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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

CABO-VERDIANOS NA DIÁSPORA: HÁ MAIS FORA DE QUE NO SEU PAIS - “O CABO VERDIANO É UM POVO DIFERENTE” DIZ BANA - O ídolo da música de Cabo Verde - "Já andei em toda a parte do mundo e já vi que o cabo-verdiano é o cabo-verdiano: não comparamos com ninguém" – Breves palavras antecederem a entrevista que fiz um cidadão cabo-verdiano, em Dakar, nos anos 80, que ali desembarcou clandestinamente, a bordo de um barco, que habitualmente fazia ligações entre as ilhas e que terá sido o mesmo, que fora chamado ao cais de Fernão Dias, em S. Tomé, para o carregamento de cerca de centena e meia de patriotas santomenses, que a tripulação cabo-verdiana forçara a largar no Príncipe e depois a dirigir-se a Dakar, para ali se refugiarem.


Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Informação e Análise  -


BANA, “O REI DA MORNA” – O GRANDE EMBAIXADOR DA MUSICA CABO-VERDIANA, NA DIÁSPORA   - Natural do Mindelo, onde nasceu, em 11 de Março de 1932,  tendo falecido, aos 81 anos,  em 13 de Junho de 2013,   de seu nome completo, Adriano Gonçalves, 81 anos, foi um dos nomes que mais ajudou a projetar a música de Cabo Verde no mundo, desempenhando um papel fundamental como agente da cultura do arquipélago “ – É com algumas palavras e os sons da sua música, que aqui o evocamos, neste meu apontamento.~

Referem estudos que !Cabo Verde  é   o  pais que tem mais gente fora de que dentro   No ranking dos países com emigrantes cabo-verdianos estão os EUA, Portugal (“calcula-se que haja 200 mil, incluindo os que têm nacionalidade portuguesa”, avalia a ministra), Holanda, Luxemburgo, Suíça, Suécia, Alemanha, Espanha, outros membros dos PALOP e Senegal; o Brasil, Argentina e China. Se é de Santiago, irá talvez para Portugal, França, para a Europa; se é do Fogo e Brava, escolherá os Estados Unidos — assim se desenham as linhas migratórias cabo-verdianas. O país que tem mais gente fora do que dentro | Cabo Verde 

Nos finais do séc. XVII começam os movimentos migratórios de uma população ressequida de uma dupla sede: a de conhecer novos mundos, para além dos horizontes fechados das ilhas, e a de dar asas à liberdade e cortar as amarras da ligação a um longo período de servidão. Emigração e Diáspora / História / Identidade
 ENTREVISTA  EM DAKAR, NOS ANOS 80, A CARLOS BRITO,  CIDADÃO CABO-VERDIANO  - QUE TERIA SIDO  TAMBÉM  UM DOS HERÓICOS TRIPULANTES DO NAVIO  ANTÓNIO CARLOS


Natural de Ilha Boavista, Silva Brito, 72 anos de idade: desembarcou  em Dakar, a bordo de um barco, onde era marinheiro, que habitualmente  fazia as ligações entre as várias ilhas: mas um dia esse barco, teve outro destino:  - e macabro! No registo da breve entrevista não é descrito, mas subentendi-o  depois de meter o gravador no meu saco de campo, quando ali me encontrava no termo de  de uma travessia de jipe, de Paris a Dakar,  sim, depreendi que ele tinha ali desembarcado, com outros companheiros, depois de terem protagonizado  uma grande aventura, mas sobre a qual não quis falar, pelo que, só mais tarde, é que comecei a depreender que pudesse ter sido o mesmo barco que, em 1953, ano dos horrendos massacres do Batepá, que aportou em Fernão Dias, para um carregamento de cerca de centena e meia de patriotas santomenses, entre os muitos que ali estavam no horrível campo de concentração, às ordens do famigerado Zé Mulato, que o Governador Carlos Gorgulho, pretendia lançar ao mar 

Feito o carregamento humano,  uma sublevação a bordo, obriga o comandante a deixá-los na Ilha do Príncipe: presume-se que fosse pela calada da noite: depois a mesma tripulação negra, na quase maioria cabo-verdiana, força o piloto a navegar para Dakar, onde cada um procura modo de esconder das autoridades e se esacapar.

No caso do Carlos Brito, recordou-me que, nos primeiros tempos, teve de “ficar um bocado escondido”; não tinha documentos mas, como tinha cá um patrício que era barbeiro, ele procurou de toda a forma para eu ficar cá, acompanhado com ele, e assim fiquei – Trabalhando clandestinamente, até mais tarde conseguir legalizar a sua situação, casar e constituir família, sendo pai de vários filhos e já avô de dez netos.


Neste momento, não tenho bem presente o ano e o mês, em que,  eu e mais cinco  amigos, decidimos percorrer, em dois jipes,  as mesmas pistas e o mesmo itinerário  do famoso Rali-Paris Dakar 

Ao chegarmos à capital do Senegal, aguardando o nosso regresso de avião, via Las Palmas, uma vez que  as duas viaturas iam ser transportadas por via marítima, pois, enquanto os meus companheiros se divertiam e recuperavam  forças nos copos,   eu aproveitei para ali fazer alguns apontamentos de reportagem sonoros, entrevistando pessoas, já que a única máquina fotográfica. estava com um dos outros cinco elementos da equipa 

Curiosamente, na breve e casual entrevista, que me concedeu em sua casa, um cidadão cabo-verdiano, pude saber que, tal como eu, também ele havia vivido as suas aventuras no mar

Disse-me que fez vida de embarcadiço, e, tanto quanto pude depreender das suas palavras, especialmente pós a gravação, teria  também navegado no malfadado navio,  António Carlos, que ali, em Dakar,  fora forçado a aportar com outros  cabo-verdianos, após terem forçado o comandante a deixar, os cerca de centena e meia de patriotas saantomenses, na ilha do Príncipe,  depois de terem impedido o seu lançamento aos tubarões no alto mar.  




Quando o entrevistava, não  o questionei, mais aprofundadamente  sobre o seu passado de marinheiro,  pois estava longe de imaginar que pudesse estar perante  a coincidência de um  homem que também havia testemunhado, tão difíceis  momentos e provações, a bordo do navio "António Carlos" 

No entanto, depois de guardar o  pequeno gravador no meu saco, sempre me foi dizendo:  "Sabe, Sr. Jorge: a minha vida de marinheiro e a dos meus companheiros, que aqui desembarcaram comigo e que tiveram que andar por aí às escondidos como ratos, dava um  grande livro, mas isso já pertence ao passado; não quero falar dessas histórias. Sim, fiquei com a impressão que ele tinha protagonizado uma espantosa aventura, sobre a qual preferia guardar silêncio, pois, embora a sua pátria, já tivesse alcançado a independência, e ali tivesse voltado por duas vezes, pelos vistos, ainda deveriam existir receios de que o episódio da sublevação, lhe pudesse vir a trazer alguns dissabores. 
Felizmente, que, depois de ter alcançado Dakar, e após algumas vicissitudes nos primeiros anos,  a   sua vida, ali, lhe haveria de reservar um futuro mais promissor, tendo aqui  abraçado o novo país e constituído família, se bem que, com o coração, sempre  a pulsar em saudades do seu Cabo-Verde.  



 UM HERÓICO E VALOROSO CABO-VERDIANO - TAL COMO É TIMBRE DA GESTA CABO-VERDIANA. HABITUADA QUE ESTÁ Â SECULARES VICISSITUDES DAS SUAS ILHAS, ONDE, REDOBRAM

Na imagem, ao lado, Bernardino Lopes Monteiro, com os dois filhos:  o mais  crescidote, o Vital Monteiro, falecido em 1974, e o mais novo, Victor Monteiro, atual ex-chefe do Gabinete do Presidente da República de S. Tomé e Príncipe  -Numa das raras fotos que tem de seu  pai.  
Há  três anos, colocou-me esta pergunta. numa mensagem enviada pelo facebook:  "O meu pai gostava de vez em quando de vestir esta farda: Jorge, sabes dizer-me  o que te parece?  - Sim, porque eu também o conheci na Roça Rio do Ouro  da Sociedade Agrícola  Vale Flor, pois  sou mais velho de que o Victor. E tenho uma vaga ideia de o ter visto com essa farda

Se bem me lembro, e pelo que julgo depreender (pelo simbolo do boné, onde é bem visível a letra A, pois que eu soubesse, ele nunca foi polícia nem tocou em banda alguma ) creio que deverá  ser a farda azul e o boné dos seus tempos de imediato do navio António Carlos, que ele deveria gostar de envergar, aos domingos, mesmo depois de ter de lá saído, por força da  rebelião que liderara com outros companheiros, vestindo a farda e ostentando o boné,   como se ao mesmo tempo fosse uma maneira de recordar uma heróica memória e manifestar o seu orgulho, por tão corajoso ato, com que valorosa e dignamente, logrou impedir a horrível matança, obrigando a que o comandante do navio, descarregasse na Ilha do Príncipe, os  cerca de 150 prisioneiros, tendo, depois, forçado igualmente o navio a que largasse  a tripulação negra revoltosa, num dos portos da costa africana, em Dakar, 

Sim, na verdade, foi este bravo homem, que evitou,  que, cerca de centena meia de nativos santomenses, fossem lançados às aguas infestadas de tubarões,  o valoroso homem da imagem, de rosto erguido e com a sua garbosa farda de imediato, ladeado por dois  dos seus únicos filhos, ainda crianças, pai do Coronel Victor Monteiro, que eu conhecera na antiga Roça Rio do Ouro, quando ali fui empregado de mato e ele fazia parte da numeroso colónia  dos serviçais da roça,  mas, que, o feitor-geral, encarregara, como o responsável da vacaria, mais conhecido pelo leiteiro, atendendo às suas qualidades humanas e voluntariosas,  sempre muito cortês, afável e comunicativo, quer para com os seus  sacrificados e escravizados patrícios, que tantas vezes ajudara em múltiplas situações, quer para com   toda a gente, evidenciando uma cultura e conhecimentos, acima da generalidade dos demais trabalhadores e, até, mesmo dos empregados de mato, mais deles com elementar instrução primária, enquanto o homem da vacaria, passava por filósofo, visto ter podido estudar na sua ilha, creio que graças a uma missão religiosa.

Mais tarde, tendo regressado a Cabo Verde, donde era natural, mesmo com outra identificação, foi detido pela PIDE  e levado para o presidiu do Tarrafal  E é justamente aí que começa outra aventura da sua vida, que, após cumprimento da pena, o levaria de novo a S. Tomé, que é o que  também venho  aqui recordar.





 
De recordar que, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, na visita oficial que fez a STP, há um ano, prestou sentida homenagem às  vítimas de massacre do Batepá, em Fernão Dias, onde foram mortos centenas de santomenses, , ocorrido em Fvereiro de 1953.

 CRONOLOGIA DE UM BARCO DE MÁS MEMÓRIAS  - AS MACABRAS OPERAÇÕES DO NAVIO ANTÓNIO CARLOS NO PERÍODO COLONIAL

"António Carlos" - navio  de carga e passageiros,  que, durante o fascismo colonial salazarista,  além de ter servido para transportar mercadorias diversas, também chegou a ser usado para transporte de prisioneiros, havendo ainda o  testemunho de que, numa carga humana de 88 prisioneiros,  carregada da colónia penal do Campo do Tarrafal – para ser transportada de volta  à Guiné-Bissau, após vários anos de dura pena, metade dos quais, acabaria por não chegar ao destino: ou seja, foram lançados ao mar, tal como se pode deduzir do testemunho de um tripulante português, que adiante vou aqui transcrever,

Em Fevereiro de 1953, cerca de centena e meia  de santomenses, iam ser largados no mar  por ordem do Governador Carlos Gorgulho, que quis  levar a cabo mais uma das suas macabras operações de liquidação do povo nativo destas ilha, pretendendo lançar ao mar quase uma centena da elite nativa santomense, que apelidara  de “comunistas” 

Tal não ocorreu,  porque, a tripulação liderada pelo imediato Bernardino Lopes Monteiro,  se sublevou, impedindo a consumação do perpetrado e afrontoso crime, ordenado pelo déspota ditador 


Porém, pelo que nos é possível depreender, a  mesma sorte não contemplaria  um punhado de prisioneiros de guerra guineenses, que, anos mais tarde, já no período da  resistência à ocupação colonial, embarcados no Tarrafal, neste mesmo barco,  depois de  engaiolados em sufocantes porões, não lograriam regressar à terra natal - É o que lhe revelo no capitulo seguinte. 

OUTROS INDÍCIOS HISTÓRICOS DO BARCO “ANTÓNIO CARLOS” VÃO AO ENCONTRO DA MONSTRUOSIDADE PERPETRADA  PELO GOVERNADOR CARLOS ORGULHO

Procurei ver nos arquivos o que se podia saber do passado “histórico” deste barco mas apenas deparei com informações técnicas e das viagens que fazia, entre a “metrópole” e as colónias

Todavia, através de uma pesquisa na Internet (que cada vez mais se vai revelando o maior arquivo informativo planetário) pude também ficar a saber que não foi apenas o cabo-verdiano, Bernardino Lopes Monteiro, que ali chegou a prestar  serviço como imediato, houve outros seus patrícios, que também por lá andaram na estiva. 

De resto, depreende-se que talvez tenha sido por esse facto, que,  juntamente com outros cabo-verdianos da mesma generosidade  e valentia, haja conseguido sucesso  com a sublevação a bordo,  levando o  comandante a demovê-lo de tão macabras intenções, obrigando-o a alterar a rota: em vez de se dirigir para sul, rumo a Angola (e despejar os pobres desgraçados), logo que perdesse a ilha de vista e quem sabe se mesmo a horas mortas,  a passar primeiro pela Ilha do Príncipe, e a deixá-los ali.

Atente-se neste comentário no blogue  FINISTERRA – acerca do barco “António Carlos”

Anónimo disse...  “Há muito tempo queria conhecer este navio, foi dali que veio o meu nome de nascimento, Em 20 de Dezembro de 1966 quando o meu pai trabalhava como estivador, no cais de Pedra de Lume - Ilha do Sal Cabo Verde, e prometeu que se eu nascesse naquele dia e se fosse um homem , o meu nome seria António Carlos, hoje tenho grande orgulho deste nome http://cabodofimdomundo.blogspot.pt/2008/03/navio-de-carga-antnio-carlos.html

NOUTRO BLOGUE O COMENTÁRIO   AINDA É MAIS RELEVANTE

Ou seja, a confirmação de que o barco era também usado para transporte de prisioneiros e que deixara atrás de uma das suas viagens  uma gravíssima onda de suspeição:

Pois é dito o seguinte: “Foi a bordo deste navio que melhor conheci Bissau, e o seu "Tanque de água" onde registei um dos inesquecíveis momentos na vida de um marinheiro. Foi ainda a bordo deste mesmo navio que nos deslocámos de Bissau a Cabo Verde (Tarrafal, na Ilha de Santiago) para ali embarcar supostamente 88 ex-prisioneiros de guerra, mas por razões que nunca cheguei a saber apenas 44 voltaram para a Guiné (***).

Era então Comandante do António Carlos o conhecido e odiado pelas gentes da outra banda, o  "Herói do Barreiro"... Estou a falar-vos do longínquo ano de 1964
.

"Navio de carga e passageiros a motor, construído de aço, em 1946-1947. Nº (…)no Estaleiro Naval da A.G.P.L. em Lisboa, pela CUF - Companhia União Fabril (construção nº. 120), para a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes. (…)  quilha do ANTÓNIO CARLOS foi assente a 14-02-1946 e o navio foi lançado à água a 27-07-1946 pelo Presidente da Republica António Óscar Fragoso Carmona. Entregue ao armador a 24-11-1947 e registado em Lisboa a 6-01-1948. Saiu de Lisboa na primeira viagem a 12-01-1948, para Leixões (13-01/ ) e Casablanca (21-01/ ), regressando ao Tejo a 1-02. Em 14-02 largou de Lisboa na primeira viagem a Cabo Verde e à Guiné. A 31-08-1950 teve a arqueação rectificada para 1.814 toneladas de arqueação bruta e 985 toneladas de arqueação líquida. Em 1959 o navio esteve fretado ao ministério do Exército para transporte de tropas e material de guerra (portaria nº 17.299 de 18-08-1959). A 10-12-1969 sofreu uma colisão com o navio holandês BOVENKERK (8.670 TAB/1960) no rio Elba, quando seguia viagem de Lisboa para Hamburgo, registando-se avarias graves a meio navio. – mais pormenores em DICIONÁRIO DE NAVIOS PORTUGUESES

 CORONEL VITOR MONTEIRO, FILHO DE BERNARDINO LOPES MONTEIRO - ELE CONTA O QUE LOGROU APURAR DE SEU PAI - OUÇA AS SUAS PALAVRAS  E NÃO  DEIXE DE REFECTIR

Nascido na Ilha do Fogo, em Cabo Verde,  mas foi em S. Tomé que, Bernardino Lopes Monteiro,  pai do Coronel Vicyor Monteiro, acabaria por viver a maior parte da sua vida, tendo falecido em 1971, com 63 anos de idade, como que ostracizado  na enfermaria geral do Hospital Central, devido a problemas de saúde, contraídos pelos muitos trabalhos e vicissitudes por que passara, sobretudo quando esteve preso no Tarrafal e também por nunca  virar a cara às adversidades, às  constantes labutas e revezes da vida. 
O Dr. Leão, seu amigo, que conhecera em Cabo Verde, ainda diligenciou para que fosse internado   na enfermaria onde ele prestava assistência, na da 2ª classe, mas não foi autorizado, com alegação de que, “esse senhor tem a cor branca mas não é branco e trabalhou na roça.”  

Nunca confessou ou pretendeu gabar-se  publicamente do seu feito heróico, pois é da simplicidade que geralmente é feita a gesta dos grandes espíritos  - Além disso, sabia que era um risco que poderia incorrer, quer na Roça, quer por parte das autoridades coloniais. No entanto, nem assim se livrou de estar sob a lupa da PIDE-DGS, por evidenciar um nível acima da generalidade dos contratados, o que era sempre motivo de desconfiança, num regime que pretendia dominar através da submissão e da ignorância 

Tais histórias, que poderiam ser motivos épicos das aventuras do pai para contar aos seus filhos, estes apenas vieram a saber, quase de surdina, quando ele recordava essa façanha (passada a  bordo do barco António Carlos), a sua mãe, a grande confidente e amor da sua vida,  que namorara  no Tarrafal, onde as suas vidas se haviam cruzado.

 No entanto, havia um grande amigo, que era também seu primo, por parte da sua esposa, a   quem confidenciara, tais atribuladas aventuras, foi  ao Sr. Domingues Martins,  conhecido por "Pômpi"quando ambos se encontraram  no Tarrafal

Mesmo assim, pese o facto do segredo ter ficado  restringido aos  seus familiares e amigos mais íntimos, ainda chegou a estar sob mira das autoridades coloniais, nomeadamente a repressiva PIDE-DGS, que, por via da vasta rede de bufos que dispunha, lograra saber, que, além de evidenciar uma personalidade afável mas não a de escravo submisso, sim, que haveria algo no seu passado, não inteiramente grado ao regime

E, pelo que pude apurar, só  não o prenderam ou não mandaram de  volta ao Tarrafal, graças aos bons ofícios do coração generosos do médico português, Dr. Boticas e da médica santomense, Dr. Julieta.




 REVELAÇÕES DE DOMINGOS VAZ MARTINS - CONHECIDO POR PÔMPI" - A que já me referi neste site, em 1 de Fevereiro de 2015 - E cujo texto, vídeos e imagens passo a transcrever

Atualmente a morar no Pantufo, onde me foi apresentado pelo Coronel Victor Monteiro, aquando do meu regresso a S. Tomé, 39 anos depois. 

E é realmente espantosa a revelação, que me fez no surpreendente e amável dialogo que tive oportunidade de ter com ele e de o poder gravar em vídeo,  pois estou certo que o seu testemunho poderá contribuir para um mais aprofundado esclarecimento, sobre a cruel brutalidade, os bárbaros desígnios, com que,    em Fevereiro de 1953, o então Governador, Carlos Gorgulho,  pautara a sua criminosa conduta,  quer  no campo de concentração de Fernão Dias e  nos brutais interrogatórios, com os presos algemados e submetidos choques elétricos na Fortaleza de S. Jerónimo, quer ordenando para que,  cerca  centena  e meia de  filhos da terra, a pequena elite nativa, mais destacada, fosse  embarcada para ser atirada ao mar e afogada.

Dizia-me ele o seguinte, referindo-se  às confissões que lhe fizera o seu amigo e compatriota, Nhô Novo:

"Ele disse-me que o branco queria jogar os presos no mar. Então ele não aceitou. Nhô Novo  não ficou contente com aquilo”, opôs-se: “Disse que é gente como nós. Não pode atirar ao mar, é pecado! Talvez seja por isso que puseram na cadeia de castigo. Discutiu e disse-lhe que não podia jogar os homens ao mar dessa maneira
 

Nhô Nôvo – Estava preso no Tarrafal com outros presos, na construção de estradas 

Domingos Vaz Martins, 75 anos, com habilitações muito acima da esmagadora maoira Natural da Ilha de Santiago. Veio para S. Tomé, como contratado para trabalhos nas plantações da Roça, nos porões do navio Ambrizete e por cá ficou.  Conheceu o Nhô Nôvo na colónia Penal do Tarrafal, no local onde iam “apanhar água”, Soube, então, como ele era mais instruído de que outros presos africanos, com os quais trabalhava na construção de estradas, que lhe deram o posto de cantoneiro. Mais tarde, reencontraram-se, ambos  na Roça Rio do Ouro.

O SORTILÉGIO DE S. TOMÉ – FASCINARA NHÔ NOVO 

Nnhô Novo, quando passou pela primeira vez por S. Tomé,  disse que “conheceu um país onde se mete uma mandioqueira e três meses depois tira-se  a mandioca” – Nas ilhas de Cabo Verde, chove muito pouco e a fertilidade e a exuberância de S. Tomé, fascinou-O desde logo. 
AS VOLTAS QUE A VIDA DÁ 

O destino a Deus pertence, determinado e espelhado, certamente,  nos mistérios dos longínquos astros, mal se abram os olhos à luz do dia

E, de facto, os caminhos pelos quais haveria de seguir ou de trilhar ao longo da sua existência, haveriam de ditar que, um humilde filho de cabo-verde, mas já muito esclarecido e instruído para a época, estando  embarcadiço no navio António Carlos , determinariam que  visse a ser o salvador de mais de uma centena de vidas, que, se não fosse a sua determinação e coragem,  iam ser vitimas de infame crueldade

Cumprido a pena de quase dois anos no campo do Tarrafal, pois quis o destino, que, em 1955, voltasse a esta maravilhosa ilha e que  que  acabasse por se fixar até ao resto da sua vida

Inicialmente, na  Roça Rio do Ouro (atual Roça Agostinho Neto), onde também o conheci, quando ali trabalhei, como entregado de mato. 

E, na verdade, nunca mais me esquecerei  daquele homem magro, alto,  quase com perfil de europeu mas, contrariamente à frieza de quem recebia as ordens, ele transmitia outra humanidade - sempre  muito aprumado (postura que certamente  herdara da Marinha) mas evidenciando uma expressão de simpatia para com toda a gente com quem falava ou o abordava. Era o leiteiro da roça, que tomava conta da vacaria e das cabras. 

Contudo, muito embora o não quisesse demonstrar ) ele era mais culto de que o patrão e de que outros empregados, já que aprendera a falar várias línguas – E foram esses conhecimentos que lhe possibilitaram a entrada como imediato do navio António Carlos.


(a linda assoalhada

Porém, 13 anos depois de trabalhar na roça grande, um dia o patrão descobriu que  ele tinha “um sobrado” na cidade, mandou-o chamar  e disse-lhe:  - “Sr. Bernardino! O Sr. vais ser transferido para Fernão Dias”
 Não, Senhor Patrão! Eu não vou para Fernão dias
 -Porquê!?
 -Porque lá tem muito mosquito e não tem luz
- Diz o patrão: olhe Sr. Bernardino! O Sr. parece branco mas não é branco
Nisto, após um curto silêncio, responde:  - pergunta o patrão:
– Então que eu faço consigo?
- Olhe, Sr. patrão: trabalhei durante 13 anos, a dizer, sim senhor. Pois, eu hoje, digo  não Senhor! Ponha-me fora da roça !
- É mesmo isso que vou fazer: e só queria duas coisas. Uma camioneta da roça que me levasse as minhas bagagens para a cidade….
- Diz  o patrão: “Eu sei que o senhor tem um sobrado na cidade”. E outra coisa que o senhor quer?

- Que levasse as minhas limárias – os seus  animais – a  Guadalupe para ali ser vendidos
Responde o patrão: lá não vais vender nada. É tudo vendido a mim por 23 escudos cada peça, seja porco, galinha, vaca ou peru.  

Seu pai deixou lá tudo e veio para cidade. E, quando seu pai, vem para a cidade, lembra-se de que ele queria comprara Roça de Santarém e Cantanhede por 380 contos (1968) e até uma pequena lojinha mas os colonos, não lho permitiram"
Morreu ainda novo porque, embora nunca voltasse a cara ao trabalho, mesmo com a pele clara, como são muitos cabo-verdiano, para o regime colonial ele era negro – E estes, salvo um caso ou outro, eram escravizados.

 CORONEL VITOR MONTEIRO, FILHO DE BERNARDINO LOPES MONTEIRO - ELE CONTA O QUE LOGROU APURAR DE SEU PAI - OUÇA AS SUAS PALAVRAS  E REFLITA


 Desde há muito que, Victor Monteiro (cujo pai  perdeu ainda rapaz, assim como seu irmão, Vital Monteiro, falecido em 1974, em Portugal,)  tem procurado recolher  dados mais aprofundados para comparar ou associar aos que recorda, lá de casa.   No entanto, mesmo tendo pedido colaborações a várias pessoas amigas e a estudiosos,  não tem sido fácil. Por um lado, porque o  seu pai, não gostava de se gabar do seu valoroso gesto, pois certamente  terá compreendido que,  ao defender aquelas indefesas criaturas, rebelando-se contra o seu comandante, não fez mais que um dever de amor ao próximo; por outro, porque, também, se revelasse o que fez, podia novamente  ser preso.

 Pelo que pude constatar, através de seu filho, tem  sido uma quase obsessão. Sempre reconheceu nele um grande lutador, amigos dos filhos e  muito estimado por quem o conhecia - É, de facto, para ele o grande herói da sua vida - E quem é que, tendo-o o conhecido, em vida, como foi o meu caso,  tem dúvidas da sua generosidade, da sua coragem e altruísmo?

ISTO PASSAVA-SE EM 1948 MAS EM 1953 E NOS  ANOS SEGUINTES ERA A MESMA COISA

Leia-se o que disse um alto funcionário da Administração do Ministério do Ultramar, nos finais dos anos 40: (...) “Este assunto merece, porem, uma particular observação, em face de leis gerais que condicionam o trabalho nas colónias. Assim os trabalhadores cabo-verdianos foram transitoriamente colocados sob a fiscalização da Curadoria Geral dos Serviçais e Indígenas por comodidade da administração, em face de trabalharem nas roças em igualdade de circunstâncias com os Indígenas serviçais  sujeitos á tutela curatorial, o que pode acarretar algumas complicações no meio dos agregados  trabalhadores. Por outro lado os nativos de S,Tomé  foram considerados sob a lei do europeu, isto é, retirados de sob a tutela curatorial, quando perante a Carta Orgânica do Império Colonial Português, al'tigo 2462, § Único, devem estar sujeitos ao regímen de índigenato, na sua acepção legal. 

111 - Várias razões têm levado a manter-se este estado de cousas, mas parece-nos necessário saÍr dele, pois que com a evolução civilizadora do indígena, que é o próprio progresso· de colonização, podem estes arranjos de conveniência administrativa, concluído! á margem da lei, acarretar dificuldades e dissabores, se com o adiantamento to dos povos vierem, como é previsível, os agitadores sociais. No caso dos cabo-verdeanos isto não tem importância de maior, dado que a sua permanência em massa na colónia é sempre temporária'.

112 Mas quanto aos nativos já assim não é, trata-se de um povo em adiantado estagio de crescimento na civilização do colonizador a quem não pode impor. Não é um regresso a estágio anterior, desmentindo-se com isso o objetivo máximo da nossa obra de colonização. Afigura-se-nos que a via mais adequada para resolver este problema, e a mais legal, será a promulgação de medidas destinadas a reconhecer ao nativo, individualmente, a sua capacidade de cidadania portuguesa, e nessa cidadania fazer entrar logo de início a grande maioria da população, impondo-lhe a satisfação de certos mínimos de sociabilidade , em especial, a comprovação de meios da vida e de trabalho, admitindo de entrada uma minoria, maia ou menos reduzida, de nativos que ficariam sujeitos á tutela curatorial e regímen e indigenato, até comprovação para entrada no grémio do civilizado. Isto seria o caminho para a situação nítida, perante a lei. 

(…) 120 - ouvi também referências á execução de trabalho compelido para serviços públicos, imposto aos nativos, do que não há conhecimento na Inspecção Superior dos Negócios Indígenas, nos termos do artigo 295• do Código do Trabalho do Indígena , de 6 de Dezembro de 1928.( Do c , 3.4 -, ) 

Constou-me também que na execução desses trabalhos e do trabalho correcional os trabalhadores são entregues á condução de outros preso, muitas vezes criminosos de nomeada, que sobre os trabalhadores exercem grandes violências, 0 que já provocou a intervenção dos médicos do hospital em vista de ali aparecerem gravemente feridos ou contusos dos naus tratos e até por esse estabelecimento correu um processo por estupro na pessoa de uma menor de 11 ou 12 anos, presa ou filha de uma presa, que obrigou a tratamento hospitalar da vitima, praticado por um desses capatazes, preso por assassinato de um filho, tendo o processo sido mandado arquivar, sem qualquer procedimento”

AINDA HÁ MUITO POR DESVENDAR

Dos hediondos episódios,  que ocorreram a partir do dia 3 de Fevereiro de 1953, que ficariam conhecidos por  “Massacres do Batepá, ainda há muito por contar! – Muita matéria  a necessitar de atenção por parte de estudiosos e historiadores, que, de modo algum,  pode ficar no esquecimento.

  E é, pois, também a razão deste artigo, a dois dias da triste data histórica, sobre a qual passam, depois da amanhã,  62 anos – Sim, este o motivo pelo qual trago  ao conhecimento público, o gesto abnegado e corajoso de   Bernardino Lopes Monteiro, que, com a colaboração de outros tripulantes, por se ter oposto a que,  quase centena e meia de homens, fossem selvaticamente lançados ao mar, acabaria  por pagar cara a sua heroicidade, com uma humilhante e duríssima pena de trabalhos forçados (como calceteiro) no temível campo de concentração do Tarrafal, também conhecido pela “frigideira” – O presidiu para onde o regime fascista-colonialista de Salazar enviava os presos políticos

TARRAFAL – OUTRO CAMPO DA MORTE LENTA – NÃO MENOS ESCABROSO QUE O DE FERNÃO DIAS, CRIADO PELO FASCISMO COLONIAL


Do qual  - diz-se - “Os presos, quando não estão na Frigideira, estão nas celas. Estas são separadas, também elas, por portões de ferro, que tudo têm semelhante entre si. Carregam sobre o dorso do metal a dor de seres humanos que transportam a liberdade no seu espírito. Alguns pagam o elevado preço da liberdade com a vida. A morte abraça-os. A frigideira é construída a uma distância considerável de qualquer outro compartimento da “casa da morte”, para que a sombra não proteja os seus habitantes do calor infernal que lá se faz, ficando permanentemente exposta ao raio solar durante o período diurno. No seu interior, só há dois companheiros: a solidão e o silêncio. Campo de Concentração do Tarrafal - Nós Genti Cabo Verde

Foi precisamente nessa tenebrosa prisão, onde esteve desterrado,  Bernardino Lopes Monteiro,  (pai do coronel na reserva, Victor Monteiro, Director do Gabinete do Presidente da República Manuel Pinto da Costa) – Curiosamente, anos depois, quis o destino que  viesse para S. Tomé, na condição de contratado, onde se fixaria até ao seu falecimento, em 1972. Não perca mais à frente os pormenores

BATEPÁ OU MATA-PÁ – A MAIOR NÓDOA DO COLONIALISMO NAS ILHAS VERDES DO EQUADOR

Quando o Governador de S. Tomé e Príncipe, Carlos Gorgulho, e os seus acólitos inventaram a tenebrosa história da conspiração dos negros contra os brancos, que apelidara “ de indivíduos desafectos à atual situação política, conhecidos como comunistas”, principiava uma das maiores tragédias, do período colonial, que vitimaria várias centenas de naturais destas Ilhas – Era como que o macabro epílogo que  surgira na sequência da morte do seu ajudante-de-campo, o qual,  numa atitude provocatória, viera juntar-se às  famigeradas rugas conduzidas por soldados armados e lideradas por  um dos presos de delito comum, um tal facínora Zé mulato, rusgas essas que,  todas as manhãs, deixavam a cidade e partiam para o mato para cercaram esta ou aquela pacata e pacifica povoação,  arrastando à força quem encontrassem, fora ou dentro de suas humildes casas de madeira, obrigando os nativos a trabalhos forçados nas obras do Estado ou para serem enviados para as roças, a onde a mão-de-obra dos contratados, vindos de outras colónias, escasseava –  Todavia, o local para onde imediatamente eram conduzidos, eram os miseráveis barracões imundos da cadeia, junto à  cidade, onde os pobres santomenses eram presos nas condições mais humilhantes e degradantes

QUAL DAS PIORES MORTES – ENTRE MORRER ASFIXIADO POR GÁS NOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DE AUSCHWITZ  OU SER ATIRADO VIVO PARA UMA VALA, AFOGADO NA LAMA DE UM PÂNTANO OU NO FUNDO DO MAR?

"A forma como o Governador durante o tempo do meu Comando tratava e dirigia a sua obra, "com dinamismo - que o tinha -sob os aspectos de desenvolvimento material e económico era, sendo bem observado, em vários detalhes, como um ditador à maneira da gestapo no tempo de Hitler na Alemanha. Era ele e só ele quem tudo mandava. 


(...) Como ir arranjar- trabalhadores?!...Muito  facilmente pá: como já do antecedente: forma que era já do tempo em que ele tinha tomado posse daquela Grande Propriedade que era do Estado mas que .ele governava à sua maneira de conseguir homens para  trabalho, E como era ? Por meio de RUSGAS! Tratando-me por TU, como aliás a toda a gente daquela terra, dizia-me abrindo o mapa, a planta, da Ilha. Tratas de cercar com os teus soldados a zona' tal e tal ... e de manhã vais apertando o cerco e trazes-me para a Cidade essa gente que for saindo de suas casas. Assim se fazia e se entre as mulheres vinha alguma cachopinha bonitinha em isca para o homem grande"– Estas palavras são Capitão Salgueiro Rêgo, que serviu, Carlos Gorgulho, que, por não concordar com os seus procedimentos, acabaria por ser castigado disciplinarmente. Tendo depois, no seu regresso a Portugal, a seu pedido, escrito dois livros de memórias, onde denunciava os abusos e arbitrariedades do referido Governador, a cuja obra conto vir a referir-me, mais detalhadamente.


Embora  não haja comparação possível com o nazismo hitleriano,  sobretudo quanto à dimensão dos crimes, porque, no tocante ao nível do requinte, não me parece que tenha havido grandes diferenças: nunca faltaram nem vão faltar  Hitleres a   ordenarem atos de extrema violência e  sadismo.  Ou não é o que nos mostram os telejornais, na atualidade?
VICTOR MONTEIRO. UMA FIGURA SINGULAR E UM HOMEM BOM

Victor Monteiro, é um caso singular de relacionamento humano e de infundir simpatia à primeira vista. O ex-Ministro da Defesa e Ordem Interna, atualmente promovido a Coronel na reserva,  logrou merecer a confiança de dois Presidente da Republica, em S. Tomé - Pois foi, igualmente, Ajudante de campo e Chefe da Casa militar do actual Presidente da República nos anos 1985-1988, Assessor para Defesa e Ordem Interna de Fradique de Menezes  de 2003- 2008

 “Nasceu na Roça Agostinho Neto(Lobata), em 1957 e passou a sua infância e juventude no Bairro do Hospital, no distrito de Água Grande, fez toda sua trajetória juvenil e politica na JMLSTP, encabeçando a revolta dos estudantes em 1974, o próprio MLSTP, ingressando posteriormente na vida militar, onde optou pela especialidade de Artilharia Missilística e Estratégia Militar, nas Forças Armadas de São Tomé e Príncipe”.

Foi recordista nacional dos 1500 metros, capitão da seleção nacional de basquetebol. Fez a primeira classe em Guadalupe, a segunda na Escola Infante D. Henrique, hoje conhecida por Atanásio Gomes. Diz que deveria ser hoje economista, pois tirou o curso da Escola Comercial
Mas há um destino traçado na vida e ele tinha de vir um dia a conhecer outra  profissão e outras responsabilidades. Quando estava para fazer o curso de treinador de Basquetebol, um dos seus professores de política, era então o Chefe do Estado Maior, Raúl Bragança, que o levou para as Forças Armadas  e ficou lá até hoje. Fez a Escola de Sargentos em Angola, em cuba academia e na Ucrânia 

Ex-Diretor do Gabinete do Presidente da República Manuel Pinto da Costa, de ascendência cabo-verdiana, uma pessoa muito querida e muito estimada em São Tomé, onde nasceu – Atento observador e participante na vida pública – Foi o cabeça de lista da Plataforma Nacional para o Desenvolvimento (PND) no distrito de Lembá no norte da ilha de São Tomé – quando agora lá estive, constatei que goza ali de gerais simpatias e de uma grande popularidade – Mas foi ele que me reconheceu, ocasionalmente, quando passeava pela cidade – E, veja, as voltas que o mundo dá.


Tal como já tive ocasião lhe comunicar  através do FaceBook pessoalmente: Victor Monteiro  - Sempre de rosto levantado e voz calorosa e franca. Dos  raros homens de antes quebrar de que torcer.

 - Foi realmente um grande prazer rever a pessoa que, conhecera,  naquele distante dia, quando ainda era rapaz - Era então furriel miliciano. À porta do Cinema império, um grupo de miúdos era agressivamente interpelado por um grupo de militares da polícia militar, à chapada e pedindo a identificação - E porquê? Por eles terem exteriorizado a sua alegria quando, o famoso Cassius Clay, num documentário que antecedeu a apresentação do filme Trinitá o Cowboy Insolente, manifestaram a sua exuberante alegria ao mandar a KO um pugilista branco – Fizeram-no pelo fato de, antes do boxer negro americano, o ter derrubado,  a tribuna e as bancadas, onde habitualmente se sentavam os colonos e militares, o haver feito com ruidoso estrilho.. 

Só que,  de momento para o outro, inverteu-se a cena . Como represália, o miúdos negros foram esperados cá fora à bolachada , ao mesmo tempo que lhe pediam a identificação. Nessa altura, e estando eu fardado, entrevi, dizendo: faz favor deixem essa pobre gente em paz e ponham-se andar – Já não me lembrava muito bem desse episódio, mas quem viveu a humilhação e a prepotência, como foi o caso de Victor Monteiro, não esquece facilmente tais memórias da sua adolescência, foi o que constatei quando nos reencontrámos,  39 anos depois de ter deixado São Tomé na ousada aventura marítima

 NOTICIA
- “Enfurecidos com a decisão do Governo de transferir o acto central da celebração do dia dos mártires da liberdade para a capital do país, dezenas de habitantes da Praia de Fernão Dias, pernoitaram na estrada que dá acesso ao pontão onde decorreu o massacre.”In Telanon http://www.telanon.info/politica/2015/02/03/18596/3-de-fevereiro-tumultos-na-praia-de-fernao-dias-provocaram-intervencao-militar/

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