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quarta-feira, 22 de julho de 2020

Santomenses com histórias - Albertino Bragança, Politico, Escritor, Dinamizador Cultural e mobilizador da linha da Frente –- E também do repórter perseguido e agredido por colonos e militares, com esfaqueamento dos pneus da viatura, uma forca pendurada à porta e outras barbaridades - : Diz que “O dia da Independência foi o dia mais exaltante do país” - “ Defende que é “ extremamente necessário pôr a defesa e o desenvolvimento do país acima das nossas ambições– Diálogo casual, há cinco anos, nas cerimónias do 12 de Julho, com ele, Tomé Vera Cruz e Domingues Cravid, cada um com as suas memórias inesquecíveis.

Prá História da Independência de STP e do Jornalismo massacrado e heróico  que não conta nas estatísticas e nos laureados  - Jorge Trabulo Marques – Jornalista   em STP – Antes de depois do 25 de Abril


Este é mais um dos registos, que aproveito para  recordar do meu arquivo e que pude gravar em 2015, quer nas comemorações do 12 de Julho, quer durante a minha estadia, aquele ano, na maravilhosa Ilha de S. Tomé.  
Albertino Bragança, autor de vários livros,  detentor de um prestigiado currículo, quer em termos políticos, quer no âmbito cultural
Encontrava-se em Portugal, quando se deu  a Revolução de Abril, tendo frequentado a Universidade de Coimbra (Faculdade de Ciências) entre 1964 e 1969.


Albertino Homem dos Santos Sequeira Bragança nasceu em S. Tomé, em 9 de Março de 1944 -  Foi ele, que,  em Lisboa, na qualidade de membro da Associação Cívica Pró-MLLSTP, organizou a primeira grande manifestação pró-independência – Diz:
Eu lembro-me, que, em Lisboa, quando a 27 de Julho, o General Spínola fez uma  declaração a reconhecer o direito  à autodeterminação e independência de Angola, Moçambique e da Guiné-Bissau mas não falou de S. Tomé e Príncipe e de Cabo Verde, então nós fizemos uma grande manifestação de mais 50 mil pessoas em Lisboa e fomos ter com Kurt Valdaime, que era na altura, o Secretário-Geral das Nações Unida
Regressado ao país após a independência, a par da sua atividade como técnico de educação (sector onde desempenhou diversos cargos diretivos), dedicou-se a intensa atividade cultural, tendo criado em 1984, com Frederico Gustavo dos Anjos e Armindo Aguiar, as Edições Gravana Nova, que tiveram o mérito de dar à luz Bandeira Para Um Cadáver, de Frederico Gustavo dos Anjos, e Rosa do Riboque e Outros Contos, de sua autoria.
Em 1985 organiza, com a reputada poetisa Alda do Espírito Santo e a plêiade de jovens dedicados às artes e letras de S. Tomé e Príncipe, a União Nacional de Escritores e Artistas de S. Tomé e Príncipe (UNEAS), de que é Secretário-Geral.
Com “Rosa do Riboque e Outros Contos”, de 1985, Albertino Bragança dá início a um percurso pioneiro na literatura são-tomense que se foca em relatos ficcionais sobre a realidade do arquipélago formado por duas ilhas principais, São Tomé e Príncipe, no período anterior e posterior à sua independência, em 1975.  Nos seus contos e romances o autor aborda temas ‘tabu’, preconceitos e estigmas sociais, entretanto esbatidos na realidade actual, mas não necessariamente resolvidos. Um dos seus contos, “Preconceito”, trata a questão da discriminação entre descendentes de escravos alforriados e os trabalhadores contratados para as roças de cacau e café, vindos de Cabo Verde, Moçambique, Angola, que chegavam a São Tomé e Príncipe para trabalharem “em regime de escravatura mascarada de contrato”, descrevem os historiadores. Os contratados viviam em condições precárias e eram marginalizados, tanto por colonizadores como por nativos. Estas condições laborais, defendem alguns investigadores, estiveram na origem do massacre de Batepá, em 1953, que opuseram trabalhadores contratados e nativos instrumentalizados pelo poder colonial. https://pontofinalmacau.wordpress.com/2018/03/06/albertino-braganca-o-escritor-contestatario-na-linha-da-frente-da-democratizacao-de-sao-tome-e-principe/
 S. Tomé e Principe -  Dos tempos heroicos de Associação Cívica Pró-MLTP  à Proclamação da Liga dos Combatentes da Liberdade da Pátria a 12 de Julho de 20015.
Nos tempos conturbados da era do vazio em que o mundo parece resvalar, em que o egoísmo e o interesse individual se sobrepõe num afunilar, crescente e impiedoso, da chamada aldeia global, de que o liberalismo selvagem se apoderou e perverteu,  transformando países em meras quintas ou empresas de sociedade anónimas,  fazendo do espaço de milhões a sua única coutada, em detrimento do bem-estar e progresso social coletivo, sim, é saudável que os bons exemplos, prossigam e  nunca sejam esquecidos - Sobretudo por parte daqueles que deram abnegadamente o seu esforço, pondo em causa em risco a sua própria vida, adiando até os seus estudos académicos, tal foi o caso dos membros da  Associação Cívica Pró-MLSTP sim, que, o pioneirismo e o trabalho desenvolvimento por esse punhado de jovens, jamais seja triturado pelo penacho da vaidade e do individualismo, tão em moda nos dias de hoje  –

 - Isto, porque, embora pequeno no  momento  da génese da sua formação, rapidamente haveria de se tornar galvanizante  e mobilizador, junto da população  de S. Tomé e Príncipe.

UM BRAVO À ASSOCIAÇÃO CÍVICA PRÓ-MLSTP    


 Fui dos raros portugueses, senão talvez o único, que pude ter a honra e o prazer de acompanhar de perto a  campanha mobilizadora da Associação Cívica Pró-MLSTP – Fi-lo, inicialmente, como jornalista, mas, sendo também o cidadão que conhecera. no corpo e no espírito, as diabruras, abusos e prepotências de um certo colonialismo, que teimava em ignorar os novos ventos da história, sim, por natural empatia, depressa me sentia irmanado e identificado com a mesma luta, que me haveria de custar as mais selváticas agressões.  



Filinto Costa Alegre, fez parte de um reduzido grupo de estudantes universitários que abandona os estudos, em Portugal e que voluntariamente responde aos ventos de mudança do 25 de Abril. Só por esse corajoso gesto é digno do seu nome se inserir na  galeria  dos valorosos heróis destas ilhas. Mas o seu amor pátrio, a  sua entrega e generosidade à terra que o viu nascer, tais abnegados propósitos, vão ainda  mais longe.




"Há alguma desilusão mas não desesperança"

Na qualidade de jornalista da revista angolana, Semana Ilustrada, tive oportunidade de acompanhar e divulgar, muitas dessas ações, e dialogar pessoalmente com Filinto Costa Alegre, assim, como com outros membros desta dinâmica associação, e, posteriormente, com  os principais dirigentes do MLSTP e outras figuras que entretanto surgiram na ribalta do processo de descolonização e democratização.

AS BOAS SEMENTES DÃO SEMPRE BONS FRUTOS – O IMPORTANTE É QUE NÃO SEJAM PIZADAS OU MERGULHADAS PELO ALASTRAR DAS ERVAS DANINHAS

As boas ideias ou ideais não nascem das multidões mas mercê de rasgos de iniciativas individuais ou de pequenos grupos, animados  por ousados e louváveis princípios em prol do bem comum – O acalorado despertar das massas é um fenómeno posterior e mais lento: vai depender das ações de consciencialização, do   grau de empatia ou identificação, que animem os bons propósitos, susceptíveis de congregar  à sua volta o interesse coletivo, a defesa intransigente dos mais nobres e empenhados valores em prol de um país ou de um povo: que visem a sua independência económica e social, irmanados em princípios de solidariedade, de justiça social e de amor do próximo

Ora, foi justamente esta a razão do sucesso de um punhado de arrojados jovens nacionalistas santomenses, depois de formarem a criação da Associação Cívica Pró-MLSTP, no dia 15 de Agosto de 1975, com  aprovação dos seus estatutos, distribuídos em  34 artigos por dez pontos, sim, tudo bem escriturado e definido, se lançaram  à luta em defesa do seu Povo –

Do seu programa, aprovado na mesma data, de largo alcance mas sintetizado em cinco pontos fundamentais:
Independência imediata e completa
Regime democrático, anticolonialista e anti-imperialista
Reconstrução económica
Política independente e pacífica
5. Unidade Africana.

Situada, com a sua sede, no humilde e velhinho bairro do  Riboque, uma das zonas mais estigmatizadas pelo colonialismo, e também aquela  - a primeira – a  entregar-se com os seus moradores  à causa da libertação do povo santomense, a autoproclamar-se zona  libertada. Sim, foi aí que haveriam de surgir os valorosos e aguerridos guerrilheiros, os jotas da Associação Cívica e MLTSP

Os estatutos da Associação Cívica foram aprovados na Assembleia desta organização, no dia 15 de Agaoto de 1974, compostos por 34 artigos que Não tivemos o prazer e a hora de assistir ao ato formal da assinatura da nova associação, de 25 pontos que definiam a criação  

INTERVENÇÃO DE CARLOS TINY NO ACTO DE PROCLAMAÇÃO DA LIGA DOS COMBATENTES DA LIBERDADE DA PÁTRIA A 12 JULHO 2015-07-08

O PAPEL DA ASSOCIAÇÃO CÍVICA PRO-MLSTP NA LUTA PELA INDEPENDÊNCIA

Associação Cívica Pró-MLSTP foi criada a 15 de Junho de 1974 e posteriormente extinta em Março de 1975. Durou 9 meses apenas, digamos o tempo de gestação de uma criança.
Durante esta semana e graças a um interessantíssimo trabalho passado na TVS, um documentário/filme, pudemos ver expressas as mais diversas e por vezes antagónicas opiniões sobre a “Cívica”. Se diversas e até mesmo contraditórias, há um ponto comum a todas elas. É que todas, absolutamente todas reconhecem que a Cívica existiu e jogou um papel que para a maioria foiimportante – se bem que … acrescentem muitas vezes a sua avaliação própria a que não quero disputar legitimidade pois não me parece importante nesta minha intervenção…
O que fica claro é que a Cívica jogou um papel importante no processo de libertação da pátria, em particular na sua última fase. Não há nenhum protagonista dessa fase, nem mesmo testemunha, que ouse questionar esse facto. Nisso estamos todos de acordo. Nessas diversas intervenções, as divergências, quando existiram, eram quanto à natureza dessa intervenção e à sua, digamos dimensão. Em todo o caso TODOS falaram da Cívica.

Fazendo apelo a uma canção divulgada pelo popular cantor Godinho e pelo conjunto Mindelo, digo citando:
“Tlaba kua bô guada kua bô antê dja cé,
Na ligui kua ngê di mundu pê cabeça fa
Shi bô ligui ê bô ka molê sê dja chiga… 
Godinho ê, legué inem flá
Shi a na fla ni bô fa
Sa punda bô na ska vivê fa…”

Noutros termos, se todos falaram e falam dela é porque ela VIVEU/EXISTIU…
Assente este ponto eu me questionaria nos seguintes termos:
O que é que foi essa Instituição que para todas as pessoas que viveram essa época (e não só) tão bem conheceram e conhecem, umas amando-a, outras desamando-as, odiando mesmo como basta revisitar o documentário que acima mencionei?

Quero chocar alguns de vós os presentes com a constatação que faço e justifico a seguir:
Essa Instituição, que todos conheciam à época, é hoje desconhecida, ignorada, incompreendida pela maioria da nossa população…
Choquei-vos?
Sim, e repito a maioria da nossa população desconhece essa instituição; a Cívica, que para alguns de nós significa o ponto alto das nossas vidas, motivo de orgulho que transmitimos aos nossos filhos e netos (pois  é, já temos netos…) é hoje desconhecida pela maioria da nossa população que lhe é completamente alheia.

Expliquemo-nos:


De acordo com o IV Recenseamento Geral da População e da Habitação de STP de 2012, a percentagem da população com menos de 40 anos representava nessa altura mais de 80% do total, mais precisamente 81,7%. Podemos portanto dizer com elevado grau de segurança, pois que não aconteceu nenhum cataclismo em STP desde essa altura e que pudesse ter modificado significativamente a estrutura demográfica da população santomense, podemos portanto estimar, dizia eu, que as crianças que nasceram no dia da independência ou melhor ainda desde a altura da independência representam mais de 80% da população
.
Se a essa população juntarmos os 7,9 % que, segundo a mesmo fonte, era a percentagem da população que tinha entre 40 e 49 anos, estamos a falar de gente com menos de cinquenta anos que no total representariam cerca de 90% da população santomense de hoje, ou se quisermos ser mais precisos, 89,6%.

Preciso que estamos a falar dos santomenses que nasceram depois de 12 de Julho de 75 e dos que nessa altura teriam menos de 10 anos; e junto esses últimos, os que tinham menos de dez anos porquanto esses não tinham consciência de factos políticos de que a Cívica era um…


Acho que seria, pois, aceitável dizer que para cerca de 90% da população a Cívica seria uma realidade muito “baça”… Sim, é que essa gente não vivenciou essa realidade, pouco ou nada leu sobre ela, até porque pouco ou muito pouco se escreveu sobre ela; a mesma não consta adequada e objectivamente dos manuais escolares e, é preciso dizê-lo, houve uma “Conspiração do silêncio”para “apagar” o nome da Cívica da história mais recente de São Tomé e Príncipe.
Vejam os discursos oficiais, leiam ou revisitem as intervenções dos “grandes líderes”… e contem as referências à Cívica… Das poucas vezes quando diretamente questionados muito poucos falem dela, mas muitos dificilmente resistem esconder as suas garras retrácteis…
Sim. Houve sim um certa tergiversação da realidade, uma manipulação da história que urge em definitivo contrariar senão mesmo denunciar.
Todavia, meus caros, é preciso que o digamos e assumamos claramente que os principais culpados dessa falha somos NÓS.
De facto, o que é que nós, os que participamos ativamente na Cívica, fizemos pela divulgação do seu ideário, das suas atividades, composição e importância?
Muito pouco, quase nada…
Com o nosso silêncio cúmplice chegamos até aqui…
É, pois, necessário que primeiro apontemos o dedo a nós próprios e apenas depois a outros também.
Houve tergiversação da realidade? Houve sim…
Houve manipulação da história? Houve sim….
Houve “Esquecimento”? Sim, houve….
Houve silenciamento e apagamento? Sim, houve
Se é verdade que houve de tudo isso, é também verdade que houve nesse período pouco, muito pouco de NÓS…

Irei de seguida e aproveitando esta oportunidade dizer alguma coisa, em traços muito gerais (por necessidade de racionalização do tempo de que dispomos) sobre o que foi e porque foi a Cívica.
Falar da Associação Cívica, e antes do mais falar da longa e dura luta do povo santomense pela sua liberdade e independência. Há pois que enquadra-la nesse contexto, encontrar o seu lugar nessa luta, situa-la nesse contexto mais amplo da história dessa luta histórica, no quadro da luta de Yon Gato e Amador, da ansia dos trabalhadores contratados e forros nas roças contra os maus tratos, a descriminação e exploração erigidas em regra de convivência social.
Não retomarei nesta intervenção as gestas que eu chamaria de fundacionais de Yon Gato e Amador porque de todos aqui felizmente conhecidas. Foram mencionados aqui e no quadro dessa luta secular, reuniões e atividades de grupos clandestinos, em particular de Alda do Espírito Santo, Guadalupe de Ceita, Pires dos Santos – Ohnet, Gastão Torres, Quintero Aguiar, Pedro Gomes, Norberto Costa Alegre (pai) a que nós carinhosamente chamávamos de “Velho Costa”, Amílcar d’Alva, Pedro Rita Vaz de Alcântara, que se decidiram pela “organização” da luta, dotando-a de uma “dimensão organizativa” mais propícia aos tempos modernos, atividades que deram lugar à criação do CLSTP que em 12 de Julho de 1972 se transformaria no MLSTP que conduziria o processo até à independência a 12 de Julho de 1975, faz hoje precisamente 40 anos.

O MLSTP, para além das estruturas dirigentes no exterior, tinha estruturas internas aqui em STP animadas pelos “velhos combatentes” que mencionei acima liderados pela Alda do Espírito Santo. – Mais pormenores em O papel da Associação Cívica pro-MLSTP na luta

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