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segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Guiné Equatorial – Ilha de Bioko 04-12-1975 Libertado de ser condenado à forca da tenebrosa prisão Playa Negra, a Blak Beach, antiga Ilha de Fernão do Pó, descoberta por navegadores portugueses, sec. XV –Tomado por espião, quando ali aportei após 38 dias à deriva numa piroga - Bem-haja Presidente Obiang pelo seu corajoso gesto, ao contrariar as ordens de execução do seu tio o então Presidente Francisco Macias

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo navegador solitário em pirogas de S. Tomé-  E líder da 1ª escalada ao Pico Cão Grande 

Graças a Deus estou vivo e o devo ao humanismo e à compreensão do então Comandante Obiang, atual Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que, no dia em que ia ser executado, me chamou ao seu gabinete, quando, pouco depois de sair acorrentado da minha estreita e nauseabunda cela, um inesperado telefonema, soando no corredor, ordenou ao Comissário da cadeia, que seguia a liderar a minha execução com dois guardas, fosse levado à sua presença.



Guiné Equatorial - 42 anos depois - De regresso ao País onde me senti tranquilo e feliz


Sem se pretender entrar em pormenores, que  dão páginas de história, todas as ilhas  permaneceram em mãos portuguesas até Março de 1778. "Depois do Tratado de Santo Ildefonso (1777) e do Tratado de El Pardo (1778), as ilhas de Ano Bom e Fernando Pó,  foram cedidas a Espanha, em troca de territórios localizados na América do Sul, que haveriam de demarcar o Brasil que hoje é.


"Durante o chamado "reinado do terror", o ditador macias Francisco Macías Nguema liderou quase um genocídio  (...) Nos últimos anos de seu governo,  a Guiné Equatorial, chegou mesmo a ser conhecida como a "Auschwitz da África"
"Guineans believed their first president had supernatural powers. Using the knowledge of witchcraft he inherited from his sorcerer father, President Francisco Macias Nguema built a huge collection of human skulls at his homestead to beat his subjects to submission" In FRANCISCO MACIAS NGUEMAThe mad man from Equatorial

 

Em 3 de agosto de 1979, 
seu sobrinho, Teodoro Obiang Nguema derrubou Francisco Macías Nguema e assumiu o poder na Guiné Equatorial. Sua ação, aplaudida pelos guineenses e pela comunidade internacional, foi totalmente justificada: o país estava em um beco sem saída, esmagado pela tirania brutal imposta por seu primeiro presidente, eleito democraticamente onze anos atrás, quando aquela nação da África Central conquistou sua independência da Espanha, em 12 de outubro de 1968”. - Webe - Várias fontes. - Foi graças à sua intervenção que fui poupado da forca e libertado - Devo-lhe a vida.








Gracias Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo! Gracias Embajador Tito Mba Ada - Que Dios bendiga para el progreso y el bienestar del Pueblo de Guinea Ecuatorial - Pela oportunidade que me deram de voltar a um país, bem diferente daquele que eu conhecera há 42 anos, oprimido pelo despotismo e pelo terror extremamente pobre - Sendo agora a Nação mais próspera, maravilhosa e tranquila, entre as nações do grande continente africano - Andei por onde quis, sozinho ou acompanhado; ninguém me molestou, só encontrei sorrisos e gestos de amabilidade e simpatia - Dias inesquecíveis que vão perdurar para o resto da minha vida - Sim, o sonho foi além da imaginação - Agora já Deus me pode levar quando quiser - 



No regime de Francisco Macias Nguema 

Fui preso nas masmorras do Odiondo regime de Francisco Macias Nguema  
 – Ele “era conhecido por ordenar a execução de famílias e aldeias inteiras, forçou dezenas de milhares de cidadãos a fugir com medo de perseguição e proteger sua segurança pessoal. Intelectuais e profissionais qualificados eram um alvo específico (…)No final de seu governo, quase toda a classe educada do país foi executada ou forçada ao exílio, Entre os métodos de tortura utilizados estavam . "O balanço" (amarre o prisioneiro pelos pés e mantenha-o pendurado enquanto é espancado, Dada a brutalidade desses métodos, muitos prisioneiros morreram sofrendo com eles. Grande parte dos mortos durante a ditadura de Macías passou pela prisão”(…)  A ilha de Fernando Pó, renomeada como "Isla Macías Nguema".

Diário de Bordo  - 27 de
Nov - 1975 - 38º Dia - Eis que, finalmente, depois de 38 dias, me encontro numa praia!... Junto a um recanto!... de ummagnífica montanha! De verdura!... Equatorial!... De plantas exóticas ! das mais variadas espécies!.... Foi extremamente difícil chegar até aqui!... Foi para além mesmo da minha resistência!... Mas finalmente , atingi esta costa!... Esta costa que  se ergue aqui numa montanha de verdura!... De magníficas árvores, das mais variadas cores!...

 Estas foram as últimas palavras que pronunciei para o meu diário gravado, um pequeno gravador que consegui preservar no interior de um contentor de plástico, igual aos do lixo. assim como a máquina fotográfica , cujos rolos  o mar poupou mas que bem podiam ter sido confiscados pelas autoridades policiais da Guiné Equatorial, o que não aconteceu, porventura por descuido, já que, quando me prenderam, além de terem passado tudo a pente fino, até as gravações chegaram a ouvir, de ponta a ponta - E eram seis as  cassetes. 




Mal me arrastava de fraqueza mas sentia-me como se estivesse a viver as aventuras de um inesperado
 Robinson Crusoe - E, mesmo ainda hoje, não sei se sentiria vontade de sair dali tão cedo. Porém, quando me apercebi de que havia um carreiro, muito batido, que ali desembocava e que poderia ser sinal de que a praia não era totalmente selvagem (de resto, pouco depois do nascer do sol e antes de a abordar, já ali tinha visto, na pequena língua do negro areal, um homem à cata de ovos de tartaruga) pelo que não tive outro remédio senão seguir aquele mesmo careiro, que me levaria a uma finca  - à sede de uma plantação de cacau.  Tal facto, ia-me custando a vida. Tomado por espião e depois de ter passado a primeira noite nos calabouços de uma esquadra, fui transferido algemado para ser encarcerado na então tenebrosa prisão de Black Beach, em Punta Fernando.



Revivo por instantes os terríveis e maravilhosos momentos vividos. E começo a chorar de intensa comoção. As lágrimas mourejam-me nos olhos e perdem-se pela face e pela barba, enegrecida e  queimada pelo sol ardente equatorial  e as desgastantes maresias

É então que sinto o meu coração ficar simultaneamente aliviado e me dou conta que estou finalmente salvo. Sim, já não tenho a menor dúvida: o momento, tão ansiosamente esperado, havia chegado. Sinto-me bem disposto, posso tranquilizar-me à vontade. E aspirar, com todos os meus pulmões, este hálito benfazejo e perfumado da floresta, deste fascinante rincão  de natureza plena de frescura, viscosidade e de mistério.  

E sorrio, sorrio, doido de contente, como que animado por um selvagem alegria, deambulando de um lado para o outro desta frondosa praia, sorrindo e gesticulando a cada instante, sorrindo sempre, ingénua e inocentemente, tal qual o sorriso de uma criança, quando a mãe lhe oferece um lindo brinquedo, ao sentir-me presenteado por esta maravilhosa e abençoada terra, que se me oferece como um verdadeiro paraíso perdido do resto do mundo, como se por vontade sobrenatural, depois de tantos tormentos, me fosse oferecido  como seu único possuidor e mandatário.


Lisboa - Julho 2022
Estive em Malabo e em Bata, em Julho de 2017, no Congresso VI Congresso do Partido Democrático da Guiné Equatorial, para lhe testemunhar publicamente a minha gratidão, mas, agora, pude fazê-lo com um caloroso aperto de mãos

Embaixador Tito Mba Ada
Obrigado, uma vez mais, também à cortesia do diplomataTito Mba Ada,  Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Guiné Equatorial em Portugal, por ocasião da celebração do 40º Aniversário do Golpe da Liberdade, a quem fico a dever a cortesia deste encontro e da viagem ao seu maravilhoso país, em 2017

Sim, de modo algum  posso esquecer o gesto magnânimo e humanista, do então jovem Tenente-Coronel, que, quatro anos antes libertar o seu país do despotismo de seu tio, Francisco Macias, me mandou libertar da cadeia e do caminho para a execução, por alegada suspeição de espionagem, quando ali aportei numa frágil piroga, após 38 dias de tormentoso calvário



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