«São muitos os milagres atribuídos a Santo António, ocorridos tanto em vida como após a morte. Batizado com o nome Fernando de Bulhões, nasceu em Lisboa, entre 1191 e 1195, na Rua das Pedras Negras, junto à Sé de Lisboa. Na casa onde nasceu e viveu a sua infância está hoje a Igreja de Santo António
O episódio que tomo a liberdade de transcrever, terá sido um desses milagres: Sua mãe, é natural de Chãs, casou no Orgal – Teve dois filhos: um deles, o António Gualdim, casou com a minha sobrinha, Ana Maria: quase em véspera do dia de Santo Antonio, celebrado junto à igreja da Sé de Lisboa, em cuja procissão costuma participar com a sua esposa, recordou, hoje, no facebook, esta bonita história:
Tinha acabado de nascer a 3 de junho. A 13 de junho deu-me uma daquelas maleitas que a ausência de cuidados médicos ou o acesso a condições de vida que hoje consideramos minimamente dignas propiciaram. Minha mãe, pobrezinha, lá desceu a ladeira comigo ao colo, em aflição. Chegada ao rio Côa só tinha uma maneira de atravessar – devagarinho, com uma mão segurava-me junto ao peito, com a outra agarrava-se ao corrimão da velha ponte do Côa, por entre as travessas da linha do Douro. Na outra margem, a ladeira era sempre a subir, até Foz-Côa. Pelo carreiro, ziguezagueando a ladeira, minha mãe ainda se deteve, por momentos, junto a um canado, onde dias antes tinha nascido, já noite cerrada. Recusara-me a chegar a Foz-Côa. Que lugar mais lindo para nascer, como teto a abóboda celeste, pigmentada com a constelação de gémeos, como chão o vale mais encantado desse mundo maravilhoso que Torga chama Trás-os-Montes com o acrescento, segundo Teixeira de Pascoais, desse enxerto que é a Terra Quente. Agora não, não nos podíamos deter, tínhamos que chegar a Foz-Côa, o médico tinha que atalhar tão grave maleita.
- O que me diz senhor Doutor, o menino está assim tão mal?
- Não tem escapatória, não vale a pena receitar-lhe nada porque não vai passar de hoje. Se ainda não está baptizado vá com ele imediatamente à igreja e batize-o!
Minha mãe, lavada em lágrimas, lá correu para a igreja, com uma vizinha que a acompanhou , para ser baptizado. Pelo menos livrava-me desse danado limbo, onde tudo é esquecimento. Para madrinha foi a D. Horácia, a vizinha que nos acompanhou, o problema colocou-se quanto ao padrinho, não havia ninguém disponível.
Olhando para o altar minha mãe reparou que St. António a chamava! Tinha o Menino ao colo, será que também cria apadrinhar outro menino. Assim foi, fiquei António como o meu padrinho e Gualdim porque era o nome do irmão mais novo da minha mãe que tantas vezes balouçou o meu berço por entre pausas de jogatinas de futebol com uma bola de trapos.
Em retrospetiva não me posso queixar, julgo que Stº António, meu Padrinho, tem tomado bem conta de mim, transportando-me das últimas memórias vivas, quase medievais, para este mundo pós-moderno pautado por mutações de toda a ordem, mas onde o homem, o homem substantivo singular - na voz de Unamuno, o homem de carne e osso, o homem meu irmão – continua a sofrer ao mesmo tempo que busca o do ideal desse outro Homem, o substantivo coletivo, sempre inalcançável, sempre adiado.
Viva Stº António, Viva o meu Padrinho!
Em retrospetiva não me posso queixar, julgo que Stº António, meu Padrinho, tem tomado bem conta de mim, transportando-me das últimas memórias vivas, quase medievais, para este mundo pós-moderno pautado por mutações de toda a ordem, mas onde o homem, o homem substantivo singular - na voz de Unamuno, o homem de carne e osso, o homem meu irmão – continua a sofrer ao mesmo tempo que busca o do ideal desse outro Homem, o substantivo coletivo, sempre inalcançável, sempre adiado.
Viva Stº António, Viva o meu Padrinho!
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