Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador
VICTOR MONTEIRO. UMA FIGURA SINGULAR E UM HOMEM
BOM
RECORDAR É VIVER - SOBRETUDO AS BOAS RECORDAÇÕES - Victor Monteiro – Distinto Coronel na reserva do Exército Santomense - Um caso singular de simpatia, de generosidade e dedicação a STP - Nascido na antiga Roça Rio do Ouro, atual Agostinho Neto - Filho de um humilde casal cabo-verdiano, que eu conhecera nos duros tempos das grandes plantações coloniais –
Seu pai, Bernardino Lopes Monteiro, que, em uns anos antes, fora embarcadiço no cargueiro António Carlos, foi um dos heróicos tripulantes que se sub-levantaram, contra o comando do navio, em 1953, obrigando a que, os cerca de centena e meia de patriotas santomenses, que o Governador Gorgulho, ordenara lançar aos tubarões, fossem descarregadas da Ilha do Príncipe e salvos de tão afrontosa morte.
Recordar é viver! Nomeadamente, os bons momentos ou percursos da vida,
seja de forma falada, escrita ou fotográfica ou fílmica, é sempre reconfortante,
sobretudo quando os anos, começam a ditar o seu afastamento dos tempos mais joviais na roda imparável dos
ciclos da vida . Sim, e quem é que não gosta de recuar
ao fundo da memória? -
Pessoas há, que,
embora tendo muito para recordar e digno de ser seguido como exemplar, nem por
isso são tentadas a ostentar o seu passado . Creio ser o caso do meu amigo,
Coronel Victor Monteiro – por hábito, sempre mais preocupado em servir de que a servir-se
.
.
Muito atento e interventivo na vida da comunidade, mas pouco ou nada
dado a falar da sua vida pessoal, razão pela qual, na sua página do Facebook, não desfilam ostentações pessoais.
Curiosamente, por um feliz acaso, constatei que hoje se havia lembrado de recordar, e com justa razão, algumas imagens da sua vida de militar e diplomata, mas com apenas estas singelas palavras, Era uma vez...um soldado magricela N°116/78, chamado Victor Monteiro. – Todavia, o bastante para que me ativasse a memória com outros momentos da sua vida – Que é justamente o que aqui aproveito para recordar, além das suas fotografias.
Victor Monteiro, sempre de rosto levantado e
voz calorosa e franca, sim, dos raros homens
de antes quebrar de que torcer, é realmente um caso singular
de relacionamento humano e de infundir simpatia à primeira vista. Curiosamente, por um feliz acaso, constatei que hoje se havia lembrado de recordar, e com justa razão, algumas imagens da sua vida de militar e diplomata, mas com apenas estas singelas palavras, Era uma vez...um soldado magricela N°116/78, chamado Victor Monteiro. – Todavia, o bastante para que me ativasse a memória com outros momentos da sua vida – Que é justamente o que aqui aproveito para recordar, além das suas fotografias.
O ex-Ministro da Defesa e Ordem Interna, atualmente promovido a Coronel na reserva, logrou merecer a confiança de dois Presidente da Republica, em STP - Ajudante de Campo e Chefe da Casa militar do ex-Presidente da República Manuel Pinto da Costa, 1985-88 e seu Director do Gabinete, entre 2011-2016 Assessor para Defesa e Ordem Interna de Fradique de Menezes de 2003- 2008
JTM - Empregado de mato - Roça Rio do Ouro 1964 - |
Mas há um destino traçado na vida e ele tinha de vir um
dia a conhecer outra profissão e outras responsabilidades. Quando estava
para fazer o curso de treinador de Basquetebol, um dos seus professores de
política, era então o Chefe do Estado Maior, Raúl Bragança, que o levou para as
Forças Armadas e ficou lá até hoje. Fez a Escola de Sargentos em Angola,
em cuba academia e na Ucrânia
A GRATIDÃO A UM BOM AMIGO, A QUEM DEVO A PRONTA ASSISTÊNCIA NUM GRAVE ACIDENTE NO PICO CÃO PEQUENO, EM MARÇO 2016 - Sem esse pronto-socorro, dificilmente teria sobrevivido
Victor Monteiro, de ascendência cabo-verdiana, uma pessoa muito querida e muito estimada em São Tomé, onde nasceu – Atento observador e participante na vida pública, onde goza de gerais simpatias e de uma grande popularidade.
Em Março de 2016, tive um grave acidente, junto ao Pico Cão Pequeno, quando ali acompanhava uma equipa de alpinistas: contatado por telemóvel, de imediato diligenciou para que me fossem prestados os primeiros socorros o mais rapidamente possível
(enviando um maqueiro ao meu encontro do posto de Porto Alegre), e seguidamente
conduzido ao Hospital Central Ayres de Menezes na Cidade de São Tomé, onde foi
dada a assistência médica e cirurgiã nos serviços de urgência, que decidiram
pelo meu internamento temporário.
Victor Monteiro, de ascendência cabo-verdiana, uma pessoa muito querida e muito estimada em São Tomé, onde nasceu – Atento observador e participante na vida pública, onde goza de gerais simpatias e de uma grande popularidade.
Primeiros socorros |
Obrigado Meu Caro e Bom Amigo Coronel Victor Monteiro
Um grande Bem-haja a todas as pessoas que tiveste a gentileza de enunciar; ao seu espírito de bem servir e de abnegação - Sem o teu grito de alarme e a sua generosidade, dificilmente teria resistido.
Salvaste-me a vida - Quem saiu aos seus não degenera e tu tens a quem sair: a uma querida e corajosa mãe e a um pai extremoso e corajoso que também salvou muitas vidas de serem atiradas ao mar. Conheci-o quando era empregado de mato na antiga Roça Rio do Ouro e quando tu ainda eras um adolescente
Lembro-me bem do teu rosto. porque o teu pai era um cabo-verdiano muito estimado e comunicativo naquela roça e tu quase não o largava de mão, agarrado às suas calças, descalço e de calção Mal te pus ao corrente do meu acidente ( e ainda bem que àquela altura o telemóvel funcionou) sei que nem mais um instante teu coração descansou: foi um dia arrasador para ti - Fazendo diligências várias para ser prontamente socorrido -
E assim aconteceu - Graças à tua generosidade e o teu abnegado esforço - Que rapidamente puseste em movimento um grande abraço de solidariedade - Operaste um autêntico milagre - E também porque as pessoas que contactaste, compreenderam que o momento não era de esperas mas de acção: desde o maqueiro que prontamente me saturou dos grandes golpes na cabeça, que não paravam de jorrar sangue - Mais uns minutos, dificilmente podia manter-me em pé, pois já começava a sentir fortes tonturas
- Depois, foi a pronta evacuação na ambulância que me transportou para o hospital. E, ao chegar ali, tanto carinho, tanta disponibilidade, que,a bem dizer, nem sei onde hei-de começar a agradecer - Sim, a todos os rostos que me acarinharam e me assistiram , aos meus companheiros que também tanto se esforçaram por me salvar - Um grande abraço amigo - De ti, já tinha as melhores recordações, mas com esta grandeza, penso que é inigualável
Um grande Bem-haja a todas as pessoas que tiveste a gentileza de enunciar; ao seu espírito de bem servir e de abnegação - Sem o teu grito de alarme e a sua generosidade, dificilmente teria resistido.
Salvaste-me a vida - Quem saiu aos seus não degenera e tu tens a quem sair: a uma querida e corajosa mãe e a um pai extremoso e corajoso que também salvou muitas vidas de serem atiradas ao mar. Conheci-o quando era empregado de mato na antiga Roça Rio do Ouro e quando tu ainda eras um adolescente
Lembro-me bem do teu rosto. porque o teu pai era um cabo-verdiano muito estimado e comunicativo naquela roça e tu quase não o largava de mão, agarrado às suas calças, descalço e de calção Mal te pus ao corrente do meu acidente ( e ainda bem que àquela altura o telemóvel funcionou) sei que nem mais um instante teu coração descansou: foi um dia arrasador para ti - Fazendo diligências várias para ser prontamente socorrido -
E assim aconteceu - Graças à tua generosidade e o teu abnegado esforço - Que rapidamente puseste em movimento um grande abraço de solidariedade - Operaste um autêntico milagre - E também porque as pessoas que contactaste, compreenderam que o momento não era de esperas mas de acção: desde o maqueiro que prontamente me saturou dos grandes golpes na cabeça, que não paravam de jorrar sangue - Mais uns minutos, dificilmente podia manter-me em pé, pois já começava a sentir fortes tonturas
- Depois, foi a pronta evacuação na ambulância que me transportou para o hospital. E, ao chegar ali, tanto carinho, tanta disponibilidade, que,a bem dizer, nem sei onde hei-de começar a agradecer - Sim, a todos os rostos que me acarinharam e me assistiram , aos meus companheiros que também tanto se esforçaram por me salvar - Um grande abraço amigo - De ti, já tinha as melhores recordações, mas com esta grandeza, penso que é inigualável
COMO OS ACASOS DA
VIDA SE PODEM CRUZAR - DA CRIANÇA QUE NUNCA MAIS ESQUECERA O DIA EM
QUE O POUPOU DA PREPOTÊNCIA DE UMAS BASTONADAS COLONIAIS
Mas foi ele que me
reconheceu, ocasionalmente, quando passeava pela cidade, acompanhado do meu
amigo Manuel Gonçalves, na visita que ambos fazíamos a S. Tomé, em
finais de Outubro de 2014 - –39 anos depois daqui ter partido para uma aventura
oceânica em canoa . E, vejam-se, as voltas que o mundo dá.
Tal como já tive ocasião de me referir, foi realmente um grande prazer encontrar-me naquele ano de 2014, com a mesma pessoa, que, naquele distante dia da sua adolescência, quando ainda era rapaz,
fixara a minha imagem para o resto da sua vida, devido a um episódio que é
também ao mesmo tempo o testemunho, não só das suas recordações, como de um tempo colonial, que, em múltiplos aspetos,
não deixa grandes saudades. Era então furriel
miliciano. O episódio, que aqui recordo, passa-se em frente das escadarias do então
Cinema Império, mas começa lá dentro.
Era então furriel
miliciano. À porta do Cinema Império, deparava com um pequeno grupo de miúdos, agressivamente
interpelado por militares da PM, que os abordava à bastonada e à chapada, obrigando-os a sair do local - Pelo simples facto de terem exteriorizado a sua alegria, quando, o
famoso Cassius Clay, num documentário que antecedera a apresentação do filme
Trinitá o Cowboy Insolente, manifestaram a sua exuberante alegria ao mandar a
KO um pugilista branco – Fizeram-no, como contra-ponto à reacção da bancada de colonos e militares, que exultavam quando o pugilista negro parecia ser silenciado pelo seu adversário.
Na tropa - S. Tomé 1966 |
O cinema
Império, construído nos anos 1950‐1960, era a grande sala dos espetáculos coloniais: não só da
exibição de filmes, como de peças teatrais, desfiles de concursos de misses, espetáculos
de teatro ou musicais, com atores ou músicos que vinham em digressão da “metrópole” (lá,
por exemplo, chegou a cantar Bana, o popular artista cabo-verdiano). Pois era
no interior desse edifício, onde quase todas as semanas havia estreias de
filmes, que, a sociedade colonial, ia exibir também as vaidades das suas melhores
farpelas.
Após a independência, o largo onde se situava, que tinha ao centro
uma estátua de um dos “descobridores”que é substituída por um obelisco, passa a chamar-se Praça dos Heróis da
Liberdade e ao cinema é dado o nome de Cinema Marcelo da Veiga – Entretanto, nos
anos 8o, uma parte do edifício desaba, é reabilitado mas, pelos vistos, de
efémera funcionalidade, já que, tanto quanto me apercebi, é nele que se situa a
sede de um dos principais bancos em São Tomé.
Também o frequentei, por
várias vezes, tanto nas minhas reportagens, como quando ali ia assistir ao
cinema ou a outros espetáculos. Até Mário Soares, no tempo em que Salazar lhe
forçou o desterro em S. Tomé, era um dos frequentadores, nas estreias dos filmes. Viu-o ali várias
vezes, no chamado balcão, situado no primeiro piso, enquanto na zona do rés do
chão, onde os preços eram mais baratos, sobretudo na plateia da frente, junto
ao écran, sentava-se o zé povinho,, a classe dos desfavorecidos e
oprimidos - Ainda me lá cheguei a sentar
com a minha companheira santomense, por não se sentir à vontade no balão dos colonos
e elites. Mas era aí, nas filas mais
avançadas, que as fitas cinematográficas, encontravam maior eco: onde as cenas dos filmes mais se faziam vibrar:
até porque, por vezes, ao ruído das vozes, também se juntava o do fundo das
cadeiras a bater. E foi precisamente isso que aconteceu, quando o famoso boxer Cassis Clay, leva ao tapete o
seu adversário, um pugilista branco, igualmente de nacionalidade americana.
Antes de cada estreia de um filme, havia geralmente a exibição do chamado jornal
de atualidades, com um documentário de notícias do estrangeiro ou de propaganda
ao regime. Naquele dia, a fita era aguardada com enorme espectativa, sobretudo pela
camada mais jovem – Ia ser exibido o filme Trinitá
o Cowboy Insolente – E, curiosamente, como que para estimular ainda mais os ânimos,
uma parte do documentário, que o antecedia, reportava-se a um combate de boxer,
entre o negro Muhammad Ali
outro pugilista, também americano mas branco
.
Mal
a sineta anuncia o início do combate, o
branco atira-se ao boxer negro, como um leão, o que faz exaltar a plateia branca,
donde são nítidas as vozes de euforia e algumas até de provocação, destinadas a
melindrar a plateia negra, que, silenciosamente, segue o desenrolar dos primeiros
rondes.
É claro que, Cassius Marcellus Clay, Jr., nascido em 17 de janeiro
de 1942 em Luisville, , Kentucky, que, em 1999, haveria de ser
considerado “O Desportista dp Século”, um dos maiores ídolos da história do
boxer, podia muito bem ter arrumado o seu adversário. Não o fazia –
comentava-se na altura - para não matar o espetáculo e valorizar o próprio combate
- Preferia levar alguns murros ou fazer de conta que os levava para
depois, num soco bem assente, levar o adversário ao tapete. E foi justamente o
que se viu nas imagens daquele documentário. Nessa altura, é então a vez da
plateia negra ficar ao rubro e, só se calar depois de se ascenderem as luzes e de grossa bastonada policial .
Porém,
a carga policial, não ia ficar por ali: no fim da exibição do filme, um grupo
de miúdos, ao abandonar a porta da plateia, corre para o largo fronteiro ao
cinema e começa a dançar, clamando o seu ídolo. Eu estava ali parado, no alto
das escadas, a apreciar aquele segundo espetáculo, Não me sentia minimamente
molestado; pelo contrário, no íntimo até me divertia e aprovava a exuberância
da garotada. Mas quem assim não pensa é um grupo de soldados da Polícia
Militar, que, antes de entrarem para o jipe, desatam à bastonada aos miúdos.
Vendo aquela prepotência, e envergando
eu a farda de furriel miliciano, logo, portanto, mais graduado que os soldados, não concordando
com tamanha desfaçatez, gritei, ordenando, alto em bom som: "faz favor vão embora! Deixem
essa pobre gente em paz!" – Quem, entre os garotos, também exibia a sua satisfação era, pois,
o homem que, anos mais tarde, haveria de me dar um grande abraço, quando seguia
no seu jipe, com um amigos e me vê a caminhar
junto ao edifício do antigo Liceu.
- Na imagem,
Bernardino Lopes Monteiro, com os dois filhos: o mais crescidote, o
Vital Monteiro, falecido em 1974, e o mais novo,
Victor Monteiro, atual chefe do Gabinete do Presidente da República de
S. Tomé e Príncipe -É uma das
raras fotos que tem de seu pai. Perguntou-me ele no facebook: "O meu
pai gostava de vez em quando vestir esta farda: Jorge, sabes dizer-me o
que te parece?
Sim,
porque eu também o conheci na Roça Rio do Ouro da Sociedade Agrícola
Vale Flor, pois sou mais velho de que o Victor. E tenho uma vaga ideia
de o ter visto com essa farda
Se
bem me lembro, e pelo que julgo depreender (pelo simbolo do boné, onde é
bem visível a letra A, pois ele nunca foi polícia nem tocou em nenhuma
banda) deverá ser a farda azul e o boné
dos seus tempos de imediato do navio António Carlos, que ele, mesmo
depois de
ter de lá saído, devido
à rebelião de que ali protagonizou, vestia em certos dias, como se ao
mesmo tempo fosse uma maneira de sentir orgulho por essa farda, que
valorosa e dignamente soube envergar, impedindo horrível matança.
Nascido na Ilha do Fogo, em Cabo
Verde, mas foi em S. Tomé que, Bernardino Lopes Monteiro, acabaria por viver a maior parte da sua vida,
tendo falecido em 1971, com 63 anos de idade, como que ostracizado na
enfermaria geral do Hospital Central,
devido a problemas de saúde, contraídos pelos trabalhos e vicissitudes
por que
passou, sobretudo quando esteve preso no Tarrafal e também por nunca
virara a cara às adversidades e ainda devido às constantes labutas e
revezes da vida.
O Dr. Leão,
seu amigo, que conhecera em Cabo Verde, ainda diligenciou para que fosse internado na enfermaria onde ele prestava
assistência, na da 2ª classe, mas não foi autorizado, com alegação de que, “esse
senhor tem a cor branca mas não é branco e trabalhou na roça.”
Nunca
confessou, publicamente
o seu feito
heróico - Nem mesmo aos seus filhos, que apenas vieram a saber, quase
de surdina, quando ele recordava essa façanha (passada a bordo do barco
António Carlos), a sua mãe , que namorara no Tarrafal., onde ia levar
água aos presos. No entanto, a quem confidenciara, foi ao seu parente e
grande amigo (por parte da esposa), o Sr. Domingues Martins, conhecido
por "Pômpi"quando ambos se encontraram no Tarrafal
Mesmo assim, pese o facto do segredo ter ficado restringido aos seus
familiares e amigos mais íntimos, ainda
chegou a estar na mira das autoridades coloniais, ignorando, porém, por
que artes diabólicas lhe haviam passado essa informação. Pois só não o
prenderam ou não mandaram de novo
para o Tarrafal, graças aos bons ofícios do português, Dr. Boticas e da
médica
santomense, Dr. Julieta.
CRONOLOGIA DE UM BARCO DE MÁS MEMÓRIAS - NÃO LANÇARAM 12O HOMENS AO MAR PORQUE A TRIPULAÇÃO SE OPÕS - AS MACABRAS OPERAÇÕES DO NAVIO ANTÓNIO CARLOS NO PERÍODO COLONIAL
"António
Carlos" - navio de carga e
passageiros, que, durante o fascismo colonial salazarista, além de ter
servido para transportar mercadorias diversas, também chegou a ser
usado para transporte de prisioneiros, havendo ainda o testemunho de
que, numa carga humana de 88 prisioneiros, carregada da colónia penal
do Campo do Tarrafal –
para ser transportada de volta à Guiné-Bissau, após vários anos de
dura pena, metade dos quais, acabaria por não chegar ao destino: ou
seja, foram lançados ao mar, tal como se pode deduzir do testemunho de
um tripulante português, que adiante vou aqui transcrever,
Em Fevereiro de 1953, cerca de centena e meia de santomenses, iam ser largados no mar por ordem do Governador Carlos Gorgulho, que quis levar a cabo mais uma das suas macabras operações de liquidação do povo nativo destas ilha, pretendendo lançar ao mar quase uma centena da elite nativa santomense, que apelidara de “comunistas”
Tal não ocorreu, porque, a tripulação liderada pelo imediato Bernardino Lopes Monteiro, se sublevou, impedindo a consumação do perpetrado e afrontoso crime, ordenado pelo déspota ditador
Porém, pelo que nos é possível depreender, a mesma sorte não contemplaria um punhado de prisioneiros de guerra guineenses, que, anos mais tarde, já no período da resistência à ocupação colonial, embarcados no Tarrafal, neste mesmo barco, depois de engaiolados em sufocantes porões, não lograriam regressar à terra natal - É o que lhe revelo no capitulo seguinte.
OUTROS INDÍCIOS HISTÓRICOS DO BARCO “ANTÓNIO CARLOS” VÃO AO ENCONTRO DA MONSTRUOSIDADE PERPETRADA PELO GOVERNADOR CARLOS ORGULHO
Em Fevereiro de 1953, cerca de centena e meia de santomenses, iam ser largados no mar por ordem do Governador Carlos Gorgulho, que quis levar a cabo mais uma das suas macabras operações de liquidação do povo nativo destas ilha, pretendendo lançar ao mar quase uma centena da elite nativa santomense, que apelidara de “comunistas”
Tal não ocorreu, porque, a tripulação liderada pelo imediato Bernardino Lopes Monteiro, se sublevou, impedindo a consumação do perpetrado e afrontoso crime, ordenado pelo déspota ditador
Porém, pelo que nos é possível depreender, a mesma sorte não contemplaria um punhado de prisioneiros de guerra guineenses, que, anos mais tarde, já no período da resistência à ocupação colonial, embarcados no Tarrafal, neste mesmo barco, depois de engaiolados em sufocantes porões, não lograriam regressar à terra natal - É o que lhe revelo no capitulo seguinte.
OUTROS INDÍCIOS HISTÓRICOS DO BARCO “ANTÓNIO CARLOS” VÃO AO ENCONTRO DA MONSTRUOSIDADE PERPETRADA PELO GOVERNADOR CARLOS ORGULHO
Procurei ver nos arquivos o que se podia saber do passado “histórico”
deste barco mas apenas deparei com informações técnicas e das viagens que
fazia, entre a “metrópole” e as colónias
Todavia, através de uma pesquisa na Internet (que
cada vez mais se vai revelando o maior arquivo informativo planetário) pude
também ficar a saber que não foi apenas o cabo-verdiano, Bernardino Lopes
Monteiro, que ali chegou a prestar serviço
como imediato, houve outros seus patrícios, que também por lá andaram na
estiva.
De resto, depreende-se que talvez tenha sido por esse facto, que, juntamente com outros cabo-verdianos da mesma generosidade e valentia, haja conseguido sucesso com a sublevação a bordo, levando o comandante a demovê-lo de tão macabras intenções, obrigando-o a alterar a rota: em vez de se dirigir para sul, rumo a Angola (e despejar os pobres desgraçados), logo que perdesse a ilha de vista e quem sabe se mesmo a horas mortas, a passar primeiro pela Ilha do Príncipe, e a deixá-los ali.
De resto, depreende-se que talvez tenha sido por esse facto, que, juntamente com outros cabo-verdianos da mesma generosidade e valentia, haja conseguido sucesso com a sublevação a bordo, levando o comandante a demovê-lo de tão macabras intenções, obrigando-o a alterar a rota: em vez de se dirigir para sul, rumo a Angola (e despejar os pobres desgraçados), logo que perdesse a ilha de vista e quem sabe se mesmo a horas mortas, a passar primeiro pela Ilha do Príncipe, e a deixá-los ali.
Atente-se neste comentário no blogue FINISTERRA – acerca do barco “António Carlos”
Anónimo disse...
“Há muito tempo queria
conhecer este navio, foi dali que veio o meu nome de nascimento, Em 20 de
Dezembro de 1966 quando o meu pai trabalhava como estivador, no cais de Pedra
de Lume - Ilha do Sal Cabo Verde, e prometeu que se eu nascesse naquele dia e
se fosse um homem , o meu nome seria António Carlos, hoje tenho grande orgulho
deste nome http://cabodofimdomundo.blogspot.pt/2008/03/navio-de-carga-antnio-carlos.html
NOUTRO
BLOGUE O COMENTÁRIO AINDA É MAIS RELEVANTE
Ou seja, a confirmação de que o barco era também usado para
transporte de prisioneiros e que deixara atrás de uma das suas viagens uma gravíssima onda de suspeição:
Pois é dito o seguinte: “Foi a bordo deste navio que melhor conheci
Bissau, e o seu "Tanque de água" onde registei um dos inesquecíveis
momentos na vida de um marinheiro. Foi ainda a bordo deste mesmo navio que nos
deslocámos de Bissau a Cabo Verde (Tarrafal, na Ilha de Santiago) para ali embarcar
supostamente 88 ex-prisioneiros de guerra, mas por razões que nunca cheguei a
saber apenas 44 voltaram para a Guiné (***).
Era então Comandante do António Carlos o conhecido e odiado pelas gentes da outra banda, o "Herói do Barreiro"... Estou a falar-vos do longínquo ano de 1964.
Era então Comandante do António Carlos o conhecido e odiado pelas gentes da outra banda, o "Herói do Barreiro"... Estou a falar-vos do longínquo ano de 1964.
"Navio de carga e passageiros a
motor, construído de aço, em 1946-1947. Nº (…)no Estaleiro Naval da A.G.P.L. em
Lisboa, pela CUF - Companhia União Fabril (construção nº. 120), para a
Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes. (…) quilha do ANTÓNIO CARLOS foi assente a
14-02-1946 e o navio foi lançado à água a 27-07-1946 pelo Presidente da Republica
António Óscar Fragoso Carmona. Entregue ao armador a 24-11-1947 e registado em
Lisboa a 6-01-1948. Saiu de Lisboa na primeira viagem a 12-01-1948, para
Leixões (13-01/ ) e Casablanca (21-01/ ), regressando ao Tejo a 1-02. Em 14-02
largou de Lisboa na primeira viagem a Cabo Verde e à Guiné. A 31-08-1950 teve a
arqueação rectificada para 1.814 toneladas de arqueação bruta e 985 toneladas
de arqueação líquida. Em 1959 o navio esteve fretado ao ministério do Exército
para transporte de tropas e material de guerra (portaria nº 17.299 de
18-08-1959). A 10-12-1969 sofreu uma colisão com o navio holandês BOVENKERK
(8.670 TAB/1960) no rio Elba, quando seguia viagem de Lisboa para Hamburgo,
registando-se avarias graves a meio navio. – mais pormenores em DICIONÁRIO DE NAVIOS PORTUGUESES
REVELAÇÕES DE DOMINGOS VAZ MARTINS - CONHECIDO POR PÔMPI"
Atualmente
a morar no Pantufo, onde o conheci, na comonhia do Coronel Victor
Monteiro, aquando do meu regresso a S. Tomé. E é realmente espantosa a
sua revelação, pois vem desfazer algumas dúvidas acerca dos designios
que levara Gorgulho a embarcar tantos presos num barco! - Diz ele o
seguinte, referindo-se às confissões que lhe fizera o seu amigo, Nhô
Novo:
"Ele disse-me que o branco queria jogar os presos
no mar. Então ele não aceitou. Nhô Novo não ficou contente com aquilo”, opôs-se:
“Disse que é gente como nós. Não pode atirar ao mar, é pecado! Talvez seja por
isso que puseram na cadeia de castigo. Discutiu e disse-lhe que não podia jogar
os homens ao mar dessa maneira
Domingos Vaz Martins, 75
anos, com habilitações muito acima da esmagadora maoira Natural
da Ilha de Santiago. Veio para S. Tomé, como contratado para trabalhos nas plantações
da Roça, nos porões do navio Ambrizete e por cá ficou, até hoje. Conheceu o Nhô Nôvo na colónia Penal do
Tarrafal, no local onde iam “apanhar água”, Soube, então , como ele era mais instruído
de que outros presos africanos, com os quais trabalhava na construção de
estradas, que lhe deram o posto de cantoneiro. Mais tarde, reencontraram-se, ambos na Roça Rio do Ouro.
O SORTILÉGIO DE S. TOMÉ – FASCINARA NHÔ NOVO
Nnhô Novo, quando passou a primeira vez por S. Tomé,
disse que “conheceu um país onde se mete
uma mandioqueira e três meses depois tira-se a mandioca” – Nas ilhas de Cabo Verde, chove
muito pouco e a fertilidade e a exuberância de S. Tomé, fascinou-O desde logo.
E, as voltas da vida, assim o ditaram. A sair da
cadeia, quando foram soltos os presos, em
S. Tomé (que, ,as arbitrariedades do Governador
Carlos Gorgulho, tinha mandado prender, além das centenas de mortes que provocou),
curiosamente, dois anos depois, em 1955, é nesta Ilha que acabará por se fixar.
Inicialmente, na Roça Rio do Ouro (atual Roça Agostinho Neto), onde também o conheci, quando ali trabalhei, como entregado de mato.
E, na verdade, nunca mais me esquecerei daquele homem magro, alto, quase com perfil de europeu mas, contrariamente à frieza de quem recebia as ordens, ele transmitia outra humanidade - sempre muito aprumado (postura que certamente herdara da Marinha) mas evidenciando uma expressão de simpatia para com toda a gente com quem falava ou o abordava. Era o leiteiro da roça, que tomava conta da vacaria e das cabras.
Contudo, muito embora o não quisesse demonstrar ) ele era mais culto de que o patrão e de que outros empregados, já que aprendera a falar várias línguas – E foram esses conhecimentos que lhe possibilitaram a entrada como imediato do navio António Carlos.
Inicialmente, na Roça Rio do Ouro (atual Roça Agostinho Neto), onde também o conheci, quando ali trabalhei, como entregado de mato.
E, na verdade, nunca mais me esquecerei daquele homem magro, alto, quase com perfil de europeu mas, contrariamente à frieza de quem recebia as ordens, ele transmitia outra humanidade - sempre muito aprumado (postura que certamente herdara da Marinha) mas evidenciando uma expressão de simpatia para com toda a gente com quem falava ou o abordava. Era o leiteiro da roça, que tomava conta da vacaria e das cabras.
Contudo, muito embora o não quisesse demonstrar ) ele era mais culto de que o patrão e de que outros empregados, já que aprendera a falar várias línguas – E foram esses conhecimentos que lhe possibilitaram a entrada como imediato do navio António Carlos.
(a linda assoalhada)
Porém, 13 anos depois de trabalhar na roça grande, um dia o patrão descobriu que ele tinha “um sobrado” na cidade, mandou-o chamar e disse-lhe: - “Sr. Bernardino! O Sr. vais ser transferido para Fernão Dias”
Porém, 13 anos depois de trabalhar na roça grande, um dia o patrão descobriu que ele tinha “um sobrado” na cidade, mandou-o chamar e disse-lhe: - “Sr. Bernardino! O Sr. vais ser transferido para Fernão Dias”
Não, Senhor Patrão! Eu não vou para Fernão
dias
-Porquê!?
-Porque lá tem muito
mosquito e não tem luz
- Diz o patrão: olhe Sr.
Bernardino! O Sr. parece branco mas não é branco
Nisto, após um curto silêncio,
responde: - pergunta o patrão:
– Então que eu faço consigo?
- Olhe, Sr. patrão: trabalhei
durante 13 anos, a dizer, sim senhor. Pois, eu hoje, digo não Senhor!
Ponha-me fora da roça !
- É mesmo isso que vou fazer: e
só queria duas coisas. Uma camioneta da roça que me levasse as minhas bagagens
para a cidade….
- Diz o patrão: “Eu sei que
o senhor tem um sobrado na cidade”. E outra coisa que o senhor quer?
- Que levasse as minhas
limárias – os seus animais – a Guadalupe para ali ser vendidos
Responde o patrão: lá não vais
vender nada. É tudo vendido a mim por 23 escudos cada peça, seja porco,
galinha, vaca ou peru.
Seu pai deixou lá tudo e veio
para cidade. E, quando seu pai, vem para a cidade, lembra-se de que ele queria
comprara Roça de Santarém e Cantanhede por 380 contos (1968) e até uma pequena
lojinha mas os colonos, não lho permitiram"
Morreu ainda novo porque, embora
nunca voltasse a cara ao trabalho, mesmo com a pele clara, como são muitos
cabo-verdiano, para o regime colonial ele era negro – E estes, salvo um caso ou
outro, eram escravizados.
CORONEL VITOR MONTEIRO, FILHO DE BERNARDINO LOPES MONTEIRO - ELE CONTA O QUE LOGROU APURAR DE SEU PAI - OUÇA AS SUAS PALAVRAS E REFLITA
CORONEL VITOR MONTEIRO, FILHO DE BERNARDINO LOPES MONTEIRO - ELE CONTA O QUE LOGROU APURAR DE SEU PAI - OUÇA AS SUAS PALAVRAS E REFLITA
Desde
há muito que, Victor Monteiro (cujo pai perdeu ainda rapaz, assim como
seu
irmão, Vital Monteiro, falecido em 1974, em Portugal,) tem
procurado recolher dados mais aprofundados para comparar ou associar
aos que recorda, lá de casa. No entanto, mesmo tendo pedido
colaborações a várias
pessoas amigas e a estudiosos, não tem sido fácil. Por um lado, porque
o seu pai, não gostava de se gabar do seu valoroso gesto, pois
certamente terá compreendido que, ao defender aquelas indefesas
criaturas, rebelando-se contra o seu comandante, não fez mais que um
dever de
amor ao próximo; por outro, porque, também, se revelasse o que fez,
podia novamente ser preso.
Pelo que pude constatar, através
de seu filho, tem sido uma quase obsessão. Sempre reconheceu nele um
grande lutador, amigos dos filhos e muito estimado por quem o conhecia -
É, de facto, para ele o grande herói da sua vida - E quem é que, tendo-o o conhecido,
em vida, como foi o meu caso, tem dúvidas da sua generosidade, da sua
coragem e altruísmo?
ISTO PASSAVA-SE EM 1948 MAS EM 1953 E NOS ANOS SEGUINTES ERA A MESMA COISA
Leia-se o que disse um alto funcionário da Administração
do Ministério do Ultramar, nos finais dos anos 40: (...) “Este
assunto merece, porem, uma particular observação, em face de leis gerais que
condicionam o trabalho nas colónias. Assim os trabalhadores cabo-verdianos
foram transitoriamente colocados sob a fiscalização da Curadoria Geral dos Serviçais
e Indígenas por comodidade da administração, em face de trabalharem nas roças
em igualdade de circunstâncias com os Indígenas serviçais sujeitos á tutela curatorial, o que pode
acarretar algumas complicações no meio dos agregados trabalhadores. Por outro lado os nativos de
S,Tomé foram considerados sob a lei do
europeu, isto é, retirados de sob a tutela curatorial, quando perante a Carta
Orgânica do Império Colonial Português, al'tigo 2462, § Único, devem estar
sujeitos ao regímen de índigenato, na sua acepção legal.
111 - Várias razões têm levado a manter-se este
estado de cousas, mas parece-nos necessário sair dele, pois que com a evolução
civilizadora do indígena, que é o próprio progresso· de colonização, podem
estes arranjos de conveniência administrativa, concluído! á margem da lei,
acarretar dificuldades e dissabores, se com o adiantamento to dos povos vierem,
como é previsível, os agitadores sociais. No caso dos cabo-verdeanos isto não
tem importância de maior, dado que a sua permanência em massa na colónia é
sempre temporária'.
112 Mas quanto aos nativos já assim não é,
trata-se de um povo em adiantado estagio de crescimento na civilização do
colonizador a quem não pode impor. Não é um regresso a estágio anterior,
desmentindo-se com isso o objetivo máximo da nossa obra de colonização.
Afigura-se-nos que a via mais adequada para resolver este problema, e a mais
legal, será a promulgação de medidas destinadas a reconhecer ao nativo,
individualmente, a sua capacidade de cidadania portuguesa, e nessa cidadania
fazer entrar logo de início a grande maioria da população, impondo-lhe a
satisfação de certos mínimos de sociabilidade , em especial, a comprovação de
meios da vida e de trabalho, admitindo de entrada uma minoria, maia ou menos
reduzida, de nativos que ficariam sujeitos á tutela curatorial e regímen e
indigenato, até comprovação para entrada no grémio do civilizado. Isto seria o
caminho para a situação nítida, perante a lei.
(…) 120 - ouvi também referências á execução de
trabalho compelido para serviços públicos, imposto aos nativos, do que não há
conhecimento na Inspecção Superior dos Negócios Indígenas, nos termos do artigo
295• do Código do Trabalho do Indígena , de 6 de Dezembro de 1928.( Do c , 3.4
-, )
Constou-me também que na execução desses trabalhos
e do trabalho correcional os trabalhadores são entregues á condução de outros
preso, muitas vezes criminosos de nomeada, que sobre os trabalhadores exercem
grandes violências, 0 que já provocou a intervenção dos médicos do hospital em
vista de ali aparecerem gravemente feridos ou contusos dos naus tratos e até
por esse estabelecimento correu um processo por estupro na pessoa de uma menor
de 11 ou 12 anos, presa ou filha de uma presa, que obrigou a tratamento
hospitalar da vitima, praticado por um desses capatazes, preso por assassinato
de um filho, tendo o processo sido mandado arquivar, sem qualquer procedimento”
AINDA HÁ MUITO POR DESVENDAR
Dos hediondos episódios, que ocorreram a partir do dia 3 de Fevereiro
de 1953, que ficariam conhecidos por “Massacres
do Batepá, ainda há muito por contar! – Muita matéria a necessitar de atenção por parte de
estudiosos e historiadores, que, de modo algum,
pode ficar no esquecimento.
E é, pois, também a razão deste artigo, a dois
dias da triste data histórica, sobre a qual passam, depois da amanhã, 62 anos – Sim, este o motivo pelo qual trago ao conhecimento público, o gesto abnegado e corajoso
de Bernardino Lopes Monteiro, que, com
a colaboração de outros tripulantes, por se ter oposto a que, quase centena e meia de homens, fossem selvaticamente
lançados ao mar, acabaria por pagar cara
a sua heroicidade, com uma humilhante e duríssima pena de trabalhos forçados
(como calceteiro) no temível campo de concentração do Tarrafal, também
conhecido pela “frigideira” – O presidiu para onde o regime
fascista-colonialista de Salazar enviava os presos políticos
TARRAFAL – OUTRO CAMPO DA MORTE LENTA – NÃO MENOS
ESCABROSO QUE O DE FERNÃO DIAS, CRIADO PELO FASCISMO COLONIAL
Do qual - diz-se - “Os presos, quando não estão na
Frigideira, estão nas celas. Estas são separadas, também elas, por portões de
ferro, que tudo têm semelhante entre si. Carregam sobre o dorso do metal a dor
de seres humanos que transportam a liberdade no seu espírito. Alguns pagam o
elevado preço da liberdade com a vida. A morte abraça-os. A frigideira é
construída a uma distância considerável de qualquer outro compartimento da
“casa da morte”, para que a sombra não proteja os seus habitantes do calor
infernal que lá se faz, ficando permanentemente exposta ao raio solar durante o
período diurno. No seu interior, só há dois companheiros: a solidão e o
silêncio. Campo de Concentração do Tarrafal - Nós
Genti Cabo Verde –
Foi
precisamente nessa tenebrosa prisão, onde esteve desterrado, Bernardino Lopes Monteiro, (pai do coronel na reserva, Victor Monteiro, Director
do Gabinete do Presidente da República Manuel Pinto da Costa) – Curiosamente,
anos depois, quis o destino que viesse
para S. Tomé, na condição de contratado, onde se fixaria até ao seu
falecimento, em 1972. Não perca mais à frente os pormenores
BATEPÁ OU MATA-PÁ – A MAIOR NÓDOA DO COLONIALISMO NAS
ILHAS VERDES DO EQUADOR
Quando o Governador de S. Tomé e Príncipe,
Carlos Gorgulho, e os seus acólitos inventaram a tenebrosa história da
conspiração dos negros contra os brancos, que apelidara “ de indivíduos
desafectos à atual situação política, conhecidos como comunistas”, principiava uma
das maiores tragédias, do período colonial, que vitimaria várias centenas de
naturais destas Ilhas – Era como que o macabro epílogo que surgira na sequência da morte do seu
ajudante-de-campo, o qual, numa atitude
provocatória, viera juntar-se às
famigeradas rugas conduzidas por soldados armados e lideradas por um dos presos de delito comum, um tal facínora
Zé mulato, rusgas essas que, todas as
manhãs, deixavam a cidade e partiam para o mato para cercaram esta ou aquela pacata
e pacifica povoação, arrastando à força
quem encontrassem, fora ou dentro de suas humildes casas de madeira, obrigando os
nativos a trabalhos forçados nas obras do Estado ou para serem enviados para as
roças, a onde a mão-de-obra dos contratados, vindos de outras colónias,
escasseava – Todavia, o local para onde imediatamente eram conduzidos, eram os miseráveis barracões imundos da cadeia, junto à cidade, onde os pobres santomenses eram presos
nas condições mais humilhantes e degradantes
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