Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Escritor Vergílio Ferreira – Nasceu neste dia há 109 anos, em Melo, Gouveia . Entrevista, aos 67 anos à RDP-Rádio Comercial - Além de outras que me concedeu , o autor da Manhã Submersa, Aparição, Alegria Breve, Espaço do Invisível, Cântico Final, Para Sempre, Até ao Fim –Entre muitas outras obras em romance, conto, ensaio e diário.
Faleceu a 1 de março de 1996, em Fontanelas, o seu lugar de refúgio para a escrita, entre a Serra de Sintra e o mar da Praia da Aguda.
Recordando um dos maiores vultos da literatura portuguesa, que me deu a honra e o prazer de me receber, várias vezes em sua casa e de me conceder várias entrevistas, cujos registos ainda conservo -
CONSTO NUMA DAS PÁGINAS DO SEU DIÁRIO "Há dias a RDP passou-me à porta e um jovem subiu com uns aparelhos. Que é que pensava da carga que já me pesava?Ora. Que era uma «conta calada» e tão calada que já apelava em mim para o silêncio. Ouço o apelo e aqui me fico" In Conta-corrente Janeiro 1982 " - Este foi o dia do principio de várias visitas a sua casa e de uma fraternal amizade
Às 15 horas do dia 28 de Janeiro, sexta-feira, de 1916, em Melo, concelho de Gouveia, nasce Virgílio António Ferreira, filho de António Augusto Ferreira e Josefa Ferreira.
ESQUECE...
"Esquece. Esquece a amargura, os atropelos, o cansaço. E as maledicências, as traições, os rancores. Esquece o trabalho que te traz em alvoroço e os fracassos de uma vida inteira e os projectos falhados
para antes de começarem a ser projectos. E as invejas, as insidias como dentes por entre o sorriso. Esquece. E sê contente e respira." PENSAR V.F
Mas eu não posso esquecer-me de um homem inteligente, sensível e de um bom amigo
Sim, não posso esquecer-me, neste dia, em que, por várias vezes o visitei e lhe dei os parabéns no dia do seu aniversário A essa figura ímpar da nossa literatura – Do homem beirão, que nunca perdeu aquele sotaque das suas raízes – Embora, com a maior parte da sua vida, afastado da sua terra natal - vivida em Évora e em Lisboa - salvo aqueles dias de refúgio em Fontanelas, onde acabaria por falecer.
FALEI COM VIRGÍLIO NA SEMANA EM QUE MORREU -
Uns dias depois de ter falado com ele ao telefone, confessando-me que estava a escrever mais uns livros, que dificilmente os iria concluir, porque, sentia-se já com os pés no Paraíso, pelo que, qualquer dia, ia dar o badagaio.
Disse-me, mais tarde a esposa, que morreu depois do lanche da tarde: quando ela voltou à sala, estava já ele estendido no chão, voltado para o tecto, não tendo sequer exprimido um ai. Foi o que se pode dizer a morte suave que ele esperava, sem o maçar muito e causar maçadas - Uma morte santa, se é que a morte tem esse carácter: ali, próximo da sua janela, donde tantas vezes havia espreitado sol e contemplava o cair da chuva, ouvia o ruído da passarada e o rumor dos pinheiros. - De palavra fluente, erudita, profunda e atrativa. Mesmo quando o acusavam – nos seus diários – de algum filete. Dizia-me, que, nos seus romances, a sua preocupação não era contar histórias mas dar pinceladas de vidas. "Histórias era no tempo da minha avó" - Pois bem, mas era lá que ele ia buscar a seiva mais profunda e genuína
Vergílio Ferreira nasceu em Melo do concelho de Gouveia na Beira Alta, a meio da tarde do dia 28 de Janeiro de 1916. Se fosse vivo, faria hoje, 109 anos. Mas morreu aos 80. Foi dos autores portugueses - através da leitura do livro Manhã Submersa - que mais cedo despertou a minha curiosidade e com o qual viria a manter um relacionamento amistoso, desde o principio da década de 80, até a escassos dias antes da sua morte - Já que, nessa mesma semana, lhe tinha telefonado para o ir visitar a Fontanelas, onde acabaria por falecer.
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