laços familiares ao falecido líder do PAIGC - Vídeo e os pormenores mais à frente.

TOMÁS MEDEIROS  - Falecido em  Setembro passado  - ACUSOU NINO VIEIRA DE TER SIDO O MANDANTE DO ASSASSINIO DE AMILCAR CABRAL - Declarou-me na breve entrevista que me concedeu na Casa Internacional de S. Tomé e Príncipe, em Maio de 2015 - Que voltei hoje a reproduzir

Tomaz Medeiros, o poeta santomense, antigo médico e general do MPLA, no período da guerrilha, acusou Nino Vieira pelo assassínio da morte de Amílcar Cabral



“Há muita lenda acerca da morte de Amílcar Cabral: Amílcar não foi morto por ser bandido ou por ser traficante de droga: Amílcar Cabral foi morto por ser um homem politico  por certas etnias que lutavam contra Amílcar Cabral – Ver entrevista completa e outros pormenores em  http://www.odisseiasnosmares.com/2015/05/


PARA TOMAZ MEDEIROS,  O ASSASSINO TEM UM NOME - Culpou-se o exército português e a PIDE, não é que vontade não falasse ao regime colonial, e, pelos vistos, até chegou a desencadear  operações nesse sentido, mas, afinal, os maiores inimigos do fundador do PAIGC, estavam no interior das suas próprias  fileiras.


Baltazar Gomes Monteiro, nascido em Angola, de origem cabo-verdiana, 12º ano, reside em Portugal desde 1991, atualmente doente e desempregado da profissão de canalizador, com  dolorosos problemas de saúde,  sofrendo de agudíssimas  dores de artrose nas pernas, que lhe causam grandes dificuldades de locomoção, pese o internamento hospitalar  de seis meses, a que foi submetido, é mais um vencido da vida: traído e roubado, por alguém que suponha ser seu amigo e da sua confiança,  sentindo-se desanimado e desorientado, não por exagero do consumo de álcool, a que não se entrega  ou por uso de drogas, a que não recorre, mas porque, com o peso das várias provações e vicissitudes,  que lhe afloram ao pensamento, lhe trazem também memórias, bem tristes do passado de que foram vitimas,  os seus pais e uma só avó, além das por que também já terá vivido





Diz  que é  parente de Amílcar Cabral, tendo os seus pais e uma avó, sido mortos pelo regime colonial, em Angola, devido aos laços de amizade e de intimidade que mantinham   com o  homem que, então aos seus olhos curiosos e perscrutadores  de criança,  lhe parecia como o fantasma, que ora aparecia ora desaparecia, naturalmente que para dissimular, a par da sua atividade profissional que exercia, o outro lado da clandestinidade que então já deveria estar a ensaiar junto do MPLA e do seu fundador Agostinho Neto.

Dona Iva, mãe de Cabral,
Juvenal Cabral, pai de Amílcar Cabral.

E, de facto,  o fundador e herói da resistência da Guiné e Cabo Verde,  quando, então, eng. Agrónomo Amílcar Lopes Cabral, nascido em Bafatá, atual Guiné-Bissau,  em 12-09-1924,  foi forçado a abandonar a Guiné, para onde havia sido contratado, em 1952,  pelo Ministério do Ultramar como adjunto dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné, por via das então já suspeitas atividades politicas, como a criação da primeira a Associação Esportiva, Recreativa e Cultural da Guiné, aberta tanto aos "assimilados" quanto aos indígenas, procedimento que desagrada ao então  Governador da colónia, Melo e Alvim, que o força  a emigrar para Angola, onde aproveita para se unir às atividades clandestinas  une-se ao MPLA.
E, realmente, a avaliar pelo seguimento das pesquisas que posteriormente vim a fazer, confirma-se que existe um apelido Monteiro na  ascendência de Amílcar Cabral, e da mesma ilha, donde a mãe de Baltazar Monteiro,  aos 18 anos emigrou para Angola.

 Iva Pinhel Évora


Estudos revelam que,
Dona Iva, mãe de Cabral, teria nascido  no sítio de São Francisco, no concelho da Praia (Santiago), a 31 de Dezembro de 1893. O pai, António Pinhel Évora nasceu na ilha de Santiago, era lavrador. Sua mãe, Maximiana Monteiro da Rocha era igualmente natural da ilha de Santiago, foi lavadeira e não sabia ler nem escrever. Ela foi baptizada na Igreja de Nossa Senhora da Graça, Praia, a 13 de Junho de 1894.

(…) Em 1922, quando tinha 29 anos de idade, ela emigrou para a Guiné, com o seu primogénito de nove meses (Ivo Carvalho Silva, nascido a 24 de Novembro de 1921) e o seu companheiro (João Carvalho Silva, que seria funcionário das finanças nessa outra colónia). Mal aportaram na Guiné, tal relação chegou ao fim. Ao que se sabe, nesse mesmo ano, Iva Pinhel Évora conheceu Juvenal Cabral, o seu futuro companheiro https://www.buala.org/pt/a-ler/quem-foi-a-mae-de-amilcar-cabral

Amílcar Cabral nasceu em Bafatá, na Guine em 1932, veio para Cabo Verde em 1943, onde completa em 1944, no Mindelo o curso Liceal e em 1945 emprega-se na Imprensa Nacional, na Praia. Em 1945 foi estudar agronomia para Lisboa,
Em 1956 fundou o PAIGC e iniciou a luta armada pela independência do país a 23 de Janeiro de 1963 com um ataque ao aquartelamento de Tite, no sul da Guiné. Em 20 de janeiro de 1973, Amílcar Cabral é assassinado em Conacri, por dois membros de seu próprio partido https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%ADlcar_Cabral.
UM SEM-ABRIGO MAIS POR UM SENTIMENTO DE DESALENTO E DESESPERO  DE TER SIDO ROUBADO E TRAÍDO DE QUE POR INDIGÊNCIA OU HABITUAÇÃO  O diálogo ocorreu, ocasionalmente, na noite fria e chuvosa  de quinta-feira passada por volta da meia-noite, na  rua  Rosa Damasceno, próximo do Mercado  de Arroios, em Lisboa: ao passar pelo local, quando ali me descolocara para ver se uma frutaria oriental, que ali existe, ainda estava aberta, e, vendo-o, com ar muito triste e pensativo, sentado numa cadeira abandonada, junto à soleira de um prédio, ao lado de um caixote do lixo, com ar tão deprimido, concentrado e desprendido, como que alheio a tudo e completamente arredado deste mundo, não resisti a perguntar-lhe a razão pela qual não procurava ao menos um local para se abrigar  da chuva: respondeu-me que não se importava que chovesse, que ia passar assim  a noite.

PREFERE MORRER COM DIGNIDADE A  MISTURAR-SE COM DROGADOS E ALCOOLIZADOS 

Recusava-se deiar-se como estes "trapos"
“Não me importo da chuva, nem do frio nem de morrer!.. Hoje já dei muitas voltas,  estou muito cansado e não posso andar!...  Estive no posto à espera da  médica e não apareceu!... Já sofri muito!... Perdi o emprego por causa da minha artrose!... Já fui operado às duas pernas, que as parti (levantando a  calça de uma delas e mostrando-me os sinais da operação); tenho-as cheias de dores!... Fui roubado e estou sem dinheiro para pagar o quarto que me dá assistência social. Ontem, arranjaram-me para ficar num dormitório, em Xabregas!... Fui lá, com muito sacrifício! mas  só vi drogados!... Não me quero misturar naquele ambiente!... Prefiro morrer num banco qualquer, de um jardim ou onde o encontrar!... Sentado ou deitado!... Não me vou juntar aos que dormem embrulhados em trapos ou papelões.

Já não me importo de nada!...  E o que é que estou cá a fazer?!... Também já  não tenho ninguém de família!.. Os meus pais morreram em Angola, assim como  a minha avó: eram da família de Amílcar Cabral; foram assassinados por suspeitarem que também eram contra o regime – Ele depois foi combatente mas também o mataram!...

 Depois de ter ido buscar alguns alimentos a minha casa e umas peças de roupa dentro de um saco para se proteger, diligenciei-lhe assistência social e médica – Pois não me pareceu que fosse o típico sem-abrigo habitual.

Triste realidade de todas as noites
Aceitou a minha oferta, e, quando lhe disse que era jornalista,  até não se importou de ser fotografado e de me contar alguns pormenores do seu passado e do seu calvário. 

Mas  depois veio a recusar o apoio  que lhe diligenciei: quer de um quarto numa pensão pelos serviços sociais de emergência, quer de uma ambulância que o podia levar ao hospital, visto mal poder andar: a humidade fria da noite, agravara-lhe a artrose, mesmo assim o único local de repouso que procurou foi o de se estender sobre um banco de madeira debaixo de umas árvores despidas de folhas na Alameda D. Afonso Henriques, ali próximo.

1957-  em Lisboa, com  meu irmão
Outro africano, dormindo ao relento
CONHEÇO BEM A REALIDADE DOS SEM-ABRIGO-  Também dormi na rua, em criança, em Lisboa, para onde fui trabalhar como menino escravo, aos 12 anos,  nas velhas mercearias em Lisboa - Pormenores em RECORDAÇÕES DO MENINO ESCRAVO.  -- 

Embora gravasse o diálogo, só lhe  fiz uma única fotografia. E a imagem que depois se me deparou era mesmo  muito triste!... Como nunca vi: de alguém mais abraçado à morte de que à vida!... Mas eu  estava ali mais para o apoiar do que para fazer da sua desgraça, uma reportagem: porque, tendo, em criança nesta cidade, dormido nos jardins ao relento ou nos saguões das escadas,  quando para aqui vim como menino-escravo nas antigas mercearias, dificilmente poderia esquecer-me do quanto é doloroso ficar completamente exposto às adversidades de uma noite de inverno:  de facto, embora existam muitos sem-abrigo a dormir embrulhados em cartões e  nos desvãos  dos prédios, este caso parecia-me ainda mais chocante!... 

Infelizmente, esta uma das imagens da grande cidade
Sim,  ao ver, um ser humano,  com razoável formação académica (12º ano )  como que mais rendido à morte de que  agarrar-se à vida ou a desejar sobreviver – E, eu, que, mesmo perdido no imenso golfo da guiné, numa frágil piroga, por tantos dias e noites a fio, nunca me resignei às tão dramáticas ameaças!

A equipa da ambulância procurou demovê-lo para ao menos se recolher num local abrigado da chuva. Alertando-o  de que, se ficasse encharcado, coma roupa que trazia no corpo, ainda ia ter mais dores!... Pois nem  assim se importou: por lá se abandonou  deitado, meio encolhido sobre a dura madeira do banco,  sim, como alguém que deseja mais morrer de que viver.

Nenhum comentário :