Jorge Trabulo
Marques - Jornalista - VIDA DIFÍCIL E ESCRAVA NÃO
TEM PÁTRIA NEM COR - IMAGENS
DE S. TOMÉ E DA MINHA ALDEIA - "Irmãs, do meu torrão pequeno" - PELA PALAVRA DE ALDA GRAÇA ESPÍRITO
SANTO "Que passais
pela estrada do meu país de África
— Há em mim uma lacuna
amarga —
Eu queria falar
convosco no nosso crioulo cantante
Queria levar até vós,
a mensagem das nossas vidas
Na língua maternal,
bebida com o leite dos nossos primeiros dias
Mas irmãs, vou buscar
um idioma emprestado
Para mostrar-vos a
nossa terra
O nosso grande
continente,
Duma ponta a outra.
Queria descer convosco
às nossas praias
Onde arrastais as
gibas da beira-mar
Sentar-me, na esteira
das nossas casas,
Contar convosco os dez
mil réis
Do caroço vendido
Na loja mais próxima,
Do vinho de palma
Regateado pelos
caminhos,
Do andim vendido à
pinha,
Às primeiras horas do
dia.
Queria também
Conversar com as
lavadeiras dos nossos rios
Sobre a roupa de cada
dia
Sobre a saúde dos
nossos filhos
Roídos pela febre
Calcurreando léguas a
caminho da escola.
Irmã, a nossa conversa
é longa.
É longa a nossa
conversa.
Através destes séculos
De servidão e miséria...
É longa a estrada do
nosso penar.
Nossos pés descalços
Estão cansados de
tanta labuta...
O dinheiro não chega
Para vencer a nossa
fome
Dos nossos filhos
Sem trabalho
Engolindo a banana sem
peixe
De muitos dias de
penúria.
Não vamos mais fazer
“nozados” longos
Nem lançar ao mar
Nas festas de Santos
sem nome
A saúde das nossas
belas crianças,
A esperança da nossa
terra.
Uma conversa longa,
irmãs.
Vamos juntar as nossas
mãos
Calosas de partir
caroço
Sujas de banana
“Fermentada” no
“macucu”
Na nossa cozinha
De “vá plegá”...
A nossa terra é linda,
amigas
E nós queremos
Que ela seja grande...
Ao longo dos
tempos!...
Mas é preciso, Irmãs
Conquistar as Ilhas
inteiras
De lés a lés.
Amigas, as nossas mãos
juntas,
As nossas mãos negras
Prendendo os nossos
sonhos estéreis
Varrendo com fúria
Com a fúria das nossas
“palayês”
Das nossas feiras,
As coisas más da nossa
vida.
Mas é preciso
conversar
Ao longo dos caminhos.
Tu e eu minha irmã.
É preciso entender o
nosso falar
Juntas de mãos dadas,
Vamos fazer a nossa
festa...!
A festa descerá
Ao longo de todas as
vilas
Agitará as palmeiras
mais gigantes
E terá uma força
grande
Pois estaremos juntas
irmãs
Juntas na vida
Da nossa terra
Mas é preciso conhecer
A razão das nossas
secretas angústias.
Procurar vencer Irmãs
A fúria do rio
Em dias de tornado
Saber a razão
Encontrar a razão de
tudo...
“Os nossos filhos
O nosso filho morreu
Roído pela febre”...
Muitos pequeninos
Morrem todos os dias
Vencidos pela febre
Vencidos pela vida...
CONTINUA EM
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