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sábado, 23 de fevereiro de 2019

Zeca Afonso – O cantor das baladas de embalar e das trovas revolucionárias, deixou-nos há 32 anos – Mas a sua voz continua a ser a referência dos cravos de Abril e da libertação dos povos colonizados e oprimidos:;das lutas antifascistas, anticolonialistas - do menino do bairro negro, onde não há pão não há sossego – A denúncia dos que comem tudo e não deixam nada; a voz poética que melhor soube interpretar a sonoridade do mar alto e dos que nele arriscam a sua vida





Quem esquecerá a sua voz? …Única na sonoridade, na sua poesia e simbologia.  Ele simbolizava valores que o tempo parece querer diluir e apagar e que não podem ser ignorados  no esquecimento: O cantor que foi interventivo e revolucionário, antifascista e anticolonialista sem, todavia, se comprometer com qualquer partido




José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu em Aveiro, no dia 02 de agosto de 1929, licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, em Coimbra, com a defesa de uma tese sobre Jean-Paul Sarte, no início dos anos de 1960, depois de já ter gravado os primeiros discos com Rui Pato e de ter atuado com José Niza. - Faleceu no dia 23 de Fevereiro de 1987 em Setúbal



Menino do Bairro Negro

Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar


Menino sem condição
Irmão de todos os nus
Tira os olhos do chão
Vem ver a luz


Menino do mal trajar
Um novo dia lá vem
Só quem souber cantar
Vira também


Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego

Continua em


OS VAMPIROS QUE COME TUDO E NÃO DEIXAM NADA




Crítico do colonialismo - o que também lhe causou problemas com a PIDE - ao regressar a Portugal em 1967, começa a lecionar no Liceu de Setúbal. Sol de pouca dura, pois o regime de Salazar interditou-o da função de professor. Sinal de pouca inteligência: passava assim a dedicar-se em exclusivo à sua voz. Como cantor, compositor, letrista, crítico do regime, homem sem medo. Através da editora Orfeu, lançou alguns dos mais importantes álbuns da canção da liberdade,





A RDP – RECORDOU-O  - Recebemos a informação por   Álvaro José Ferreira “Lugar ao Sul”-
Que nos enviou estas linhas, publicadas no blogue ouvintes da RÁDIO PÚBLICA com opinião!
Entre os acontecimentos tristes do dia 23 de Fevereiro de 1987, , conta-se a morte daquele que pode considerar-se, sem exagero ou favor, o trovador maior da música popular portuguesa: José Afonso. Em reconhecimento do seu grande – enorme – legado artístico e da admirável intervenção cívica em que sempre se empenhou, alguns pares sentiram-se no dever moral de criar canções de tributo, algumas das quais já apresentámos neste blogue [links ao fundo]. No presente ano, continuamos na mesma senda destacando um espécime que é assinado pelo cautautor açoriano José Medeiros. Tem por título "O Cantador" e faz farte do CD "Torna-Viagem", editado em 2004 e que no ano seguinte foi distinguido com o Prémio José Afonso, por decisão de um júri onde figuraram, entre outros, a pianista Olga Prats, o crítico Pedro Pyrrait e o jornalista Viriato Teles.

José Medeiros (para os amigos, Zeca Medeiros), além de distinto realizador, na RTP-Açores, de séries e telefilmes memoráveis, como "Xailes Negros" (1986), "Balada do Atlântico" (1987), "O Barco e o Sonho" (1989), "Mau Tempo no Canal" (1992), "O Feiticeiro do Vento" (1996), "7 Cidades ou a Lenda de Genádio, o Arcebispo" (1997), "Gente Feliz com Lágrimas" (2002), "A Ilha de Arlequim" (2007) e "Anthero: O Palácio da Ventura" (2009), é um dos mais originais e categorizados criadores poético-musicais que existem em Portugal. Quem não tiver a sensibilidade embotada e se der ao cuidado de ouvir a sua discografia não terá dificuldade em disso se aperceber. Por conseguinte, a opção (persistente) de não incluir o quer que seja do repertório de José Medeiros na 'playlist' da Antena 1 reveste-se da mais vil injustiça feita ao artista e constitui um crime soez de sonegação cultural aos cidadãos/ouvintes/contribuintes. https://nossaradio.blogspot.com/2019/02/jose-medeiros-o-cantador.html





ZECA AFONSO – “O CANTOR REVOLUCIONÁRIO QUE NUNCA FOI COMUNISTA”
Texto, que o jornal I lhe dedicou, há dois anos - “Quando os adultos dormem e as luzes se apagam nas janelas, os meninos levantam-se e vão cumprimentar as estrelas”, dizia José Afonso sobre “Canção de Embalar”, tema do álbum “Cantares do Andarilho” (1968). Iam cumprimentar a estrela d’alva, a primeira estrela a brilhar com a chegada da noite, uma estrela que na realidade não é: é antes o planeta Vénus, o corpo celeste mais brilhante, depois do sol e da lua. José Afonso foi o agitador, o combatente da palavra, o intrépido que dizia de si próprio ser um homem comum, mas que aos olhos dos outros foi sempre um incomum gigante. Mas ele, José Afonso, o Zeca, nunca quis esse comprimento extra de pernas - só queria ter o seu “tamanho real”, como disse numa entrevista em 1972. Queria apenas ser o cantor, o compositor, o artista. Mais do que o símbolo, mas maior que o pensamento. Queria ser o homem com uma palavra a dizer sobre o seu país. Mas sem nunca deixar de ser também o homem que ajudava uma mãe a adormecer os seus filhos. 

 



José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos saiu, ainda criança, da Aveiro que o viu nascer, a 2 de agosto de 1929, filho de um juiz e de uma professora primária. A eles deve, de resto, uma infância andarilha. Com apenas três anos foi para Angola, onde o pai foi colocado como delegado do Procurador da República. Cinco anos mais tarde regressa a Aveiro, que no entanto se revela apenas ponto de passagem para Moçambique, nomeadamente Lourenço Marques, hoje Maputo. No regresso a Portugal, um ano depois, instala-se em Belmonte para viver com um tio salazarista, presidente de câmara, que lhe terá dado a descobrir a música. “Não procuro iludir a minha origem burguesa, a minha experiência de estudante, embora tenha sido relativamente larga, devida a fatores mais ou menos acidentais, como a possibilidade de estabelecer contacto com pessoas situadas fora do âmbito universitário”, disse ao jornal “A Capital”, em 1970.  

Em 1940 instalou-se em Coimbra, para estudar no Liceu D. João III, onde descobriu a canção enquanto bicho-cantor, estatuto da comissão de praxe da universidade da cidade dos estudantes, que lhe permitia cantar serenatas sem sofrer represálias, apesar de ser ainda aluno de liceu. Terminou o curso dos liceus mais tarde, devido a dois

chumbos. Não lhe faltava a inteligência, mas sobravam-lhe as distrações: viajava frequentemente com o Orfeão Académico de Coimbra e com a Tuna Académica, além de jogar futebol com a Associação Académica.


É já com vinte anos que se inscreve no curso de Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - apenas em 1963 termina o curso, dez anos depois de lançar o seu primeiro EP, “Coimbra”, gravado com o Emissor Regional de Coimbra. As primeiras gravações, na boa tradição coimbrã, assinou-as como Dr. José Afonso.


Pelo meio veio a vida. O primeiro filho, fruto de um casamento contra a vontade da família; o serviço militar obrigatório, cumprido em Mafra; o segundo filho; a crise financeira e a conjugal, como que de mãos dadas. Quando finalmente consegue concluir a licenciatura começa a dar aulas, recuperando os hábitos andarilhos da sua infância. Mas sem nunca perder de vista a canção. “Gostei muito de ensinar, mas o ensino não me ofereceu a diversidade de vivências que retiro da minha atividade de cantor. Estou indeciso quanto ao que, efetivamente, prefiro fazer. No fundo, não me desagrada exercer, alternadamente, as duas profissões: dois anos a ensinar, um ano a cantar…”, disse, na mesma entrevista à “Capital”. Regressou a Moçambique, já com a nova mulher, Zélia, para lecionar e procurar a estabilidade financeira que não conseguia atingir em Portugal.


Antes de partir, porém, havia já lançado “Os Vampiros” e “Menino do Bairro Negro, temas que integravam o disco “Baladas de Coimbra”, que acabou proibido pela censura. Foi, de resto, uma crescente consciência da vida cinzenta que a ditadura impunha ao país, que o fez progressivamente abandonar a canção de Coimbra, adotando uma voz crítica, movida pela sua extrema inteligência que lhe permitiu tantas e tantas vezes fintar o lápis azul.





Crítico do colonialismo - o que também lhe causou problemas com a PIDE - ao regressar a Portugal em 1967, começa a lecionar no Liceu de Setúbal. Sol de pouca dura, pois o regime de Salazar interditou-o da função de professor. Sinal de pouca inteligência: passava assim a dedicar-se em exclusivo à sua voz. Como cantor, compositor, letrista, crítico do regime, homem sem medo. Através da editora Orfeu, lançou alguns dos mais importantes álbuns da canção da liberdade, do qual o momento mais marcante será sem dúvida “Cantigas de Maio”, de 1971. É daqui que sai “Grândola, Vila Morena”, que interpreta pela primeira vez num concerto na Galiza, e que, graças a Otelo Saraiva de Carvalho - que mais tarde o músico apoiou nas presidenciais de 1976 -, acabou como segunda senha para a Revolução de 25 de abril de 1974. Nascia aí o símbolo que nunca quis ser, mas que será sempre. “Não me  arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político, como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciência e os álibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta.


Dois anos antes de morrer, disse numa entrevista ao “Se7e”: “Continuo disponível para novas batalhas e não estou disposto a desistir.” Na madrugada de 23 de fevereiro de 1987, morreu no Hospital de Setúbal, vítima de esclerose lateral amiotrófica, doença que lhe foi diagnosticada em 1982.  https://ionline.sapo.pt/550562




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