Não há memória de
que alguém tenha ousado, em bicicleta,
fazer tantos percursos e com tão poder de observação, em S. Tomé e Príncipe
– mas não só por estas paragens equatoriais, como por outras partes do mundo, sim, como a jovem portuguesa, Rute Norte
Já aqui lhe dediquei ,gostosamente,
algumas referências mas julgo que não
será demais voltar a destacar as suas tão singulares e
corajosas proezas - Postei este comentário no jornal Téla Nôn mas gostaria também de o transmitir neste meu site -
“Quero aqui expressar, no Jornal Téla Nón,
os meus sinceros parabéns e o meu público reconhecimento à desportista
portuguesa, Rute Norte, que, depois de ter andarilhado, pedalando sozinha, pelo
Quénia, Austrália, Amazónia, Patagónia, Gronelândia, Timor, Vietname, Índia,
Egipto, Tunísia, China, Nova Iorque, Seychelles ( sem dúvida uma ousada proeza,
corajosa e arriscada aventura, mesmo a nível de excursões organizadas, quanto
mais ao sabor solitário do imprevisto – e então para uma mulher! -, sim, já
que, nos tempos que correm, os lugares seguros, seja em que parte for do mundo,
vão sendo, cada vez mais, uma raridade de que áreas de promissão e de
tranquilidade – pois, embora a singularidade das Ilhas de S. Tomé e Príncipe,
ainda vá constituindo um caso excecional de convivência pacifica, num mundo em
constantes conflitos e instabilidade,
creio, pois, que, atraída, não apenas por
este aliciante facto, pela certeza que ia encontrar gentes a falar a mesma
língua, tida como amável e hospitaleira, como pelo surpreendente exotismo e
prodigalidade das suas belezas, sim, não quis deixar de demandar também as
Ilhas Verdes do Equador, tendo percorrido, numa simples bicicleta, sem qualquer
outro apoio, que não fosse a confiança das suas capacidades e do generoso e
humilde acolhimento, com que sempre deparou, nos 550 Km, que percorreu em 29
dias: 205 na ilha do Príncipe e 345 na ilha de São Tomé, através de trilhos e
caminhos, os mais recônditos, indo ao encontro do S. Tomé e Príncipe, profundo,
desconhecido dos roteiros turísticos, embora também percorresse estes,
convivendo e confraternizando com a população, sobretudo com aquela que,
praticamente, vive esquecida dos meios urbanos, trocando amáveis sorrisos,
partilhando alimentos e até a hospedagem, registando os mais belos e genuínos
registos fotográficos do seu modo de vida, simples, pacifico e generoso, em estreita
intimidade com a natureza, da qual depende a sua sobrevivência, oferendo, por
isso, através das suas espantosas crónicas, quer pelas suas palavra, quer pelos
seus extraordinários testemunhos fotográficos, a expressão mais fidedigna, real
e bela de uma terra generosa e fértil, se bem que também adversa para quem vive
confinado ao que tem de extrair dos seus frutos, com esforço e sacrifício, o
pão de cada da dia para fazer face à sua sobrevivência e da sua humilde
família.
Na verdade, se bem
que não faltem imagens de S. Tomé e Príncipe, sobre os mais variados aspetos,
creio, no entanto, que o vasto e pormenorizado material fotográfico, recolhido
por Rute Norte, que nos tem vindo a oferecer nas suas quão interessantes como
inéditas crónicas, quer sob o ponto de vista humano e paisagístico, dos seus
recursos naturais , da sua fauna e flora, pudendo a vir a ser publicado, em
forma de álbum, poderá constituir, indubitavelmente, matéria para o mais
aprofundado, aliciante e verídico testemunho destas maravilhosas e luxuriantes
ilhas do meio mundo, que se erguem das profundezas do vasto Golfo da Guiné.
Jorge Trabulo
Marques – Jornalista e investigador
ALGUMAS
DAS SUAS POSTAGENS QUE TEVE A AMABILIDADE DE ME ENVIAR - Não deixe de
clikar e se maravilhar com as suas belíssimas imagens
51 - Na Praia dos Tamarindos
"Por esta altura vou acompanhada da
Marluce. Eu digo-lhe que agora vou à praia dos Tamarindos dar um mergulho, e
ela diz-me que vai comigo. Perguntei-lhe se alguém pode preparar-me um peixe
frito com banana frita, ou fruta-pão assada, que eu pagarei a refeição. A
Marluce leva-me então a sua casa, para perguntar à mãe. A mãe da Marluce, cujo
nome é Madalena, diz à filha para ela arranjar peixe para mim, que fritá-lo-á
para eu comer, juntamente com banana frita.
Connosco são 15 barcos, todos a falarem
entre si. O som propaga-se espantosamente pelo mar, parece que estamos sentados
numa sala a falar. Então queriam saber se eu estou sozinha, onde é que está o
marido. E eu respondo-lhes que o marido está em Portugal, que ficou a
trabalhar. Perguntam-me se não quero outro aqui. Gargalhada geral. Eu respondo
que não posso. Outro pergunta-me se não quero levá-lo para Portugal. Riem-se todos,
gozam, e com a Marluce também. Metem-se com ela também.
Partimos às 6h40, sem demoras. Aí vamos nós os três. O
Barco até é pequenino. E eu ainda estou
com um ar ensonado! O grande objetivo deste passeio é ver baleias. Será muito
difícil, mas nunca se sabe.
E eis que avistamos ao longe o repuxo de uma. Eu e a
Marluce soltámos um grito. O Hernani não viu, estava a olhar para outro lado.
Um tremendo repuxo no mar, duma baleia a respirar à superfície, lá ao longe.
Andava eu entretida a fotografar tudo,
quando aparece o Mayer. Pelo que percebi trabalha ali em baixo na roulotte. Eu
mostro-lhe como quero as fotos, e tiro-lhe uma primeiro. Aproveito para regular
os parâmetros da câmera. E depois o Mayer vê, e tira-me outra igual. Agora é o
Mayer que caminha comigo pelas ruas de São Tomé, desta vez para mostrar-me onde
fica um restaurante bom e barato. Disse-me que não vou conseguir subir até
Belém por causa da moleza depois de almoço. Até me fez rir. (Porque é verdade).
047 - Pelas Ruas da Cidade de São Tomé
Este é o Dimas, o jardineiro do museu.
Efetivamente venho a segui-lo desde a última crónica. Na última foto ele já se
vê ao longe. Vinha na minha direção e abordou-me. Até mete respeito, com uma
enxada ao ombro. O que quererá ele? Pelo sim, pelo não, mantenho-me afastada da
enxada :) Ora afinal o Dimas é de uma enorme gentileza e vai ajudar-me.
Ajudar-me em quê?, podem perguntar. Em que é que eu preciso de ajuda? A minha
prioridade aqui na cidade é encontrar uma farmácia que venda adesivos para pôr
pensos nos pés, de forma a proteger as esfoladelas que fiz na praia do Bom Bom,
no Príncipe.
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