EQUINÓCIO DO OUTONO CELEBRADO JUNTO A UM
CALENDÁRIO E CÂMARA DE RESSONÂNCIA DA PRÉ-HISTÓRIA, COM POEMAS DE JOÃO DE DEUS,
LIDOS POR FAMILIARES
O
primeiro dia do Outono 2019, no Hemisfério Norte, entrou oficialmente esta
manhã, dia 23 de Setembro, exatamente
às 08:50, tendo sido celebrado, momentos antes, no monte dos
Tambores, aldeia de Chãs, Vila Nova de Foz Côa, junto ao altar sacrificial do Santuário
Rupestre da Pedra da Cabeleira de Nª Srª, com os raios solares a atravessarem a
sua graciosa gruta, em forma de semi-arco, com a leitura de belos
momentos de poesia de João de Deus e de Manuel Daniel
-
Poemas
de João de Deus, cantados pela esposa de António Ponces de Carvalho,
que também teve a amabilidade de calorosamente nos surpreender com
poemas directamente lidos do magnifico livro, Campo de Flores, que, no
final da cerimónia, gentilmente no-lo ofereceu.
A saudação à chegada do primeiro dia do Outono, que
começou por ser assinalado frente ao frontispício do monumental
megalítico, localizado próximo a uma zona castreja, integrada nas já tradicionais festividades dos
ciclos das estações do ano, acabou por
decorrer também na face voltada a nascente e na Pedra da Audição, uma câmara de ressonância em forma de ouvido, visto ali
os sons, além de lhe vibrarem intensamente no peito e na alma, a quem ali se
recolhe sentado, parecem até expandir-se por todo o Universo
Poeta Manuel
Daniel - Em o “Anjo do Esquecimento” – Na
Celebração do Equinócio do Outono 2019
MANUEL DANIEL –
UMA VIDA INTENSA E MULTIFACETADA – ADVOGADO, POETA, ESCRITOR, DRAMATURGO E
O HOMEM AO SERVIÇO DA CAUSA PÚBLICA -
Tal como havíamos previsto, também aproveitámos para, neste festival poético, lermos poemas do nosso estimado amigo e colaborador, Dr Manuel Daniel, atualmente invisual, que só não esteve presente por via da sua incapacidade física.
Tal como havíamos previsto, também aproveitámos para, neste festival poético, lermos poemas do nosso estimado amigo e colaborador, Dr Manuel Daniel, atualmente invisual, que só não esteve presente por via da sua incapacidade física.
O abraço amigo de profunda gratidão por tão reconfortantes e belas poéticas
palavras, em o Anjo
do Esquecimento - Com encarecidos votos a Deus que lhe devolva a luz
aos seus olhos, que tanto carece, para poder contemplar as maravilhas
da sua criação e as poder sublimar na sua calorosa e sensível verve religiosa e
poética.
-
A manhã irrompeu
fresca, com algumas névoas a toldar o céu, quase
a fazer-nos lembrar a instabilidade do último Sábado e Domingo, todavia, à medida que o
astro-rei subia a nascente, os seus luminosos raios, mais se espelhavam esplendorosos, como que a abençoar os frutos e as colheitas, especialmente as
vindimas, que é justamente o tempo em que decorrem por estas bandas do Douro e beira-transmontana,
embora com muito suor e esforço, mas em jeito de festa, em que se recolhem os bagos
das uvas para produzir o vinho generoso, o mundialmente tão conhecido e precioso néctar do vinho do Porto.
Repetiu-se, pois,
uma vez mais, de forma singela e desprendida, a tradição que pretende recuperar
antiquíssimos rituais, esquecidos no tempo, dos homens, que viviam e se
abrigavam nas cavernas dos penhascos de granito, que por aqui se erguem como inexpugnáveis e cinzentas
muralhas encasteladas, cujas vidas dependiam exclusivamente dos ciclos da
Natureza, que cultuavam e celebravam, nos seus observatórios astronómicos e
locais de culto – Eram os adoradores do Sol, o Deus Mais Antigo da Terra, fonte
da vida de todas as formas existentes nos mares e à superfície do nosso
planeta.
A estação do Outono é o inicio da
despedida do Verão, com os dias em geral ainda amenos, mas trazendo consigo mais frio e
chuva, e o cair das folhas amarelas. Em Portugal, o outono termina 22 de
dezembro, às 4h19, dando início ao inverno.
dando lugar ao Solstício de Inverno.
O
enorme penedo, visto de leste para oeste, prefigura um enorme crânio,
como que pronto a ser decepado - daí ser classificado, pelo arqueólogo e
etnógrafo, Prof Adriano Vasco Rodrigues, como um local de culto ou de
sacrifício, possui uma
gruta em forma de semi-arco, com cerca da 4,5 metros de comprimento, que
é iluminada no seu eixo no momento em que o Sol se ergue no horizonte,
proporcionando uma imagem invulgar, tal como hoje voltou a ser
testemunhada, na face que se abre em forma de radioso leque para quem
se posicione no alinhamento sagrado, de costas a poente, que passa
perpendicularmente ao muro e às pedras que o balizam, como verdadeiro
calendário astronómico.
POETA JOÃO DE DEUS
– EVOCADO COM DUAS DAS SUAS MAIS RECENTES GERAÇÕES: COM A PRESENÇA DO BISNETO
ANTÓNIO PONCES DE CARVALHO E A SUA ESPOSA, E O TRINETO DE 4 ANOS
A
celebração foi
anunciada, na missa dominical, graças à gentileza do parco da freguesia,
mesmo
assim, com a aldeia envolvida nas vindimas, numa terra igualmente
marcada
pela desertificação, não era fácil congregarmos os mesmos participantes
da celebração do solstício do passado mês de Junho, que decorre do fim
da tarde ao pôr-do-sol, enquanto esta decorre com o astro-solar a
levantar-se a oriente, no entanto, damo-nos por satisfeito por termos
podido contar com um caloroso grupo de amigos,
que saudaram o inicio da Estação dos
frutos e das colheitas,, dir-se-ia de coração em festa, deslumbrados pelo
fabuloso fenómeno solar, a que puderem assistir e também pelos belos momentos poéticos, vividos no interior
do recinto amuralhado.
Momentos de recolhimento, ao lado, na Pedra da Audição ou das Orações |
Sim, além dos
habituais amigos, que vêm colaborando nas tradicionais festividades, que vimos
organizando desde há cerca de 20 ANOS, nomeadamente
de António Lourenço, José Lebreiro, Agostinho Soares, Hermínio Lemos, assim, como
das reportagens fotográficas de Pedro Daniel e Adriano Ferreira, quem haveria de imaginar, se bem que já
constitua uma tradição a leitura de poemas e a evocação de poetas, que, a nossa singela celebração de hoje, ia
contar com a honrosa e amável presença de duas gerações do poeta João de Deus:
do seu bisneto, Prof Doutor António Ponces de Carvalho, sua esposa e filho, o
trineto – associaram-se à leitura dos poemas
de João de Deus, um dos quais
cantado pela Filomena
CELEBRAMOS A BELA POESIA DE JOÃO DE DEUS
- Com poemas extraídos do livro CAMPO DE FLORES, que a sua neta,
amavelmente nos autografou e ofereceu - E, agora, também
diretamente da mesma obra, magnificamente ilustrada e editada pela
Associação de Jardins-Escola João de Deus, que o seu Presidente, Prof Doutor António Ponces de Carvalho, teve a gentileza de nos ofertar.
Associação
de Jardins-Escolas João de Deus, com sede em Lisboa e fundada em 1882,
sob o nome Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, é
uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) dedicada à educação e
à cultura cuja atividade se reparte pela ESE João de Deus e por 37
Jardins-Escolas distribuídos pelo país.
De recordar que, há dois anos e no âmbito da comemoração dos 100 anos
do Museu João de Deus, a Associação de Jardins-Escola João de Deus foi
distinguida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa com a
Ordem Honorífica de Instrução Pública.
João de Deus de Nogueira
Ramos nasceu em São Bartolomeu de Messines, Algarve, no dia 8 de março de 1830
e faleceu em Lisboa no dia 11 de Janeiro de 1896. Frequentou o curso de Direito
na Universidade de Coimbra e, acabado o curso, dedicou-se ao jornalismo e à
advocacia em Coimbra, Beja, Évora e Lisboa. Ligado inicialmente ao
ultra-romantismo, depressa o abandonou seguindo uma estética muito própria. As
suas poesias foram reunidas na colectânea Campo de Flores, publicada em
1893, incluindo-se nesta duas obras anteriores: Flores do Campo e Folhas
Soltas. Dedicou-se à pedagogia, resultando daí a Cartilha Maternal, publicada em 1876
e tendo como fim o ensino da leitura às crianças. Foi um dos grandes amigos e
admiradores de Antero de Quental. MAIS PORMENORES EM https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Deus_de_Nogueira_Ramos
A VIDA
A vida é o
dia de hoje,
a vida é ai que mal soa,
a vida é sombra que foge,
a vida é nuvem que voa;
a vida é sonho tão leve
que se desfaz como a neve
e como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
mais leve que o pensamento,
a vida leva-a o vento,
a vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
a vida é sopro suave,
a vida é estrela cadente,
voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
onda que o vento nos mares
uma após outra lançou,
a vida – pena caída
da asa de ave ferida -
de vale em vale impelida,
a vida o vento a levou!
a vida é ai que mal soa,
a vida é sombra que foge,
a vida é nuvem que voa;
a vida é sonho tão leve
que se desfaz como a neve
e como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
mais leve que o pensamento,
a vida leva-a o vento,
a vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
a vida é sopro suave,
a vida é estrela cadente,
voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
onda que o vento nos mares
uma após outra lançou,
a vida – pena caída
da asa de ave ferida -
de vale em vale impelida,
a vida o vento a levou!
João de Deus
O
Sol na marcha luminosa voa
Lançando
à terra majestoso olhar;
Passa cantando quem o ar povoa,
E
a praia abraça venturoso o mar.
No
bosque o vento doce canto entoa,
Ouvem-se
em coro as multidões cantar:
Que
a um só triste o coração lhe doa,
Que eu seja o único a sofrer, penar!
Por
ti, saudade... de quem vai tão perto·
E
a quem dos olhos e das mãos perdi
Neste
tão ermo, lúgubre deserto!
Por
ti, ventura ... que uma vez senti;
Por
ti que às vezes a meu peito aperto
E ... o peito aperto sem te ver a ti!
MARIA DA LUZ PONCES DE CARVALHO - QUE TIVE O PRAZER DE CONHECER - TAMBÉM RECORDÁMOS O SEU NOME
Neta de João de Deus, o autor da Cartilha Maternal (1876),
e filha do pedagogo João de Deus Ramos, foi inscrita na toponímia de
Lisboa a também educadora Maria da Luz Ponces de Carvalho, pelo Edital
de 03/07/2008, no eixo pedonal entre as Malhas 19 e 20.1 do Plano de
Urbanização do Alto do Lumiar que passou a ser um Jardim, com uma área
de 0,37 ha, na então Freguesia da Charneca e hoje, de Santa Clara.
Maria
da Luz de Deus Ramos Ponces de Carvalho (Lisboa/27.06.1918 –
08.12.1999/Lisboa), nascida alfacinha na freguesia de São Sebastião da
Pedreira, foi a principal continuadora da obra de seu avô e de seu pai,
exercendo a partir de 1943 trabalho educativo nos Jardins-Escolas João
de Deus e leccionando em simultâneo a disciplina de Educação Sensorial
no Curso de Educadoras de Infância pelo Método João de Deus..https://toponimialisboa.wordpress.com/2015/10/12/o-jardim-da-neta-de-joao-de-deus/
POETA MANUEL J. PIRES DANIEL - Nasceu em Vila de Meda (hoje cidade) em 18 de Novembro de 1934. Sem
dúvida, um admirável exemplo de labor e de tenacidade, de apaixonado pelas
letras e de sentido e dedicação ao bem comum – Nos seus livros, perpassam prefácios
elogiosos, tanto pelo Presidente da Câmara de Meda, a sua terra, como de Vila
Nova de Foz Côa, onde foi Presidente da Assembleia Geral, entre outras altas
funções.
HOJE SEUS OLHOS JÁ NÃO PODEM CONTEMPLAR A LUZ DO DIA -
ESTÁ COMPLETAMENTE CEGO - Os seus belos versos fazem parte das
tradicionais celebrações evocativas nos Templos do Sol - São
indispensáveis.
MANUEL DANIEL – UMA
VIDA INTENSA E MULTIFACETADA – ADVOGADO, POETA, ESCRITOR, DRAMATURGO E O HOMEM
AO SERVIÇO DA CAUSA PÚBLICA
A
sua vida tem sido pautada pela dedicação mas também pela descrição.
Atualmente, debatendo-se com extremas limitaçoes da sua vista, por via
de ter ficado completamente cego, no entanto, pese tão dura limitação,
nem por isso a verbe do poeta se esgota e, dentro do que lhe é
possível, com apoio amigo da família, lá vai compondo os seus versos e
editando livros. Em cujos poemas perpassa o que de melhor têm a poesia
portuguesa - Domina com mestria os mais diversos géneros poéticos e
neles se expressa, a par de um profundo sentimento de religiosidade, o
amor à terra, à natureza, aos espaços que lhe são queridos, suas
inquietações e interrogações, sobre a efemeridade da vida e o destino
do Homem - Em Manuel Pires Daniel, não há jogo de palavras mas palavas
que vêm do coração, que brotam naturalmente, como água da melhor
fonte, que corre das entranhas do xisto ou do granito da nossa terra
Anjo do
Esquecimento
Ao Jorge Trabulo
Marques
Não é a brisa,
não. Muito menos o vento.
É o Anjo de Letes,
Anjo do Esquecimento.
Um Ser
predestinado p’ra ajudar na viagem
para a Eternidade,
que está na outra margem.
Veio já uma vez,
sem se ter feito nada.
Com a alma
confusa, a vez foi adiada.
Não tem critério a
vez, nem ninguém a conhece.
A viagem sucede
quando o Anjo aparece.
Segue-se na visita
o usual programa.
É uma rotina,
certa, quando o anjo nos chama.
Ninguém pode levar
riquezas ou dinheiro.
Só leva uma moeda
p ́ra pagar ao barqueiro.
Já a meio do rio,
sabe nesse momento
que perde para
sempre o seu conhecimento.
E ante a Suprema
Luz, após sentença breve,
dá-se a
retribuição conforme a vida teve.
A segunda visita
veio sem ser marcada.
Está distraída a
alma, e mais, muito ocupada.
O Anjo, renitente,
não pára de insistir:
-"Não foi da
outra vez, agora temos de ir." –
Há um abismo em
mim, por falta de vontade.
Não me sinto capaz
nesta oportunidade.
Nem uma despedida
eu já tentara ainda.
Como posso partir,
se esta vida é tão linda!
O mundo está
perdido; há mal em todo o lado,
mas não conheço
espaço que dê maior agrado.
Como posso perder
as cores do arrebol,
a tarde
extraterrestre de um lindo pôr do Sol!
Deixar de ver as
cores de belas mariposas,
volteando em
canteiros de lírios e de rosas.
Deixar de ouvir
crianças de risos cristalinos!
E em capelinhas
brancas a doce voz dos sinos!
Como posso deixar
um mundo tão bonito
por um sonho
ignorado tirado ao infinito.
Só Deus e o homem
podem viver uma afeição.
Os anjos não
possuem tão grande coração.
Eu não posso
deixar nenhum dos meus recantos;
estão cheios de
saudades, estão neles os meus encantos.
Não tem preço a
beleza que vai do vale à serra.
Eu não posso deixar-te,
gente da minha terra!
Anjo, não tenho
força. Falece-me a coragem.
Como posso deixar
de fazer a viagem?
Nem Deus me
perdoava se eu fosse embora assim!
Anjo do
Esquecimento, Esquece-te de mim!
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