A Revista LUSITANO DE ZURIQUE, dedica-me um artigo que muito me sensibilizou - Na sua edição, Nº 320, Ano XXXI de Janeiro de 2025, a revista Lusitano de Zurique, do Centro Lusitano de Zurique, a revista mais antiga da comunidade portuguesa na Suíça., que completou o seu 30º aniversário no passado mês de Novembro, a Informar e Aculturar, sob a direção de Maria dos Santos, dedica-me um artigo, que o seu Editor-Adjunto, Manuel Araújo, publicou a respeito de algumas das minhas experiências e andanças da vida, designadamente da minha carreira jornalística e das minhas aventuras em pirogas no Golfo da Guiné, através de um contacto telefónico, que tivemos o prazer de estabelecer, e que tenho muito gosto em transcrever, bem como a 1ª página das duas últimas edições de 2024, Nov e Dezembro, sendo a de Nov referente ao seu 30º aniversário, ao qual aproveito para desejar que a revista perdure por muitos e felizes anos, a bem do nome de Portugal e da nossa comunidade emigrante .
Porém, antes
disso, confesso que nem sei como lhe manifestar a minha sincera gratidão, pela
bondade do seu gesto dedicado e generoso, que muito me sensibilizou e que
depois vou também sublinhar na transcrição nos meus dois blogues, aludindo
também à importância desta tão interessante como distinta publicação, com um
leque de prestigiados colaboradores - Em https://canoasdomar.blogspot.com
.... https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/.../poeta...
No diálogo inicial que tive o prazer de ter com Manuel Araújo, falei-lhe de V.N de Foz Côa, que é o concelho a que pertence a minha aldeia, Chãs, mas, tendo voado com o pensamento para as mais dispares experiências da minha vida, não lhe cheguei a referir o nome de Chãs, que é realmente o torrão sagrado que me vou nascer.
Mas, também é certo, que, enquanto o nome de Chãs aparece associado a outras terras, o nome de Vila Nova de Foz Côa, é só um - Bem-haja, Caro Manuel , que é também o nome do meu saudoso pai, por se ter lembrado de mim e de modo tão honroso e singular.
Celebração do Equinócio da Primavera - Uma das celebrações que organizo nos calendários pré-históricos da minha aldeia, desde há mais de 20 anos
De seguida o artigo com alguns pormenores e imagens que tomo a liberdade de juntar
VESTÍGIOS ÁRABES DESAFIAM A HISTÓRIA
Nascido em Foz Côa, terra mundialmente conhecida pelas suas pinturas rupestres paleolíticas - um testemunho pétreo de ancestralidade e arte pré-histórica - Jorge Trabulo Marques carrega consigo uma história de sobrevivência que desafia os limites da experiência humana. Mais do que um homem, é um exemplo vivo de resistência: navegador solitário, jornalista destemido e narrador de histórias que reflectem a complexidade de uma geração marcada pela guerra colonial e pela transformação política. A sua vida é um mosaico de aventuras extraordinárias - da sobrevivência no mar aos bastidores jornalísticos - que se entrelaçam numa narrativa de coragem, esperança e uma indomável vontade de viver.
Conversar com Jorge Trabulo Marques, mesmo ao telefone, é como viajar no tempo. A memória e a emoção entrelaçam-se, criando narrativas, tão vividas quanto as que enfrentou. Aos 80 anos, a sua voz é enérgica, de quem navegou contra tempestades, reais e simbólicas. Sobreviveu a um naufrágio, a perseguições e a injustiças. Agora é um contador de histórias singulares
CARREIRA JORNALÍSTICA
A carreira de Marques incluiu vários momentos singulares de confronto e registo documental. Entre eles, uma entrevista com o poeta José Carlos Ary dos Santos ilustra a sua capacidade de manter o profissionalismo em circunstâncias adversas.
Em Lisboa, na Costa do Castelo, Marques dirigiu-se à residência do poeta para uma entrevista de rotina. O encontro rapidamente se transformou numa situação constrangedora: Ary dos Santos, vestido apenas com um roupão, fez-lhe uma proposta inadequada.
Confrontado com a porta trancada e uma cadeira bloqueando a saída, Marques manteve a compostura. Concluiu a entrevista e posteriormente publicou o texto no jornal "Tal & Qual" e no seu blogue pessoal. https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/.../ary-dos...
CONTRADIZENDO A HISTÓRIA
Em 1973, durante um estágio jornalístico em São Tomé, Marques descobriu vestígios que desafiariam narrativas históricas estabelecidas. Um punhal árabe e uma espada antiga ofereciam evidência material de povoamentos anteriores à chegada europeia. Estes artefactos sugeriam rotas comerciais e presenças culturais ignoradas pelos registos tradicionais, questionando a linearidade do discurso colonial.
(1) Um
pequeno reparo a este parágrafo do texto, que teve a gentileza de me enviar
para o rever, antes de o editar, mas então não me apercebi . A descoberta de
uma espada e a de um punhal, que se supõe ser de origem árabe, sucedeu, mais
tarde, quando ali voltei após a prolongada ausência, em Agosto de 2015, ou seja
no ano seguinte a 2014, 39 e 40 anos depois). https://canoasdomar.blogspot.com/.../presidente-da...
.. https://canoasdomar.blogspot.com/.../ministro-da-educacao...
... https://canoasdomar.blogspot.com/.../descobrimentos-de-s...
(Desembarquei em S. Tomé, em Nov de 1963, para um estágio do Curso de Agente Rural, da Escola Agrícola, de Santo Tirso.
Tive que
abandonar a Ilha em Março de 1975, numa canoa, para a a Nigéria - Viagem que
previa fazer mas que fui forçado antecipar, devido às agressivas perseguições
que alguns colonos me estavam a fazer por via dos meus artigos, na revista
angolana Semana Ilustrada, de que era correspondente, em que dava voz à
liberdade da Independência e dos massacres do Batepá e que não lhes agradavam
que divulgasse)
RESISTÊNCIA
Jorge defrontou de perto os horrores da guerra e da descolonização em África. Em 1975, a história parecia condená-lo. Após um naufrágio na costa africana, foi preso por espionagem e condenado à morte. Porém, numa reviravolta digna de ficção, um telefonema presidencial salvou-o do corredor da execução. Dias depois, seria expulso do país. Mas, antes, queria reafirmar que a liberdade é um direito pelo qual vale a pena lutar.
DESAFIOS
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NO Golfo da Guiné, onde Jorge sobreviveu por 38 dias numa piroga improvisada, é palco de algumas das suas histórias mais impressionantes. Ele enfrentou tubarões, tempestades e a fome numa batalha contra os elementos que moldou não apenas a sua vida, mas também a sua visão do mundo. "Não há palavras para descrever o que é a fome no mar”, escrevia ele no seu blogue, canoasdomar.
SOBREVIVÊNCIA
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Apesar das tribulações em terra, foi no mar que Jorge enfrentou as mais duras provas de resistência. Em travessias solitárias, a bordo de uma canoa esculpida em tronco de árvore, desafiou as forças da natureza. Numa das viagens mais extenuantes, enfrentou fome e sede que testaram os limites do corpo e da mente. Os dias no oceano eram longos, as noites intermináveis. Quando a chuva não caía, Jorge era obrigado a improvisar: "Cheguei a beber água do mar. Eu sabia que era perigoso, mas era isso ou esperar pela chuva que podia não vir. Naquele momento, cada gota contava como vida”. Quando chovia, recolhia água em bidões improvisados. Lutava para manter a canoa estável no meio às ondas traiçoeiras.
A fome era um tormento constante. Quando os mantimentos acabaram, recorria a estratégias de sobrevivência quase sobre-humanas: mascava pedaços de madeira para enganar O estômago vazio e capturava peixes voadores à mão, agarrando-os no ar quando saltavam-sobre a embarcação. "O mar é belo, mas também cruel”, dizia Jorge. "Ele não perdoa fraquezas.”
Os tubarões eram presença constante. Enormes e ameaçadores, rodeavam a canoa e, por vezes, tentavam virá-la. Com uma mistura de coragem e instinto de sobrevivência, enfrentava-os com uma catana: "Eu tinha que os afastar de noite. Era terrível. Ou eu os combatia, ou não estaria aqui hoje.”
A ameaça dos
tubarões parecia interminável, mas o pior foi uma tempestade inesperada. O
vento castigava, e as ondas altas invadiam a canoa. Em meio ao desespero, usou
um bidão vazio como âncora flutuante para estabilizar a embarcação. "O mar
não me queria ali, mas eu tinha que continuar. Agarrei-me aos mastros e lutei.
Nesses momentos, descobri forças que nem sabia que tinha.” https://canoasdomar.blogspot.com/.../perdido-no-golfo-27...
PESSOAL
A vida amorosa de Jorge não ficou atrás em termos de peripécias. Durante cinco anos, envolveu-se numa perseguição romântica a uma mulher que conheceu enquanto realizava um inquérito para a Rádio Comercial. Esta relação, que se estendeu por vários locais, incluindo hotéis de luzo e a idílica Praia das Maças, acabou de forma dramática quando a mulher simulou uma gravidez. Este episódio teve consequências significativas na vida pessoal de Jorge, levando a perder a oportunidade de se casar com outra pessoa que ele descreve como “uma rapariga muito interessante até com algumas possibilidades”.
MEMÓRIA E ESPERANÇA
Hoje. Jorge Trabulo Marques, nas suas águas-furtadas em Lisboa, vive entre a memória a expectativa. Enquanto não ruma ao sossego da sua terra natal, a Vila Nova de Foz Côa, dedica-se a preservar a memória dessas aventuras e reflexões. Prepara a edição das suas memórias em livro, transformando décadas de experiências em narrativa.
Mais do que um sobrevivente, Jorge é um narrador do impossível. Alguém que transformou a adversidade em poesia, o medo em histórias que transcendem gerações. Nas suas páginas por escrever, os tubarões do Golfo da Guiné, os bastidores jornalísticos e as tempestades da vida ganharão nova vida.
Nas suas
águas furtadas, entre livros e memórias, Jorge continua a navegação mais
importante; a de contar a verdade.
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