Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Tem-se menosprezado a cultura e arte
africana, sendo ela uma das mais antigas da Humanidade - Tal como é referido por estudiosos, a
origem da história da arte africana está situada muito antes da história
registrada. A arte africana em rocha no Saara, em Níger, conserva entalhes de
6000 anos.
“As esculturas
mais antigas conhecidas são dos Nok cultura da Nigéria, feitas por volta 500
d.C.. Junto com a África Subsariana, as artes culturais das tribos ocidentais,
artefatos do Egito antigo, e artesanatos indígenas do sul também contribuíram
grandemente para a arte africana. Muitas vezes, representando a abundância da
natureza circundante, a arte foi muitas vezes interpretações abstratas de
animais, vida vegetal, ou desenhos naturais e formas”.
A arte africana representa os usos e costumes das tribos africanas. O
objeto de arte é funcional e expressam muita sensibilidade. Nas pinturas, assim
como nas esculturas, a presença da figura humana identifica a preocupação com
os valores étnicos, morais e religiosos.
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Artesanto santomense |
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Artesanto angolano |
A escultura foi uma forma de arte muito
utilizada pelos artistas africanos usando-se o ouro, bronze e marfim como
matéria prima. Representando um disfarce para a incorporação dos espíritos e a
possibilidade de adquirir forças mágicas, as máscaras têm um significado
místico e importante na arte africana sendo usadas nos rituais e funerais. As
máscaras são confeccionadas em barro, marfim, metais, mas o material mais
utilizado é a madeira. Para estabelecer a purificação e a ligação com a
entidade sagrada, são modeladas em segredo na selva. Visitando os museus da
Europa Ocidental é possível conhecer o maior acervo da arte antiga africana no
mundo http://www.portaldarte.com.br/arteafricana.htm.
A audiência, concedida pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, à artista angolana, decorreu há um ano, em 31 de Março, na presença do Embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica e o Presidente da C.M de Cascais e a Ministra da Cultura angolana, mas o registo destas palavras continuam atuais .
“Para que a cultura e a arte angolana sejam de facto internacionalizadas serão necessárias políticas educativas e culturais que favoreçam o desenvolvimento e o crescimento de sujeitos que as possam representar com propriedade e dignidade. Por outro lado, é preciso criar um público angolano que comece a gostar e a respeitar o que é feito pelos artistas angolanos. Há o trabalho dos curadores que deverá ser cada vez mais desenvolvido para que os artistas plásticos possam mostrar o seu trabalho e ombrear com os outros colegas de várias partes do globo. ” A afirmação é da Pintora angolana Dilia Fraguito Samarth, natural de N´Dalatando, no Kwanza-Norte, em Angola onde nasceu em 1956 e brincou até um tempo da sua juventude. O encontro com a Arte e a Cultura estavam marcados e cruzados. De Luanda parte para o Porto, cidade onde tive o grato prazer de a conhecer e nos cruzarmos-nos nos meios académicos e culturais da histórica cidade portuense onde cinzento do inverno era suportado pelo sol que ainda se trazia no coração do nosso País que é Angola. Na cidade da emblemática Torre dos Clérigos e do histórico Café Piolho, Dilia Fraguito Samarth tirou o Curso Superior de Desenho na conhecida Cooperativa de Ensino Superior Árvore, no Porto e frequenta e conclui o Curso de Gravura.
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Eusébio Dias - S. Tomé |
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Angola |
Importa referir que o seu encontro com a Arte e a Literatura,
que é também outra forma de Arte, remonta a 1975 quando faz uma ilustração para
o livro de Poemas de A. Pires Cabral. Mas se a paixão pela arte de Pintar era e
é um opção sentida, o Ensino abraça o seu percurso e entre a Arte de Pintar,
torna-se também Docente na Cooperativa de Ensino Superior Artístico Árvore. Em
conversa e entrevista exclusiva com o Portal de Angola, a Pintora Dilia
Fraguito Samarth quando questionada se o seu trabalho é uma forma de
sensibilizar a condição humana, a mesma afirma e cito que ” o meu trabalho
artístico, baseia-se bastante na sua relação com a História da (DES) Humanidade
e com as questões que ainda hoje nos atormentam como a guerra, a fome, o
racismo, a dor, o trabalho das crianças incógnitas nas minas de cobalto do
Congo, o grito sufocado das mães Sírias ou do Bangladesh e os gritos escondidos
em cada peça de roupa exposta nas luminosas vitrinas das capitais europeias.
Uma grande parte da minha obra refere-se precisamente a assuntos que dizem
respeito às relações cruéis que o auto-denominado ocidente manteve
fundamentalmente com o continente africano e americano.
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Artesanto santomense |
Por um lado refiro-me a
momentos da história de algumas sociedades africanas que tiveram o seu apogeu
muito antes da chegada dos europeus no século XV. Os manuais de história foram
organizados e continuam a ser organizados denegrindo as culturas não europeias
e omitindo os factos positivos dessas mesmas sociedades.” Mas Dilia Fraguito
Samarth que participa nesta Exposição Colectiva de Pintores Angolana designada
por “Artes Mirablis ” é categórica e deixa entre reflexões, perguntas e
afirmações quando se abordou o significado de ter participado nesta Exposição
que decorre na UCCLA, em Lisboa até ao próximo dia 4 de Abril diz o seguinte e
cito: ” Esta exposição é, do meu ponto de vista, apenas mais uma exposição.
Temos que agradecer à organização o facto de nos ter convidado e ter conseguido
juntar um razoável grupo de artistas. A curadoria esteve a cargo do nosso
colega Lino Damião a quem deixo as minhas felicitações. De qualquer forma, esta
mostra levou-nos a pensar naquela colectiva “TONS E TEXTURAS DA ANGOLANIDADE”,
que foi realizada em 2003, quando o Dr. Assunção dos Anjos exercia o cargo de
Embaixador de Angola em Lisboa e Luís Kandjimbo as funções de Adido Cultural.
Ambas as exposições aconteceram em Lisboa. E a pergunta que fazemos é a
seguinte: qual é de facto o resultado destas exposições para a visibilidade dos
artistas angolanos que vivem na Diáspora? Em que medida contribuíram para a
dignificação das produções culturais de Angola na Europa? Qual a reacção dos
especialistas de arte? Como reagiu a imprensa da especialidade? Do nosso ponto
de vista, continuamos a viver nos rastos dos caminhos sulcados pelo processo
colonial, com o silêncio de todos nós. Quantos de nós fomos contactados pela
imprensa portuguesa? O que fizeram em relação à ultima exposição os pretensos
críticos e especialistas das artes plásticas africanas?”.
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