Segundo é referido por João Godim, “entre os passageiros estavam quatro
portugueses, três deles oriundos da Madeira, que iam para a emigração:
Manuel Domingos Fernandes Coelho, solteiro, de 21 anos, natural da Ponta
do Sol; José Neto Jardim, casado, de 21 anos, natural do Lombo das Laranjeiras,
Calheta; e Manuel Gonçalves Estanislau, de 38 aos, natural da Ladeira e
Lamaceiros, Calheta; viajavam na terceira classe e embarcaram em Southampton
com destino a Nova Iorque. Na segunda classe, viajava José Joaquim de Brito, 32
anos, natural do Continente, que tinha como destino destino final São Paulo, no
Brasil. Uma tragédia que "matou" quatro portugueses. - excerto deTragédia do Titanic…
"matou" quatro portugueses - r
O Titanic media 270 metros de comprimento, 53 de altura e um peso de quase 50.000 toneladas, capaz de navegar a uma velocidade máxima de 22,5 nós, a cerca de 25 quilómetros por hora. Foi capitaneado por Edward Smith, um experiente marinheiro da White Star que já havia pilotado o Olympic, um navio similar ao Titanic.
A viagem inaugural foi no dia 10 de Abril onde partiu de Southampton, em Inglaterra, rumo a Nova Iorque. Quatro dias depois, perto da ilha de Terra Nova, no C
SÓ QUEM CONHECE NOS OLHOS O TERROR DA VIOLÊNCIA DO MAR OU O SUFOCO E A AFRONTA DAS ÁGUAS SALGADAS, NA GARGANTA, PODERÁ AVALIAR QUÃO DUROS SÃO OS MOMENTOS DÉ AGONIA OU DE INCERTEZA
Passei por essa terrível experiência, na minha travessia, a bordo de uma minúscula e frágil piroga de S. Tomé à Ilha do Príncipe, na noite em que , ao adormecer a canoa me precipitou na amalgama de uma rodopiante negra massa líquida.
Posteriormente fiz outras aventuras, de S. Tomé à Nigéria, em 12 dias, - E, ainda nesse mesmo ano, a tentativa da travessia da Ilha de Ano Bom ao Brasil, junto à qual fui largado de um pesqueiro americano, que me conduzira, desde S. Tomé até às suas proximidades, para apanhar a grande corrente equatorial. e que acabaria por se saldar em 38 longos dias, grande parte dos quais ao sabor das correntes e dos ventos.
Tratando-se da época das chuvas, altura em que se registam as grandes tempestades, deu-se o facto do pesqueiro, por duas vezes, ter sido assolado por violentos temporais. Face a tais ocorrências, o comandante do Barco chamou-me à câmara do comando e convidou-me a trabalhar a bordo e abandonar a canoa: tendo recusado, não tive outra alternativa senão de ser descido, por um dos guindastes, com a canoa para o mar,
Só que, no ponto onde fui largado, quer os ventos como as correntes, em vez de me levarem para a Oeste, puxavam-me para Norte. Vendo que já havia canoas que se aproximavam de mim para se apoderarem do meus mantimentos, nao tive outra alternativa, senão navegar nessa direção, com vista a regressar a S. Tomé e tentar a travessia noutra oportunidade, sob pena de ser roubado, dadas as extremas carências que então ali se observavam, naquela que então era a ilha mais abandonado do mundo, com apenas uma ligação anual com o resto da Guiné Equatorial,
Então sob o reinado de terror de Francisco Macias Nguema, que chegou a tecer elogios públicos a Hitler, forçando a fuga de um terço da .população, tendo sido apeado através de um golpe de Estado, em 3 de Agosto de 1979, pelo sobrinho Teodoro Obiang, atual do presidente, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo,
Ano-Bom, uma pequena ilha e província da Guiné Equatorial, localizada no Atlântico Sul, a 350 km da costa oeste do continente africano e 180 km a sudoeste da ilha de São Tomé (São Tomé e Príncipe - A ilha constitui a pequena Província de Annobón, uma das sete províncias da Guiné Equatorial. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ano-Bom
Nesse medo dia, e em plena noite, as condições climatéricas agravaram-se: um tornado, vindo do sul, fez-me alijar da maior parte dos alimentos e água potável, perder o remo principal e um leme, que lhe havia adaptado, além de outros objectos, deixando-me a canoa,praticamente desgovernado .Na manhã seguinte, improvisei um remo, com pedaços da cobertura e de um barrote, mesmo assim, era-me extremamente difícil navegar
O que então se passou, desde aquela horrível noite, é inimaginável para quem nunca tenha vivido tão difícil provação - Parcialmente já foi descrito neste site, através dos registos que pude fazer para um gravador e de várias fotografias, graças a um contentor de plástico onde pude salvaguardar o diário gravado e os registos fotográficos.
Dia 34º - Deitado no fundo da canoa...Não tenho comida... Sinto uma grande dureza no estômago - Este o titulo da postagem, que pode ser lida, com a indicação de outros linkes em Dia 34º - Deitado no fundo da canoa...Não tenho comida... Sinto uma grande dureza no estômago
Então sob o reinado de terror de Francisco Macias Nguema – da independência, em 1968, a sua derrubada, em 1979, que forçou a fuga de um terço da .população e ficou conhecido de maneira polêmica por ter elogiado publicamente a figura de Adolf Hitler, que, o golpe de Estado em Guiné Equatorial uem 3 de agosto de 1979, logorou afastar pelo sobrinho, atual do presidente, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo,
A fraqueza é imensa e deixa-me bastante debilitado. Tenho-me mantido num profundo silêncio - Foi um dos dias em que não meti nada à boca e falei muito pouco para o meu gravador.
Somente ao fim da tarde, tive a coragem de abrir o meu baú (um contentor de plástico do lixo), onde o preservo da violência do mar e senti vontade de dizer algumas palavras. Remeti-me a um profundo e resignado mutismo: sem lágrimas mas também sem nenhuma alegria. Sem desespero mas possuído de uma enorme angustia a perturbar-me a alma. Com o sentimento de um enorme desconforto, em todos os aspetos: sem poder dormir, cheio de fome e no meio de um mar bravio, fortemente batido pelas vagas.
Perdida nas brumas do tempo e das trevas...
Longe vai a noite centenária e impiedosa, sombria e mortal da tragédi
Edward J. Smith
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Perdida nas brumas do tempo e das
trevas...
Longe vai a noite centenária e impiedosa, sombria e
mortal da tragédia!
Que atormentou e sepultou o mais luxuoso navio do mundo
Que atormentou e sepultou o mais luxuoso navio do mundo
- o lendário Titanic.
No seu percurso inaugural de Inglaterra à
América.
A quatro dias de viagem, em águas calmas do Atlântico,
muito afastadas do Ártico,
mas subitamente transformadas em
aragens de afrontosas ameaças e de arrepio!
Semeadas
por flutuantes e perigosos icebergues,
cujo
brilho azulado a noite ofusca sob límpido mas negro céu.
Em
latitudes onde a Primavera tarda, é fria
e
tem, da cor da fuligem, o sinistro véu!
- Porém, eu, náufrago, sobrevivente
em atribulados mares de outras paragens,
por natural associação às longas horas
que por mim foram vividas,
ainda diviso, debaixo da treva e do assombro da ímpia noite sideral
o perfil do luxuoso e imponente navio
que, sulcando o mar em imprudente marcha veloz, vai embater e raspar
- Porém, eu, náufrago, sobrevivente
em atribulados mares de outras paragens,
por natural associação às longas horas
que por mim foram vividas,
ainda diviso, debaixo da treva e do assombro da ímpia noite sideral
o perfil do luxuoso e imponente navio
que, sulcando o mar em imprudente marcha veloz, vai embater e raspar
nas
gélidas arestas de enorme bloco de gelo,
sofre duro rombo a estibordo, e, desamparado,
sofre duro rombo a estibordo, e, desamparado,
perde-se
para sempre e naufraga!
-
Consequência de monstruoso temporal, casuais fatalidades ou flagelos
inevitáveis?!..
Oh,
não, nada o salvará!... Os caprichos do destino são
incontornáveis,
porém,
mais graves e propensas serão ainda as ameaças,
quando,
às adversidades, ao incerto e obscuro,
se
junta a negligência, a vaidade e a insensatez!
Pelo
telégrafo surgem avisos e alarmes vários
a
que não se dá crédito. Aumenta-se até a velocidade
para
se apressar e festejar a chegada -.
Às
23h40, do dia 14 de Abril de 1912, com o navio a navegar
a
640 km dos Grandes Bancos da Terra Nova, "os vigias do mastro,
Frederick Fleet
e Reginald Lee,
avistaram um iceberg bem em frente do navio".
Quando
o sino de alerta do alto toca três vezes a rebate, já é tarde!.
-
Por isso, haverá maior culpado que a mente humana
quando
despreza e descura
as
hostis e adversas forças da Natura?!..
Vivendo
a incerteza e angústia, ainda não sarada, daqueles meus longos e penosos
dias,
cujo
lastro tenho bem presente na alma ferida por longas e
tormentosas noites de vigílias,
vejo-vos
e ouço-vos, corações atormentados! Escuto os ais e os gritos
aflitos,
as
desolações que se afundam! - Nitidamente descortino,
no
tropel confuso da tragédia humana que vos enlutou,
e,
sob a capa da mais gélida e sideral atmosfera,
o
imenso poço que vos submergiu e afundou!
Ouço os vossos soluços e claramente vos revejo e situo ó almas perdidas!
Ouço os vossos soluços e claramente vos revejo e situo ó almas perdidas!
Através
da luz sombria que ficou memorizada nos meus olhos,
das
muitas imagens que a minha retina em desvairadas tempestades fixou,
ainda
consigo descobrir, já engalfinhada por mãos de terríveis
sacrilégios,
a
majestosa e iluminada esfinge que vos transportava,
agora
enxague e ferida por um dos enormes escolhos vítreos
que
boiavam soltos, que tragicamente a romperam e traíram
e
que não tardará a desvanecer-se...
-
Qual sopro de vela que flutua acesa e depois se afunda e apaga
ao
surgimento dos indiscifráveis mistérios
que,
a rompê-los ou a desvendá-los - Em redor
não
há claridade alguma. Não se enxerga nada.
-
O mar é a imensa planície escura mas tranquila.
A
noite é gélida mas aparentemente pacífica e calma.
Os
habituais ventos que sopram em noites frias e aziagas,
parece
terem-se apaziguado ou feito algumas tréguas - Não uivam!
Não
há nevoeiros compactos, coalhados de densa maresia, que se enfiam
pelas
narinas, têm o sabor do sal, toldam ainda mais a vista e quase sufocam.
Quem
espreitar pelas vigias, não descobrirá os brumosos novelos que lembram
fantasmas,
as
leitosas névoas ensanguentadas que ofuscam o sol poente ou antecedem as noites
de agoiro,
o
tumulto das tempestuosas marés que tudo envolvem e arrastam.
O
céu está descoberto e estrelado! Não há sinais
de
cerrados tectos ou sinistras e fúnebres abóbadas!
Haverá,
no entanto, sortilégios, esconjuros e temíveis perigos
de
que há noticia mas que se negligenciam e ignoram.UU
As eternas constelações aparentemente fixas,
fazem o seu giro no firmamento. O sol ilumina outros cantos da Terra
e, quem vai no interior do faustoso paquete, espera que, no dia seguinte,
volte acordar sob a grande luz cósmica - Esta volte a raiar do fundo das águas!
- O céu é escuro mas não espesso. Prevalece, contudo, o brilho rutilante das estrelas,
que, por tão longínquas, vão manter-se indiferentes e alheias ao drama e ao infortúnio
do mais tenebroso caleidoscópio, que, a horas nocturnas e malditas, caladas e surdas,
vai desenrolar-se sob a frieza do mais inesperado e horrível presságio - Em cenário
desolador e árido, que ondula rumorejante, quase silencioso, mas escuro e gelado!
Eu, que sozinho voguei sob noites equatoriais povoadas de assombro e trevas
e habituei meus olhos e meu instinto
a ver o que as sombras e nevoeiros nocturnos ocultam ou encobrem,
mesmo à distância do espaço e do tempo,
claramente ainda diviso o pronúncio sinistro das mais trágicas horas de luto!...
Distingo o perfil inconfundível de esbelto e moderno navio - O seu vulto!
Através dele o casco e as linhas aprimoradas que lentamente se afundam e suspiram,
que lentamente soçobram e asfixiam, que lentamente mergulham, vergam e se revolvem
na líquida massa negra azulada, movediça, ondulada e informe,
Através dele o casco e as linhas aprimoradas que lentamente se afundam e suspiram,
que lentamente soçobram e asfixiam, que lentamente mergulham, vergam e se revolvem
na líquida massa negra azulada, movediça, ondulada e informe,
coalhada de pedaços de gelo do mesmo icebergue, que depois de lhe deferir
duro golpe fatal, ali mesmo o vai sepultar!... Com idêntica crueldade e gélido brilho
ao que espelham as mortuárias águas!... O mesmo que é reflectido
do sideral firmamento, no qual as estrelas continuam silenciosas mas rutilam.
Vejo-o e distingo-o, como se aquela noite de tragédia
se fixasse no éter para sempre, perpetuada na atmosfera vítrea
da amortalhada imensidade! Espelhada no rosto dos astros -
No calendário programado dos grandes naufrágios do mar !
. Oh, sim, o sufoco cruel das águas! Quem o não conhece?!..
Quem ainda não se engasgou até com um copo de água?.
Nem é preciso que seja no mar - Oh, sim!...
- Afrontosa crueldade marítima, cuja hora idêntica
ainda hoje perpassa nítida e clarissima pela minha mente!.
Tantas vezes a revi, a revivo, como que renascida
dos confins da memória e da minha adolescência.
Ainda eu era criança, já na escola primária, em minha casa
e na minha aldeia se falava do afundamento de um grande navio
- O mar ficava muito longe e era então para mim um grande mistério.
Por isso, quando alguém embarcava para África ou Brasil,
todas as noites se rezava, até haver notícias da chegada.
Talvez por essa razão, quando andei sozinho e perdido no mar,
muitas vezes me passaram pela mente as aflições dos afogados do Titanic!
Dentro de mim, lateja , pois, o humano sofrimento
das suas dolorosas angústias e lamentos, as lágrimas perdidas!
Pelo meu peito, perpassa ainda o peso das longas horas incertas!
O calvário dos sofridos tormentos! - E, no meu estômago, sinto ainda
como que o trago amargo do sal engolido no remoinho das trevas!
Sinto-o ainda como que a subir-me pela garganta acima e a vir-me à boca
um certo sabor vazio das viceras, sentido naqueles dias de sede e sem comida
Oh! Como eu alguma vez me poderei esquecer dos infindos momentos,
vividos, quando, a horas altas da noite, por ter adormecido,
rolei da canoa borda fora para o seio negro das águas
Caleidoscópio de memórias que me vai permitindo,
não só mergulhar no meu passado de náufrago,
transportar as minhas emocionantes recordações marítimas
e ao mesmo tempo ir descobrindo na límpida transparência
de funéreo negrume alvacento e frio, onde o Titanic se vai afundando
todo o pavoroso carrossel dos contornos da sua fantasmagórica e terrível tragédia!
Sim, olhando e revendo a sua imagem, seu perfil tombado e já meio mergulhado,
mesmo com o olhar de algum toldado por alguma penumbra, vejo que ainda soluça,
ainda range e balança, rasgado e ferido, mas já sufoca e geme, o ineviável desenlace!
Arfa e estrebucha moribundo. Já não é a nave titã marinha
que desafiava afoitada e galhardamente o desconhecido
mas um trágico barco perdido que se perde e afunda!
Vai resvalando lentamente sobre manto revolto, em leito solto, violáceo e enegrecido.
Já meio afogado e tragado! Resignado e sem qualquer réstia de esperança!..
Devassado por enormes feridas abertas, imerso por ferozes massas líquidas,
que o violam e sufocam - Aprisionado às garras do mar,
já não navega, está imobilizado, meio afundado e quase perdido!...
Oh! mas deixemos por agora o ambiente desolador e de assombro que o vai envolver!
O terrível calvário dos momentos finais que se desenrolará solitário e sombrio
à superfície da vastidão de gélidas e roxeadas águas, que estão prestes a engoli-lo,
cujo último capítulo não tardará amortalhá-lo e arrastá-lo até ao fundo dos abismos!...
Recuemos a algumas horas atrás, olhemos a euforia então vivida,
do mais luxuoso transatlântico do mundo - Imaginemos o ambiente
de confiança e de optimismo que perpassava pelos camarotes e os salões,
antes de definitivamente se perder! - Quando, ainda, a altiva quilha,
serenamente vai desafiando e sulcando o azul franjado e profundo!...
Quando, ainda, vai cortando as sempre movediças águas!
Quando, avançando e singrando, as vai fazendo espumar!
Tanto junto à quilha da ré, como à quilha da proa!
Lá vai navegando, sempre fugidio e altivo! - Impulsionado
pelo movimento de possantes hélices da popa a trabalhar em pleno,
enquanto, lá no alto do convés - quais barbatanas dorsais de monstro marinho! -
os hirtos charutos das chaminés, fumegantes e fumegando, vão expelindo aos ares,
atrás e aos lados, os negros novelos de fumo, poluindo etéreas transparências!
Todo ele vai balanceado, todo ele vai arfando, balanceando e navegando!
Superando até o ritmo do arfar do mar - Porque ainda mais intrépido,
destemido e triunfante, que as espumosas ondas azuis no seu eterno cavalgar!
Recordemos, por breves palavras, as horas de alegria e desprendimento,
as horas passadas ao longo de luminoso dia! - Que viagem mais maravilhosa!
- A dos passageiros, tripulantes e do próprio comandante!... Que maior prazer não devia ser!...
- Rostos debruçados sobre as amuradas, corpos preguiçando-se, tostando-se
ao débil sol primaveril, cabelos ao vento, rostos sonhadores, contemplando
o azul das águas e dos céus!...Bares repletos e salões de festa,
que fervilhavam de vida! ...Segredos que se desfaziam e negócios milionários
que se imaginavam...Jogos de cumplicidades que se trocavam,
paixões que se ateavam, lábios que talvez pela primeira vez se unissem..
Oh! quantos sonhos?!.. - Mesmo até nos que faziam do barco, apenas a única via
em busca de uma nova forma de vida ou do el-dourado americano...
- Quantos sonhos e pensamentos ou belos e enamorados sentimentos?!..
- Tudo isso se esfumou e perdeu no tropel aflitivo de umas escassas
duas horas nocturnas e funestas ! - Terrivelmente trágicas!...
Debatem-se com as águas geladas - Temperaturas mortais!
Oh! mas deixando, ainda por ora, essas horas de horror e de assombro!
- Vejamos ainda (embora perdido no tempo) o perfil do mais intrépido e jovem navio!.
Navegando e aventurando-se em pleno mar fora, sem receio de nada! - Como
se todos os perigos e escolhos, lhe passassem ao lado - Navegando,
sob a quimera azul de um céu límpido, infinito e clarinho!
No qual vogavam alvos novelos de etéreas nuvens que o pôr do sol iria tingir de lilás,
de ouro e cor de rosa! - Oh!, sim, que soberbas e fantásticas não eram as suas formas!...
Como ele, então, estoicamente navegava! ... Como ele então singrava,
confiadamente o mar!...Como ele desbravara o oceano e avançara
ao longo da manhã, ao meio-dia e ao longo da tarde!
Como ele, galhardamente, seguia majestoso, sóbrio e seguro!
Sulcando o imenso círculo ondulado das vagas,
que mais pareciam ondulantes sulcos e pregas de veludo
ou drapeados acordes e hinos de águas
do que a antevisão do cortejo macabro e fúnebre
para onde, inexoravelmente, se encaminhava!...
vivido em constante ambiente de confiança e de festa,
daria lugar à noite mais sinistra de todas as noites!...
Quem?!... Mesmo já com o horizonte imerso por difusas sombras,
contemplando o mesmo infinito arco celeste, se atreveria a decifrar
ou a augurar, nos pergaminhos dos astros um destino, tão contrário?!.
Oh! sim!...Quem diria?!... Que, a esse risonho e alegre dia,
iria suceder um mar esconjurado de gélidos e profundos sepulcros,
derramados em mil lamentos, em torrentes de soluços agonizantes e lágrimas!
Que arrojo e ousado avanço para a época!.
Que pasmo e orgulho!... - A operários, público anónimo,
passageiros, técnicos e seu proprietário!
Quem haveria de pensar que iria terminar os escassos dias de vida,
numa morte tão cruel e tão trágica?!...
Tantos postais, tantas gravuras!...Tantos filmes e pinturas,
antes e depois, lhe foram dedicados e o imortalizaram!
Quem iria imaginar que aqueles lenços brancos acenando à partida,
haveriam de ser os lenços da sua primeira e última viagem - A sua despedida!..
Oh! que maior infâmia e ignomínia ver-se tragado e consumido
no reino translúcido das claridades espectrais, sem pompa e sem glória!
Oh! como tão belo era!... E, como tão frágil, moribundo está agora!..
- Pois é... mas os mistérios do mar, além de insondáveis
são insaciáveis de curiosidade às fraquezas humanas
- E não param de as espreitar!..
O mar é um corpo mole mas cego, inteligente e vivo
e com muitos humores - ora pleno de cólera, ora pacífico.
Nunca acorda ou se despede da mesma maneira - Por isso,
há que estar sempre atento às suas pérfidas surpresas ou ciladas!
E hora e meia depois, a água
passa do sexto para o sétimo compartimento
e não pára de alastrar.
À 1h25, a inclinação do convés é grave. Ordens são dadas
para que os botes sejam arriados mais cheios. Mas há quem hesite
e perca de vez a única oportunidade de salvar a sua vida
respondem aos desesperados apelos - Navegam demasiado longe...
Vão demorar a chegar...Aos foguetes lançados para o alto da atmosfera
e, aos sinais luminosos que cruzam os negros ares,
não surge das imediações qualquer resposta.
- Perscruta-se o círculo do horizonte e não se vislumbra
a luz de uma lanterna a espreitar a escuridão à volta e do outro lado de lá.
Para qualquer ponto que se olhe, o mesmo silêncio e a negra vastidão! - Algures,
porém, descobrem-se umas tímidas luzes que não saem do mesmo sítio, quase disfarçadas
- Os botes estão lutados, repletos e nem mais uma alma comportam!...
Os primeiros desceram quase vazios mas os últimos
vão cheios! - E agora há quem se agarre desesperadamente
e não os largue!... Agarram-se às mãos da filhinha ou do filho,
da chorosa mulher ou da amargurada namorada por entre as mesmas lágrimas,
os mesmos soluços ofegantes e doridos prantos, suspiros angustiosos e alucinantes!
Não suportam que os corações se apartem e dilacerem para toda a vida!
Procuram salvar-se a todo o custo ou pelo menos a morrerem juntos e abraçados!
E muitos são os que preferem que a morte os una na eternidade que agora os separe.
Dir-se-á que não há vida que se agigante mas escombros, pânico, o caos!
Mas há, todavia, gestos de solidariedade humana, de gritante coragem e heroicidade!
E também os inevitáveis egoísmos - Os mais inconformados e temerários
chegam a ser repelidos a tiro.- É a lei da sobrevivência!...
É o testemunho dramático, descrito por quem se salva, assiste impotente
e de olhos não menos chorosos à perda de entes queridos
ou companheiros de viagem e vai perpetuar aos vindouro,
o inolvidável drama da trágica afronta e narrativa
.
Oh! como é imensa e fatídica a noite!...
É o mar! Oh Deus!.. É a noite e o mar!!...
- Ó desumanidade divina!.. Ó cruel desumanidade!
Oh! maior aflição de quem
sentindo-se definitivamente esquecido e perdido,
têm plena consciência do infortúnio que o espera!
têm plena consciência do infortúnio que o espera!
Daqueles que sabem que já ninguém lhes poderá valer ou estender a mão!
Oh! drama horrendo e intraduzível ! - Que só o náufrago protagoniza e bem conhece!
Perscrutam e olham incansáveis o circular horizonte escuro e silencioso mas tudo fenece!
O tão falado e anunciado Titanic, já não é mais um barco
mas o pálido escombro, o despojo enorme de um terrível fantasma!
Interrompido, abruptamente, na sua marcha,
agora é o corpo bruto de ferro, amolgado e ferido, que ainda flutua,
mas já não se desloca! - Inerte, range e soçobra,
devassado por turbilhões de massas de água escura
que o esventram, o inundam o afogam!
Está na iminência, a que, milhar e meio de vidas,
ali sejam abandonadas, sorvidas e tragadas
no mesmo sorvedouro e torvelinho - Ali deixem,
perpétuamente, o mesmo trágico destino traçado!
- Resvale e se afunde a pique, as mergulhe e arraste
para os abismos mais fundos da mais gélida e funda sepultura!..
Oh destino atroz! Oh terrível sorte!...
Ó surda vastidão onde tudo é fugidio e espumoso, a vida se esvai e desprende!
Ai daqueles pobres corações encimados
que, no alto do imponente convés meio tombado, vendo
que, no alto do imponente convés meio tombado, vendo
a morte tão próxima, e cientes de que não lhes escapam, ainda gritam!...
Que efémero tempo lhes restará de vida?!...
De que lhes valerá agora alimentar sentida crença ou religiosa fé?!..
De que lhes valerá agora alimentar sentida crença ou religiosa fé?!..
Implorar piedosas súplicas ou sagrada misericórdia!...
Não lograram entrar para o salva-vidas!
Ó cruel certeza! - Ó impotência vencida!..
Rostos aterrorizados! Olhos esbugalhados, irradios, perdidos na escuridão!
Olhos pregados na aridez enregelada
do terrível mar, gritam! - Imploram, rezam!.. Suplicam divina protecção!
que um barco, uma tábua ou uma bóia os venha salvar, os socorra, lhes valha!!...
do terrível mar, gritam! - Imploram, rezam!.. Suplicam divina protecção!
que um barco, uma tábua ou uma bóia os venha salvar, os socorra, lhes valha!!...
- Em vão!... Vendo-se esquecidos, sentindo que que já não têm salvação,
em aflitivo desespero, atiram-se e mergulham como suicidas!
Adia-se o último suspiro, a derradeira aflição
em aflitivo desespero, atiram-se e mergulham como suicidas!
Adia-se o último suspiro, a derradeira aflição
por mais alguns instantes ou momentos,
que, todavia, serão verdadeiras eternidades!
Debatem-se com as águas geladas - Temperaturas mortais!
Sabem que o tempo se escoa e vão morrer!
Os coletes que envergam de nada lhes poderão valer!
Os coletes que envergam de nada lhes poderão valer!
De nada lhe servirão as súplicas, os seus gritos e ais,
os destroços que bóiam, a que desesperadamente se agarram e abraçam
É sobre-humano resistir e lutar à tona de superfície tão funda e gélida,
sob atmosfera tão adversa, a condições tão extremas e fatais!
À volta é o deserto e a mais fria e escura solidão!...
O navio - que à luz do dia parecia glorificar
os mares e os céus - agora naufraga e soçobra!...
os mares e os céus - agora naufraga e soçobra!...
É menos que um vulto,
a flutuante sombra amortalhada
que, em dois grandes pedaços disformes
"Às 2h18, as luzes do navio piscam pela última vez,
depois apagam-se para sempre"
As bombas, que continuamente bombeavam o fluxo das águas,
pouco mais fizeram que a retardar o inevitável...
O Capitão Smith e o engenheiro-chefe Thomas Andrews permanecem,
não abandonam seus postos - Procedimento heróico e nobre!...No entanto,
Bruce Ismay, o milionário armador pira-se num dos últimos botes, impedindo
que uma vida mais jovem se salve em seu lugar - Enfia-se num bote salva-vidas
destinado a mulheres e crianças - Vai ser duramente criticado
em vários jornais ingleses e noutros países do Mundo.
Mas que importância terá isso para um covarde
que nem sequer teve o elementar cuidado
de mandar equipar o Titanic
com as balsas indispensáveis?
. Foi ele que pressionou o comandante do navio
para que as caldeiras atingissem o rubro,
acelerasse a velocidade e metesse prego a fundo.
Atmosfera húmida, enregelada! - Gélida negridão!...
Sorvedouro! - Lugar ermo e de abandono!...Aquele que, há algumas horas atrás, era a grande novidade,
Sorvedouro! - Lugar ermo e de abandono!...Aquele que, há algumas horas atrás, era a grande novidade,
o último grito da navegação,
agora é um vulto enorme - Um gigantesco destroço,
que se confunde com a palidez do mar e a pavorosa noite!
Inundam-se totalmente os porões! - As luzes
que feericamente o iluminavam,
também já não brilham.
Apagaram-se as fornalhas!
Ouvem-se as últimas explosões das abrasivas caldeiras,
quando as águas brutalmente as invadem, as arrefecem
à mistura dos últimos gritos lancinantes e aflitivos!
Enquanto um sopro estridente e agudo!
Um gorgulhar de alarme e de abismos!...
Um gorgulhar de alarme e de abismos!...
- Estranhamente, tudo sorve engole e emudece,
desmorona, silencia, escurece e consome!
desmorona, silencia, escurece e consome!
Quase num abrir e fechar de olhos,
vão para o fundo mil e tantas vidas!....
vão para o fundo mil e tantas vidas!....
Oh! e como recordar o silêncio ensurdecedor dos passageiros da terceira classe
que morreram asfixiados!..Que foram forçados
a permanecer reunidos e trancados
num grande salão na traseira do navio!... Para que o pânico não se alastrasse
e pusesse em causa a evacuação das mulheres e crianças da primeira e segunda classe
- Sabiam que os botes não chegavam para todos, decidiram-se prioridades -
Oh, sim, atitude compreensível... Mas os eternos sacrificados,
são sempre os mesmos! - Os pobres!... Nos menos afortunados
não moram os privilégios - Poucos se salvaram!.... "Revoltaram-se,
e alguns aventuraram-se pelos labirintos de corredores no interior do navio
para tentar encontrar outra saída" - Libertaram-nos quando faltavam
escassos dois botes para abandonarem o navio - Cruel sina ou suplício!...
De nada lhes serviria abrirem-lhes as portas, quando, lá fora,
apenas os esperava o salto para o abismo...
Mais deles, nem a tanto ousaram...
O pânico instalou-se e venceu-os: morreram atropelados,
- Quando a morte bate à porta, difícil é escolher como a receber...
Poupados à visão terrífica e gelada
que pairava em torno do barco que os transportava, no qual confiaram
os seus sonhos e os seus destinos, sucumbiram à mesma tragédia,
que atingiu largas centenas de vidas - Sim, a morte
não distingue classes sociais nem os passageiros ricos dos pobres
Todos os que não tiveram a sorte de entrar nos botes,
foram tragados!
- Com maior ou menor sopro de vida ou réstia de fôlego,
sofreram e foram vítimas das mesmas horríveis aflições
- Não houve quaisquer distinções
nas horrendas agonias e lágrimas choradas...
A mítica cidade de New York, jamais será seu porto de abrigo,
a terra de promissão!...- Os náufragos que não foram arrastados,
envolvidos pelo mesmo remoinho e turbilhão do fantasmal navio,
pouco mais lhes restou de vida que expiar a sua afrontosa aflição!
Transidos e aflitos, debateram-se e nadaram em vão!
Depressa enregelaram: o coração e os pulmões, sufocaram,
não resistiram, todos se perderam e se afogaram!
a madrugada já ia avançada
mas ainda era noite, porém, tarde demais!...
Lanternas e holofotes varrem a área e deparam com um cenário macabro
- Atónitos, os marinheiros, apontam os focos para descobrirem,
possíveis sobreviventes, mas o que vêm é a morte espelhada!
A morte isolada ou abraçada aos vários destroços.
O mar está pejado de corpos que bóiam
à superfície da gélida toalha liquida, dispersos por todos os lados.
abraçados ou isolados! - Horrível imagem!
Horrenda e desoladora paisagem!
Alegres casais que viajavam
que a trágica morte apartou ou sepultou.
Crianças que se salvaram mas que ficaram órfãs de um dos pais ou dos dois.
Finaram-se maravilhosos sonhos, sufocados por horrenda asfixia! - Atroz agonia gelada!
Desfizeram-se ambições e projectos! - Destroçaram-se para sempre
corações que sofreram e morreram na mais bela flor da idade!...
COORDENADAS EM BUSCA DA MEMÓRIA PERDIDA
Repousa a 3.800 metros de profundidade - Sob as coordenadas
41º 43' 35" N, 49º 56' 54" W
Cem anos depois do seu trágico naufrágio,
o Titanic é hoje um monte de macabros destroços que repousam no fundo mar!
- A esverdeada silhueta num sepulcro aberto, rodeada de despojos humanos e outros,
sob o peso do mais escuro fundo dos abismos, quase irreconhecível,
esventrada, corcomida e enferrujada!
- Mostras arqueológicas de quem teve a coragem de iluminar
o azul sinistro que a rodeia e de a filmar.
Mais lembrando a carcaça de um simples brinquedo, meio enterrado
e sepultado em areias finas, quase da cor do sal,
exposto por detrás da vitrina de um enorme aquário,
partido em dois bocados,
em permanente degradação,
que a simples miragem do imponente navio,
capaz de enfrentar a maior distância ou vastidão
DESSACRALIZAÇÃO EM NOME DA CIÊNCIA?
Valerá apenas recuperar-se (mesmo que de forma parcial) dos lodos e sedimentos,
o esqueleto afundado e os despojos que ainda por lá se encontram enterrados e dispersos,
para se conhecerem melhor os contornos das causas da tragédia
ou será demasiada morbidez humana a juntar a tantos outros sacrilégios
que, em nome da ciência, se cometem, com absoluta indiferença
ao repouso inalienável que é devido aos mortos?!...
Não sei... Quem poderia responder,
já não está cá para fazer ouvir a sua voz -
Eu não fui um dos malogrados náufragos do Titanic, é bem verdade.
Contudo, só talvez por milagre divino não sou hoje uma das incontáveis vidas
que se perderam nos mares - Se lá ficasse e mais tarde pudesse responder,
diria que não há sepultura maior e mais pura que a do mar! - Por isso,
deixem em paz quem tanto sofreu e não escolheu ali morrer e eternamente morar.
A VISÃO DESCONSOLADORA
QUE ATÉ HOJE PERMANECE UM ENIGMA
- TAMBÉM EU VI UMA QUASE ASSIM
- E BEM PERTO DE MIM!...
Dizem que se avistaram luzes de um barco por perto
e que o mesmo barco fez ouvidos de mercador
às continuas mensagens de morse
que heróicos marinheiros, não deixaram de enviar
enquanto puderam -- "A identidade desse navio permanece até hoje um mistério"
Supõem-se que tenha sido o Californian, que, prudentemente,
teria suspendido a navegação e parado as máquinas por causa do gelo,
mas cujo operador de serviço, "pouco antes de ir dormir às 23:00 horas,
tentou avisar o Titanic de que havia gelo à frente", tendo obtido como resposta
de um tal indolente Phillips: "Cale a boca, cale a boca, estou ocupado"
Vingança a tão desplante negligência e impropério?!...
É bem provável....No mar as heresias que se cometem,
costumam ser bem caras e ter altos preços em vidas.
Mesmo assim, a ser verdade, ó insensível cobardia e desamor!
Ó maldita frieza e crueldade! Ó vil foco de luz
em negrume-azul silencioso e sidério!
Que o diga quem - como eu - passou por esses terríveis momentos de incerteza:
Na viagem que fiz de São Tomé à Nigéria, ao 12ª dia,
eu estava já muito próximo da costa africana - Era noite escura e encontrava-me rodeado
por vários poços de petróleo - Era uma confusão...Havia clarões por todo o lado.
Tendo chegado a navegar por debaixo de uma plataforma sem ser visto
- O que eu não conseguia era localizar onde é que ficava a costa.
Às tantas, passa um barco de cabotagem perto de mim - Mal o vi
apontei a lanterna para a vela para que me vissem melhor
e não me abalroassem - De nada me valeu - Felizmente,
apenas me afastou com as ondas da hélice da esteira.
Ia um vulto de pessoas no convés e toda a gente a falar -
Eles lá foram à sua vida e eu lá fui à minha até que adormeci...
Na manhã seguinte, quando a canoa se aproximava perigosamente da praia,
tive a felicidade de ser acordado por três pescadores,
que, supondo-me perdido, pegaram nos seus remos
e foram eles que se encarregaram do resto da navegação.
- Lá me encaminharam a terra firme e a chão seguro,
onde fui acolhido como um dos seus numa modesta cabana - De tal maneira
que nem sequer cheguei a pousar os pés na extensa e dourada língua da areia
- Fui recebido com lágrimas e abraços - Foi um fim feliz.
Mas o drama dos passageiros do Titanic
foi incomparavelmente diferente - Bem dramático e horrível!
Não há pior decepção para um náufrago que ver um barco
à distância ou passar à sua frente e não parar nem abrandar
a sua marcha - É pior que acenar um rebuçado a uma criança
e depois jogá-lo fora - Se, naquele momento, vissem o seu rosto, ele espelharia
a tristeza maior do Mundo!... Mais grave que o suplício de Tântalo.
Mais desesperante de que, quando eu, naquelas tardes de calor, sem água potável
ou das chuvas para beber, me tive de valer de alguns goles de água salgada.
Sim, foi na acidentada viagem que pretendia realizar
de canoa de São Tomé ao Brasil, a qual se saldaria por um naufrágio de 38 longos dias.
- Eram sete de manhã - O Sol nasce às 5.30 e o dia já ia levantado
Mas brumoso e cinzento, com ameaças de chuva em vários pontos do horizonte.
Nisto, vejo surgir, lá nos confins, na minha direcção,
um enorme cargueiro que vai mesmo passar
a escassa centena de metros à minha frente - qual fantasma!
Despi minha capa e agitei-a! - E ele ali tão pertinho de mim, quase me abalroava!..
Como ninguém respondesse, peguei no apito
que tinha pendurado ao pescoço e apitei várias vezes...
Várias vezes levei o apito à boca e apitei..
Mas o crivo do radar não me apanhava
e apitar ou gritar naquele vasto mar era inútil...
A minha voz perder-se-ia no bruar das águas...
Apagada pelo cavar do sulco da proa e do barulho da hélice à popa.
Meu barco era um pobre madeiro escavado à deriva e à flor do mar...
ao qual tive de arrancar alguns bocados da cobertura para improvisar
um tosco remo - Era um tronco como outro qualquer,
quase da grossura daqueles paus e troncos de palmeiras
que se misturavam com os muitos detritos e destroços de toda a ordem,
quando um cardume de atuns me arrastara durante longas horas a fio
de uma linda tarde equatorial, que se prolongaram até alta noite...
E, eu, que a principio até cheguei acreditar
- estando o céu tão límpido e não havendo sinais de temporal -,
que até fosse alguma força divina, que, no meio daquele borbulhar intenso
se apiedasse de um pobre náufrago!...Me estivesse levando e arrastando
de algures do mar para algures num ponto seguro em terra...
O pior é que o inesperado cardume nunca tomava a mesma direcção....
Porém, às tantas, vendo que já não havia maneira
de livrar-me do seu envolvimento,
ergui a vela no tosco mastro e, com o remo improvisado,
(a maioria dos apetrechos perdera-os com o tornado) praticamente
deixei que o vento me arrastasse
para onde ele me quisesse levar - E, como não tomei
a mesma direcção do cardume,
finalmente, lá me consegui libertar.
Por isso, ao náufrago, quando todo o mundo o ignora,
de que lhe servirá gritar ou apitar?!..
Mais das vezes só depende dele: senão desanimar,
poderá assegurar a sua salvação: - O mar leva tudo para terra:
nem sequer lá quer os cadáveres: ou os desfaz ou os arrasta.
Não creio que o piloto daquele barco me visse - Foi há uns anos
mas já então havia piloto automático e outros instrumentos
que o dispensariam de olhar continuamente à sua volta.
Eu é que não tinha mais de que uma modesta bússola - Não me dava a posição,
só sabia os quadrantes e mais nada - Mais das vezes, até a dispensava
- Bastava orientar-me pelo sol, pelas estrelas, pela direcção das correntes e alisios...
No entanto, eu vi perfeitamente aquele enorme navio a passar
a uns escassos cem metros, ali mesmo à minha frente... Gigante, soberbo e nítido!...
Vi que continuou indiferentemente a sua rota e o seu caminho...
E, se me viu, fez que não me viu e não se importou...
Não seria caso inédito - Não se desviou e nem por um momento abrandou...
A vida de um náufrago é como um destroço à deriva.
Tive muitas vezes esse sentimento - Tantas vezes me senti um zé ninguém..
Mais identificando com o mar e confundido com as vagas
e até com a curiosidade dos peixes que constantemente me rodeavam
do que propriamente com o mundo a que pertencia!
Com a presença dos tubarões é que nunca me senti bem.
No entanto, a inesperada aparição daquele barco,
foi para mim pior que um balde de água fria.
Deixou-me, realmente, muito desanimado! ...
Nunca, como naquela manhã brumosa e de cinza
me senti tão sozinho, perdido e tão triste!
Depois resignei-me...Pois mais me convenci
que só podia depender de mim e da minha força de vontade...
Ah. sim!..Eu era um mero pontinho no universo inteiro.
Os meus sentimentos oscilavam entre o vazio e a plenitude.
o apito era estridente mas de nada me valeria...O circular deserto era imenso!...
Mas eu apitei!..Meus Deus!...Tantas vezes eu apitei!...
- Sim, nunca como então, me senti tão esquecido e abandonado
Ainda agora meus olhos, rasos de água
recordam, com clara nitidez, as lágrimas de abandono que então chorei...
Oh! mas quantas lágrimas não terão chorado aquelas infelizes almas
que se perderam e afogaram no sufoco
daquela atormentada noite do desastre do Titanic?!...
De que lhes serviriam também os seus gritos
e os seus desesperados pedidos de socorro?!...
Nearer My God to Thee" - Também eu o cantei
- Cremos em Vós ó Deus! -"Nearer My God to Thee" quando as águas inundaram
todos os comportamentos e as luzes do Titanic definitivamente se apagaram?!...
Pelo menos o meu prof. de religião e moral, na Escola Agrícola, em Santo Tirso(1),
assim nos contou e nos ensinou esse mítico e religioso hino,
que foi justamente o que eu cantei, naquela noite em que acordei
debaixo da minha piroga, ao deixar-me adormecer e rolar em negras águas...
Na ousada viagem numa minúscula canoa da Ilha de São Tomé à do Príncipe
- Foi a primeira das três e a mais temerária... Vendo que não conseguia colocá-la a flutuar
sem ser invadida pelas vagas, e, sentindo-me já exausto, escarranchei-me no seu costado...
- Uma das boas particularidades das canoas de ocá, mesmo voltadas e sem lastro
é não irem ao fundo - Por isso, em vez de me resignar, pus-me a cantar
aquele religioso coro até recuperar as forças...
Oh, mas quão longa e sofrida não foi também aquela noite!...
Oh! pois não... quão longos os sofrimentos ou afrontosas e pesadas
não são as agonias de todos os infelizes que naufragam à superfície dos mares!...
Lisboa, noite de 14 para 15 de Abril de 2012
Jorge Trabulo Marques
TAMBÉM EU FUI UM NÁUFRAGO
Náufragos do desespero!
das inumeráveis viagens inacabadas,
dos inarráveis rumos que foram traçados
e dramaticamente, riscados,
abruptamente destroçados,
afundados no torvelinho das águas!..
Tal como vós, também um dia parti de um porto,
de um indistinto porto tracei meu rumo,
perdi-me, voguei errabundo, fui náufrago!...
Vivi todas as sensações e emoções do mundo,
como só talvez as viva intensamente
quem se abra de corpo aberto
e coração fundido à pulsação
desse plangente limite,
viscoso, movediço, sorvente!
irradiado do próprio sonho,
felizmente resisti e sobrevivi!
Náufragos, irmãos meus!
Afinal, irmãos de todos os homens,
de todos os seres e de todas as coisas!
Ricos ou pobres - O sufoco do mar não os distingue,
engole-os e traga-os a todos por igual.
Tal como vós, ó náufragos do Titanic,
fiz do meu pequeno barco
não a mansão luxuosa
mas o mesmo lar no grande mar!...
e, através das suas ondas,
rugidoras de presságios,
se não tive a vossa sorte,
quantas vezes naveguei e aspirei,
em cada espuma,
em cada noite cerrada,
em erma bruma,
um perfume salgado de morte!...
Jorge Trabulo Marques
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Destroços do Titanic passaram a ser protegidos pela UNESCO As joias e os objetos que foram recuperados valem fortunas em leilões.
Mais de 5.500 objetos foram recuperados do barco naufragado em 1912. Decisão judicial proibiu que a coleção fosse desmembrada. Objetos recuperados do naufrágio do Titanic foram postos à venda por US$ 189 milhões (R$ 662 milhões) pela empresa Premier Exhibitions, que detém os direitos sobre qualquer coisa tirada do transatlântico afundado. O navio naufragado, encontrado em 1985 pelo explorador Robert Ballard, já resultou em mais de 5.500 objetos recuperados para a Premier, que promoveu oito expedições aos destroços no fundo do Atlântico desde 1987. http://arqueologiaibanez.blogspot.com/2016/06/objetos-do-naufragio-titanic-vendidos.htm
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