Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador
Apresentação do estudo de Paul Charles Lepierre, químico e professor
universitário de origem francesa que se distinguiu no estudo e caracterização
físico-química das águas minerais e minero-medicinais de Portugal. Delegado
do Governo Português na Exposição Internacional de Paris. Professor do
Instituto Superior Técnico de Lisboa; preparador e chefe de trabalhos
do Laboratório de Microbiologia da Universidade de Coimbra; professor de
Química da Escola Industrial de Coimbra, cidade onde viveu 20
anos - Mais pormenores nos dois linkes PCL – Paul Charles Lepierre | Núcleo de Arquivo….The institute of coimbra and the chemical analysis of
mineral waters
Charles Lepierre |
“Apresenta uma côr acastanhado escura; tem o aspecto e cheiro dos oleos mineraes empregados para a lubrificação. II Densidade a 15° - O, 945;
Debaixo. do ponto de vista petroleo convem pois pesquizar afim de ver se não
apparece producto mais volátil, por meio de sondagem, o que é provavel.
d) Mas sob o ponto de vista
oleo mineral, para lubrificação ou outras applícaçõos (combustível, vernizes,
etc.) o producto bruto (purificado por
filtração conveniente ou por um
tratamento · pelo acido sulfurico, seguido de lavagem) poderá encontrar bom
emprego." - Continua mais à frente
AFINAL, HÁ MAIS DE UM SÉCULO,
JÁ SE SABIA QUE O PETRÓLEO JORRAVA EM TERRA, TAL COMO O NASCENTE DE UMA FONTE –
MAS ATÉ HOJE AINDA CONTINUA SEM SER EXPLORADO
1963 |
2014 |
2014 |
Um
eclipse solar, no dia 29 de Maio de 1919, à Roça Sundy, na ilha do Príncipe, fez deslocar o
astrónomo inglês, Arthur Eddington, a fim de provar que Einstein estava certo.
Agora é Mark Shuttleworth,
o milionário sul-africano, o primeiro homem africano que viajou para o Espaço,
a deixar-se fascinar pelos encantos desta ilha, com empreendimento turístico
de vulto.
E então, em São Tomé, quantos não foram os homens da ciência, que aqui não chegaran?... Astrónomos, botânicos, agrónomos, geólogos, professores, doutores e sacerdotes , gente culta dos mais
diversos saberes - Mas agora eu vou apenas citar Gago Coutinho, porque o seu nome até
ficou associado a um Ilhéu, é indissociável desta ilha, nomeadamente quando se viaja a caminho do sul, ao encontro do Ilhéu
das Rolas.
Trata-se, com efeito, da primeira análise química sobre a existência de petróleo em S. Tomé, com a data de 1912 – Que eu saiba, pese o facto de não terem faltado promessas de exploração do petróleo, em S. Tomé e Príncipe, o documento, a que e refiro, praticamente, permancia ignorado - O que tem vindo a lume, de volta e meia, são as já habituais noticias de concessões de blocos, avanços e recuos de pesquisas, polémicas e especulações; não se tem falado de outra coisa.
Porém, o nome da figura, que aqui hoje me
traz, é o do eminente Charles Lepierre, autor da primeira
analise das pesquisas do petróleo em S. Tomé, um dos mais reputados químicos: - Ele
também esteve nestas maravilhosas ilhas, e, curiosamente, na mesma altura em que
também por ali andava Léon Paul de Choffat, vulto incontornável na Geologia de
Portugal
Trata-se, com efeito, da primeira análise química sobre a existência de petróleo em S. Tomé, com a data de 1912 – Que eu saiba, pese o facto de não terem faltado promessas de exploração do petróleo, em S. Tomé e Príncipe, o documento, a que e refiro, praticamente, permancia ignorado - O que tem vindo a lume, de volta e meia, são as já habituais noticias de concessões de blocos, avanços e recuos de pesquisas, polémicas e especulações; não se tem falado de outra coisa.
Pois, mas o estudo que aqui venho hoje divulgar, o
único risco que poderá incorrer é o do,seu extremo rigor científico: - que poderá não ser acessível a todos os leitores – Mesmo assim, vou transcrevê-lo na íntegra, com a mesma ortografia da época - Embora sendo apologista de que (se as línguas
evoluem) e reconheça a necessidade de se adaptarem a acordos ou regras à sua evolução, sim, mas para que nada se perca, vou reproduzi-lo, tal como ele foi publicado na Revista
de Chimica Pura e Applicada, em Abril de 1812, depois de ser apresentado na sua
comunicação à Sociedade de
Chimica Portugueza, na sessão de 12 de Março Scientifica de 22 de Março de 1912
COMMUNICAÇÕES
Analyse dum oleo mineral em
São Thomé
Prof. Charles Lepierre:
1. Tive, ha tempos, ensejo de
proceder á analyse dum oleo mineral africano. E' o resumo das minhas
informações que apresento e que constituem apenas uma modesta contribuição para
o estudo dos productos portuguêses ;
Segundo as informações colhidas
o dito oleo nasce á beira-mar na freguezia da Guadalupa, Ilha de S. Thomé. O
eminente geologo Paul Choffat não tinha conhecimento desta formação.
Apresenta uma côr acastanhado
escura; tem o aspecto e cheiro dos oleos mineraes empregados para a
lubrificação. II Densidade a 15° - O, 945;
Viscosidade relativa, referida
aos-primeiros productos distilados, 52.
III Distillação fraccionada. -
O producto bruto, secco, submettido á distiliação fraccionada, só começou a
ferver á temperatura de 180°. . ·
De 180° até 250°, apenas distilou o, 75 por
100cc, isto é, menos de 1%.
Continuando-se methodicamente a dístillação verifica-se, como consta do quadro
que segue, que até 300cc, passou, ao todo, 12,75% do oleo submetido á operação.
De 300° até cêrca de 350°,
distillou mais 31,75 º/ou, seja ao todo 12,75 + 31,75=44,50%
Ficou na retorta um resíduo
espesso preto, fluido a quente, cujo volume representava 55%50 do producto
total, seja mais de metade. É um breu.
Mhetodos seguidos
A densidade de cada fracção
subiu de 180° até 350°, quasi sem alteração, a não ser acima de 340° onde houve
já um pouco de pyrogenação.
V. A viscosidade, determinada
cm cada uma das fracções, tambem subiu gradualmente.
Tomei por unidade de
viscosidade à viscosidade dos primeiros· termos da distillação, que são os menos
viscosos.
Conclusão
VI. a). Do exame dos numeros precedentes e do estudo: dos quadros que seguem resulta
nitidamente que o producto examinado tem todos os caracteres dum oleo mineral
b) Tal como nos foi apresentado contem apenas
12,75% de producto petrolífero, isto é susceptivel de dar um bom petroleo iluminante. Com efeito o petroleo bem rectificado
dístilla entre 150 e· 300°. Ora o nosso oleo examinado, até 250° dá apenas
menos de 1 º/o de producto e até 300° passou ao todo 12, 75% d'oleo. ·
Como estas fracções correspondem ás ultimas partes dos petroleos
iluminantes, o petroleo assim obtido não seria de boa qualidade. É demasiado
viscoso para isso.
·
C} Debaixo. do ponto de vista petroteo
convem pois pesquizar afim de ver se não
apparece producto mais volátil, por meio de sondagem, o que é provavel.
d) Mas sob o ponto de vista
oleo mineral, para lubrificação ou outras applícaçõos (combustível, vernizes,
etc.) o producto bruto (purificado por
filtração conveniente ou por um
tratamento · pelo acido sulfurico, seguido de lavagem) poderá encontrar bom
emprego.
A viscosidade, por meio dum apparelho que
improvisei e que era essencialmente constituido por uma galheta, com torneira
de vidro
de 10ºcc. O tempo avaliado em minutos e segundos, que o liquido leva por
escoar é directamente proporcional á viscosidade, e como o volume, a
temperatura, e a· orifício de escoamento
eram constantes obtém-se assim determinações precisas do valor relativo da viscosidade
- que era o nosso caso.
O índice de refracção foi
determinado a 15° com o excelente apparelho de Féry, que dá immediatamente e por
simples leitura o índice com 4 decimaes
em relação á dupla-risca amarella do sedio
o foi determinado a 15° com o excelente
apparelho de Féry, que dá immediatamente
e por simples leitura o índice com 4 decimaes
em relação á dupla-risca amarella do sedio.
VIII.· O pequeno quadro seguinte
prova bem que o producto estudado entra no grupo dos oleos rnineraes, de que
tem as constantes geraes
Ebulição Densidade índice refractometrico
Ethér de petróleo, gazolina ….30º-70º…………0,650…………………..
1,37
Benzina ele petróleo………… …..70
-150º………07 a 0,75……………. -
Petroleo iluminante…………….. 150-300º--------0.780
a 0,820………1,45
Oleos mineraes………………………300-350º………………
»0.840…………1,48-1,50
Vaselinas, paraffínas, etc
.....fusão 35º-75º
Era interesante, tratando-se
dum producto africano, aproveitar a ocasião para uma pequena contribuição para
o conhecimento chimico dos jazigos
petrolíferos.
É sabido que os petroleos americanos são
constituídos por hydro-carbonctos C n H 2 n+2; acyclicos, ao passo que
os petroleos europeus (Cáucaso, Galicia, Rumania, etc.) são formados. Por hydro-carbonetos
Cn H2n os naphtenos, isomeros das
olefinas, mas differentes destas por serem hydrocarbonetos saturados como o demonstrou
pela primeira vez o meu Mestre Schutzenberger.
São hydrocarbonetos cyclicos,
que se podem considerar· como hexahydretos dos hydrocarbonetos benzénicos:
Por exemplo:
C.6 H6+ 3H2 = C6 H12
C7 H8 + 3H2 = C7 H14
Nesta ordem d'ídeas verifiquei
que, contrariamente ás olefinas, os productos distillados do oleo que estudei
não fixam sensívelmente bramio (sobretudo em solução sulfocarbonica) (1);
Tambem não fixam o acido sulfuríco
concentrado· e quente. Não são atacados pelo permanganato de potassio em solução concentrada e misturado
com !{OH concentrada. · ..
Appliquei também o methodo de Ríche
e Halphen (t) que serviu para distinguir
os petroleos russos dos petroleos americanos, methodo baseado na differença de
solubilidade, numa mistura em volumes eguaes de chloroformio e d'alcool a 93° G. L., que as diversas·
fracções da distillação, com densidade e
egual apresentação , pelo facto de serem constituídos por hydrocarbonetos de
series differentes.
Os numeros que constam do
quadro N.1 demostram que se trata de oleos
análogos aos oleos europeus, visto ter a solubilidade destes, solubilidade que é muito
maior que a dos petroleos americanos.
D'ahi conclue-se nitidamente, sob o ponto de·
vista chlmíco, que os óleos mineraes
africanos (S. Thomé) apresentam um conjunto de caracteres que me leva a aproxima-los
dos petróleos europeus e a afasta-los dos produtos petroliferos do continente americano.
Talvez estes factos tenham
algum interesse para a geologia geral e para a· formação dos jazigos petrolíferos.
para o conhecimento dos quaes esta nota é uma pequena· contribuição-
· (1)Empregando o bromio, dírectamente, ha desenvolvimento de ·H Br em virtude da formação de derivados de substituição, como verifiquei.
·
Lisboa, 22 de Fevereiro de 1912
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