Jorge Trabulo Marques
O dia 17 de janeiro de 1471, ou seja, há 554, é a data oficialmente inscrita pela histórica colonial, como sendo o dia em que, esta Ilha foi descoberta pelos navegadores portugueses, sob a orientação de Pero Escobar, 27 dias depois, de, em 21 de dezembro de 1470, João de Santarém, ter acostado a S. Tomé.
"Ignora-se, no entanto, ao certo a data do descobrimento da ilhas de São Tomé e Príncipe e o nome dos seus descobridores. Julga-se, porém, que devem ter sido descobertas pelos anos de 1471-1472, quando da viagem de João de Santarém e Pedro Escobar às costas da Mina, de Benim e do Gabão, aí enviados por Fernão Gomes que obtivera, em 1469, do Rei D. Afonso V o arrendamento do comércio da Guiné, por cinco anos, sendo uma das condições o descobrimento de novas terras. Pedro de Sintra atingira, entre os anos de 146o-1463, o bosque de Santa Maria, avanço máximo dos portugueses até aquela data. João de Barros (Ásia. Década I, Liv.II, cap.II) associa a esta viagem o nome de Soeiro da Costa"
"Começou por se chamar de Santo Antão. A designação do Príncipe ligou-se primeiro a D. João, filho primogénito de D. Afonso V, o futuro D. João II. D. Afonso V foi o primeiro filho mais velho dos réis que se chamou Príncipe"
"A Ilha de São Tomé começou a ser povoada em 1486 pelos colonos de João de Paiva, aos quais o Rei D. João II, concedera privilégios, no ano anterior; porém a era da sua prosperidade começou em 1493, quando foi criada a capitania da ilha e dada a Álvaro de Caminha"
Depois de ter realizado uma viagem costeira, desde a Baía Ana de Chaves (onde se situa a cidade), até à praia onde se encontra o padrão que assinala a chegada dos primeiros navegadores portugueses, precisamente na véspera do dia em se iniciavam as comemorações dos 500 anos da descoberta das ilhas (experiência que serviria também de teste para outras viagens mais arrojadas), parti então para a primeira aventura, que foi a travessia de São Tomé ao Príncipe.
Larguei à meia-noite, clandestinamente, pois sabia que, se pedisse autorização, me seria recusada, dada a perigosidade da viagem, levando comigo apenas uma rudimentar bússola para me orientar.
Fui preso pela PIDE, por suspeita de me querer ir juntar ao movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, no Gabão, o que não era o caso. Levei três dias e enfrentei dois tornados. À segunda noite adormeci e voltei-me com a canoa em pleno alto mar. Esta era minúscula e vivi um verdadeiro drama
Apesar das dúvidas suscitadas por alguns historiadores, quanto à data exata da descoberta das Ilhas de S. Tomé e Príncipe, tem-se admitido que Ilha de São Tomé foi descoberta, no reinado de D. Afonso V, em 21 de dezembro de 1470, que recebeu o nome do apóstolo S. Tomé, e, quase um mês depois, em 17 de Janeiro, deparavam com nova ilha, a que, inicialmente, deram o nome de Santo Antão, dia consagrado a este apóstolo.
Seja como for, foi há mais de V séculos e meio, que, ambas as ilhas do Golfo da Guiné, S. Tomé, Ano Bom, Príncipe e Fernando Pó, atual ilha de Bioko, todas descobertas por navegadores portugueses, passaram a ter ligações com o continente europeu e se iniciou uma nova fase na história das civilizações. .
Embora não constem registos de ocupação humana nas ilhas de São Tomé e Príncipe anteriores a 1470, defendo, no entanto, a possibilidade de as ilhas terem sido alcançadas, anteriormente, por povos da costa africana, por meios primitivos, à semelhança do povoamento das Ilhas do Pacifico , tendo-o demonstrado nas várias travessias que efetuei, em pirogas, entre as ilhas e o continente
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Com o inicio da colonização no final do século 15, já com D. João II, liderada por Álvaro Caminha, que ali introduziu engenhos de açúcar no sistema de capitanias, viria a ser rebatizada da Ilha do Príncipe, em homenagem ao futuro rei D. João III.
Os donatários das ilhas e vassalos do rei levaram grupos de povoadores constituídos por filhos de judeus, artificies, alguns fidalgos, degredados e escravos negros, importados do continente africano, os únicos que conseguiam adaptar-se ao clima equatorial, húmido e quente. As doenças tropicais dizimaram grande parte dos primeiros colonos.
Desde 1995, a Ilha do Príncipe é uma região autônoma. A capital é Santo Antônio, fundada em 1502. Em 1753, foi elevada à condição de cidade e tornou-se a capital da antiga colônia portuguesa até 1852, quando retornaria para S. Tomé . Hoje, a Ilha do Príncipe, com uma área de 143Km2, abriga uma grande reserva natural.
FASCINIO MARÍTIMO E PELA NAVEGÃO DAS CANOAS
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Pouco tempo após ter desembarcado em S. Tomé, em 1963, a bordo do paquete Uíge, fiquei logo com a impressão de que as ilhas, eram possuidoras de um passado muito mais antigo daquele que vinha sendo descrito e preconizado - Naturalmente, sem com isto pretender deixar de admirar a coragem dos bravos navegadores portugueses, que, partindo, em frágeis caravelas de um pequeno pais, atravessaram longos oceanos, deram a conhecer à civilização europeia, mares e terras desconhecidas
Aos povos africanos, situados no litoral e a sul de São Tomé, não teria sido difícil aproveitar a direção dos ventos e das correntes.- Pormenores mais desenvolvidos desta minha teoria em https://canoasdomar.blogspot.com/2011/12/sao-tome-e-principe-ilhas-asben-e-sanam.html onde explano a possibilidade das canoas da costa africana, terem alcançado as Ilhas do Golfo da Guiné, através de meios primitivos, tal como sucedeu no povoamento das Ilhas do pacifico
(construção da ca
noa Yoan Gato - que usei na minha última viagem) - Defendo, pois, a teoria de que os primeiros povoadores, aqueles que, pela primeira vez, aportaram nas suas baías, foram os hábeis navegadores das canoas, vindos da costa africana.
Em Novembro de 2014, 39 anos depois, voltei ao local, acompanhado pelos Jornalistas santomenses, Adilson Castro e João Soares, para erguer as duas bandeiras: a de STP e a Portuguesa, agora ambos p
Alcancei Anambô, na noite do dia 20 de Dezembro de 1969, no incio das comemorações dos 500 anos da descoberta de STP - Pernoitei lá, embrulhado em ramos de palmeiras e sob o ataque constante de enormes caranguejos, que não me deixaram pregar olho - A notícia, mereceu destaque no Jornal a Voz de S. Tomé – Porém, o mesmo não mereceria, quando, um mês depois, parti da mesma baía, à meia-noite, na minúscula piroga, disfarçado de pescador, fazia a travessia à Ilha do Príncipe – Tendo sido preso e espancado pela PIDE-DGS
Era a minha primeira travessia: mais tarde, faria a ligação de S. Tomé à Nigéria, em 13 dias, e, após a independência, a tentativa oceânica, que resultaria numa odisseias de 38 dias, de Ano Bom a Bioko, antiga ilha de Fernando Pó
Uma coisa são é o domínio colonial, outra as navegações marítimas – Há, pois que realçar a coragem dos marinheiros lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam completamente às cegas, porém, embora dispondo de alguma informação, iam à aventura! - Indubitavelmente, foram grandes navegadores aventureiros
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Do alto das velhas muralhas do Fortim de São Jerónimo, onde tantas vezes olhava a espuma que ali ia rebentar nas rochas negras e contemplava o mar ao largo, sim, muitas vezes ali me envolvi em prolongadas cogitações. E só via o mar... Só pensava, obsessivamente, nas distâncias e nas entranhas do mar.!.. Olhava-o com pasmo e respeito, mas queria sentir-me também parte dele! Ser mais um elemento do mítico e misterioso oceano! Ir por ali a fora numa das ágeis pirogas.! Desvendar segredos esquecidos no tempo!
Oh, e quantas vezes ali mesmo, não experimentei as estreitíssimas cascas de noz, navegando em frente ou embicando na areia da pequena praia ao lado, naqueles meus habituais treinos, ao Domingo, vindo da Praia Lagarto (ao fundo da descida a caminho do aeroporto), passando em frente da Baía Ana Chaves, Fortaleza de São Sebastião, costa da marginal, Praia Pequena e ponta do Forte de São Jerónimo -e, por vezes, ainda um pouco mais a sul, à Praia do Pantufo.
São Jerónimo era geralmente a baliza de chegada e de retorno ... E, também, muitas vezes ao fim da tarde e pela noite adentro, era o meu local preferido (até por ficar um pouco isolado e retirado da cidade) para me familiarizar profundamente com o mar.
Lembrava-me das façanhas dos pescadores são-tomenses, dos seus antepassados que demandaram as ilhas, dos barcos negreiros que ali aportaram e também dos nossos marinheiros (antes desse vil mercado) que por aquelas águas navegaram; imaginava quantos naufrágios e sofrimentos aqueles mares, já não teriam causado.
Sabia dos muitos perigos que me podiam esperar - não os desdenhava! - mas entregava-me ao oceano de coração aberto, possuído de uma enorme paixão, em demanda dos grandes espaços e de uma infinita liberdade, tal qual as aves migradoras! Olhava-o como se fosse já meu familiar e meu amigo. Embora sabendo que a sua face, quando acometida de irascível crueldade, havia sido palco de muitas tragédias, havia engolido muitos barcos e tragado muitas vidas. Contudo, eu não ia ali apenas movido pelo prazer da aventura: só por isso, não sei se compensaria... Mas orientado por razões mais fortes
Havia algo, no fundo de mim, impelido como que por um pendor sobrenatural inexplicável que me fazia acreditar que, mesmo que apanhasse alguns sustos, tal como já havia acontecido em anteriores viagens, lá haveria de sobreviver e de me safar!.
O mar também é generoso quando quer ... A sorte protege os audazes e acreditava que o mar haveria de compreender os objetivos pelos quais que norteava o meu espírito e a minha temeridade.
"O contributo dos Portugueses para uma nova visão do Mundo e da Natureza é essencialmente informativo e empírico (baseado nos sentidos). Como escreveu Pedro Nunes: “os descobrimentos de costas, ilhas e terras firmes não se fizeram indo a acertar…” Pois os nossos marinheiros: “…levavam cartas muito particularmente rumadas e não já as que os antigos levavam"
LEVADOS PELO ESPÍRITO DE AVENTURA, PELO INSTINTO MIGRADOR DAS AVES - que partilhavam a mesma alegria e abundância da Mãe-Natureza, pelo acaso ou por outras razões que a razão desconhece e só Neptuno poderia interpretar, sim, ao Mar se fizeram nas suas pirogas e por lá se fixaram nas suas majestosas Ilhas a que aportaram.
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