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domingo, 21 de abril de 2019

Invasões Napoleónicas sacaram as melhores joias dos museus portugueses, mataram milhares e roubaram o que puderam – Para quando a devolução do ignóbil saque? - Incêndio de Notre-Dame – Oportunidade dos milionários limparem impostos e mostrarem que são almas caridosas - Peditório mobiliza 16 vezes mais doações do que ajuda inicial a Moçambique – Os sem-abrigo continuam a proliferar em Paris e noutras cidades: quem faz caso desses “trapos humanos”? Europa com mais pobres, 23 milhões são crianças

Jorge Trabulo Marques - Jornalista  O INCÉNDIO DE NOTRE-DAME É PERDA IRREPARÁVEL, É VERDADE  - ENTÃO OS MILHARES DE MORTOS E O SAQUE DAS INVASÕES FRANCESAS A PORTUGAL? E OS SEM ABRIGO? A FOME EM ÁFRICA? - ONDE ESTÁ A GENEROSIDADE DOS MILIONÁRIOS? -




















As imagens transmitidas em direto do incêndio  da histórica e monumental catedral  de Notre-Dame, em Paris, rapidamente se espalharam pelo mundo  e chocaram quem viu o tropel das labaredas a sobreporem-se aos meios de combate – E, de imediato,  o papel que deveria caber ao governo, que  é o de zelar pela preservação e salvaguarda do património artístico e cultural, a sacudir as responsabilidades e a servir  para a hipocrisia do costume vir mostrar a sua falsa generosidade, com a certeza de que, o mecenato não é inteiramente uma dádiva mas uma forma de branquear impostos.  


Tal como já foi noticiado, ergue-se das cinzas  de Notre-drame, uma “enxurrada” de doações à escala mundial com os milionários a mostrarem quem dá mais: Bettencourt-Meyers, Bernard Arnault e François-Henri Pinault são três das famílias mais ricas de França e do mundo que já anunciaram doações que ascendem aos 500 milhões de euros para a restauração da Catedral de Notre-Dame, em Paris, danificada por um incêndio que deflagrou durante a tarde de segunda-feira e a madrugada de terça-feira. https://zap.aeiou.pt/notre-dame-ergue-se-das-cinzas-252180


Europa com mais pobres, 23 milhões são crianças - Segundo um estudo do Instituto Europeu da Igualdade do Género (EIGEmais de 122 milhões de habitantes da UE viviam em agregados populacionais considerados pobres (53% mulheres e 47% homens), mais de 55% dos quais em idade ativa (entre 25 e 64 anos). A proporção de jovens que passa actualmente por privações materiais severas, que é de 12% da população total, é quase o dobro da proporção registada entre as pessoas com mais idade.


AJUDA A MOÇAMBIQUE -  NÃO MOBILIZOU OS MILIONÁRIOS     O ciclone Idai deixou prejuízos no total de quase dois mil milhões de euros em Moçambique, Malaui, Zimbabué e Madagáscar. Só em Moçambique, foram mais de 600 as vítimas mortais, o número de casas devastadas foi superior a 60 mil, e mais de 1,5 milhões de pessoas afetadas. Poucos dias após a tragédia começaram a chegar as primeiras doações de todo o mundo. Em seis dias, quando foi feito o primeiro balanço, a 20 de março, as ajudas financeiras totalizavam 57 milhões de euros para os quatro países, sendo que Moçambique recebeu a maior fatia do montante.

Entre o saque levado pelos franceses, na sua primeira invasão, contam-se milhares de espécimes, animais e vegetais, que hoje se encontram no Museu de História Natural de Paris.

Com o General Junot, na primeira invasão francesa, veio também um cientista chamado Geoffroy Saint-Hilaire com o objetivo de recolher espécimes e informações.Em Lisboa reuniu milhares de amostras, que incluem centenas de animais empalhados, enviados para Paris e que hoje integram a coleção do Museu de História Natural da capital francesa.

Um grande número destes espécimes veio do Brasil. Calcula-se que só da coleção do Palácio da Ajuda tenham saído mais de mil animais.
No Museu de História Natural de Paris este material, roubado em Portugal entre 1807 e 1808, é conhecido como a coleção do “Cabinet de Lisbonne http://ensina.rtp.pt/artigo/o-espolio-roubado-do-cabinet-de-lisbonne/


NÃO ESQUECER O IGNÓBIL CRIME Diz o pintor João Neves, e diz muito bem, o meu bom amigo, que Todos lamentamos o sucedido!... Não sei se haverá quem tenha prazer no que aconteceu com Notre-Dame! Mas enviar donativos para um Estado rico e cheio de empresas e civis milionários capazes de, só por si, custear as despesas com a recuperação deste património, é um pouco difícil de entender... Senão, façamos uma pequena reflexão: recuemos duzentos e poucos anos e olhemos para parte do que os Franceses nos fizeram durante 

As Invasões Francesas": destruição do património tumular - Reis e Rainhas foi "tudo à vida" -, Tiaras, Colares, Pulseiras de ouro maciço, Véus, Armas, Documentos, Ordens e os Trajes de inúmeros Reis, entre os quais, de D. Pedro e D, Inês e tudo o mais que os túmulos encerravam, desapareceu definitivamente como se fosse um facto consumado... 

Anos e anos da nossa preciosa História completamente jogados por terra e completamente aniquilados e sem que as Autoridades competentes até hoje praticamente reclamassem coisíssima nenhuma! Até mesmo os poucos ossos que lá estão, em alguns dos túmulos saqueados, não sabemos a quem pertencem porque os soldados Franceses durante a ocupação e na ânsia de tudo destruírem e roubarem, deixaram corpos e restos mortais por todo o lado numa total e completa anarquia! Saíram com a missão cumprida e o orgulho nos alforges cheios de riqueza e preciosidades que esta Nação ao longo de tantos séculos e com tanto esforço, sangue, suor e lágrimas conseguiu obter. 

Mas além da destruição deste e muito outro património, desapareceram iluminuras, pergaminhos, variados estudos sobre fauna e flora no Novo Mundo, vasta documentação do Brasil e um sem-fim de preciosidades únicas que os nossos antepassados obtiveram, ao longo de centenas de anos da sua/nossa difícil História!... Por fim e depois de muita insistência de discretos Autarcas deste país, lá se dignaram a devolver uns livritos com algumas iluminuras e pouco mais... E por inacreditável que pareça, ainda hoje, muitas ricas famílias Francesas, ostentam Arte histórica Portuguesa, levada das nossas igrejas, túmulos e outros lugares sagrados como se pertença sua fosse!... É caso para perguntar: então agora ainda lhe andam a dar dinheirinho para eles recuperarem o seu património? Então e o nosso, que até agora


JÁ LÁ VÃO DEZ ANOS SOBRE ESTE APELO MAS NUNCA É TARDE DEMAIS  SE HOUVER BOA VONTADE 

Natália Correia Guedes defende recuperação de peças roubadas nas invasões napoleónicas https://www.publico.pt/2009/12/11/jornal/natalia-correia-guedes-defende-recuperacao-de-pecas-roubadas-nas-invasoes-napoleonicas-18392291

SAQUEARAM, INCENDIARAM E MATARAM – DEIXARAM O PAIS DEVASTADO E EMPOBRECIDO - A cidade de Viseu estava totalmente deserta”5 . O cenário repetiu-se em Coimbra, Imobilizados nas linhas de Torres, sem meios de abastecimento, os Franceses pilharam sistematicamente uma vasta região. Como depois relatou Marbot, um “regimento, organizando a pilhagem a grande escala, enviava para longe numerosos destacamentos armados e bem comandados, que, empurrando à sua frente milhares de burros, voltavam, carregados com provisões de toda a espécie [...]. 

Mas como as regiões próximas ao nosso acantonamento ficaram mais ou menos esgotadas, os nossos soldados que andavam a pilhar afastaram-se mais. Houve quem tivesse levado as suas excursões até às portas de Abrantes e de Coimbra, muitos até atravessaram o Tejo”6 . 

Em Março de 1811 os Franceses iniciaram a retirada. Desesperados pela fome, buscando mais a sobrevivência do que o combate, levaram as atrocidades ao último grau, apanhando as populações em fuga, a quem torturavam e matavam para lhes extorquir víveres. Coimbra foi poupada, pois Massena não conseguiu entrar na cidade. Conduziu então os seus homens para Espanha pela margem sul do rio Mondego, onde a carnificina prosseguiu. 

Nos dias 19 e 20 de Março, sem encontrar nada para comer, as tropas francesas espalhavam-se por Pinhanços, Sandomil, Penalva do Castelo, Celorico da Beira, Vila Cortês, Vinhó, Gouveia, Moimenta da Serra, etc.7 . As populações do concelho de Mangualde8 já tinha evacuado as aldeias, no que chamaram o “3º desterro”, isto é, a fuga para os matos, onde procuraram sobreviver escondidas dos invasores. O 1º desterro tinha sido em Setembro de 1810 e o 2º em Dezembro do mesmo ano e Janeiro de 1811. 

Segundo uma testemunha de Molelos, freguesia de Tondela, “o inimigo consumiu e inutilizou todo o pão de pragana que existia no vale do Mondego, isto é, entre este rio e o Vouga, ao fazer por aqueles lugares não só a sua marcha sobre Lisboa, em Setembro de 1810, mas também a sua retirada nesse mesmo mês em que escreve, isto é, em Março de 1811”10. 

À fome e aos assassínios, e acompanhando as vagas de desalojados e de órfãos, sucederam-se as epidemias. Regressados a suas casas, as populações encontraram a destruição e os campos estéreis. A escassez de géneros tornou-se aflitiva e os preços dispararam. Só muito lentamente a situação se normalizou. Nunca a população civil portuguesa vivera um período tão trágico11. 

Nunca mais, felizmente, o voltou a viver. Por isso, as invasões francesas, absolutamente traumáticas, persistem na memória popular. Sintetizando as informações que lhe chegaram dos párocos, o provisor da diocese de Coimbra – vasta região, englobando o norte do actual distrito de Leiria e ainda uma pequena porção dos de Aveiro, Guarda, Viseu e Santarém – abre assim o seu relatório de Dezembro de 1811: “O bispado de Coimbra... [que] contém 290 paróquias, apenas contará 26 delas onde não entrasse o inimigo. 

O terreno de todas as outras foi por ele calcado, desde o dia 21 de Setembro de 1810 até ao meio de Março de 1811”12. A miséria é geral, diz o provisor. Segundo os seus cálculos, morreram violentamente às mãos dos soldados 3.000 pessoas e em consequência da epidemia que se seguiu, teriam falecido, no mínimo, 35 mil habitantes da diocese.

E também o marquês de Sá da Bandeira presenciou o sofrimento das populações na retirada das forças francesas: “Encontrámos as povoações saqueadas e desertas, e muitas casas incendiadas. 

Os poucos habitantes que ao caminho nos vinham encontrar, homens, mulheres e crianças, apresentavam o aspecto o mais desgraçado; famintos, cobertos de farrapos, e parecendo alguns terem perdido a razão. A presença destes infelizes indivíduos causava o maior dó. Soldados e oficiais do exército aliado procuravam socorrê-los, partilhando com eles das suas escassas rações, que eles comiam com a avidez da fome”16. 

Em Coimbra, já no mês de Junho de 1810 se vivia uma situação aflitiva: os sucessivos sacrifícios impostos desde 1808 e a contínua chegada e passagem de tropas com o consequente aboletamento compulsivo, a imundície acumulada, a escassez de víveres e alta de preços, conduzia à miséria e à doença grande parte da população. 

Em reunião de 17 de Junho da Mesa da Misericórdia, afirma-se que vivendo-se “tantas e tão extraordinárias necessidades”, “... a numerosa classe da mesma pobreza se acha reduzida à maior consternação e miséria, tendo subido o preço do pão a treze e a catorze tostões a medida, com cujo preço não tem proporção alguma os lucros e os meios dos jornaleiros e oficiais mecânicos e geralmente de toda a mesma pobreza, a qual por isso tem padecido e actualmente padece as mais rigorosas fomes, acrescendo a este flagelo o horroroso contágio que tanto tem grassado nesta cidade e suas circunvizinhanças desde os princípios do corrente ano e que infelizmente ate aqui não tem diminuído”17. - Excerto 


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