Pouco passava
das 11 da manhã, quando, Manuel Pinto da Costa, acompanhado pelos seus
assessores, descia as curtas escadas da sua residência, e vinha ao meu
encontro, num dos mais belos e aprazíveis mirantes ajardinados do referido
Palácio, no qual se desfruta uma impressionante panorâmica sobre a ilha –
Cumprimentando-me, de forma afetuosa e cordial, numa saudação comum de
quem há muito não se via mas cujas boas memórias não esquecem facilmente
– Aproveitava a oportunidade para lhe fazer a entrega da camisola
do MLSTP, que me acompanhara na longa odisseia dos 38 dias à deriva numa
piroga, a mensagem que não chegara ao destino e voltava ao ponto de
partida, bem como para lhe sugerir a realização de uma regata bianual de
canoas, tripuladas por pescadores dos diversos países do Golfo da Guiné, http://canoasdomar.blogspot.com/2013/08/regata-remos-e-vela-gabao-s-tome.html assim para lhe comunicar a intenção
de vir a doar o espólio fotográfico da exposição que apresentei no Padrão dos
Descobrimentos, por ocasião da Expo98, "Sobrevier no Mar dos
Tornados e Tubarões, 38 dias à deriva numa piroga". afim de que, por seu
intermédio, fosse entregue no Museu Nacional de S. T. P.


Em meados de Outubro, pouco tempo depois da Independência e após a escalada
do Pico Cão Grande, deixaria São Tomé a bordo do pesqueiro Hornet para ser
largado numa piroga na Ilha de Ano Bom, 180 Km a sul da linha do Equador, a fim
de tentar a travessia atlântica - com uma mensagem redigida
por José Fret Lau Chong que então desempenhava as funções de ministro
da Informação, Justiça e Trabalho – cargo que ocupou entre 1975 e 1976 – a qual dizia, entre outras palavras, o
seguinte:
"A
recente independência nacional de S. Tomé e Príncipe, e a consequente
libertação do nosso povo do domínio colonial português, reforça a
afinidade dum passado histórico comum com o Povo Brasileiro, e daí, a
razão de ser de uma irmandade que importa reviver, sempre que possível,
para se reforçar.
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Não era ficção mas surpreendente
realidade: ver à minha frente o mesmo homem, com o mesmo perfil, a mesma determinação,
bonomia, o mesmo entusiasmo e seriedade, e até ainda exteriorizando uma grande juventude, que aceitara a duríssima
tarefa de conduzir os destinos do seu jovem país entregue à sua sorte, levar por diante a
pesadíssima herança
colonial, com apenas quatro licenciados, roças abandonadas, com índice
de mortalidade infantil das mais elevadas de áfrica, um único liceu
para os mais afortunados e três ou quatro escolas primárias.
Atualmente,
em São Tomé existem muitas carências, é verdade, mas não há sinais de
fome. Peixe abunda e das mais diversas espécies. Não se vêem as imagens de uma áfrica faminta. O mar é de um madrepérola
quente e acariciador a convidar os olhos e o corpo. Não faltam frutos na
floresta e aninais domésticos, desde o porco, à galinha ou ao cabrito, em
estreita simbiose e harmonia com as pessoas e o ambiente paradisíaco
envolvente.
As
instalações das roças já não são o que foram mas, afinal, o que
deram ao Povo destas Ilhas, senão escravidão e extrema pobreza.. Surgiu
uma
classe empresarial dos filhos da terra, que não existia no período
colonial,
desenvolvida e competitiva. O índice de albabatização é dos mais
elevados de África. Irradicou-se o paludismo e combateu-se de forma
significativa o aumento da mortalidade infantil. Na pequena capital,
na qual apenas os colonos tinham direito a chalés mas
onde a vida ganhou outra cor, outra alegria e prosperidade. O desenvolvimento ecómico e social, conquistou nova vida e força.
Pois, só este ano, segundo palavras do Primeiro-ministro,
cessante, Gabriel Costa, “A economia conheceu um crescimento em torno de 4
porcento que correspondem o mesmo registado nos últimos cinco anos. A taxa de
inflação conheceu uma forte contração, tendo atingido 7,1 porcento no final de
2013 contra 11,9 porcento e 10,4 porcento em 2011-2012”, afirmou.
O FACTO DE S. TOMÉ SER PEQUENO NÃO SIGNIFICA QUE
LHE SEJA IMPOSSÍVEL ASPIRAR AOS MESMOS SONHOS DOS GRANDES PAÍSES

Sem
dúvida, perfeitamente compreensível e atual explicação do Dr. Victor Correia, proferida há 39 anos
Dizia ele que,“Pelo facto de S. Tomé ser
pequeno, isto não quer dizer que vá precisar de esmolas; nós temos casos de
países pequenos que não carecem de terem um exercito, ou mantêm uma pequena força simbólica e esses países,
também pequenos, não tem Universidade. E o caso de S. Tomé, pois não poderá aspirar a ter uma Universidade. S. Tomé, após
a sua independência, estabelecerá acordos com quem entender, a fim de assegurar
todos esses aspectos que por si só n:ío poderá; acordos que poderá salvaguardar
a sua defesa, sem efectivamente ter um grande exército; acordos que poderão
assegurar a formação dos elementos de S. Tomé
mais capazes queiram prosseguir
cursos superiores".
DOAÇÃO DO ESPÓLIO DA EXPOSIÇÃO "ODISSEIAS NOS MARES DO GOLFO DA
GUINÉ", APRESENTADA NO PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS, EM LISBOA, EM 1999, AO
MUSEU NACIONAL DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Registo, em vídeo, de algumas passagens da audiência que me
fora concedia, a mim, Jorge Trabulo Marques, no dia 4 de Outubro de 2014, na qualidade de Jornalista, investigador e navegador solitário, pelo Sr.
Presidente da República de S. Tomé e Príncipe, Dr. Manuel Pinto da Costa - Durante a honrosa e gratificante audiência, que
se prolongaria por mais de duas horas, muitos foram os assuntos abordados,
desde a narrativa das minhas aventuras solitárias, em canoas, aos tempos atribulados da descolonização, até outras questões da atualidade, cuja explanação se
tornaria demasiado longa, oportunidade esta também aproveitada para a oferta de
algumas fotografias da tentativa da travessia de S. Tomé ao Brasil, que se
saldaria por 38 longos e penosos dias à deriva no Golfo da Guiné, assim como de
uma t-shirt, usada na referida odisseia marítima, com o símbolo do MLSTP, ao mesmo tempo
que lhe comunicava o desejo de doar ao
Museu Nacional de STP, o espólio da minha exposição fotográfica e documental,
inaugurada no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, por ocasião da Expo99 – Por
outro lado, aproveitei ainda para lhe apresentar um projeto de minha autoria, com
vista à organização de uma Regata de Canoas, no Golfo da Guiné, com
pescadores dos diversos países da costa africana, organizada pelo Governo
em exercício e sob a égide presidencial
REGATA A REMOS E À VELA GABÃO, S. TOMÉ, PRÍNCIPE,
BIOKO E NIGÉRIA - - RUMO ÀS ILHAS DO
CORAÇÃO DE ÁFRICA
Neste golfo, encontram-se as ilhas de: Bioko e Ano Bom (Guiné equatorial) e as Ilhas da República Democrática de S. Tomé e Príncipe - Países convidados: Libéria, Congo e Angola
Objetivo da regata com pescadores dos países do Golfo da
Guiné : demonstrar a possibilidade das canoas terem feito
ligações anteriores à colonização, entre o continente e as ilhas,
desde os tempos mais recuados, muito antes da escravatura ali
ter imposto as suas leis
Regata de Canoas do Golfo da Guiné – Com a participação:
Libéria, Costa do Marfim, Gana, Benim, Nigéria, Guiné Equatorial, S. Tomé e
Príncipe, Camarões, Gabão, Congo e Angola













8000 anos atrás, "barco
mais antigo conhecido da África" Nigéria. Canoa
foi descoberta perto da região do rio Yobe,
pelo pastor Fulani,
maio 1987, em Vila Dufuna ao escavar um poço. "Madeira quase
negra" da canoa, que dizem ser de mogno Africano, com "inteiramente de
material orgânico". Vários testes de rádio-carbono realizados em
laboratórios de universidades de renome na Europa e América indicam que a
canoa
tem mais de 8.000 anos de idade, tornando-se assim a embarcação mais
antiga na África e a
terceira mais antiga do mundo. 8000
years ago africans
invented a dufuna canoe in nigeria
A FUGA DE ESCRAVOS NAS
CANOAS – Referida por Gerhard
Seibert, numa conferência, em 2009
(tradução) …..escravos fugidos de São
Tomé ou do Príncipe, realizaram em suas canoas
pelas correntes marinhas ligações à ilha de Fernando Pó. Em 1778, o ano da transição do domínio Português ao da
Espanha, um grupo de ex-escravos de São
Tomé e Príncipe viveu no sul de Fernando Pó. (..)Após a abolição da escravatura em 1875, trabalhadores
contratados africanos fugidos respetivamente, foram frequentemente devolvidos pelas Autoridades espanholas para os seus
senhores em São Tomé e Príncipe. Outros foram simplesmente entregues aos
empregadores locais.
Um século mais tarde, em
1975, Jorge Trabulo Marques, partiu sozinho desta ilha numa canoa em uma
tentativa de atravessar a Atlântico. Em vez disso, depois de uma odisseia de 38
dias, ele desembarcou em Fernando Pó. Ele era detido e interrogado pelas
autoridades locais e depois repatriado -
Excertos de ]Equatorial Guinea's External Relations: São Tomé e ..
Realização
de uma regata bianual, envolvendo, numa primeira fase, canoas primitivas à
vela e a remos, tripuladas por 4 a seis pescadores. Inicialmente, sem caráter competitivo - Apenas por razões de evocação e demonstração
histórica - De que a fixação, dos primeiros povos nas Ilhas do Golfo da
Guiné, não fora apenas obra da colonização mas tendo início em períodos
históricos bastante anteriores, através de travessias em pirogas.
Nesta primeira demonstração, cada país participaria com quatro canoas –O apoio no mar, este conviria que fosse coadjuvado . No entanto, além da frota de apoio, mesmo nesta primeira regata de canoas, nada impediria que, veleiros ou outros barcos de recreio, se associassem, com rotas paralelas, à odisseia histórica, desportiva e festiva, conquanto não perturbassem a sua navegação



Tratando-se
de uma regata inédita, mesmo sem caráter competitivo, estamos certo
de que, uma tal expedição, poderia ser suscetível de mobilizar não
apenas a imprensa africana, como a mundial - Constituindo-se,
também, como oportunidade de debate e reflexão - Sobretudo, numa
altura em que, os países do Golfo da Guiné, se deparam com um inimigo
comum, a pirataria - Se promovem conferências e organizam comissões, ao
mais alto nível- Em evento apoiado pela ONU, países africanos buscam combater a pirataria do Golfo da Guiné .....Comissão do Golfo da Guiné preocupada com actos de pirataria...Mil marinheiros foram em 2012 vítimas da pirataria no Golfo da Guiné

Tal como escrevemos, em 11/08/2013, a
ideia não é disparatada ou impossível de concretizar - A nossa
experiência, nas várias travessias que realizámos – em canoas
solitárias, de S. Tomé ao Príncipe; S. Tomé à Nigéria; Ano Bom a Bioko
- autoriza-nos a acreditar e a colaborar para a promoção de uma
regata, envolvendo representações dos vários países do Golfo da Guiné,
com grandes laços históricos e culturais comuns.

Tal como disse, Thor Heyerdahl, no seu famoso livro Expedição Kon-Tiki, sobre a travessia numa jangada do Perú às ilhas da Polinésia, para “provar a teoria de que as ilhas dos mares do sul foram povoadas por gente do Perú, “ sim dizendo que “é mais fácil demonstrar o interesse dos outros com uma expedição de com um manuscrito que ninguém lé” – Acrescentaríamos, de que com mil conferências que apenas servem para cumprir meros protocolos.
ÉPOCA DO GRAVANITO - TEMPO DE MAIOR ACALMIA E MENOS VENTOSO E SEM O PERIGO DOS TORNADOS

A época das
chuvas estende-se quase por 9 meses e é caracterizada por uma enorme
instabilidade e turbulência nas ilhas e nos mares do Golfo da Guiné - Daí
sugerir-se nem neste período, nem no da Gravana (altura em que, embora não havendo ameaças de tornados, em que
os ventos alísios do sul, sopram regularmente com um dos braços
da corrente de Benguela, que vai perder-se a Norte do Golfo, ao mesmo
tempo que outro braço se estende pela linha do equador, todavia com forte ondulação - mas a do chamadp gravanito - ou seja, Dezembro ou Janeiro.
A
ÁFRICA CONTA COM OS MELHORES RECORDES MUNDIAIS DE ATLETISMO - POR QUE
NÃO HÁ-DE CONTAR COM OS MELHORES REMADORES E VELEJADORES, SENDO A PIROGA
A EMBARCAÇÃO MAIS PRIMITIVA? - Já temos quem esteja encetando
diligências junto de alguns países africanos.
Com rumo determinado e sempre a navegar, dia e noite, tempo provável para dez a doze dias
Gabão (Porto Gentil) a S. Tomé (Baía Ana Chaves) - Sem interrupções à vela ou a remos na falta de vento - 3 a 4 dias - Com uma paragem de três dias em cada acostagem - Com visitas guiadas, festivais de folclore e gastronomia.
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