Jorge Trabulo Marques - Jornalista O
INCÉNDIO DE NOTRE-DAME É PERDA IRREPARÁVEL, É VERDADE - ENTÃO OS MILHARES DE MORTOS E O
SAQUE DAS INVASÕES FRANCESAS A PORTUGAL? E OS SEM ABRIGO? A FOME EM ÁFRICA? -
ONDE ESTÁ A GENEROSIDADE DOS MILIONÁRIOS? -
As imagens transmitidas em direto do incêndio da histórica e monumental catedral de Notre-Dame, em Paris, rapidamente se espalharam pelo mundo e chocaram quem viu o tropel das labaredas a sobreporem-se aos meios de combate – E, de imediato, o papel que deveria caber ao governo, que é o de zelar pela preservação e salvaguarda do património artístico e cultural, a sacudir as responsabilidades e a servir para a hipocrisia do costume vir mostrar a sua falsa generosidade, com a certeza de que, o mecenato não é inteiramente uma dádiva mas uma forma de branquear impostos.
Tal como já
foi noticiado, ergue-se das cinzas de Notre-drame, uma “enxurrada” de doações à
escala mundial com os milionários a mostrarem quem dá mais: Bettencourt-Meyers,
Bernard Arnault e François-Henri Pinault são três das famílias mais ricas de França
e do mundo que já anunciaram doações que ascendem aos 500 milhões de euros para
a restauração da Catedral de Notre-Dame, em Paris, danificada por um incêndio
que deflagrou durante a tarde de segunda-feira e a madrugada de terça-feira. https://zap.aeiou.pt/notre-dame-ergue-se-das-cinzas-252180
Europa com mais pobres, 23 milhões são crianças - Segundo um estudo do Instituto Europeu da
Igualdade do Género (EIGEmais de 122 milhões de habitantes da UE viviam em
agregados populacionais considerados pobres (53% mulheres e 47% homens), mais
de 55% dos quais em idade ativa (entre 25 e 64 anos). A proporção de jovens que passa actualmente por privações
materiais severas, que é de 12% da população total, é quase o dobro da
proporção registada entre as pessoas com mais idade.
AJUDA A MOÇAMBIQUE - NÃO MOBILIZOU OS MILIONÁRIOS O ciclone Idai deixou
prejuízos no total de quase dois mil milhões de euros em Moçambique, Malaui,
Zimbabué e Madagáscar. Só em Moçambique, foram mais de 600 as
vítimas mortais, o número de casas devastadas foi superior a 60 mil, e mais de
1,5 milhões de pessoas afetadas. Poucos dias após a tragédia começaram a chegar
as primeiras doações de todo o mundo. Em seis dias, quando foi feito o primeiro
balanço, a 20 de março, as ajudas financeiras totalizavam 57 milhões de euros
para os quatro países, sendo que Moçambique recebeu a maior fatia do montante.
Entre o saque levado pelos franceses, na
sua primeira invasão, contam-se milhares de espécimes, animais e vegetais, que
hoje se encontram no Museu de História Natural de Paris.
Com o General Junot, na primeira invasão francesa,
veio também um cientista chamado Geoffroy Saint-Hilaire com o objetivo de
recolher espécimes e informações.Em Lisboa reuniu milhares de amostras, que incluem centenas de animais
empalhados, enviados para Paris e que hoje integram a coleção do Museu de
História Natural da capital francesa.
Um grande número destes espécimes veio do Brasil. Calcula-se que só da
coleção do Palácio da Ajuda tenham saído mais de mil animais.
No Museu de História Natural de Paris este material, roubado em Portugal
entre 1807 e 1808, é conhecido como a coleção do “Cabinet de Lisbonne http://ensina.rtp.pt/artigo/o-espolio-roubado-do-cabinet-de-lisbonne/
NÃO ESQUECER O IGNÓBIL CRIME - Diz o pintor João Neves, e diz muito bem, o meu bom amigo, que Todos lamentamos o sucedido!... Não sei se haverá quem tenha prazer no
que aconteceu com Notre-Dame! Mas enviar donativos para um Estado rico e cheio
de empresas e civis milionários capazes de, só por si, custear as despesas com
a recuperação deste património, é um pouco difícil de entender... Senão,
façamos uma pequena reflexão: recuemos duzentos e poucos anos e olhemos para
parte do que os Franceses nos fizeram durante
As Invasões
Francesas": destruição do património tumular - Reis e Rainhas foi "tudo à vida" -, Tiaras, Colares,
Pulseiras de ouro maciço, Véus, Armas, Documentos, Ordens e os Trajes de
inúmeros Reis, entre os quais, de D. Pedro e D, Inês e tudo o mais que os
túmulos encerravam, desapareceu definitivamente como se fosse um facto
consumado...
Anos e anos da nossa preciosa História completamente jogados por
terra e completamente aniquilados e sem que as Autoridades competentes até hoje
praticamente reclamassem coisíssima nenhuma! Até mesmo os poucos ossos que lá
estão, em alguns dos túmulos saqueados, não sabemos a quem pertencem porque os
soldados Franceses durante a ocupação e na ânsia de tudo destruírem e roubarem,
deixaram corpos e restos mortais por todo o lado numa total e completa
anarquia! Saíram com a missão cumprida e o orgulho nos alforges cheios de
riqueza e preciosidades que esta Nação ao longo de tantos séculos e com tanto
esforço, sangue, suor e lágrimas conseguiu obter.
Mas além da destruição deste
e muito outro património, desapareceram iluminuras, pergaminhos, variados
estudos sobre fauna e flora no Novo Mundo, vasta documentação do Brasil e um
sem-fim de preciosidades únicas que os nossos antepassados obtiveram, ao longo
de centenas de anos da sua/nossa difícil História!... Por fim e depois de muita
insistência de discretos Autarcas deste país, lá se dignaram a devolver uns
livritos com algumas iluminuras e pouco mais... E por inacreditável que pareça,
ainda hoje, muitas ricas famílias Francesas, ostentam Arte histórica
Portuguesa, levada das nossas igrejas, túmulos e outros lugares sagrados como
se pertença sua fosse!... É caso para perguntar: então agora ainda lhe andam a
dar dinheirinho para eles recuperarem o seu património? Então e o nosso, que
até agora
JÁ LÁ VÃO DEZ ANOS SOBRE
ESTE APELO MAS NUNCA É TARDE DEMAIS SE HOUVER BOA VONTADE
Natália Correia
Guedes defende recuperação de peças roubadas nas invasões napoleónicas https://www.publico.pt/2009/12/11/jornal/natalia-correia-guedes-defende-recuperacao-de-pecas-roubadas-nas-invasoes-napoleonicas-18392291
SAQUEARAM, INCENDIARAM E MATARAM –
DEIXARAM O PAIS DEVASTADO E EMPOBRECIDO - A cidade de Viseu estava
totalmente deserta”5 . O cenário repetiu-se em Coimbra, Imobilizados nas linhas de Torres, sem meios de abastecimento, os Franceses
pilharam sistematicamente uma vasta região. Como depois relatou Marbot, um
“regimento, organizando a pilhagem a grande escala, enviava para longe
numerosos destacamentos armados e bem comandados, que, empurrando à sua frente
milhares de burros, voltavam, carregados com provisões de toda a espécie [...].
Mas como as regiões próximas ao nosso acantonamento ficaram mais ou menos
esgotadas, os nossos soldados que andavam a pilhar afastaram-se mais. Houve
quem tivesse levado as suas excursões até às portas de Abrantes e de Coimbra,
muitos até atravessaram o Tejo”6 .
Em Março de 1811 os Franceses iniciaram a
retirada. Desesperados pela fome, buscando mais a sobrevivência do que o
combate, levaram as atrocidades ao último grau, apanhando as populações em
fuga, a quem torturavam e matavam para lhes extorquir víveres. Coimbra foi
poupada, pois Massena não conseguiu entrar na cidade. Conduziu então os seus
homens para Espanha pela margem sul do rio Mondego, onde a carnificina
prosseguiu.
Nos dias 19 e 20 de Março, sem encontrar nada para comer, as tropas
francesas espalhavam-se por Pinhanços, Sandomil, Penalva do Castelo, Celorico
da Beira, Vila Cortês, Vinhó, Gouveia, Moimenta da Serra, etc.7 . As populações
do concelho de Mangualde8 já tinha evacuado as aldeias, no que chamaram o “3º
desterro”, isto é, a fuga para os matos, onde procuraram sobreviver escondidas
dos invasores. O 1º desterro tinha sido em Setembro de 1810 e o 2º em Dezembro
do mesmo ano e Janeiro de 1811.
Segundo uma testemunha de Molelos, freguesia de Tondela, “o inimigo consumiu e inutilizou todo o pão de pragana que existia no vale do Mondego, isto é, entre este rio e o Vouga, ao fazer por aqueles lugares não só a sua marcha sobre Lisboa, em Setembro de 1810, mas também a sua retirada nesse mesmo mês em que escreve, isto é, em Março de 1811”10.
À fome e aos assassínios, e
acompanhando as vagas de desalojados e de órfãos, sucederam-se as epidemias.
Regressados a suas casas, as populações encontraram a destruição e os campos
estéreis. A escassez de géneros tornou-se aflitiva e os preços dispararam. Só
muito lentamente a situação se normalizou. Nunca a população civil portuguesa
vivera um período tão trágico11.
Nunca mais, felizmente, o voltou a viver. Por
isso, as invasões francesas, absolutamente traumáticas, persistem na memória
popular. Sintetizando as informações que lhe chegaram dos párocos, o provisor
da diocese de Coimbra – vasta região, englobando o norte do actual distrito de
Leiria e ainda uma pequena porção dos de Aveiro, Guarda, Viseu e Santarém –
abre assim o seu relatório de Dezembro de 1811: “O bispado de Coimbra... [que]
contém 290 paróquias, apenas contará 26 delas onde não entrasse o inimigo.
O
terreno de todas as outras foi por ele calcado, desde o dia 21 de Setembro de
1810 até ao meio de Março de 1811”12. A miséria é geral, diz o provisor.
Segundo os seus cálculos, morreram violentamente às mãos dos soldados 3.000
pessoas e em consequência da epidemia que se seguiu, teriam falecido, no
mínimo, 35 mil habitantes da diocese.
E também o marquês de Sá
da Bandeira presenciou o sofrimento das populações na retirada das forças
francesas: “Encontrámos as povoações saqueadas e desertas, e muitas casas
incendiadas.
Os poucos habitantes que ao caminho nos vinham encontrar, homens,
mulheres e crianças, apresentavam o aspecto o mais desgraçado; famintos,
cobertos de farrapos, e parecendo alguns terem perdido a razão. A presença
destes infelizes indivíduos causava o maior dó. Soldados e oficiais do exército
aliado procuravam socorrê-los, partilhando com eles das suas escassas rações,
que eles comiam com a avidez da fome”16.
Em Coimbra, já no mês de Junho de 1810
se vivia uma situação aflitiva: os sucessivos sacrifícios impostos desde 1808 e
a contínua chegada e passagem de tropas com o consequente aboletamento
compulsivo, a imundície acumulada, a escassez de víveres e alta de preços,
conduzia à miséria e à doença grande parte da população.
Em reunião de 17 de
Junho da Mesa da Misericórdia, afirma-se que vivendo-se “tantas e tão
extraordinárias necessidades”, “... a numerosa classe da mesma pobreza se acha
reduzida à maior consternação e miséria, tendo subido o preço do pão a treze e
a catorze tostões a medida, com cujo preço não tem proporção alguma os lucros e
os meios dos jornaleiros e oficiais mecânicos e geralmente de toda a mesma
pobreza, a qual por isso tem padecido e actualmente padece as mais rigorosas
fomes, acrescendo a este flagelo o horroroso contágio que tanto tem grassado
nesta cidade e suas circunvizinhanças desde os princípios do corrente ano e que
infelizmente ate aqui não tem diminuído”17. - Excerto
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