Jorge Trabulo
Marques – Jornalista, navegador solitário e investigador
RECORDANDO O MEU ENCONTRO, EM SÃO TOMÉ,
EM FINAIS DE 1974, COM PIERRE ANTOINE MURACCIOLI - - Um dos mais famosos e
populares cantores franceses da década, sessenta e setenta – E também um
marinheiro, aventureiro, escritor, fotógrafo e cineasta de origem corsa -
Nascido em 4 de junho de 1944 em Tomasina ( Madagáscar, então parte do império
colonial francês no qual seu pai estava trabalhando) –
Obrigado amigo pela oferta da carta
marítima do Golfo da Guiné – Foi a primeira pessoa
a saber que tencionava fazer a travessia de canoa S. Tomé à Nigéria – Foram 12
dias numa frágil piroga -Tendo partido pela calada da noite da praia Gamboa,
numa noite de um grande temporal -Repatriado para Lisboa, ao fim de 17 dias de
detenção para averiguações, por ter sido tomado como agitador, regressaria a
São Tomé, dias depois da independência, com o objetivo de concluir a escalada
do Pico Cão Grande e tentar a travessia de Ano Bom para o Brasil, que acabaria
numa penosa deriva de 38 dias até aportar na antiga Ilha de Fernando Pó, atual
Bioko, onde seria tomado por espião e enviado para a cadeia dos condenados à
morte - Graças a Deus estou vivo, o devo ao então comandante Obiang, atual
Presidente, que depois me soltou, contrariando as ordens de seu tio.
Existem três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar."...
"Existem três tipos de homens: os
vivos, os mortos e os que andam no mar."... Antoine, ambos somos amigos do
mar, ambos somos tocados pela mesma paixão. Eu tive a felicidade de ter vivido
12 anos numa das mais belas ilhas do mundo, em S. Tomé, onde aprendi a arte de
navegar nas frágeis pirogas dos pescadores, meus primeiros mestres,
precisamente na ilha onde te encontrei à beira do teu veleiro, junto ao qual me
ofereceste uma carta marítima e me destes as tuas opiniões sobre as correntes
no Golfo da Guiné, palco de várias das minhas aventuras.
Tu dizes que tiveste “a sorte de ser um
viajante e quase nunca ter parado de viajar desde então. J'ai eu la chance
d'être un voyageur et je n'ai presque jamais cessé de voyager depuis.
Nasci em um lugar muito exótico , em Tamatave, Madagascar, onde meu pai trabalhava em Obras Públicas da então chamada França Ultramarina ... não me peça lembranças de Madagascar, eu saí aos 2 ou 3 anos e não me lembro de nada ... Em 1946, minha família se mudou para Saint Pierre e Miquelon por duas estadias de quase 3 anos. Se, para lá, eu cruzar o Atlântico quatro vezes em transatlânticos, e se eu navegar modelos de veleiros nas mesmas lagoas onde patinamos no inverno , a chamada do Mar não me afeta. ainda não conseguiu! Mais pormenores em https://www.futura-sciences.com/planete/personnalites/voyage-antoine-1277/
"Nasci em um lugar muito exótico , em Tamatave, Madagascar, onde meu pai trabalhava em Obras Públicas da então chamada França Ultramarina ... não me peça lembranças de Madagascar, eu saí aos 2 ou 3 anos e não me lembro de nada ... Em 1946, minha família se mudou para Saint Pierre e Miquelon por duas estadias de quase 3 anos. Se, para lá, eu cruzar o Atlântico quatro vezes em transatlânticos, e se eu navegar modelos de veleiros nas mesmas lagoas onde patinamos no inverno , a chamada do Mar não me afeta. ainda não conseguiu! Mais pormenores em https://www.futura-sciences.com/planete/personnalites/voyage-antoine-1277/
"Antoine , nome artístico de Pierre Antoine
Muraccioli, um cantor pop
francês e também um marinheiro, aventureiro, escritor, fotógrafo e cineasta de
origem corsa, nascido em 4 de junho de 1944 em Tomasina ( Madagáscar, então parte do império colonial
francês no qual seu pai estava trabalhando. Quando criança, ele viveu em São
Pedro e Miquelon, Marselha e Camarões franceses, retornando definitivamente à
França metropolitana em 1958. Ele se formou no Lycée Champollion em Grenoble,
destacando-se em matemática avançada.
Como músico, ele fez parte de uma nova
onda de cantores e compositores franceses de meados do final da década de 1960,
comparável de alguma maneira a Bob Dylan ou Donovan, mas também evidenciando alguns dos hard rock
de garagem. estilo semelhante ao Rolling Stones, The Animals e Them, e alcançar
alguma medida do estrelato pop.
Marinheiro
Em 1969, Antoine descobriu-se a velejar por acaso, depois de alugar uma casa
na Riviera Francesa, que incluía um bote. Embora ele nunca tenha parando de
escrever e tocar, em 1974 ele também se apaixonou pelo mar e para outras
atividades.
Antoine embarcou na vida de um marinheiro e aventureiro. Ele partiu na escuna de aço de 14 metros Om, navegando sozinho 27.000 quilómetros e navegando em portos do Atlântico como Nouadhibou, Rio de Janeiro, Santa Helena, Tristão da Cunha e Caiena, até 1980. [3] [citação necessário]
De 1981 a 1989, Antoine navegou no
Atlântico e no Pacífico na saveiro de alumínio de 10 metros Voyage, e desde
1989 ele navega no catamarã de 12,5 metros, Banana Split. [3]
Antoine publicou seu primeiro livro de
suas aventuras, Globedrifter (francês: Globe Flotteur) em 1977; vários outros
se seguiram, incluindo seu livro sobre navegação à distância Setting Sail
(francês: Mettre les Voiles) [nota 1] [3] Antoine fez filmes de suas viagens e
apareceu no rádio e na televisão descrevendo suas aventuras, bem como publicou
vários livros. https://en.wikipedia.org/wiki/Antoine_(singer)
A procura do divino, a maneira de sentir ainda mais de perto a presença de Deus, contam-se, entre as várias razões, que me levaram a enfrentar a solidão dos mares.
A primeira aventura foi a travessia de São Tomé ao Príncipe. Estávamos em 1970.
Larguei à meia-noite, clandestinamente, pois sabia que, se pedisse autorização, me seria recusada, dada a perigosidade da viagem, levando comigo apenas uma rudimentar bússola para me orientar. Fui preso pela PIDE, por suspeita de me querer ir juntar ao movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, no Gabão, o que não era o caso. Levei três dias e enfrentei dois tornados. À segunda noite adormeci e voltei-me com a canoa em pleno alto mar.Esta era minúscula e vivi um verdadeiro drama para me salvar, debatendo-me como extrema dificuldade no meio do sorvedouro denegrido das águas.
Cinco anos depois, numa piroga um pouco maior, fiz a ligação de São Tomé à Nigéria. Uma vez mais parti sem dar a conhecer os meus propósitos, ao começo da noite, servindo-me apenas de uma simples bússola. Ao cabo de 12 dias chegava a uma praia ao sul deste país africano, tendo sido detido durante 17 dias por suspeita de espionagem, após o que fui repatriado para Portugal. Os jornais nigerianos destacaram em primeira página o feito.
Os objectivos destas travessias visavam demonstrar a possibilidade de antigos povos africanos terem povoado as ilhas, situadas naquele Golfo, muito antes dos nossos navegadores, ali terem chegado, contrariamente ao que defendem as teses coloniais, que dizem que as ilhas estavam completamente desabitadas - E a verdade é que, entretanto, já foram encontradas antigas cartas em arquivos, do tempo dos árabes, que provam, justamente, esses contactos com povos que, de há muito, ali viviam. Factos históricos que, de modo algum, poderão pôr em causa o mérito dos nossos arrojados marinheiros
Novembro 1975 – Algures na grande solidão do Golfo da Guiné – Esta bandeira da pátria santomense, ainda com cerca de meio ano após a independência, desfraldada num dia de calmaria, foi-me confiscada e rasgada na cadeia da morte, em Malabo, sob o tenebroso regime de Macias Nguema, na qual fui preso para ser executado por suspeita de espionagem - Quis o destino que o então jovem Obiang Nguema, atual Presidente da Guiné Equatorial, contrariando as ordens do seu tio, me libertasse no dia em que ia ser enforcado - Conhecida por Black Beach, o "buraco do inferno"
Os objectivos destas travessias visavam demonstrar a possibilidade de antigos povos africanos terem povoado as ilhas, situadas naquele Golfo, muito antes dos nossos navegadores, ali terem chegado, contrariamente ao que defendem as teses coloniais, que dizem que as ilhas estavam completamente desabitadas - E a verdade é que, entretanto, já foram encontradas antigas cartas em arquivos, do tempo dos árabes, que provam, justamente, esses contactos com povos que, de há muito, ali viviam. Factos históricos que, de modo algum, poderão pôr em causa o mérito dos nossos arrojados marinheiros
Larguei da praia
Gambôa, por volta das oito da noite: quem me conduziu ao local foi o saudoso professor
Ferreira da Silva, a quem disse que ia passar uns dias de retiro no ilhéu das
Cabras, devido às perseguições e espancamentos que estava a ser alvo por parte
de um grupo de colonos, devido aos meus artigos na revista Semana Ilustrada, que
não se conformavam com a liberdade de imprensa, instaurada pela revolução do 25
de Abril – Pois, além dos primeiros artigos, na imprensa, do massacre do Batepá,
também cheguei a dar destaque às
manifestações pró-independência.
A única pessoa
que sabia da minha intenção era a minha companheira Margarida, que também me
acompanhou na viatura do Prof Ferreira da Silva –E que, segundo mais tarde vim
a saber, além das lágrimas que verteu quando me deu o último beijo de despedida,
nessa noite ficou muito preocupada, pois também se apercebeu do violento
tornado que nessa noite se abateu sobre a cidade e aquela área e que ainda me surpreendeu
muito próximo da costa – Lá me safei com extremas dificuldades, pois os tornados
são muito mais perigosos junto a terra de que no alto mar.
DE SIMPLES PRAIA
DE PESCADORES A UMA DAS PRINCIPAIS CIDADES DA NIGÉRIA
Na altura, a
praia onde aportei, além da existência
das instalações petrolíferas, pouco mais era que uma humilde
aldeia de pescadores – Hoje, certamente, já terá dado ligar a grandes construções,
que é o que depreendo pelas imagens que pude consultar na Internet
Mesmo vila ou
cidade, Eket, que existia nas imediações, comparada com o que é hoje, parece-me muito
diferente – É referido que pertence ao estado de Akwa
Ibom, um dos 36 estados da Nigéria, com uma população de mais de 5 milhões de
pessoas e cerca de 10 milhões de pessoas em diaspora. Foi criado em 1987 do
antigo estado Cross River e é uma das principais áreas produtoras de petróleo
no país. A capital do estado é Uyo, a casa de mais de 500.000 pessoas e um
centro acadêmico proeminente Universidade de Uyo. Akwa Ibom, que tem dois grandes portos marítimos.
Ao cabo de 12
dias chegava a uma praia ao sul deste país africano, depois de ter passado uma confusa
noite, sem saber bem para onde me dirigir, numa zona com vários poços de
petróleo, em plena laboração, tendo mesmo passado a navegar por baixo da ponte
de um deles. O maior problema, porém, podia ter-me surgido quando me aproximei junto da ré de um
petroleiro, que se encontrava fundeado ao largo, supondo-se tratar-se de um
porto: mal me aproximei, fui imediatamente
repelido pelo movimento da hélice , que
se encontrava a trabalhar, possivelmente para produzir energia elétrica: a
minha sorte foi não ter sido puxado no sentido inverso, pois quando não teria
logo sido desfeito e desaparecido.
Ás tantas, vejo
um barco de cabotagem na minha direção, que deveria estar a fazer ligação entre
algum petroleiro e a terra: vendo que não se desvia desse rumo, amarrei-me a uma
cordo pronto a atirar-me o mar. Ao mesmo tempo que apontava a luz da lanterna
para o pano da vela para se afastarem de mim, Mas, uma vez mais a minha boa estrelinha,
esteve ao meu lado: o barco passou a uns escassos metros, ao ponto de ouvir
mesmo o falatório da sua tripulação mas não
me viram e o perigo lá passou.
Continuei a velejar com luzes em vários
pontos: quando amanheceu voltou a passar outro barco por mim: era um pesqueiro:
o barco abrandou a marcha e ainda me
passaram uma garrafa de água. Depois, já muito cansado por não ter dormido em
toda a noite, acabei por adormecer, tendo sido acordado com abordagem de três
pescadores, que, supondo que a canoa andasse perdida, entraram a bordo da mesma
e me ofereceram uma bebida à base de uma fermentação e, amavelmente, me ajudaram
a conduzir a canoa para a praia.
Como esta era
baixa e o mar estava um bocado picado, e sendo a proa da minha canoa mais baixa de que a deles, prenderam a canoa
deles à ré da minha e, ora progrediam ora
recuavam, com os seus remos, que me
pareceram ainda mais pontiagudos que os de S. Tomé, envergando apenas umas
simples tangas.
Quando a canoa alcançou,
já lá tinha a aldeia, talvez em peso à minha espera, pois já os humildes pescadores,
que ali viviam numas modestas cubatas, deveriam ter passado a mensagem de que
andava uma canoa à deriva à frente à sua aldeia, pelo que, quando ali embicou, supondo-me naufragado, nem sequer cheguei a
pisar o areal, tendo sido levado ao colo para junto de uma cabana, onde uma mulher
me abraçou, chorando e procurando confortar-me, supondo que fosse mais um dos náufragos
sobreviventes das muitas odisseias que eles ali já conheciam.
Como ainda tinha
várias latas de comida comigo, troquei esses mantimentos por saborosos frutos,
que gentilmente me ofereceram também – Umas duas horas depois, de carinhoso convívio,
sou então conduzido por dois jovens, que me levam numa das suas motorizadas ao
longo da praia até à sede das instalações de petróleo.
Sou recebido por
um dos chefes, um americano, que me pergunta se quero ficar a trabalhar na
refinaria, eu respondo-lhe que não é essa a minha intenção, após o que então
ordena que seja levado à esquadra da polícia
Depois de me identificarem,
pois levava comigo o passaporte português, mesmo assim, fotografaram-me em vários perfis,
e, como eu estava com a pele mal tratada pelo sol, muito queimado, supondo,
certamente, que eu precisasse de assistência médica, conduzem-me ao Immanuel Hospital, donde só tenho alta, após fazer uma greve de fome, pois eu
sentia-me bem e, apesar de estar a ser bem tratado, o que eu queria era estar
em liberdade.
Dali sou então encaminhado para a cidade de
Calabar, onde fico detido numa das celas do Departamento de Emigração para averiguações.
Mas também ali não tive razões de queixa,
sempre me forneceram alimentação e nunca me molestaram, senão o de me sentir aprisionado.
Curiosamente,
uns dias depois, entra o chefe na minha cela com um jornal na mão, que mo oferece,
com a manchete da noticia do português que tinha aportado solitário às costas
da Nigéria.
Depois de ali
ter estado uns oito dias, conduzem-me de
avião para Lagos, capital do país, donde sou repatriado para Portugal ao fim de
17 dias de permanência, com o carimbo de repatriado no passaporte.
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