Jorge Trabulo
Marques - Jornalista e investigador
O Principie também
tem a sua princesa: originaria de “ nativos, de velha cepa”, de uma
família plebeia rica, mas nobre e princesa no que o título encera de
honrarias e de mítico, e até de contrastes: “não deixou marido ou filhos, mas
tão somente herdeiros-interesseiros” (um deles foi o próprio Barão de Água
Izé”, que reclamou para si as suas roças, toda a sua fortuna, por
alegadas dívidas – e quais os parentes, senão os tinha, que o
podiam o contradizer?!... ), sim, como é dito em registos, mesmo tendo sido
rica e poderosa, “não
teve epitáfio, nem lápide ou sequer qualquer piedoso sinal na sua sepultura,
a contrastar no que fez a um dos seus maridos. E já
nem sequer é possível assinalar o local em que foi sepultada”
Correm,
a respeito de D. Maria Correia, lendas fantásticas, que, ao longo dos
tempos, têm alimentado a imaginação popular, e,
porventura, com algum fundo de verdade, porque a voz do Povo é a
Voz de Deus, menos a dos relatos de escribas coloniais, que, embora tivessem
reconhecido a sua importância social e citem o imaginário popular, porém, o seu
preconceito racial lhe teria recusado o estatuto de Princesa Negra
Descontando
os naturais exageros, de quem conta um conto lhe aumenta sempre mais um ponto,
que chegam a classificá-la como depravada ninfomaníaca, devoradora de homens -
e, então, os homens que ainda hoje têm dezenas de mulheres por sua
conta e alguma dezenas de filhos, o que são ?!...
Pois, mas quando a mulher tem idêntico comportamento, é logo rotulada de cruel, como diz alguma gíria popular, que, embora não lhe negando a riqueza, a rotula de “mulher viúva muito poderosa”, que “dirigia a roça com punho de ferro”, que “tinha um grande apetite por homens. Quando algum trabalhador lhe agradava, desfrutava dele e depois, para que não contasse a ninguém… matava-o!”
Como se
vê, não faltam os ingredientes necessários para uma história fantástica, de um
quase verdadeiro conto de fadas ou de lendárias princesas
encantadas, que alimentam a imaginação, tanto
dos adolescentes, como de jovens e adultos, o qu parece ser o caso
da mítica, D. Maria Correia Salema Ferreira, mais conhecida
pela Princesa Negra do Príncipe, uma mulher bela, rica, apaixonada,
generosa e sensual.
É o que
pode depreender-se, através dos vários escritos e dos testemunhos pessoais
acerca da sua vida e da sua figura, onde não faltam enredos e
episódios, os condimentos mais curiosos para a realização de uma novela
televisiva ou de um filme de longa metragem e com expressão, tanto nacional,
como mundial – Ou não só o facto das ilhas de S. Tomé
e Príncipe, se erguerem no meio do Mundo, não é já de si, aspeto de
singular relevância?!...
Creio que
o Ministério da Cultura tem aqui matéria bastante para uma boa iniciativa
televisiva ou cinematográfica. Pois, embora não tendo origem da
"casta nobreza" de "sangue azul", foi uma autêntica
princesa: com os seus defeitos e virtudes: no vestir, no luxo, dos seus dotes
físicos, na riqueza e até na sua generosidade, esperteza e nas
extravagâncias:
A
sua vida e a sua personagem é caracterizada pelas mais singulares e
excecionais qualidades de comportamento pessoal e cívico - Não de mera
futilidade mas de uma mulher muita ativa, empreendedora, apaixonada e generosa.
Pois dela constam donativos, de solidariedade e de bondade,
cujo exemplo ninguém mais a superou ou foram igualados na sua época “Encontramos no B.O.
Nº53 de 30 de Outubro de 1858 uma subscrição a favor das famílias das
vitimas da febre amarela em Lisboa sendo a única mulher e maior
subscritora D. maria Correia Salema Ferreira, com 12$000”
TESTEMUNHO
DE QUEM A CONHECEU
Um desses
testemunhos pessoais, éo de Gabriel Fernandes da Silva – E quem foi este
distinto filho da Ilha do Príncipe?
Dizem os
registos que nasceu “a 1 de
Novembro de 1856; exerceu por três ou quatro vezes o cargo de Vereador da
Câmara, por duas vezes foi regedor da paróquia, por duas vezes, Juiz
Popular e por duas vezes Escrivão e Tabelião, a primeira vez durante 13 anos e
a segunda durante 4 anos, além de diferentes comissões para que foi nomeado.
É Cavaleiro da ordem de
Cristo, por Decreto de 1889, referenciado pelo Conselheiro José Dias Ferreira,
então Presidente do Conselho de Ministros. Tem 81 anos, boa vista e uma
saúde regular. O seu busto não se curvou ainda ao peso dos anos; a memória
prodigiosa de que é dotado e a facilidade com que nos conta episódios de
outros tempos citando datas e nomes, deixa-nos perplexo.
Este distinto cidadão, natural da Príncipe - diz o relato
dactilografado, a que tive acesso e passo a transcrever; "deu
os seguintes elementos, que confirmam em parte o que encontramos escrito”
D. Maria Correia Salema Ferreira era natural da Ilha do Príncipe; seu pai António Henriques Nogueira, natural do Brasil, tinha fortuna; Era proprietário da Roça Sant’Anna; Sua mãe D. Maria de Almeida era natural da Ilha do Príncipe;
Foi seu primeiro marido o abastado proprietário José Ferreira
Gomes natural da Ilha do Príncipe, fidalgo da Casa Real, Cavaleiro professo da
Ordem de Cristo e Coronel das Ordenanças o qual era Vicente Gomes Ferreira
e de D. Josefa Maria da Conceição. Faleceu em 2 de Novembro de 1837. O brasão
gravado numa pedra rectanguar que se encontra na casa particular de Jerónimo
José Carneiro na cidade do Príncipe, a que chamam “ da Maria Correia”, existe
também na pedra tumular do seu esposo, a qual da Capela da Ribeira Izé foi
enviada para a Câmara Municipal da I. de São Tomé . Daqui se conclui que o
brasão não pertencia a Maria Correia antes do seu casamento com José Ferreira
Gomes
Por volta de 1840 D.
Maria Ferreira casou novamente.
O seu segundo marido
chamava-se Aureliano da Silva; era industrial pintor e natural de
Maranhão (Brasil). Faleceu no Príncipe em 1853.
D. Maria Correia faleceu em
6 de Março de 1862.Dos nativos foi a maior proprietária nesta ilha,
equiparando-se ao grande proprietário Jacinto Pereira Carneiro. Por seu
falecimento deixou a Roça Simaló e a Roça Ribeira Izé a D. Pedro V
(individual);
Este testamento porém
foi tomado como falso e por uma divida confessada ao Barão de Água Izé
que procura procuração a Marcelo Francisco da mata, passaram as referidas
propriedades para a posse do dito Barão.
Encontramos no B.O.
Nº53 de 30 de Outubro de 1858 uma subscrição a favor das famílias das
vitimas da febre amarela em Lisboa sendo a única mulher e maior
subscritora D. maria Correia Salema Ferreira, com 12$000
"MARIA CORREIA A PRINCESA NEGRA DO PRÍNCIPE "
Este é
o titulo de um pequeno livro, publicado em 1944,
de autoria de José Brandão Pereira de Melo, até hoje a obra mais
completa e que começa por estas palavras:
" Nos finais
do século XVIII passado já o primordial período agrícola da
cultura da cana sacarina (que vários factores: invasões francesas de 1706 e l
799 e, principalmente, o desenvolvimento do Brasil tinham feito abandonar), a
Ilha
Ponto privilegiado, pela sua
situação geográfica, para o abastecimento, em água e comedorias, dos navios
negreiros, entreposto de escravos (recrutados, em geral ou, em grande maioria,
nas costas do Golfo da Guiné) tornou-se a Ilha rincão abastado, onde
abastadamente se vivia.
E lá viviam então, antes da
chegada daqueles europeus que foram os precursores do seu moderno
desenvolvimento agrícola, os nativos, de velha cepa indígena, alguns num
faustuoso viver que, ajudando a sua natural imprevidência, ingénita vaidade e
alardeio de riquezas, em breve os viria reduzir à espécie de miséria em que
hoje se acham cristalizados.
Figura lendária lhe
ouvi já chamar. Mas nada tem de lendária essa figura de mulher, que foi uma
polarização das qualidades e defeitos da sua época, da sua casta e da sua
terra, figura absolutamente e bem real, que viveu dentro das realidades do seu
tempo realizando a sua vida esplendidamente.
Vivia, pois, na Ilha do
Príncipe, no alvorecer do século XIX, Maria Correia, figura central de várias
lendas, que a imaginação nativa tem arquitectado e conserva, heroína de
actos frutuosos, de moralidade discutível mas de real proveito para o aumento
de seus cabedais, actos que, aliás, não estavam fora do espírito da época nem
da característica ou especializada moral colonial desses tempos.
D. Maria Correia Salema era
natural do Príncipe, onde nascera em 1788, filha do major de Milícias António
Nogueira (brasileiro) e de D. Ana Maria de Almeida, também nativa do Príncipe.
Casou, em 16 de Agosto
de 1812, aos 24 anos, com o capitão das Ordenanças José Ferreira Gomes,
(brasileiro), filho do capitão-Mor Vicente Gomes Ferreira (1) e de D. Josefa
Maria da Conceição.
José Ferreira Gomes, que
veio fixar-se no Príncipe, a quando da proclamação da independência do Brasil,
era .homem viajado e, além de proprietário agrícola, armador de navios -
destinados ao melhor negócio do tempo: o tráfico de escravos .
Foi o introdutor na Ilha do
Príncipe, em 1822, do cacau, cuja planta trouxera do Brasil e frutificou ali
pela primeira vez, na sua roça Simaló. E bastaria isto para o assinalar ao
nosso interesse historiográfico e também ao grato reconhecimento de quantos
hoje vivem do cacau, nessas afortunadas e ricas ilhas do Golfo da Guiné, para
onde a planta foi sendo sucessivamente levada, primeiro para S. Tomé e depois
para Fernão do Pó e Ano Bom. .
Se não por suas virtudes,
pelos menos por seus méritos, foi José Ferreira Gomes galardoado com o grau de
Cavaleiro da Ordem de Cristo e o título honorífico de Moço-fidalgo da Casa
Real. Morreu, aos 56 anos, em 2 de Novembro de 183 7, Ouvidor Geral Substituto
e coronel das Ordenanças.
Quer a tradição local que
este posto de coronel, que atingiu, tenha sido de um alto simbolismo e de
picaresca assimilação, pois, ao que consta da mesma tradição, parece não ter
sido de uma fidelidade conjugal por aí além D. Maria Correia.
Quis mostrar a viúva grande
pesar, em alardes de manifestações sentimentais. Entre estas podemos citar o
epitáfio lírico, mandado gravar na lápide sepulcral do finado, que copiamos
integralmente:
Involta (sic) em pranto, em dor, e agonia,
Traçou a triste esposa lutuosa,
Às cinzas do esposo saudosa,
Este epitáfio sobre a campa fria
Aqui jazem os restos de uma consorte,
Exemplo de bondade e de ternura,
Baixou dos mortos à mansão escura,
Deixando a inerme esposa entregue à sorte.
Apesar do sentimento, tão
lírico e lapidarmente manifestado, a “inerme esposa” dez anos depois (já com 59
anos) contraía segundas núpcias, em 7 de Fevereiro de 1847, na
capela de sua Roça Ribeira Izé, com Aureliano da Silva, pintor de seu
ofício e natural de S. Luiz de Maranhão (Brasil), de 33 anos, muito mais novo,
portanto, do que ela e moço apessoado. Ao que ouvi dizer a alguém, que
ainda o conheceu, parece que apenas por seu dotes pessoais ou físicos foi
escolhido por D. Maria Correia para sucessor do referido coronel.
Infelizmente, para sua “sede
de amor”, o segundo marido pouco lhe durou, vindo a morrer em 18 de
Agosto de 1852
Abra-se aqui um parêntesis
para informar que aquela lápide, riquíssima, de mármore (em que o
epitáfio era encimado pelo vistoso brasão de armas de José Ferreira Gomes) foi
levada, há anos, para S. Tomé, tirada do cemitério anexo à capela de Nossa
'Senhora da Pureza, da antiga roça Ribeira Izé, propriedade de D. Maria
Correia, onde seu marido fora sepultado. Em S. Tomé fui encontrar a lápide, no
pátio exterior da Câmara Municipal, mal equilibrada sobre três pedregulhos e
servindo para umas pretas lavarem roupa! …
Por ordem do Governador,
Capitão Vaz Monteiro, a quem expus o estúpido vandalismo, foi a lápide
transportada para o Museu da Colónia, em organização - desde 1938,! (2).
Fechado o parêntesis,
continuo a dizer o que consegui apurar da vida de D. Maria Correia.
Apesar do sentimento, tão
lírica e lapidamente manifestado, a «inerme esposa» dez anos depois (já com 59
anos!) contraía segundas núpcias, em 7 de Fevereiro de 1847, na capela da sua
roça Ribeira Izé, com Aureliano da Silva, pintor de seu ofício e natural de S.
Luíz do Maranhão (Brasil), de 33 anos, muito mais novo, portanto, do de que ela
e moço bem-apessoado. Ao que ouvi dizer a alguém, que ainda o conheceu, parece que
apenas por seus dotes pessoais ou físicos foi escolhido por D. Maria Correia
para sucessor do falecido coronel.
A bi-viúva também lhe
não sobreviveu muitos anos;' pois morreu em 1 de Março de 1861, · com 73
anos.Eis a cópia integral do respectivo registo de enterramento:
«Hoje as Cinco horas da
Madrugada felleceo a Excellentissirna Senhora Donna Maria Corrêa Salema
Ferreira, de molestia - Gastre enterite - Segundo declarou o Facultativo.
Natural desta Ilha, Idade Setenta e três annos, Viúva. Será sepultada no lugar
competente, Caixão á terra. Pagou a quantia de oito mil réis. Cemitério da Ilha
do Príncipe 1.º de Março de 1861- Ramos Presidente-Teves Regedor - Damião Vaz
Pauleth guarda do Cemitério. ( l.º Quarteirão Superior) - N.º 38.»
Mas como não deixou marido
ou filhos, mas tão somente herdeiros-interesseiros, não teve epitáfio, nem
lápida ou sequer qualquer piedoso sinal na sua sepultura. E já não é possível
assinalar hoje o local em que foi sepultada, no cemitério do Bom-Fim. «Sic transit
gloria mundi ... >>.
Diz a tradição oral da Ilha do Príncipe ( e de alguns nativos, que ainda a viram, recolhi estas referências) que D. Maria Correia vivia opulentamente, faustosamente até o que, julgo, não só crível, mas absolutamente natural e lógico, tratando-se de uma nativa rica: a pessoa mais rica da Ilha, nesse tempo. Mantinha dois palácios apetrechados e com pessoal permanente, onde alternadamente residia: um na sua roça Ribeira Izé e outro no Simaló, junto da cidade. De ambos se conservam ainda minas, de que bem se pode inferir a sua traça e grandeza.
Também na cidade de St.º
António do Príncipe iniciou a construção de outro palácio, ocupando todo o
quarteirão onde depois se edificaram os Paços do Concelho, construção que foi
abandonada por ir a atingir altura superior e proporções mais grandiosas
que as da vizinha Igreja Matriz - o que seria desairoso e pouco digno do
espírito ou feição religiosa da época e da própria D. Maria Correia. Assim o
diz, como explicação, a tradição oral.
Da sua riqueza podemos
saber, de ciência certa, por alguns documentos que encontrei, entre montões de
papelada a apodrecer numa loja térrea, quando organizei o interessante e
valioso Arquivo do Governo do Príncipe, hoje incorporado na Biblioteca
Municipal, criada em 1940.
E o primeiro uma escrita de
convenção de herança, feita entre D. Maria Correia e os herdeiros (irmãos) de
seu segundo marido: João Paulo da Silva e D. Águeda Elísia da Silva, em 14 de
Abril de 1855, na qual se relacionam bens na importância de 4.096$800 réis,
«por conta da herança que a todo o tempo lhes pudesse vir a pertencer, se
porventura ficassem habilitados, calculados segundo as terças do Inventário,
abatendo-se todas as dívidas existentes. e a sua respectiva meação». Pela mesma
escritura deram-se os herdeiros por «quites, pagos e satisfeitos ( p1,dera!)
renunciando e dando por expirado todo e qualquer direito hereditário que tenham
ou venham a ter sobre os bens do mesmo casal».
Os bens totais do casal da
nossa heroína (Inventário de Outubro-Novembro de 1852, por morte do segundo
marido) foram avaliados em 24-.992$742 réis. Não incluindo o patacho «Ferreira»
que foi judicialmente vendido em leilão, por 250$018 réis, a juntar ao
inventário.
Não vale a pena ( e seria
fastidioso) discriminar os bens.Mas pode apontar-se, da leitura que fizemos do
largo inventário, as roças: «Simalé», «O que Boi», «Pico» ou «Praia Velha»,
«Ribeira Izé», <<Ü que Onça», «Quinta», «O quedo Rosário»,
«Sillu», «Pertinho», «O que Capa», <
Para não alongar
fastidiosamente estas simples notas, mencionaremos apenas as pratas de seu uso,
que caracterizam e definem um viver opulento: bacia e jarro, três salvas,
talheres (26 colheres, 17 garfos e 28 facas), galheteiro, paliteiros,
açucareiros, bules, leiteiras, cafeteiras, colheres para chá, etc.
Possuía· também uma salva e
um copo, de ouro, para seu uso pessoal, objectos estes que foram avaliados no
referido inventário em 282$600 réis.
Das suas joias pessoais, de
oiro e pedraria, corais, etc., apontaremos: 9 pares de brincos, 3 cadeias ou
trancelins, 18 colares, 5 anéis, 3 alfinetes-broches, além de uma caixa para
rapé, um crucifixo, um rosário, um breve e um relógio, tudo de oiro
.
E a livraria (nota
interessante a definir a sua mentalidade, a do marido ou do casal) foi avaliada
em 80$000 réis. Andam por lá dispersos, na posse de vários nativos, peças.
soltas da sua baixela, em boa porcelana, com o brasão nas cores heráldicas
respectivas e as suas iniciais em dourado.
Em 30 de Janeiro de 1845,
requeria D. Maria Correia ao Juiz de Direito da Comarca do Príncipe
«autorização para vender alguns bens de seo Cazal, a fim de poder amortizar
algumas grossas dividas com que está onerado o mesmo Cazal», o que lhe foi
deferido, apresentando, em 12 de Maio, uma relação dos bens que pretendia
vender: roças «Pico», «Ribeira das Agulhas», «Praia Velha», «Praia Ubá» e
«Praia Rei», assim como 66 escravos e algumas joias de oiro.
D. Maria Correia deixou em
testamento as suas roças «Simalé» e «Ribeira Izé» ao Rei D. Pedro V (doação
pessoal). O testamento foi, porém, impugnado pelo l.º Barão de Água Izé e tido
como não válido, passando essas propriedades para a posse daquele agricultor,
como saldo de uma dívida ao mesmo, cujo documento foi apresentado ...
posteriormente.
Da sua riqueza dissemos já o
bastante, pelo menos o que se podia dizer, fundamentalmente. Da sua importância
social, digamos assim, de seu lugar na sociedade coeva do Príncipe, vão algumas
notas soltas e exemplos:Inscreveu-se, em 1858, para a subscrição nacional a
favor das vítimas da febre amarela em Lisboa, com a quantia de 12$000 reis, a
mais alta importância subscrita.
Noutra subscrição, aberta
também em 1858, para custear o funeral do Governador Francisco António Correia,
achamos o nome de D. Maria Correia firmando uma das mais altas importâncias
inscritas.
Dando conta dos ofícios
divinos em sufrágio da alma do mesmo Governador e apontando as pessoas de maior cotação social que
assistiram ao acto, o Sub-Delegado do Procurador Régio (Ofício n.º 17) punha à
cabeça do rol o nome da
Ex.?" Senhora
D. Maria Correia Salema.~~
Era assim mesmo: Exma Senhora D. Maria Correia Salema, que figura em todos os registos de baptismo e óbito de serviçais e filhos de serviçais seus, como no seu próprio registo de enterramento, atrás transcrito.
Era assim mesmo: Exma Senhora D. Maria Correia Salema, que figura em todos os registos de baptismo e óbito de serviçais e filhos de serviçais seus, como no seu próprio registo de enterramento, atrás transcrito.
É de notar que este
tratamento de Excelência era raro ao tempo e reservado a pessoas de condição.
Em todos os documentos que compulsámos (e foram centenas), quer do Arquivo do
Governo do Príncipe, quer do antiquíssimo Arquivo Municipal, só o vimos
aplicados aos Governadores (nas suas diversas modalidades: Corregedores,
Capitâis-Mores ou Governadores de Distrito) e a ela. O que é uma prova, alta
prova, da sua importância ou cotação social.
Correm, a respeito de D.
Maria Correia, lendas fantásticas, sem a mais leve sombra de realidade ou possibilidade
(não nos detendo, por isso, a fixá-las aqui) e algumas histórias, com mais viso
de verdade.
Entre estas, uma, que as
circunstâncias ocasionais do tempo e o que sabemos do carácter e viver da nossa
heroína tornam absolutamente lógica e possível de se ter passado consoante reza
a tradição local.Trata-se da maneira como D. Maria Correia iludia a vigilância
dos navios ingleses, em cruzeiro de repressão da escravatura ... feita pelos
outros.
Diz-se que ela, quando vinha
a chegar carregamento importante de carne negra, convidava os oficiais ingleses
a visitarem uma das suas propriedades do Príncipe, onde os recebia
principescamente e onde regiamente eles se banqueteavam.
Como a consequência
fatal de tais 'banquetes era ficarem os convivas, pelo menos, incapacitados por
largas horas, aportava entretanto o carregamento a uma praia oposta da Ilha.E
quando os amigos ingleses retomavam as suas faculdades e reembarcavam para o cruzeiro,
era tarde e as senzalas-prisões estavam cheias de mercadoria fresca.
Algumas das imagens - antigos postais coloniais - foram extraídos do livro
"Postais antigos de S. Tomé e Príncipe - de João Loureiro; outros do livro
de Francisco Mantero - A Mão d'Obra em S. Tomé e Príncipe
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