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segunda-feira, 6 de julho de 2020

Charles Darwin - Cabo Verde, 16 de Janeiro de 1832 – Na rota do autor da Evolução das Espécies - Passou pela Ilha da Madeira (mas não aportou nela) indo então para Tenerife, proibido de desembarcar por causa da quarentena de cólera imposta a barcos vindos da Inglaterra. A expedição fez a sua primeira parada na ilha vulcânica de Santiago no Arquipélago do Cabo Verde, ponto da partida para catapultar o jovem botânico inglês para os píncaros da fama mundial

JORGE TRABULO MARQUES - JORNALISTA 
AS ILHAS DO ATLÂNTICO MAIS FLAGELADAS PELAS SECAS - E que terão inspirado a curiosidade do promissor jovem cientista inglês de 22 anos para o trilho da fama mundial -Charles Darwin

Recordando os pormenores da escala do veleiro Beagle HMS por Santiago,  onde viajava o  naturalista inglês, que  teve por guia um padre  cabo-verdiano e, como intérprete, um espanhol que ali fora parar nas lutas da guerra peninsular – Oferecemos-lhe a transcrição integral do relato e algumas imagens parecidas com as que terá  observado. "Noutro dia  cavalgámos até à vila de S. Domingos, situada perto do centro da ilha"


SANTIAGO, ILHAS DE CABO VERDE, 16 de janeiro de  1832 - Vistas a partir do mar as imediações  do Porto da Praia apresentam um aspecto desolado. O fogo vulcânico das idades passadas e o calor tórrido de um sol tropical tornaram o solo estéril e, na maioria dos lugares, mal propício para vegetação. O campo ergue-se em sucessivos degraus de terra plana, entremeados de alguns montes cónicos e o horizonte é limitado por uma cadeia irregulares- de montanhas mais altas

"Durante a nossa estadia observei os hábitos dos animais marinhos. A grande Aplísia  é muito comum. Esta lesma marinha tem cerca  de cinco polegadas de comprido e é de uma cor amarelado sujo, ralada de púrpura.  Na extremidade anterior tem dois pares de antenas, das quais as superiores se assemelham em forma às orelhas de um quadrúpede."

"Enquanto procurava animais marinhos, com a cabeça a uns dois pés da margem rochosa, fui mais vez saudado por jacto de tinta  acompanhado de um ligeiro ruído de disparar . A princípio não sabia o que  era. mas depois descobri que se tratava da lula" - Mais à frente   todo o relato 



Charles Darwin fez uma viagem a bordo do navio  HMS Beagle, que inicialmente estava planeada  para durar um ano, mas acabaria por se prolongar em  quase cinco anos – o Beagle não retornou até 2 de outubro de 1836.

O  objetivo da expedição era o de  mapear a costa da América do Sul. E a presença do então talentoso, sedutor e  curioso, jovem inglês, de 22 anos,  não era a de coletar e estudar a biodiversidade, mas tão somente o  de fazer companhia ao capitão da embarcação, que buscava uma pessoa simpática e comunicativa, com quem pudesse conversar durante a longa  viagem. O veleiro utilizado tinha o nome de HMS Beagle, em referência à raça de cães

Avaliar pela leitura das suas observações, não  foi em Cabo Verde que terá feito   o maior número das descobertas ou as mais relevantes para o célebre tratado das espécies, no entanto, conclui-se que  terá sido a singularidade insular o ponto de partida a espevitar a sua curiosidade pelas coisas da natureza e a dar largas à sua sensibilidade e imaginação de genial e genuino cientista  no vasto campo da ordem vegetativa, animal e mineral. 

É  justamente o que se pode depreender das suas primeiras anotações, no diário que, mais tarde viria a publicar, sob o título  "Uma Viagem do Beagl", com o qual o viria a granjear considerável  fama e respeito nos meios científicos. Sobretudo, posteriormente, ao  utilizar várias das suas observações  no célebre Teoria da Evolução, cujo capitulo tomei a liberdade transcrever do pequeno opúsculo editado na coleção da Expo 98, com tradução de Helena Barbas. 

Através do relato da referida obra, consta-se que ficou encantado com os sorrisos e a hospitalidade das pessoas, com a  geologia das rochas e a panorâmica  árida da ilhas, onde não chovia há um ano, das cabras que ali procuravam alguma folha e sustento  - Além disso, as aves, os insetos, os animais marinhos   e  que ali conheceu,  até o divertiram: como a lesma-marinha;  a lula camaleónica, as galinhas-da-índia;” provavelmente em número de cinquenta ou sessenta. Eram extremamente desconfiadas e não deixaram que nos aproximássemos. Fugiam como perdizes num dia de chuva em Setembro, correndo com as cabeças levantadas e, se perseguidas, prontamente levantavam voo.  O pássaro mais comum é o pica-peíxe ( jagoensis), que mansamente pousa nos ramos da planta do rícino e daí salta sobre os gafanhotos e lagartos. Também o surpreendeu o  espetáculo de um grande forte e uma  catedral em ruínas.

É referido por estudiosos que “O Beagle" não estava pronto para velejar até o início de novembro, e foi então repetidamente atrasado por ventos fortes, zarpando só em 27 de dezembro de 1831. Passou pela Ilha da Madeira (mas não aportou nela) indo então para Tenerife, mas proibido de desembarcar por causa da quarentena de cólera imposta a barcos vindo da Inglaterra. Eles fizeram sua primeira parada na ilha vulcânica de Santiago no Arquipélago do Cabo Verde, e é onde o Diário de Darwin começa.
Daqui o navio dirige-se ao  arquipélagos de São Pedro e São Paulo e de Fernando de Noronha, Bahia (Salvador), em 29 de fevereiro, onde Darwin ficou maravilhado com a floresta tropical. A visão da escravidão foi considerada ofensiva por Darwin. Ao retrucar isso a FitzRoy quando ele disse que a mesma era justificável, fez com que FitzRoy perdesse a calma e o baniu da expedição. Os oficiais do barco apelidaram o capitão de "hot coffe" (café quente) devido ao seu temperamento na situação, e após algumas horas ele pediu desculpas a Darwin e pediu para que ele permanecesse na expedição. https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Viagem_do_Beagle

Depois de ter deixado o  Brasil - em Salvador e Rio de Janeiro -, viajou para  o Uruguai, Montevidéu, Argentina, Patagónia no Chile e Ilha Galápagos, que pertence ao Equador. Em seguida foi para o Haiti, passou pela Nova Zelândia, Austrália e África. Depois desse percurso, ele retornou à Bahia e seguiu para a Inglaterra. Nessa jornada Darwin viu que há muita diversidade de meio ambiente e que cada lugar tem suas características, tanto na vegetação, quanto na fauna e flora”.


SANTIAGO, ILHAS DE CABO VERDE, 16 de janeiro de  1832 - Vistas a partir do mar as imediações  do Porto da Praia apresentam um aspecto desolado. O fogo vulcânico das idades passadas e o calor tórrido de um sol tropical tornaram o solo estéril e, na maioria dos lugares, mal propício para vegetação. O campo ergue-se em sucessivos degraus de terra plana, entremeados de alguns montes cónicos e o horizonte é limitado por uma cadeia irregulares- de montanhas mais altas. Tal como observado através da atmosfera nublada deste clima. o cenário é de grande interesse; se, de facto. uma pessoa acabada de chegar do mar, e que pela primeira vez se passeia por um pequeno bosque de coqueiros, pode ser juiz de ali1uma coisa além da sua própria felicidade. De um modo geral, a ilha seria considerada como muito pouco interessante; mas para alguém acostumado apenas a uma paisagem  inglesa,  o prospecto novo. de uma terra completamente  estéril possui uma grandeza que maior presença de vegetação destruiria. Dificilmente se pode descobrir a verdura de uma única folha sobre a vasta extensão das planícies de lava; no entanto, rebanhos de cabras, junto com algumas vacas, lá se arranjam para subsistir. Chove multo raramente, mas durante uma pequena parte do ano caem chuvas torrenciais e depois delas desponta imediatamente  uma ligeira vegetação em cada fenda. Murcha depressa. mas é a partir de forragem tio naturalmente formada que vivem os animais. No  momento presente já há um ano que não chove. largos e de fundo direito, muitos dos  vales servem apenas durante alguns dias aquando da estação das chuvas como leito para n 6guas. e estão cobertos por matagais de arbustos sem folhas. Poucas criaturas vivas os habitam.O pássaro mais comum é o pica-peíxe (D1tce/o jagoensis), que mansamente pousa nos ramos da planta do rícino e daí salta sobre os gafanhotos e lagartos. Tem cores brilhantes, mas não tão belas quanto as da espécie europeia: também existe uma grande diferença no seu voo, comportamento, local de habitação - que em geral é nos vales  mais secos .


Um dia, dois dos oficiais e eu cavalgámos até à Ribeira  Grande, uma aldeia a poucas milhas a ocidente de Porto da Praia. Até chegarmos ao vale de S. Martinho o terreno apresentava-nos o seu usual aspecto pardo monótono: porém ali, um minúsculo regato de i1ua dava origem à mais refrescante margem de luxuriante vegetação. Levámos uma hora a chegar à Ribeira Grande, e ficámos surpreendidos pelo espectáculo de um grande forte e uma  catedral em ruínas. 'Antes que o seu porto fosse assoreado, a pequena cidade era o principal povoado da ilha, mas agora apresenta um aspecto melancólico, embora muito pitoresco. Tendo conseguido um padre negro por guia,  e como intérprete um espanhol que havia lutado na Guerra Peninsular, visitámos uma série de edifícios, de entre os quais se destacava uma igreja antiga. Nela tinham sido enterrados os governadores e capitães-generais da Ilha. Algumas das pedras tumulares registavam  datas do século dezasseis. Os ornamentos  heráldicos eram as únicas coisas, em todo este lugar retirado, que nos faziam lembrar a Europa. A igreja ou capela formava um dos lados de um quadrângulo, no meio do qual crescia um grande maciço de bananeiras. Noutro lado havia um hospital, com cerca de uma dúzia de hóspedes de aspecto miserável.

Regressámos à Venda para o jantar. Um número considerável de homens, mulheres e crianças, todos negros como azeviche, reuniram-se para nos observar. Os nossos companheiros mostravam-se extremamente alegres, e tudo o que dizíamos ou fazíamos era seguido pelas suas risadas vigorosas. Antes de deixar a cidade visitámos a catedral. Não parece ser tio rica como a igreja menor, mas vangloria-se de ter um pequeno órgão, que produzia os 1alnchos mais singularmente desarmoniosos. Adiantámos   alguns xelins ao padre negro e dando-lhe palmadinhas na cabeça o espanhol  disse, com grande candura, que achava que a cor dele não fazia grande diferença. Regressámos  então a Porto da Praia tão depressa quanto os póneis o permitiam.

Noutro dia  cavalgámos até à vila de S. Domingos, situada perto do centro da ilha. Numa pequena planície que atravessámos, cresciam umas poucas de acácias enfezadas, com as copas curvadas numa posição singular, por acção do constante vento marinho, algumas delas fazendo até um ângulo recto relativamente ao tronco. A orientação dos ramos era exactamente NE por N, e SW por S. Estes cataventos naturais devem indicar a direcção predominante da força do vento marinho. A viagem tinha deixado tão poucas marcas no  solo estéril, que aqui perdemos o nosso rasto e fomos parar a Fontes. Tal só o descobrimos  quando lá  chegámos; e depois ficámos muito contentes com o nosso engano. Fontes é uma  bonita aldeia, com um pequeno regato, e tudo parece prosperar, salvo, de facto, quem melhor o deveria - os seus habitantes. As crianças negras, completamente nuas e com um aspecto muito miserável, carregavam molhos de lenha duas vezes maiores que o seu próprio corpo.

O cenário de S. Domingos possui uma beleza totalmente inesperada, dado o carácter predominantemente sombrio do resto da ilha. A aldeia está situada na base de um vale cercado de majestosas muralhas com reentrâncias de lava estratificada. As rochas negras oferecem o mais espantoso contraste com a vegetação verde brilhante que acompanha as margens de um pequeno regato de águas elaras. Aconteceu que era um grande dia de festa e a aldeia estava cheia de gente. No regresso  alcançámos um grupo de cerca de vinte jovens raparigas negras vestidas com o melhor gosto; o contraste entre as peles negras e as suas roupas de linho branco de neve era realçado pelos turbantes coloridos e grandes xailes. Assim que nos aproximámos, viraram- se todas subitamente e, cobrindo o caminho com os xailes cantaram todas com grande energia  uma canção selvagem, e marcavam batendo  nas pernas com as mãos. Atirámos-lhes alguns vinténs que foram recebidos risadas estridentes, e deixámo-las a redobrar o  ruído da sua canção.

Já foi  dito que a atmosfera é geralmente muito nebulosa; tal parece dever-se principalmente a uma poeira impalpável que está constantemente a cair, mesmo sobre os navios no mar alto. A poeira é de uma cor acastanhada. e sob o maçarico facilmente se funde num esmalte negro. É produzida, como creio, pela erosão e desgaste das rochas vulcânicas, e deve vir das costas de África. Uma manhã,  a paisagem encontrava-se singularmente clara; as montanhas distantes projectava-se com o contorno mais puro sobre um pesado banco de nuvens azul-escuro. A julgar pela aparência, e de acordo com casos similares observados em Inglaterra, supus que o ar estava saturado de humidade. O facto, porém, revelou-se ser exactamente o oposto. O hipómetro acusava uma diferença de 29º 6' entre a temperatura do ar e o ponto de precipitação do  orvalho. Esta diferença era quase o dobro da que observara nas manhãs anteriores  Este invulgar nível de secura atmosférica era acompanhado  por relâmpagos contínuos. Não será, então, um caso invulgar encontrar um notável grau de transparência aérea com um tal estado de tempo?

A geologia desta ilha é a parte mais interessante  da sua história natural. Entrando no porto, pode ser vista em frente dos recifes perfeitamente horizontal uma faixa branca correndo por algumas milhas ao longo da costa e  à altura de cerca de 45 pés acima da água. Sob observação, descobre-se que este extracto  branco consiste em matéria calcária, contendo numerosas conchas incrustadas idênticas que agora existem na costa próxima. Descansa sobre rochas vulcânicas antigas cobertas por uma corrente de basalto que deve ter entrado no mar quando esta cama  branca de conchas ainda jazia no fundo . É interessante  traçar as mudanças que o calor da lava sobrejacente produziu sobre a massa friável. Nalgumas partes foi convertida em pedra firme com uma espessura de várias polegadas. tão dura quanto o melhor grés; e a matéria terrestre, originalmente misturada com a  calcária. foi separada em pequenas manchas deixando assim a cal branca e pura. Noutras partes formou-se um mármore altamente cristalino, e os cristais de carbonato  e de  cal são tão perfeitos que podem facilmente ser medidos pelo goniómetro reflector. A mudança é ainda mais extraordinária onde a cal  foi apanhada  pelos fragmentos escoriáceos da superfície  inferior da corrente; porque aí está convertida em grupos de fibras maravilhosamente  irradiadas e semelhantes a aragonite. As camadas de lava erguem-se em planícies ligeiramente  Inclinadas em direcção  Interior ao ponto  interior de onde procederam originalmente os dilúvios de pedra derretida. Dentro do período dos tempos históricos. creio que não se manifestaram quaisquer sinais de actividade vulcânica em alguma parte de  Santiago. Este estado de repouso existe, provavelmente, devido à vizinha ilha do Fogo estar frequentemente em erupção. Mesmo a forma de uma cratera só raramente se consegue descobrir nos cumes dos montes cobertos de cinza vermelha; no entanto, podem distinguir-se na costa os ribeiros mais recentes formando uma linha de rochedos de altura menor, mas ultrapassando os que pertencem a uma série mais antiga: a altura do rochedo oferece, assim, uma rude medida da sua idade

Durante a nossa estadia observei os hábitos dos animais marinhos. A grande Aplísia  é muito comum. Esta lesma marinha tem cerca  de cinco polegadas de comprido e é de uma cor amarelado sujo, ralada de púrpura.  Na extremidade anterior tem dois pares de antenas, das quais as superiores se assemelham em forma às orelhas de um quadrúpede. Em cada lado da superfície inferior ou pé, existe uma membrana larga, que às vezes parece funcionar como ventilador, desencadeando o fluir de uma corrente de água sobre as brânquias dorsais. Alimenta-se de algas delicadas que crescem entre as pedras em águas enlameadas ou paradas, e encontrei-lhe no estômago várias pedras, como nas moelas dos pássaros. Quando perturbada, esta lesma segrega  um fluido vermelho-escarlate que tinge a água no espaço de um pé ao seu redor. Além deste melo de defesa, espalha-se-lhe pelo corpo uma secreção acre que provoca uma sensação aguda e picante, semelhante à produzida  pela Fisália, ou anémona navio-de-perra-português.

Por várias ocasiões fiquei muito interessado a observar  os hábitos de um polvo ou lula. Embora comuns nas poças de água deixadas pela maré vazante, estes animais não eram apanhados com  facilidade. Por meio dos longos tentáculos e ventosas. conseguiam esgueirar os seus corpos para fendas muito estreitas de onde, quando assim se fixavam. era necessário uma força enorme para os retirar. Outras vezes,  de cauda para a frente e com a velocidade de uma  seta, precipitavam-se de um lado da poça  para outro, ao mesmo tempo  tingiam a água  com uma tinta castanho-escura. Estes animais  também escapam a detecção por um extraordinário poder camaleónico de mudar a sua cor. Parecem variar as tonalidades de acordo com a natureza do solo sobre o qual passam ; quando,  em águas profundas , a sua cor  em geral é de um castanho-avermelhado, mas quando colocados sobre a terra, ou em rasa água, esta coloração escura mudava-se num verde-amarelado. Examinada mais   cuidadosamente. a cor era um cinzento francês salpicado  com Inúmeras pintas minúsculas de amarelo brilhante: as primeiras variavam de  intensidade enquanto as ultimas desapareciam e apareciam  de novo, por turnos Estas mudanças  efectuavam-se  de tal maneira que  nuvens, variando de tonalidade entre  o vermelho-arroxeado e o castanho. lhe continuamente sobre o corpo. Qualquer  parte do corpo sujeita a um choque galvânico quase preta: um efeito similar, mas em menor grau, era produzido pele com uma agulha. Estas nuvens ou rubores, como  se poderão chamar, quando examinados  sob uma lente, são descritos  como sendo produzidos pelas expansões e contracções alternadas de minúsculas vesículas contendo variados fluídos coloridos.

Esta lula exibia o seu poder camaleónico, tanto durante o acto de nadar, como quando se mantinha estacionária no fundo. Muito me divertiram as variadas artes de escapar à detecção  usada por um indivíduo, que parecia estar perfeitamente consciente de que eu o observava. Depois de ficar imóvel durante algum tempo, avançava furtivamente por uma a duas polegadas. como um gato atrás de um  rato, às vezes mudando de cor: assim avançava até que, tendo atingido uma parte mais profunda, disparou para a frente deixando ama trilha enevoada de tinta para esconder o buraco para onde se tinha esgueirado.
Enquanto procurava animais marinhos, com a cabeça a uns dois pés da margem rochosa, fui mais vez saudado por jacto de tinta  acompanhado de um ligeiro ruído de disparar . A princípio não sabia o que  era. mas depois descobri que se tratava da lula. a qual,  embora escondida num buraco, assim muitas vezes me conduzia a descobri-la. Que possuía o poder de ejectar água não há dúvida. mas mais ainda, parecia-me certo que dirigindo o tubo ou sifão da parte inferior do corpo, obtinha uma boa pontaria. Dada a dificuldade que estes animais têm em sustentar a cabeça, não podem deslocar-se com facilidade quando colocados no chão. Observei que aquele que eu conservava na cabina se tornava ligeiramente fosforescente no escuro.





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