“Fiz ao todo 550 km de bicicleta nas duas
ilhas: 205 na ilha do Príncipe (onde estive onze dias) e 345 na ilha de São
Tomé (onde estive dezoito dias). São Tomé tem uns 50 km de comprimento e 30 de
largura, e o Príncipe tem uns 30 km de comprimento e 6 de largura. Distam entre si 160 km. Sendo as ilhas tão
pequenas, bem que podem perguntar-me como consegui fazer tantos quilómetros.
Andei às voltas?”
Outras imagens da atleta portuguesa, Rute
Norte, que pedalou por estradas, caminhos e trilhos das duas maravilhosas ilhas
de S. Tomé e Príncipe – Uma maneira diferente de olhar a paisagem natural e
admirar os rostos sorridentes das suas gentes e o seu peculiar modo de vida
Referindo-se ao 4ª Dia a caminho da Praia Sundy – Diz o
seguinte:
“Efetivamente mudei de padrão, nesta minha
viagem por São Tomé e Príncipe. Não ando com um carro de apoio. Comprei os voos
e a estadia na internet, e vim sozinha, sem agências de viagens desta vez.
Instalei-me num ponto fixo, o mais possível no centro das ilhas, e a partir daí
saio todos os dias para um ponto diferente. Vou fazendo percursos em forma de
estrela, digamos. Todos os dias vou – e regresso. Daí a repetição de
quilómetros. Além de que sendo ilhas montanhosas, os quilómetros propagam-se
nas curvas e contra-curvas. E subidas e descidas, pois claro.
Sendo o meu estilo de viagens lento, com
muitas paragens e conversas pelo caminho, e ainda uns mergulhos de vez em
quando, não consegui mesmo assim conhecer todos os pontinhos. Ficaram a
faltar-me umas coisas aqui e ali. Vinte e nove dias não foram suficientes. Mas
a maior parte do país ficou vista – e bem vista, com toda a calma. Quem tiver
pressa de conhecer São Tomé e Príncipe bem que pode sair já destas crónicas,
mais vale mudar já de website, porque estas vão decorrer ao ritmo das minhas
pedaladas lentas e cheias de paragens e fotos. E sorrisos.
Sobre São Tomé e Príncipe não se encontra
quase nada na internet. Há muitas fotos de praias, de crianças sorridentes,
edifícios da época colonial, e pouco mais. Mas São Tomé e Príncipe não é só
praias e crianças sorridentes, tem de haver muito mais do que isso. É esse o
desafio a que me proponho: pegar na bicicleta, embrenhar-me pelos caminhos de
terra e florestas, e ver o que há aqui. Onde estão vocês, meus amigos? O que
andam a fazer? O que são as vossas vidas?
Vou espreitar tudo. E sou convidada a
entrar em suas casas. Vou ter longas conversas, pausadas, sem pressas.
Leve-leve. Esta expressão “leve-leve” é típica de São Tomé e Príncipe, e
significa “suavemente, sem pressas”. Sem esforço desnecessário. Pedalar com
calma. Vai leve-leve, dizem-me, acenando-me com um sorriso. Vou sim, vou
leve-leve.
O povo santomense é tímido. Já estão
habituados a turistas a circularem de jipe, já nem ligam. As caras pálidas passam
nos seus jipes, às vezes tiram fotos da janela do carro, e na maioria das vezes
só vão às praias bonitas e turísticas. Eu optei por caminhos alternativos –
literalmente – pois estou a seguir trilhos para bicicleta de BTT (“bicicleta de
mato”, como dizem os santomenses). Instalei a app “Maps.me” – uma maravilhosa
app gratuita; fiz download do mapa de São Tomé e Príncipe, et voilà! Por vezes
nem sigo por estradas, sigo por trilhos. Esta aplicação indica quatro tipos de
caminhos: carro, pedestre, comboio (quando existe) e trilhos de BTT. A ponto de
perguntar-me por vezes se isto é mesmo um caminho que vai dar a algum lado. Com
arbustos cerrados dum lado e de outro, a roçarem em mim e na bicicleta. Só cabe
uma pessoa, carros não entram, nem sequer motas. “O caminho é por ali”, diz-me
um homem, apontando para a estrada. “Não, o GPS está a indicar-me que é por
aqui”, respondi eu. “Sim, este caminho vai lá dar” – elucidou uma mulher. E
desapareci no meio do mato. E que belas surpresas tive nesse dia, tanta gente
que se encontra a trabalhar no meio do mato. Lá chegaremos.
Pelo que nestas circunstâncias, quando as
pessoas se deparam com uma mulher sozinha de bicicleta pelos cantos mais
recônditos e inesperados (aqui estou eu!) a surpresa é significativa. Mandam-me
parar, chamam-me, querem saber mais. Não sou só eu que quero bisbilhotar, o
povo santomense também tem curiosidade e enche-me de perguntas mal a timidez
inicial se vai. O facto de falarmos todos português é fulcral. Fala-se
português em todo o lado, não há dificuldade de abordagem.
Sendo assim, vamos partir. Levo-vos a
todos sentadinhos no meu ombro, e talvez em cima do meu capacete, pequeninos,
escondidos, para verem tudo com os vossos próprios olhos. Têm de colocar uns
óculos de proteção e um pequenino capacete também, por segurança.
Vamos então.
As pessoas foram apanhadas de surpresa,
com a minha chegada. São 6 e meia da manhã. Cumprimentámo-nos, trocámos meia
dúzia de palavras. Deixaram-me à vontade para observar e fotografar. Um rapaz
acordou agora e foi urinar atrás da casa. Rapidamente vou perceber que
habitualmente não existem casas de banho nas habitações.
Existem muitas “roças” em São Tomé e
Príncipe. São antigos edifícios do tempo do colonialismo português, grandes
propriedades rurais onde se produziu cacau e café, nos finais do séc. XVIII e
inícios do séc XX. Atualmente a maioria está em avançado estado de degradação,
e alguns dos edifícios são habitados pela população.
Excertos de imagens e textos de http://rutenorte.com/cronicas- de-viagens/sao-tome-e- principe-550-km-de-bicicleta- sozinha-29-dias/#toggle-id-10
Contamos editar outras imagens e textos, por estradas, caminhos e trilhos de STP, desta extraordinária alteta portuguesa
Nenhum comentário :
Postar um comentário