Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Informação e análise -
BATEPÁ
EM S. TOMÉ - HÁ 66 ANOS - HOJE DECORRE A MARCHA DA LIBERDADE -
RECORDAMOS-LHE A TRÁGICA EFEMÉRIDE E A CRONOLOGIA DE UM BARCO DE MÁS
MEMÓRIAS - QUE
PODIA TER DESPEJADO NO ALTO MAR CERCA DE CENTENA E MEIA DE SERES HUMANOS -
A tripulação, maioritariamente
negra, opôs-se, liderada por um corajoso
cabo-verdiano, obrigando o comandante a deixar os desgraçados na Ilha do
Príncipe - Mais tarde, pagaria por alto preço a sua heroicidade e seria preso no Tarrafal
- O Capitão Salgueiro Rêgo, Comandante da
Polícia, naquela altura, contrário às barbaridades, foi expulso pelo Governador. - Porém, mais infeliz fora ainda o
misterioso desaparecimento do inspetor do Banco Ultramarino, um alto
brigadeiro, 36 horas depois de ter embarcado, no navio Benguela, de regresso a
Lisboa, vindo de uma inspeção algo delicada – É do que lhe contamos falar em próximo
post
Imagens de há três anos
Comemora-se, hoje, um dos acontecimentos mais trágicos da
colonização, que,, tradicionalmente, têm inicio pela manhã, com a grande marcha da liberdade a partir da
capital São-Tomé até, a zona de Fernão Dias, distrito de Lobata, no memorial do
histórico Massacre-53, local onde decorrem as cerimónias evocativas, com a
participação das principais autoridade da Nação e os sobreviventes, que
resistiram às enormes sevicias e
brutalidades, ceifando a vida de muitos nativos da ilha de São-Tomé que se
oponham as ações do então governador português Carlos Gorgulho, nomeadamente, às
rusgas pelo interior da ilha, com o propósito de forçarem, quem encontrassem ao
trabalho forçado nas roças e nas obras
públicas
A data do 3 de Fevereiro, simboliza, pois, a determinação, o patriotismo e a coragem de
muitos compatriotas santomenses, visto
ter sido na noite do dia 2 para o dia 3, que, na Vila da Trindade e arredores, foi desencadeada a repressão, mais violenta, por
várias milícias de colonos, mobilizados sobretudo nas grandes propriedades
agrícolas, sob o pretexto de que, os
nativos estavam a ser instigados por uma “revolta comunista e, cujo triste
epílogo, haveria de culminar no chamado
campo de concentração de Fernão Dias, palco de hediondos massacres, dirigidos pelo
criminoso José Mulato, retirado da prisão, onde cumpria longa pena de homicídio,
para desempenhar o papel do carcereiro-carrasco.
ACTUALIZAÇÃO - Diz noticia da agência STP-Press "A energia da juventude brilha marcha da liberdade em honra dos heróis de 53 – Sem a presença do PR Evaristo Carvalho, por razões de saúde
São-Tomé, 03 Fev (STP-Press)
– “ Essa energia da juventude é uma espécie de lava que se bruta de um
vulcão adormecido” – declarações do primeiro-ministro são-tomense, Jorge Bom
Jesus sobre a forte adesão juvenil esta manhã na marcha da liberdade que partiu
da capital até a Fernão Dias, por ocasião de 03 Fevereiro, dia dos heróis
da liberdade que se comemora hoje no arquipélago.
Encabeçada pelo ministro da Juventude, Vinício de Pina e pelo
ministro do Trabalho Adlander Costa Mato, a tradicional marcha da liberdade
iniciou esta manhã por volta das 6:30 da capital de São Tomé e terminou na
Praia Fernão Dias, onde acolheu o acto central, presidido pelo presidente do
Parlamento, Delfim Neves na ausência do Presidente da Republica, Evaristo
Carvalho.
http://www.stp-press.st/2019/02/03/energia-da-juventude-brilha-marcha-da-liberdade-honra-dos-herois-53/
Imagem editada hoje pelo Jornalista Adilson CastroSTP-Press |
PRESIDENTE
EVARISTO POR RAZÕES DE SAÚDE - O
Presidente da Assembleia Nacional, (Parlamento são-tomense), Delfim Neves
presidiu esta manhã o acto central de 3 de Fevereiro, Dia dos heróis da
liberdade, em cerimónia marcada pela ausência do Presidente da República,
Evaristo Carvalho conforme estava previsto no programa de comemoração deste 66º
aniversário do histórico Massacre de 1953. http://www.stp-press.st/2019/02/03/presidente-do-parlamento-preside-cerimonia-3-fevereiro-dia-dos-herois-da-liberdade-na-ausencia-do-pr/
Jorge Bom Jesus, recordou-se o dia 3 de Fevereiro de 1953, dia do massacre de Batepá e alertou que, caso o povo não trabalhe, poderá perder a liberdade e o pais poderá regressar ao trabalho forçado. https://www.rtp.pt/noticias/mundo/stome-e-principe-recorda-o-massacre-de-batepa_v1127115
3 de FEVEREIRO DE 1953- 3 de FEVEREIRO DE
2019,-(66 Anos):
Assim foi a minha caminhada a partir das 6h:30 minutos este domingo 3 de Fevereiro desde a histórica Praça da Independência, na capital de São Tomé, num percurso de 17 Km rumo a Praia Fernão Dias em homenagem aos Mártires da Liberdade Guerra de 53, o chamado, Massacre de Batepá. - Adilson Castro
Assim foi a minha caminhada a partir das 6h:30 minutos este domingo 3 de Fevereiro desde a histórica Praça da Independência, na capital de São Tomé, num percurso de 17 Km rumo a Praia Fernão Dias em homenagem aos Mártires da Liberdade Guerra de 53, o chamado, Massacre de Batepá. - Adilson Castro
Um local pantanoso, infestado de mosquitos, embora
a escassos metros da praia, onde muitos presos, ou eram imediatamente
acorrentados e lançados ao mar ou, ainda sob o peso de fortes grilhetas,
obrigados a carregar pesadas tinas de água ou grandes blocos de pedra, por
forma a que o seu extermínio ainda fosse mais doloroso, porque física e
psicologicamente mais sórdido e lento, quando não sufocados pelo terreno
movediço da lama para onde também eram atirados ou mortos vivos em valas
abertas pelos próprios prisioneiros, que eram obrigados a cavar a sepultura,
sob as prepotências e as arbitrariedades de um contratado angolano, um tal Zé
Mulato, um inqualificável verdugo que que as autoridades foram buscar à
cadeia, onde cumpria pena de assassínio, para chefiar o dito campo
de morte.
Em 1974, entrevistei
algumas das vítimas para a revista Semana Ilustrada, de Luanda, uma das quais
ainda com feridas por sarar numa das pernas, com que foi
acorrentada - .
Trabalhos jornalísticos esses que me haveriam de custar graves
dissabores,
violentas reações por parte, de alguns colonos. que me furaram os pneus
do meu carro à navalhada, penduraram uma forca na porta de minha casa e
me agrediram selvaticamente, tendo sido forçado a abandonar a Ilha numa frágil piroga em direção à Nigéria, viagem que, desde alguns anos, tinha em mete realizar para comprovar que as ilhas poderiam ter sido povoadas por canoas, vindas da costa africana, mas que acabaria por transformar-se numa fuga para não ser morto.
Escasseava a mão de obra barata..E o governador planeava construir grandes edifícios à custa do trabalho forçado nas ilhas e mandou o ajudante de campo armado em soldado nazi a comandar um grupo de milícias para ordenar o trabalho obrigatório.. Num verdadeiro retorno aos primórdios do ignóbil e duro esclavagismo, até que, numa remota aldeia perdida no mato, algures pela Vila da Trindade, alguém se encheu de coragem e reagiu sobre o fogoso e arrogante alferes, que teve a reação popular que merecia e à altura da leviandade e do desprezo como olhava a população e impunha a sua vontade .
A partir daí o
Governador Gorgulho - para salvar a face dos seus
desmandos e prepotências, e, como os grandes erros, nunca vêm sós, para
justificar uns cometia outros, cada vez mais graves. passou acusar os
"rebeldes" de comunistas, através da imprensa e da rádio. E não
tardou que os colonos - incentivados ao ódio à dita
"hidra comunista", respondessem ao apelo dos muitos boatos
propalados
"Há notícias de
que foram avistados submarinos soviéticos ao largo e descarregadas armas
para apoiar a revolta dos negros insurretos contra a integridade desta
província ultramarina!" - Foram detidos e
presos vários suspeitos. O governo promete firmeza e mão pesada
aos criminosos! . Por toda a ilha
mobilizam-se milhares de voluntários."
- E, quilo que
poderia ter sido um caso isolado, depressa é rotulado de rebeldia comunista.
Face a tais atoardas
e falsos alarmes, as roças passam ao ataque: empregados de mato e
dos escritórios, feitores e administradores - e até capatazes negros -partindo
em jipes de todas os cantos da colónia, concentraram-se na Trindade, e,
fortemente armados, dirigem-se através dos caminhos do mato ao Batepá,
descarregando tiroteio forte e feio, (naquela e noutras aldeias)
sobre as populações indefesas e pacíficas - mães com os filhos às costas,
homens, mulheres e inocentes criancinhas, e até porcos, cabras e galinhas
-, tudo é imediatamente alvejado e varrido!
Tudo quanto é vivo e
apanhado pela frente, é vítima das maiores atrocidades e dos
disparos mortíferos das velhas máuseres alemãs hitlerianas - herança do
nazismo. A fúria assassina só
terminou, quando, em escassos cinco dias, rapidamente todas as munições se
esgotaram na ilha- Para trás, ficava um autêntico banho de sangue, aldeias
totalmente queimadas e destruídas e inúmeros cadáveres estendidos sobre o chão
fértil e verde da luxuriante floresta. E a paz , que ali reinava
dantes, dava lugar a um autêntico cenário de horrores:
SOBREVIVENTE - A DOR QUE O TEMPO AINDA NÃO APAGOU - ESPANCADA À CRONHADA DEPOIS DE LHE METEREM A CABEÇA NUM TANQUE DE ÁGUA - Era menina e estava grávida.
Maria dos Santos, mais conhecida por Mena, agora com 80 anos, é um dos rostos debilitados, que ainda hoje espelha o testemunho do incomensurável sofrimento, angústia e lágrimas, por que viveu há 62 anos, - É uma das mártires, ainda sobrevivente dos hediondos massacres de Batepá, que tiveram inicio nos horrores da longa e pavorosa noite de 2 para 3 de Fevereiro de 1953 e que iriam prolongar-se nos ignóbeis espancamentos e torturas, até à morte, infligidos a centenas de santomenses, em terríveis interrogatórios, desde brutais choques elétricos, à violenta palmatoada, ao chicote, cacetada e cronhada, a soco e a pontapé, quer no afrontoso cárcere da prisão local, onde os presos, coabitavam exíguos e afrontosos espaços, em deploráveis e nauseabundas condições higiénicas, quer numa das salas da Fortaleza S. Sebastião (a capitania dos Portos), transformada em laboratório ao estilo da Gestapo hitleriana, sob a batuta do famigerado médico Aragão, locais donde partiam para o Campo de Concentração Fernão Dias
SOBREVIVENTE - A DOR QUE O TEMPO AINDA NÃO APAGOU - ESPANCADA À CRONHADA DEPOIS DE LHE METEREM A CABEÇA NUM TANQUE DE ÁGUA - Era menina e estava grávida.
Ainda jovem, e
mesmo grávida, não foi poupada à brutalidade facínora das ordens do
então Governador Carlos Gorgulho:
arrastada à força de sua casa, levada para um calabouço na então Vila de
Trindade, espancada barbaramente, Primeiro deu-se o saque às casas: carregaram
o que puderam dos modestos teres e haveres, após o que as incendiaram.
Maria dos Santos, mais conhecida por Mena, agora com 80 anos, é um dos rostos debilitados, que ainda hoje espelha o testemunho do incomensurável sofrimento, angústia e lágrimas, por que viveu há 62 anos, - É uma das mártires, ainda sobrevivente dos hediondos massacres de Batepá, que tiveram inicio nos horrores da longa e pavorosa noite de 2 para 3 de Fevereiro de 1953 e que iriam prolongar-se nos ignóbeis espancamentos e torturas, até à morte, infligidos a centenas de santomenses, em terríveis interrogatórios, desde brutais choques elétricos, à violenta palmatoada, ao chicote, cacetada e cronhada, a soco e a pontapé, quer no afrontoso cárcere da prisão local, onde os presos, coabitavam exíguos e afrontosos espaços, em deploráveis e nauseabundas condições higiénicas, quer numa das salas da Fortaleza S. Sebastião (a capitania dos Portos), transformada em laboratório ao estilo da Gestapo hitleriana, sob a batuta do famigerado médico Aragão, locais donde partiam para o Campo de Concentração Fernão Dias
Memórias do hediondo Massacre
do Batepá
Imagens e palavras de um abominável massacre. O
pai de Teresa, esposo de Maria dos Santos, , também vitima da
mesma barbárie, depois de lhe terem queimado a casa e o carro (que saquearam
antes de a incendiarem) ainda procurou refúgio no mato mas foi apanhado, preso
e enviado para o Campo de Concentração de Fernão, onde acabaria por embarcar,
com mais 120 homens para serem lançados ao mar, no barco António Carlos. Tal porém
não sucederia por a tripulação do navio
se ter oposto - Um
desses homens era o cabo-verdiano, Bernardino Lopes
Monteiro, pai do Coronel Victor Monteiro
Dias,
CRONOLOGIA DE UM BARCO DE MÁS MEMÓRIAS - NÃO LANÇARAM 12O HOMENS AO MAR PORQUE A TRIPULAÇÃO SE OPÕS - AS MACABRAS OPERAÇÕES DO NAVIO ANTÓNIO CARLOS NO PERÍODO COLONIAL
"António
Carlos" - navio de carga e
passageiros, que, durante o fascismo colonial salazarista, além de ter
servido para transportar mercadorias diversas, também chegou a ser
usado para transporte de prisioneiros, havendo ainda o testemunho de
que, numa carga humana de 88 prisioneiros, carregada da colónia penal
do Campo do Tarrafal –
para ser transportada de volta à Guiné-Bissau, após vários anos de
dura pena, metade dos quais, acabaria por não chegar ao destino: ou
seja, foram lançados ao mar, tal como se pode deduzir do testemunho de
um tripulante português, que adiante vou aqui transcrever,
Em Fevereiro de 1953, cerca de centena e meia de santomenses, iam ser largados no mar por ordem do Governador Carlos Gorgulho, que quis levar a cabo mais uma das suas macabras operações de liquidação do povo nativo destas ilha, pretendendo lançar ao mar quase uma centena da elite nativa santomense, que apelidara de “comunistas”
Tal não ocorreu, porque, a tripulação liderada pelo imediato Bernardino Lopes Monteiro, se sublevou, impedindo a consumação do perpetrado e afrontoso crime, ordenado pelo déspota ditador
Porém, pelo que nos é possível depreender, a mesma sorte não contemplaria um punhado de prisioneiros de guerra guineenses, que, anos mais tarde, já no período da resistência à ocupação colonial, embarcados no Tarrafal, neste mesmo barco, depois de engaiolados em sufocantes porões, não lograriam regressar à terra natal - É o que lhe revelo no capitulo seguinte.
OUTROS INDÍCIOS HISTÓRICOS DO BARCO “ANTÓNIO CARLOS” VÃO AO ENCONTRO DA MONSTRUOSIDADE PERPETRADA PELO GOVERNADOR CARLOS ORGULHO
Em Fevereiro de 1953, cerca de centena e meia de santomenses, iam ser largados no mar por ordem do Governador Carlos Gorgulho, que quis levar a cabo mais uma das suas macabras operações de liquidação do povo nativo destas ilha, pretendendo lançar ao mar quase uma centena da elite nativa santomense, que apelidara de “comunistas”
Tal não ocorreu, porque, a tripulação liderada pelo imediato Bernardino Lopes Monteiro, se sublevou, impedindo a consumação do perpetrado e afrontoso crime, ordenado pelo déspota ditador
Porém, pelo que nos é possível depreender, a mesma sorte não contemplaria um punhado de prisioneiros de guerra guineenses, que, anos mais tarde, já no período da resistência à ocupação colonial, embarcados no Tarrafal, neste mesmo barco, depois de engaiolados em sufocantes porões, não lograriam regressar à terra natal - É o que lhe revelo no capitulo seguinte.
OUTROS INDÍCIOS HISTÓRICOS DO BARCO “ANTÓNIO CARLOS” VÃO AO ENCONTRO DA MONSTRUOSIDADE PERPETRADA PELO GOVERNADOR CARLOS ORGULHO
Procurei ver nos arquivos o que se podia saber do passado “histórico”
deste barco mas apenas deparei com informações técnicas e das viagens que
fazia, entre a “metrópole” e as colónias
Todavia, através de uma pesquisa na Internet (que
cada vez mais se vai revelando o maior arquivo informativo planetário) pude
também ficar a saber que não foi apenas o cabo-verdiano, Bernardino Lopes
Monteiro, que ali chegou a prestar serviço
como imediato, houve outros seus patrícios, que também por lá andaram na
estiva.
De resto, depreende-se que talvez tenha sido por esse facto, que, juntamente com outros cabo-verdianos da mesma generosidade e valentia, haja conseguido sucesso com a sublevação a bordo, levando o comandante a demovê-lo de tão macabras intenções, obrigando-o a alterar a rota: em vez de se dirigir para sul, rumo a Angola (e despejar os pobres desgraçados), logo que perdesse a ilha de vista e quem sabe se mesmo a horas mortas, a passar primeiro pela Ilha do Príncipe, e a deixá-los ali.
De resto, depreende-se que talvez tenha sido por esse facto, que, juntamente com outros cabo-verdianos da mesma generosidade e valentia, haja conseguido sucesso com a sublevação a bordo, levando o comandante a demovê-lo de tão macabras intenções, obrigando-o a alterar a rota: em vez de se dirigir para sul, rumo a Angola (e despejar os pobres desgraçados), logo que perdesse a ilha de vista e quem sabe se mesmo a horas mortas, a passar primeiro pela Ilha do Príncipe, e a deixá-los ali.
Atente-se neste comentário no blogue FINISTERRA – acerca do barco “António Carlos”
Anónimo disse...
“Há muito tempo queria
conhecer este navio, foi dali que veio o meu nome de nascimento, Em 20 de
Dezembro de 1966 quando o meu pai trabalhava como estivador, no cais de Pedra
de Lume - Ilha do Sal Cabo Verde, e prometeu que se eu nascesse naquele dia e
se fosse um homem , o meu nome seria António Carlos, hoje tenho grande orgulho
deste nome http://cabodofimdomundo.blogspot.pt/2008/03/navio-de-carga-antnio-carlos.html
NOUTRO
BLOGUE O COMENTÁRIO AINDA É MAIS RELEVANTE
Ou seja, a confirmação de que o barco era também usado para
transporte de prisioneiros e que deixara atrás de uma das suas viagens uma gravíssima onda de suspeição:
Pois é dito o seguinte: “Foi a bordo deste navio que melhor conheci
Bissau, e o seu "Tanque de água" onde registei um dos inesquecíveis
momentos na vida de um marinheiro. Foi ainda a bordo deste mesmo navio que nos
deslocámos de Bissau a Cabo Verde (Tarrafal, na Ilha de Santiago) para ali embarcar
supostamente 88 ex-prisioneiros de guerra, mas por razões que nunca cheguei a
saber apenas 44 voltaram para a Guiné (***).
Era então Comandante do António Carlos o conhecido e odiado pelas gentes da outra banda, o "Herói do Barreiro"... Estou a falar-vos do longínquo ano de 1964.
Era então Comandante do António Carlos o conhecido e odiado pelas gentes da outra banda, o "Herói do Barreiro"... Estou a falar-vos do longínquo ano de 1964.
"Navio de carga e passageiros a
motor, construído de aço, em 1946-1947. Nº (…)no Estaleiro Naval da A.G.P.L. em
Lisboa, pela CUF - Companhia União Fabril (construção nº. 120), para a
Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes. (…) quilha do ANTÓNIO CARLOS foi assente a
14-02-1946 e o navio foi lançado à água a 27-07-1946 pelo Presidente da Republica
António Óscar Fragoso Carmona. Entregue ao armador a 24-11-1947 e registado em
Lisboa a 6-01-1948. Saiu de Lisboa na primeira viagem a 12-01-1948, para
Leixões (13-01/ ) e Casablanca (21-01/ ), regressando ao Tejo a 1-02. Em 14-02
largou de Lisboa na primeira viagem a Cabo Verde e à Guiné. A 31-08-1950 teve a
arqueação rectificada para 1.814 toneladas de arqueação bruta e 985 toneladas
de arqueação líquida. Em 1959 o navio esteve fretado ao ministério do Exército
para transporte de tropas e material de guerra (portaria nº 17.299 de
18-08-1959). A 10-12-1969 sofreu uma colisão com o navio holandês BOVENKERK
(8.670 TAB/1960) no rio Elba, quando seguia viagem de Lisboa para Hamburgo,
registando-se avarias graves a meio navio. – mais pormenores em DICIONÁRIO DE NAVIOS PORTUGUESES
CORONEL VITOR MONTEIRO, FILHO DE BERNARDINO
LOPES MONTEIRO - ELE CONTA O QUE LOGROU APURAR DE SEU PAI - OUÇA AS SUAS
PALAVRAS E NÃO DEIXE DE REFECTIR
Nascido na Ilha do Fogo, em Cabo
Verde, mas foi em S. Tomé que, Bernardino Lopes Monteiro, pai do Coronel Victor Monteiro, acabaria por viver a maior parte da sua vida,
tendo falecido em 1971, com 63 anos de idade, como que ostracizado na
enfermaria geral do Hospital Central,
devido a problemas de saúde, contraídos pelos muitos trabalhos e vicissitudes
por que
passara, sobretudo quando esteve preso no Tarrafal e também por nunca
virar a cara às adversidades, às constantes labutas e
revezes da vida.
O Dr. Leão,
seu amigo, que conhecera em Cabo Verde, ainda diligenciou para que fosse internado na enfermaria onde ele prestava
assistência, na da 2ª classe, mas não foi autorizado, com alegação de que, “esse
senhor tem a cor branca mas não é branco e trabalhou na roça.”
Nunca
confessou ou pretendeu gabar-se publicamente
do seu feito
heróico, pois é da simplicidade que geralmente é feita a gesta dos
grandes espíritos - Além disso, sabia que era um risco que poderia
incorrer, quer na Roça, quer por parte das autoridades coloniais. No
entanto, nem assim se livrou de estar sob a lupa da PIDE-DGS, por
evidenciar um nível acima da generalidade dos contratados, o que era
sempre motivo de desconfiança, num regime que pretendia dominar através
da submissão e da ignorância
Tais histórias, que poderiam ser motivos épicos das aventuras do pai para contar aos seus filhos, estes apenas vieram a saber, quase de surdina, quando ele recordava essa façanha (passada a bordo do barco António Carlos), a sua mãe, a grande confidente e amor da sua vida, que namorara no Tarrafal, onde as suas vidas se haviam cruzado.
No entanto, havia um grande amigo, que era também seu primo, por parte da sua esposa, a quem confidenciara, tais atribuladas aventuras, foi ao Sr. Domingues Martins, conhecido por "Pômpi"quando ambos se encontraram no Tarrafal
Tais histórias, que poderiam ser motivos épicos das aventuras do pai para contar aos seus filhos, estes apenas vieram a saber, quase de surdina, quando ele recordava essa façanha (passada a bordo do barco António Carlos), a sua mãe, a grande confidente e amor da sua vida, que namorara no Tarrafal, onde as suas vidas se haviam cruzado.
No entanto, havia um grande amigo, que era também seu primo, por parte da sua esposa, a quem confidenciara, tais atribuladas aventuras, foi ao Sr. Domingues Martins, conhecido por "Pômpi"quando ambos se encontraram no Tarrafal
Mesmo assim, pese o facto do segredo ter ficado restringido aos seus
familiares e amigos mais íntimos, ainda
chegou a estar sob mira das autoridades coloniais, nomeadamente a
repressiva PIDE-DGS, que, por via da vasta rede de bufos que dispunha,
lograra saber, que, além de evidenciar uma personalidade afável mas não a
de escravo submisso, sim, que haveria algo no seu passado, não
inteiramente grado ao regime
E, pelo que pude apurar, só não o prenderam ou não mandaram de volta ao Tarrafal, graças aos bons ofícios do coração generosos do médico português, Dr. Boticas e da médica santomense, Dr. Julieta.
E, pelo que pude apurar, só não o prenderam ou não mandaram de volta ao Tarrafal, graças aos bons ofícios do coração generosos do médico português, Dr. Boticas e da médica santomense, Dr. Julieta.
REVELAÇÕES DE DOMINGOS VAZ MARTINS - CONHECIDO POR PÔMPI" - A que já me referi neste site, em 1 de Fevereiro de 2015 - E cujo texto, vídeos e imagens passo a transcrever
Atualmente
a morar no Pantufo, onde me foi apresentado pelo Coronel Victor
Monteiro, aquando do meu regresso a S. Tomé, 39 anos depois.
E é realmente espantosa a revelação, que me fez no surpreendente e amável dialogo que tive oportunidade de ter com ele e de o poder gravar em vídeo, pois estou certo que o seu testemunho poderá contribuir para um mais aprofundado esclarecimento, sobre a cruel brutalidade, os bárbaros desígnios, com que, em Fevereiro de 1953, o então Governador, Carlos Gorgulho, pautara a sua criminosa conduta, quer no campo de concentração de Fernão Dias e nos brutais interrogatórios, com os presos algemados e submetidos choques elétricos na Fortaleza de S. Jerónimo, quer ordenando para que, cerca centena e meia de filhos da terra, a pequena elite nativa, mais destacada, fosse embarcada para ser atirada ao mar e afogada.
Dizia-me ele o seguinte, referindo-se às confissões que lhe fizera o seu amigo e compatriota, Nhô Novo:
"Ele disse-me que o branco queria jogar os presos no mar. Então ele não aceitou. Nhô Novo não ficou contente com aquilo”, opôs-se: “Disse que é gente como nós. Não pode atirar ao mar, é pecado! Talvez seja por isso que puseram na cadeia de castigo. Discutiu e disse-lhe que não podia jogar os homens ao mar dessa maneira
E é realmente espantosa a revelação, que me fez no surpreendente e amável dialogo que tive oportunidade de ter com ele e de o poder gravar em vídeo, pois estou certo que o seu testemunho poderá contribuir para um mais aprofundado esclarecimento, sobre a cruel brutalidade, os bárbaros desígnios, com que, em Fevereiro de 1953, o então Governador, Carlos Gorgulho, pautara a sua criminosa conduta, quer no campo de concentração de Fernão Dias e nos brutais interrogatórios, com os presos algemados e submetidos choques elétricos na Fortaleza de S. Jerónimo, quer ordenando para que, cerca centena e meia de filhos da terra, a pequena elite nativa, mais destacada, fosse embarcada para ser atirada ao mar e afogada.
Dizia-me ele o seguinte, referindo-se às confissões que lhe fizera o seu amigo e compatriota, Nhô Novo:
"Ele disse-me que o branco queria jogar os presos no mar. Então ele não aceitou. Nhô Novo não ficou contente com aquilo”, opôs-se: “Disse que é gente como nós. Não pode atirar ao mar, é pecado! Talvez seja por isso que puseram na cadeia de castigo. Discutiu e disse-lhe que não podia jogar os homens ao mar dessa maneira
Domingos Vaz Martins, 75
anos, com habilitações muito acima da esmagadora maoira Natural
da Ilha de Santiago. Veio para S. Tomé, como contratado para trabalhos nas plantações
da Roça, nos porões do navio Ambrizete e por cá ficou. Conheceu o Nhô Nôvo na colónia Penal do
Tarrafal, no local onde iam “apanhar água”, Soube, então, como ele era mais instruído
de que outros presos africanos, com os quais trabalhava na construção de
estradas, que lhe deram o posto de cantoneiro. Mais tarde, reencontraram-se, ambos na Roça Rio do Ouro.
O SORTILÉGIO DE S. TOMÉ – FASCINARA NHÔ NOVO
Nnhô Novo, quando passou pela primeira vez por S. Tomé,
disse que “conheceu um país onde se mete
uma mandioqueira e três meses depois tira-se a mandioca” – Nas ilhas de Cabo Verde, chove
muito pouco e a fertilidade e a exuberância de S. Tomé, fascinou-O desde logo.
AS VOLTAS QUE A VIDA DÁ
O
destino a Deus pertence, determinado e espelhado, certamente, nos
mistérios dos longínquos astros, mal se abram os olhos à luz do dia
E, de facto, os caminhos pelos quais haveria de seguir ou de trilhar ao longo da sua existência, haveriam de ditar que, um humilde filho de cabo-verde, mas já muito esclarecido e instruído para a época, estando embarcadiço no navio António Carlos , determinariam que visse a ser o salvador de mais de uma centena de vidas, que, se não fosse a sua determinação e coragem, iam ser vitimas de infame crueldade
Cumprido a pena de quase dois anos no campo do Tarrafal, pois quis o destino, que, em 1955, voltasse a esta maravilhosa ilha e que que acabasse por se fixar até ao resto da sua vida
Inicialmente, na Roça Rio do Ouro (atual Roça Agostinho Neto), onde também o conheci, quando ali trabalhei, como entregado de mato.
E, na verdade, nunca mais me esquecerei daquele homem magro, alto, quase com perfil de europeu mas, contrariamente à frieza de quem recebia as ordens, ele transmitia outra humanidade - sempre muito aprumado (postura que certamente herdara da Marinha) mas evidenciando uma expressão de simpatia para com toda a gente com quem falava ou o abordava. Era o leiteiro da roça, que tomava conta da vacaria e das cabras.
Contudo, muito embora o não quisesse demonstrar ) ele era mais culto de que o patrão e de que outros empregados, já que aprendera a falar várias línguas – E foram esses conhecimentos que lhe possibilitaram a entrada como imediato do navio António Carlos.
E, de facto, os caminhos pelos quais haveria de seguir ou de trilhar ao longo da sua existência, haveriam de ditar que, um humilde filho de cabo-verde, mas já muito esclarecido e instruído para a época, estando embarcadiço no navio António Carlos , determinariam que visse a ser o salvador de mais de uma centena de vidas, que, se não fosse a sua determinação e coragem, iam ser vitimas de infame crueldade
Cumprido a pena de quase dois anos no campo do Tarrafal, pois quis o destino, que, em 1955, voltasse a esta maravilhosa ilha e que que acabasse por se fixar até ao resto da sua vida
Inicialmente, na Roça Rio do Ouro (atual Roça Agostinho Neto), onde também o conheci, quando ali trabalhei, como entregado de mato.
E, na verdade, nunca mais me esquecerei daquele homem magro, alto, quase com perfil de europeu mas, contrariamente à frieza de quem recebia as ordens, ele transmitia outra humanidade - sempre muito aprumado (postura que certamente herdara da Marinha) mas evidenciando uma expressão de simpatia para com toda a gente com quem falava ou o abordava. Era o leiteiro da roça, que tomava conta da vacaria e das cabras.
Contudo, muito embora o não quisesse demonstrar ) ele era mais culto de que o patrão e de que outros empregados, já que aprendera a falar várias línguas – E foram esses conhecimentos que lhe possibilitaram a entrada como imediato do navio António Carlos.
(a linda assoalhada)
Porém, 13 anos depois de trabalhar na roça grande, um dia o patrão descobriu que ele tinha “um sobrado” na cidade, mandou-o chamar e disse-lhe: - “Sr. Bernardino! O Sr. vais ser transferido para Fernão Dias”
Porém, 13 anos depois de trabalhar na roça grande, um dia o patrão descobriu que ele tinha “um sobrado” na cidade, mandou-o chamar e disse-lhe: - “Sr. Bernardino! O Sr. vais ser transferido para Fernão Dias”
Não, Senhor Patrão! Eu não vou para Fernão
dias
-Porquê!?
-Porque lá tem muito
mosquito e não tem luz
- Diz o patrão: olhe Sr.
Bernardino! O Sr. parece branco mas não é branco
Nisto, após um curto silêncio,
responde: - pergunta o patrão:
– Então que eu faço consigo?
- Olhe, Sr. patrão: trabalhei
durante 13 anos, a dizer, sim senhor. Pois, eu hoje, digo não Senhor!
Ponha-me fora da roça !
- É mesmo isso que vou fazer: e
só queria duas coisas. Uma camioneta da roça que me levasse as minhas bagagens
para a cidade….
- Diz o patrão: “Eu sei que
o senhor tem um sobrado na cidade”. E outra coisa que o senhor quer?
- Que levasse as minhas
limárias – os seus animais – a Guadalupe para ali ser vendidos
Responde o patrão: lá não vais
vender nada. É tudo vendido a mim por 23 escudos cada peça, seja porco,
galinha, vaca ou peru.
Seu pai deixou lá tudo e veio
para cidade. E, quando seu pai, vem para a cidade, lembra-se de que ele queria
comprara Roça de Santarém e Cantanhede por 380 contos (1968) e até uma pequena
lojinha mas os colonos, não lho permitiram"
Morreu ainda novo porque, embora
nunca voltasse a cara ao trabalho, mesmo com a pele clara, como são muitos
cabo-verdiano, para o regime colonial ele era negro – E estes, salvo um caso ou
outro, eram escravizados.
CORONEL
VITOR MONTEIRO, FILHO DE BERNARDINO LOPES MONTEIRO - ELE CONTA O QUE LOGROU
APURAR DE SEU PAI - OUÇA AS SUAS PALAVRAS
E REFLITA
Desde
há muito que, Victor Monteiro (cujo pai perdeu ainda rapaz, assim como
seu
irmão, Vital Monteiro, falecido em 1974, em Portugal,) tem
procurado recolher dados mais aprofundados para comparar ou associar
aos que recorda, lá de casa. No entanto, mesmo tendo pedido
colaborações a várias
pessoas amigas e a estudiosos, não tem sido fácil. Por um lado, porque
o seu pai, não gostava de se gabar do seu valoroso gesto, pois
certamente terá compreendido que, ao defender aquelas indefesas
criaturas, rebelando-se contra o seu comandante, não fez mais que um
dever de
amor ao próximo; por outro, porque, também, se revelasse o que fez,
podia novamente ser preso.
Pelo que pude constatar, através
de seu filho, tem sido uma quase obsessão. Sempre reconheceu nele um
grande lutador, amigos dos filhos e muito estimado por quem o conhecia -
É, de facto, para ele o grande herói da sua vida - E quem é que, tendo-o o conhecido,
em vida, como foi o meu caso, tem dúvidas da sua generosidade, da sua
coragem e altruísmo?
ISTO PASSAVA-SE EM 1948 MAS EM 1953 E NOS ANOS SEGUINTES ERA A MESMA COISA
Leia-se o que disse um alto funcionário da Administração
do Ministério do Ultramar, nos finais dos anos 40: (...) “Este
assunto merece, porem, uma particular observação, em face de leis gerais que
condicionam o trabalho nas colónias. Assim os trabalhadores cabo-verdianos
foram transitoriamente colocados sob a fiscalização da Curadoria Geral dos Serviçais
e Indígenas por comodidade da administração, em face de trabalharem nas roças
em igualdade de circunstâncias com os Indígenas serviçais sujeitos á tutela curatorial, o que pode
acarretar algumas complicações no meio dos agregados trabalhadores. Por outro lado os nativos de
S,Tomé foram considerados sob a lei do
europeu, isto é, retirados de sob a tutela curatorial, quando perante a Carta
Orgânica do Império Colonial Português, al'tigo 2462, § Único, devem estar
sujeitos ao regímen de índigenato, na sua acepção legal.
111 - Várias razões têm levado a manter-se este
estado de cousas, mas parece-nos necessário saÍr dele, pois que com a evolução
civilizadora do indígena, que é o próprio progresso· de colonização, podem
estes arranjos de conveniência administrativa, concluído! á margem da lei,
acarretar dificuldades e dissabores, se com o adiantamento to dos povos vierem,
como é previsível, os agitadores sociais. No caso dos cabo-verdeanos isto não
tem importância de maior, dado que a sua permanência em massa na colónia é
sempre temporária'.
112 Mas quanto aos nativos já assim não é,
trata-se de um povo em adiantado estagio de crescimento na civilização do
colonizador a quem não pode impor. Não é um regresso a estágio anterior,
desmentindo-se com isso o objetivo máximo da nossa obra de colonização.
Afigura-se-nos que a via mais adequada para resolver este problema, e a mais
legal, será a promulgação de medidas destinadas a reconhecer ao nativo,
individualmente, a sua capacidade de cidadania portuguesa, e nessa cidadania
fazer entrar logo de início a grande maioria da população, impondo-lhe a
satisfação de certos mínimos de sociabilidade , em especial, a comprovação de
meios da vida e de trabalho, admitindo de entrada uma minoria, maia ou menos
reduzida, de nativos que ficariam sujeitos á tutela curatorial e regímen e
indigenato, até comprovação para entrada no grémio do civilizado. Isto seria o
caminho para a situação nítida, perante a lei.
(…) 120 - ouvi também referências á execução de
trabalho compelido para serviços públicos, imposto aos nativos, do que não há
conhecimento na Inspecção Superior dos Negócios Indígenas, nos termos do artigo
295• do Código do Trabalho do Indígena , de 6 de Dezembro de 1928.( Do c , 3.4
-, )
Constou-me também que na execução desses trabalhos
e do trabalho correcional os trabalhadores são entregues á condução de outros
preso, muitas vezes criminosos de nomeada, que sobre os trabalhadores exercem
grandes violências, 0 que já provocou a intervenção dos médicos do hospital em
vista de ali aparecerem gravemente feridos ou contusos dos naus tratos e até
por esse estabelecimento correu um processo por estupro na pessoa de uma menor
de 11 ou 12 anos, presa ou filha de uma presa, que obrigou a tratamento
hospitalar da vitima, praticado por um desses capatazes, preso por assassinato
de um filho, tendo o processo sido mandado arquivar, sem qualquer procedimento”
AINDA HÁ MUITO POR DESVENDAR
Dos hediondos episódios, que ocorreram a partir do dia 3 de Fevereiro
de 1953, que ficariam conhecidos por “Massacres
do Batepá, ainda há muito por contar! – Muita matéria a necessitar de atenção por parte de
estudiosos e historiadores, que, de modo algum,
pode ficar no esquecimento.
E é, pois, também a razão deste artigo, a dois
dias da triste data histórica, sobre a qual passam, depois da amanhã, 62 anos – Sim, este o motivo pelo qual trago ao conhecimento público, o gesto abnegado e corajoso
de Bernardino Lopes Monteiro, que, com
a colaboração de outros tripulantes, por se ter oposto a que, quase centena e meia de homens, fossem selvaticamente
lançados ao mar, acabaria por pagar cara
a sua heroicidade, com uma humilhante e duríssima pena de trabalhos forçados
(como calceteiro) no temível campo de concentração do Tarrafal, também
conhecido pela “frigideira” – O presidiu para onde o regime
fascista-colonialista de Salazar enviava os presos políticos
TARRAFAL – OUTRO CAMPO DA MORTE LENTA – NÃO MENOS
ESCABROSO QUE O DE FERNÃO DIAS, CRIADO PELO FASCISMO COLONIAL
Do qual - diz-se - “Os presos, quando não estão na
Frigideira, estão nas celas. Estas são separadas, também elas, por portões de
ferro, que tudo têm semelhante entre si. Carregam sobre o dorso do metal a dor
de seres humanos que transportam a liberdade no seu espírito. Alguns pagam o
elevado preço da liberdade com a vida. A morte abraça-os. A frigideira é
construída a uma distância considerável de qualquer outro compartimento da
“casa da morte”, para que a sombra não proteja os seus habitantes do calor
infernal que lá se faz, ficando permanentemente exposta ao raio solar durante o
período diurno. No seu interior, só há dois companheiros: a solidão e o
silêncio. Campo de Concentração do Tarrafal - Nós
Genti Cabo Verde –
Foi
precisamente nessa tenebrosa prisão, onde esteve desterrado, Bernardino Lopes Monteiro, (pai do coronel na reserva, Victor Monteiro, Director
do Gabinete do Presidente da República Manuel Pinto da Costa) – Curiosamente,
anos depois, quis o destino que viesse
para S. Tomé, na condição de contratado, onde se fixaria até ao seu
falecimento, em 1972. Não perca mais à frente os pormenores
BATEPÁ OU MATA-PÁ – A MAIOR NÓDOA DO COLONIALISMO NAS
ILHAS VERDES DO EQUADOR
Quando o Governador de S. Tomé e Príncipe,
Carlos Gorgulho, e os seus acólitos inventaram a tenebrosa história da
conspiração dos negros contra os brancos, que apelidara “ de indivíduos
desafectos à atual situação política, conhecidos como comunistas”, principiava uma
das maiores tragédias, do período colonial, que vitimaria várias centenas de
naturais destas Ilhas – Era como que o macabro epílogo que surgira na sequência da morte do seu
ajudante-de-campo, o qual, numa atitude
provocatória, viera juntar-se às
famigeradas rugas conduzidas por soldados armados e lideradas por um dos presos de delito comum, um tal facínora
Zé mulato, rusgas essas que, todas as
manhãs, deixavam a cidade e partiam para o mato para cercaram esta ou aquela pacata
e pacifica povoação, arrastando à força
quem encontrassem, fora ou dentro de suas humildes casas de madeira, obrigando os
nativos a trabalhos forçados nas obras do Estado ou para serem enviados para as
roças, a onde a mão-de-obra dos contratados, vindos de outras colónias,
escasseava – Todavia, o local para onde imediatamente eram conduzidos, eram os miseráveis barracões imundos da cadeia, junto à cidade, onde os pobres santomenses eram presos
nas condições mais humilhantes e degradantes
"A forma como o Governador durante o
tempo do meu Comando tratava e dirigia a sua obra, "com dinamismo - que o
tinha -sob os aspectos de desenvolvimento material e económico era, sendo bem
observado, em vários detalhes, como um ditador à maneira da gestapo no tempo de
Hitler na Alemanha. Era ele e só ele quem tudo mandava.
(...) Como ir arranjar-
trabalhadores?!...Muito facilmente pá: como já do antecedente: forma que
era já do tempo em que ele tinha tomado posse daquela Grande Propriedade que
era do Estado mas que .ele governava à sua maneira de conseguir homens para trabalho,
E como era ? Por meio de RUSGAS! Tratando-me por TU, como aliás a toda a gente
daquela terra, dizia-me abrindo o mapa, a planta, da Ilha. Tratas de cercar com
os teus soldados a zona' tal e tal ... e de manhã vais apertando o cerco e
trazes-me para a Cidade essa gente que for saindo de suas casas. Assim se fazia
e se entre as mulheres vinha alguma cachopinha bonitinha em isca para o homem
grande"– Estas palavras são Capitão
Salgueiro Rêgo, que serviu, Carlos Gorgulho, que, por não concordar com os seus
procedimentos, acabaria por ser castigado disciplinarmente. Tendo depois, no
seu regresso a Portugal, a seu pedido, escrito dois livros de memórias, onde denunciava
os abusos e arbitrariedades do referido Governador, a cuja obra conto vir a
referir-me, mais detalhadamente.
VICTOR MONTEIRO. UMA FIGURA SINGULAR E UM HOMEM
BOM
Victor Monteiro, é um caso singular
de relacionamento humano e de infundir simpatia à primeira vista. O ex-Ministro
da Defesa e Ordem Interna, atualmente promovido a Coronel na reserva, logrou
merecer a confiança de dois Presidente da Republica, em S. Tomé - Pois foi,
igualmente, Ajudante de campo e Chefe da Casa militar do actual Presidente da
República nos anos 1985-1988, Assessor para Defesa e Ordem Interna de Fradique
de Menezes de 2003- 2008
“Nasceu na Roça Agostinho
Neto(Lobata), em 1957 e passou a sua infância e juventude no Bairro do
Hospital, no distrito de Água Grande, fez toda sua trajetória juvenil e
politica na JMLSTP, encabeçando a revolta dos estudantes em 1974, o próprio
MLSTP, ingressando posteriormente na vida militar, onde optou pela
especialidade de Artilharia Missilística e Estratégia Militar, nas Forças
Armadas de São Tomé e Príncipe”.
Foi recordista nacional dos 1500 metros, capitão
da seleção nacional de basquetebol. Fez a primeira classe em Guadalupe, a
segunda na Escola Infante D. Henrique, hoje conhecida por Atanásio Gomes. Diz
que deveria ser hoje economista, pois tirou o curso da Escola Comercial
Mas há um destino traçado na vida e ele tinha de
vir um dia a conhecer outra profissão e
outras responsabilidades. Quando estava para fazer o curso de treinador de
Basquetebol, um dos seus professores de política, era então o Chefe do Estado
Maior, Raúl Bragança, que o levou para as Forças Armadas e ficou lá até hoje. Fez a Escola de
Sargentos em Angola, em cuba academia e na Ucrânia
Ex-Diretor do Gabinete do Presidente da
República Manuel Pinto da Costa, de ascendência cabo-verdiana, uma pessoa muito
querida e muito estimada em São Tomé, onde nasceu – Atento observador e
participante na vida pública
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