Misericórdia,
o novo livro de Lídia Jorge sobre a imortalidade da esperança, nasceu como uma
"encomenda" de sua mãe nos últimos meses de vida. Mas, como a autora
conta nesta entrevista, do jogo entre o testemunho e a ficção nasce uma
reflexão sobre a condição humana em tempos incertos.
Questionada pelo DN, de como é que lhe surgiu o livro Misericórdia, que, antes de mais, se distingue
dos seus livros anteriores por ser protagonizada por uma mulher idosa, de
caráter muito forte, residente num lar? -
Tem uma raiz muito
próxima. A Maria Alberta, que é a personagem que atravessa este livro, é inspirada
numa figura real, concreta e que foi a minha mãe. Foi ela que me pediu que
escrevesse um livro chamado Misericórdia, foi falando disso ao longo
do tempo em que esteve no lar, mas fê-lo, em particular, no último dia em que
eu a vi e que nós não sabíamos que ia ser a última vez. Creio que não tomei a
sério esse pedido até ela ter desaparecido e eu sentir que esta era uma
encomenda irrecusável. A partir daí, interiorizei que tinha de encontrar o
caminho para o cumprir. Claro que esta é uma outra realidade, como acontece na
construção de qualquer obra de ficção. É-me muito difícil deslindar a realidade
que a minha mãe viveu do mundo ficcional que criei. Há uma zona de transfusão
entre a experiência vivida e a experiência sonhada que é difícil de dissociar. https://www.dn.pt/cultura/lidia-jorgea-imortalidade-da-esperanca-15368934.html
O percurso da
escritora Lídia Jorge, é sobejamente conhecido e as suas distinções – Tenho
tido a oportunidade e o prazer de o conhecer, desde aqueles já recuados dias e a de
a ter como amiga, tal como o seu marido, o jornalista Carlos Albino,.
Já lá vão uns anos sobre
o seu primeiro romance, O Dia dos Prodígios, 1980, a que se seguiram outras
obras, como O cais das Merendas, em 1982,
Noticia da Cidade Silvestre, em 1984,
A Costa dos Murmúrios (1988), A Última Dona (1992) O Jardim sem Limites (1995), O Vale da Paixão (1998). O Vento Assobiando
nas Gruas (2002). Combateremos a Sombra, publicado em Portugal em 2007, A Noite
das Mulheres Cantoras (2011). Os Memoráveis, publicado em 2014
. Em 2022, a escritora publicou Misericórdia, uma reflexão sobre a humanidade e uma homenagem à sua mãe, Maria dos Remédios, falecida durante a pandemia de Covid-19. Embora tendo escrito poesia desde muito jovem só em 2019 publica o seu primeiro livro, O Livro das Tréguas. Lídia Jorge publicou antologias de contos, Marido e Outros Contos (1997), O Belo Adormecido (2003), e Praça de Londres (2008), para além das edições separadas de A Instrumentalina (1992) e O Conto do Nadador (1992). Em 2016 publicou O Amor em Lobito Bay. Em 2020, com o título de Em Todos os Sentidos, reuniu as crónicas que leu, ao longo de um ano, aos microfones da Rádio Pública, Antena 2.
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