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segunda-feira, 20 de abril de 2020

JOÃO VILLARET - Poema Inédito A Sua Mãe - Naquele fim de tarde dolorida foi a minha mãe à fonte!..E viu estrelas projetadas na água adormecida!..

Jorge Trabulo Marques - Jornalista  - C    Video ilustrado  com imagens de mães portuguesas e santomenses

Ator, declamador e encenador – Nele a gordura não era mera espessura mas  notável  empatia, génio, sedução   e formosura. Sem dúvida, uma das mais carismáticas figuras portuguesas do cinema e do teatro declamado, em comédias,  revistas e nos filmes em que participava, mas, inigualável,  especialmente,     na arte de dizer poesia  Com récitas, tanto em Portugal, como nas ex-colónias, Espanha, Brasil e Argentina

Gravação do poema, que aqui recordo, foi-me foi oferecida pelo autor do poema – Meu saudoso amigo, Monsenhor Moreira das Neves – Na mesma cassete, figura também o registo declamado do belo poema "Natal! - Nas pesquisas, que me foi possível  efetuar,  não vi que houvesse  qualquer outro resisto gravado ou escrito com a letra deste poema


De seu nome  completo 
João Henrique Pereira Villaret nasceu a 10 de maio de 1913, em Lisboa, cidade no dia  e faleceu, ao  48 anos, no dia   21 de Janeiro de 1961 - . "Depois de ter terminado o Liceu, dedicou-se ao teatro, tendo estado ligado à revitalização do teatro nacional. Gradualmente, ganhou fama de declamador pelo que causou algum escândalo quando decidiu, em 1941, enveredar pelo teatro de revista, provando em êxitos sucessivos que era possível conciliar o género dramático e o de revista- Excerto de https://www.infopedia.pt/$joao-villaret





A memória de João Vilaret, ficou associada ao    Teatro Villaret e na toponímia de  escolas e a ruas – O auge da sua fama, surgiu com o aparecimento da televisão, nos anos 50, em Portugal, onde o ator passou a assinar um programa semanal  com o seu nome, que lhe granjeou  um vasto e fiel auditório, através do qual contribuiu  para incentivar  e  popularizar o gosto pela poesia e ao mesmo tempo dar a conhecer e   muitos dos nossos  poetas, que,por via do analfabetismo, então reinante, escapavam ao conhecimento geral, tal como, Fernando Pessoa e Miguel Torga, que na altura apenas eram conhecidos nos grupos literários, e de lhes dar projeção   ao lado de Camões, José Régio, António Botto, Augusto Gil, entre outros. 

Carlos Villaret, irmão de João Villaret, tocava magnificamente, pelo que, o seu talento, era muito admirado e solicitado – Além de lhe servir de apoio musical, acompanhando-o nas calorosas declamações, sim, quer nos espetáculos do teatro, quer depois quando surgiu a televisão, nos anos 50, quando passou assinar um programa semanal com o seu nome., tinha lugar cativo no salão do Hotel Avenida Palace, na época o melhor hotel da cidade , onde dava largas à sua criatividade e ao fulgor das suas extraordinárias capacidades artísticas, com um reportório diversificado, quer no domínio das improvisações, quer nos temas clássicos mais em vogas, nacionais ou estrangeiros. - Um extraordinário pianista, que infundia simpatia e simplicidade e de quem hoje não se fala, optando-se por lembrar apenas o maestro António Melo - 




João Villaret desafiou o modo como se dizia poesia
Fez todos os géneros de teatro e apresentou os grandes poetas ao grande público através da televisão Nas provas de admissão para o Conservatório, João Villaret recitou dois vilancetes e um soneto de Camões. "Recitei-os como eu os sentia e, no fim, o mestre, que era professor conceituado da casa, olhou-me com severidade e disse: O menino tem boa voz, mas os versos não se dizem assim, mas como se fossem prosa. E eu, muito pespinete, nervoso e irritado, respondi: Então porque é que são versos? E o mestre: O menino é insolente mas inteligente, está admitido."

De sue nome  completo João Henrique Pereira Villaret nasceu a 10 de maio de 1913, há precisamente 100 anos, na sua casa da rua da Boavista, nº 60, 2º andar, em Lisboa. Filho de um médico, numa família onde todos apreciavam as artes em geral e a música em particular. Em pequeno, João mostrou-se interessado pelo bailado e pelo teatro. Aos dez anos, adoeceu e teve de fazer um longo período de repouso que o engordou bastante. O excesso de peso impediu que se dedicasse ao bailado, mas a representação continuava ao seu alcance. Do teatro amador passou para o Conservatório e daí para o Nacional. Sem grandes complicações, como ele recordava: "Estreei-me na peça Leonor Teles. A minha história da entrada no teatro não teve complicações. Foi a de um rapaz que quis seguir carreira de ator, entrou para o Conservatório e um dia estreou. Parece impossível mas foi assim mesmo, tão simples." https://www.dn.pt/artes/teatro/joao-villaret-desafiou-o-modo-como-se-dizia-poesia-3211960.html

 De seguida passo a transcrever a  letra do poema, que aqui edito em video e que  tive de passar palavra  por palavra, visto o não ter encontrado na Internet a  cópia da letra do do original, não sabendo, por esse facto,  qual a forma poética que teria dado às suas palavras, correndo até o risco de, eventualmente, não aperceber de alguma palavra.


Naquele fim de tarde  dolorida
foi a minha mãe à fonte!..
E viu  estrelas projetadas
na água adormecida!..

E levantava-se a lua
atrás das terras!...

E sentia brancura nas ruínas
e ao longo das estradas!
Como que desfolhando no ar
um ramo de  magnolias divinas!
E açucenas magoadas!...

Minha mãe!..
Ia a lavar a boca à fonte pura!
Para deixar nela a sede que afligia!...

Foi três vezes que lhe ouvi:
Avé maria!...

Assim estremunhou!...
Num sobressalto!...

A rezarem por cima!
 Estava a noite! 
 Meia de nuvens!
Virginal e calma!

O silêncio rasava  no céu alto!..
Abria os sonhos de oiro em cada alma!

Voltou a casa, minha mãe!...
E, enquanto ela rasgava
o fogo na varanda,
um craveiro florido
e rescendente!...
Perguntei-lhe,
entre triste e comovido!..

Piedosamente!...

 Donde vens!?...
Que não vens
como costume!...

As lágrimas pedradas nos teus olhos!
 Não são iguais a lágrimas nenhumas!...

Iluminam as casa!
E dão às vezes a sensação de estrelas despegadas
Nas mãos de Deus abertas de repente
às  nossas mãos cansadas!...

Responde minha mãe!...

É que meu filho!...
Fui à fonte além!...
E, quando me verguei para beber!...
Se lembrou-se-me  de ti o coração!..

Então!...

Vi estrelas do céu!
No fundo da água!
Sem limos nem histórias!...

E já não quis beber!..
E não bebi!...

Recolhi as estrelas
nos meus olhos!..

E trouxe-as para ti!...




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