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terça-feira, 19 de novembro de 2019

Perdido no Golfo da Guiné - 30º Dia - Não tenho comida!...Sinto uma grande dureza no estômago!... Todo o meu corpo me dói!...Há uma fraqueza geral em mim!...De manhã, vi a chaminé de um barco, mas muito afastado

Algures no Golfo da Guiné, 19 de Novembro de 1975 - HÁ 44 ANOS


Diário de Bordo 11 - Não  comi nada. Quer dizer, limitei-me a comer  uma das barbatanas do tubarão que tenho aí, como troféus. Tentei pescar  e não consegui pescar, absolutamente nada. Hoje, digamos, é um jejum limitado a água e alguns comprimidos, umas vitaminas. De resto, não pude arranjar mais nada, visto ter estado ocupado, quase todo o dia, com o remo, para dar a direção à canoa.

Foto tirada com um dos braços   - Espelhando a imensa angústia e a  incerteza.
GOLFO DA GUINÉ - LABIRINTO DE CORRENTES E DE CONTRA-CORRENTES - AO LADO O MAPA REFERENTE AOS MESES DE OUT-NOV-DEZ  Click here for example plots of seasonal averages.

Além das tempestades, mais o labirinto de correntes
No náufrago há um pensamento que não o larga e se torna cada vez mais obsessivo: a sobrevivência e um ponto onde possa descobrir perfis da ansiada terra salvadora. Por isso mesmo, seus olhos, varrem, vezes sem  conta, o horizonte – e quantas  vezes confunde uma simples nuvem pousada nas distâncias, com o perfil de um monte – Oh! quantas  vezes meus olhos escrutinaram o imenso círculo à minha volta! E  quantas  vezes não se enganaram! 

Se me tem acompanhado, não estranhe que as observações, no meu diário, se repitam – O que não se repetia da mesma maneira., era a fome, a sede  e a fraqueza,  que recrudesciam e cada vez mais me atormentavam e debilitavam - Mas havia que acreditar! Nunca se pode perder a esperança. Há que se auto encorajar, mesmo que seja para se iludir e enganar - O próprio instinto de sobrevivência, encarrega-se de lançar esse apelo


ONDE EU FUI PARAR, DEUS MEU!....À  ZONA MAIS TURBULENTA DO GOLFO QUE O ÉPICO DOS LUSÍADAS  IMORTALIZOU
Sim, pensei nas frágeis caravelas e nos porões dos escravos
Canto V
"Sempre enfim para o Austro a aguda proa
No grandíssimo gólfão nos metemos,
Deixando a serra aspérrima Leoa,
Co'o cabo a quem das Palmas nome demos.
O grande rio, onde batendo soa
O mar nas praias notas que ali temos,
Ficou, com a Ilha ilustre que tomou
O nome dum que o lado a Deus tocou"
Camões 
QUANTOS NAUFRÁGIOS ESTAS ÁGUAS NÃO TERÃO SACRIFICADO?! - QUANTAS VIDAS NÃO TERÃO ENGOLIDO?!...
 
NÃO É FÁCIL A UMA CANOA SOLITÁRIA SEM REMOS APROPRIADOS OU BARCO DESGOVERNADO, APROAR A BOM PORTO

Umas correntes mais fundas, outras mais superficiais, fazem do Golfo da Guiné ,  das zonas mais pluviosas e turbulentas dos mares, mas de  baixa salinidade, devido aos efluentes de rios e chuvas elevadas ao longo da costa, das várias bacias hidrográficas que ali desembocam , à intensa pluviosidade registada ao longo do ano - Claro que não é o Mar das Caraíbas, com os seus temíveis furacões  meteorologically induced storm surge in the gulf of guinea Nestes mares equatoriais,  os tornados não atingem a violência dos tufões mas são mais frequentes 

Esta imensa vastidão oceânica  é atravessada por várias  correntes: predominando o braço da corrente do sul, que se ramifica  da Corrente de Benguela, junto às proximidades da linha do Equador e que dali conflui para oeste   onde toma parte da corrente rotativa do Giro oceânico; a outra corrente é a que deriva de um braço da Corrente das Canárias - Mas qualquer delas tem  a sua forte influência:  Subcorrente Equatorial;   Corrente de Guiné;  Corrente Equatorial Norte; Corrente Contrária Equatorial Norte;  Corrente ao Sul Equatorial;  Corrente Contrária ao Sul Equatorial; a Corrente de Benguela Costeira que se desdobra para oeste norte, a Benguela Corrente Oceânica. Mais informação em: As correntes marinhas - Monografias.com****The Guinea Current*


Acabei por acostar a Bococo -  oito dias depois
A zona assinalada  «» foi onde eu calculo ter andado perdido dezoito dias: umas vezes mais próximo de Bioko (ex-Fernando Pó), outras da costa camaronesa ou nigeriana - Até finalmente atingir a costa da maior Ilha da Guiné Equatorial  »» - De referir que a distância do canal entre esta ilha e os Camarões é de 30Km.  E o mais incrível é que, os barcos que passaram perto de mim (pelo menos duas vezes) não me viram ou ignoraram-me.

Algures no Golfo da Guiné, 19 de Novembro de 1975 -

Diário de Bordo  - 1 Faz esta manhã um mês que me encontro a navegar na minha canoa. Passei uma noite esplêndida. Não dormi, efetivamente... Como acontece,   estive  várias vezes acordado a observar o tempo... Esteve um belíssimo luar! O mar muito calmo, muito sereno!...Uma noite brilhante, cheia de luar!

Por detrás daqueles recortes horizontais de nuvens, escondiam-se perfis de terra






De Ano Bom a Bioko - 38 dias
Amanheceu  com uma certa ondulação e uma brisa a sentir-se. O céu ligeiramente ondulado, com tendência para chover...Olhando para a bússola...vejo nitidamente para oeste contornos de terra. Para norte e noroeste, ainda não vejo nada mas sei que estou próximo da costa de África. Se esta frieza, que agora está a fazer-se sentir, continuar,   espero chegar lá hoje. Para o que vou colocar a vela. Visto, só com as correntes, demorar muito tempo. Portanto, estou bem disposto... 
Passei uma noite muito melhor, que a outra! Esta não choveu!...Na outra, passei a noite alagadíssimo. Se o tempo continuar, como agora está, espero chegar lá hoje. A menos que surja alguma tempestade de tarde
Diário de Bordo  - 2 Há pouco disse ter visto a costa africana mas não é a costa africana; o que vi  foi a Ilha do Príncipe a sueste. Pareceu-me ter visto ao longe os cumes desta ilha. De qualquer forma, eu penso que esteja muito próximo...É difícil ver-se de manhã  a faixa africana...Aliás, parece que estou a ver agora para oeste, qualquer coisa parecido a contornos de terra... Mas tenho um pressentimento que me encontro muito próximo....

Diário de Bordo  - 3 São oito e tal da manhã. Estou a navegar com muitas dificuldades, evidentemente, quer devido ao desequilíbrio da canoa, quer  às vagas. O mar está agora bastante cavado! Não se pode largar o remo um minuto. Tenho a  nítida impressão que devo estar muito próximo. A água está a ter uma cor esverdeada, o que parece indicar a proximidade de terra.

Os tubarões martelos continuam a acompanhar-me, não me largam!... Ainda não comi qualquer coisa esta manhã mas só a ideia de  me estar a aproximar de terra me faz a esquecer a fome. Todavia, a costa africana, continua ainda misteriosa! Volta haver neblina...Não se vê qualquer contorno.


Como é agradável navegar assim!... Toda a fauna marinha me acompanha! Os peixes sempre a nadar ao lado da canoa, dando o máximo  da sua velocidade! Os tubarões, idem!...Parece que estão muito satisfeitos. Tudo neste momento é  vida, cor e movimento!

Navega canoa! Navega, navega!
Navega canoa! Não navegues à toa!
Navega para terra! Navega canoa! navega!
Que eu tenho lá boa gente à minha espera!



Diário de Bordo  - 4 E a minha canoa continua a navegar! Singrando velozmente o mar! As aves cantam! Os peixes acompanham o seu ritmo! Tudo neste instante se traduz, em alegria, serenidade e paz!

O sol vem quente esta manhã. Ah! quem me dera ser peixe! Poder nadar! Pescar! Este belos peixes que aqui andam... Ali, aquela barracuda  que não me larga!...Ai que tão apetecíveis estão!...Se eu as pudesse pescar...Ah! como tão saborosas me eram! Mas não posso...Apenas me fazem companhia.

As douradas - sempre muito companheiras e curiosas
Diário de Bordo  - 5 É curioso realmente constatar! Neste momento, chega um tubarão, daqueles velozes e perigosos! daqueles enormes! E as douradas imediatamente lhe saltam em cima!...Aliás, como todos os peixinhos que aqui têm andado, vão junto dele e tentam-no afugentar!... É realmente, para mim, um pormenor curioso, nesta manhã do 30º dia. 

São cerca das 10 horas. Está a fazer já bastante calor! Há menos vento, e, com certeza,  que daqui a pouco, terei  de tirar a vela. O mar é que continua bastante ondulado... As douradas, não há dúvidas que portam-se como autênticas guardiãs.

Diário de Bordo  - 6 Devem ser neste momento duas de tarde. Continuo a velejar mas com uma certa dificuldade, pois o mar tem bastante carneirada, está muito agitado! ...Quer dizer, tem uma ondulação bastante desencontrada. E eu continuo a viver à custa de comprimidos e de água... Pois ainda não tive oportunidade de pescar; de resto, continuarei a velejar enquanto puder.
O sol incide com uma força causticante na minha cabeça, que cubro com uma toalha enrodilhada, mesmo assim, parece que sufoco. A sede  aperta e vejo-me na necessidade de ter o bidão de plástico, sempre à mão. Apesar de tudo, tenho bebido moderadamente. É certo que levo inúmeras vezes o copo de água aos lábios, porém, apenas para os ir molhando com reduzidos goles de cada vez.

Evidentemente, que se eu fosse a fazer a vontade ao organismo, eu teria de beber grandes porções da reserva da água das chuvas, mas não posso abusar, dado que também não tenho nenhuma comida no estômago. Além disso, mesmo que o encharcasse de água, estou convencido de que nem assim mataria a sede, porque, quanto mais bebesse, mais vontade teria de beber. Por isso, embora seja custoso, é conveniente usar alguma moderação.

Diário de Bordo  Vêem-se já nítidas silhuetas da costa de África!  Contornos esbatidos!... E a água está a ficar  também uma cor mais esverdeada, sinónimo  de que não é das grandes profundidades. Portanto, tudo indica que realmente me estou a aproximar a passos largos da costa africana. Pena é o calor que está a fazer sentir-se... É realmente, muito intenso! Mas tem que suportar-se com calma e paciência.

Diário de Bordo  - 7 Devem ser  nesta altura três da tarde.  A costa africana continua cada vez mais escondida!... Que segredos me aguardará?!.... Realmente, cada vez me parece mais escondida... Eu sei que estou mais próximo dela!... É curioso... Guardar-me-á algum segredo?!...

Popa da canoa - Numa tarde de calmaria
Há ocasiões em que até já não sei se é o perfil da terra ou alguma aglomeração de nuvens. O mar é um espelho encapelado e sussurrante de marulhos e redemoinhos. A vela espaneja contra o mastro e produz um ruído monótono, quebrado pelo baque baque da quilha da canoa a cortar e a galopar triunfalmente a opacidade esverdeada das águas.

Diário de Bordo  - 8 Devem ser neste momento, quatro da tarde. Sinto-me nitidamente cansado e cheio de fome!... Com uma grande fraqueza! A costa de África continua oculta, o mar bastante cavado!... Digamos, que muito perigoso até!....As correntes, estão-me a puxar para norte! E os ventos para nor-noroeste!.. É difícil realmente velejar nesta situação, mas estou dando tudo por tudo, a ver se atinjo hoje a costa africana. Mas estou a ver que ela continua ainda misteriosa...

 Imagem de um desses perigosos tubarões

Diário de Bordo - Hoje tive a presença  de um tubarão enorme, daqueles vorazes!  E a presença de dois peixes gigantescos, que não sei identificar.

Apesar de cansado, quase de hora a hora, vou dizendo umas palavras para o gravador. Se não fosse o velho caixote de lixo, de plástico, onde já estaria o gravador e as cassetes! Faz-me lembrar o atleta, que, nas provas de estafeta, passa a mensagem para outro companheiro. Eu aqui, como não tenho companheiros, sou o único a pensar na minha meta, e, após um determinado espaço-tempo, a transmitir a mensagem ao meu gravador, que neste caso funciona como uma espécie de fiscalizador-recetador.

Diário de Bordo  - 9 São quase cinco da tarde. Tenho a convicção de que andei bastante. Talvez represente uns dias à deriva, este bocado que hoje fiz durante o dia. Mas a verdade é que a costa de África, continua para mim misteriosa, oculta, escondida numa ténue neblina....Estou muito cansado... daqui a pouco, vou fazer uma pausa para ver se pesco  qualquer coisa... a fim de mitigar a fome.

Terei que me preparar para mais uma chuvada, que deve estar para aí aparecer, não tarda, visto o horizonte estar a anunciar chuva... Parece que não me livro de mais uma chuvada.

É um problema aborrecido, a mudança súbita do tempo. Agora, pela tardinha, as nuvens negras, acumularam-se a sul e a norte. Estou praticamente no meio de várias frentes cerradas. Não sei qual delas se irá precipitar primeiro sobre a zona onde estou. Por cima da minha cabeça, o céu ainda se mantém puro e limpo. Mas isso não impedirá que daqui a pouco eu esteja para aqui a ser regado que nem num chuveiro. Não há vento nenhum. Em contrapartida, o oceano está endiabrado de fúria.

Afinal, daqui a instantes, põe-se o sol e eu sem atingir ainda a minha ansiada meta. Realmente, a distância, tem-me parecido curta, mas pelos vistos, não passa de ilusão de ótica.


Diário de Bordo  - 10 Já é noite do 30º dia. Choveu, como eu previra, no fim da tarde! Por acaso, apenas foram alguns reflexos de uma chuvada que deve ter ocorrido, lá para longe, para sul...Apenas se sente a ressaca; o mar fortemente agitado, com vagas demasiado fortes!... Veio realmente dar um certo desequilíbrio à canoa, um mau estar... Há formações de nuvens negras também para Norte, noroeste... E, para sul, não sei se trarão chuva...Noutras bandas, vejo que algumas já estão a deitar chuva...Vê-se a escuridão.... Espero... só peço a Deus que a noite não seja chuvosa... 

De dia, ainda que chova, o tempo nunca é tão aborrecido ou desagradável como numa noite  chuvosa e fria. Depois do astro solar se despedir destas bandas –  sempre à mesma hora, ao nascer e ao pôr em qualquer altura do ano -  e ir oferecer a sua luz e o calor para outros quadrantes da terra, sim, logo que os azuis do céu e do mar, se toldam de penumbras e de sombras, todo o ambiente por cima de mim e à minha volta, se transforma num verdadeiro pesadelo de esquecimento e de tristeza.

A minha canoa – qual madeiro, ora balançando e cabriolando desordenadamente, sobre a crista das vagas - ora descaindo e rolando vertiginosamente pela vertente dos extensos montões líquidos por elas formados, até se despenhar nos abismos que sucessivamente se abrem pela cava das mesmas e de novo se erguer pela superfície abrupta e escorregadia das suas barreiras, como algo que desesperadamente se levanta ou tomba na vã tentativa de alcançar os céus, é, pois, já nesta hora de trevas e de solidão, um pontinho negro, perdido e ignorado do resto do mundo, vogando sem rumo, nem destino. Sem nada para comer, a minha vida agora não é mais de que uma torturante forma contemplativa de sobreviver. 

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Diário de Bordo 11 - Não  comi nada. Quer dizer, limitei-me a comer  uma das barbatanas do tubarão que tenho aí, como troféus. Tentei pescar  e não consegui pescar, absolutamente nada. Hoje, digamos, é um jejum limitado a água e alguns comprimidos, umas vitaminas. De resto, não pude arranjar mais nada, visto ter estado ocupado, quase todo o dia, com o remo, para dar a direção à canoa.

Já voltei a ver recortes da costa africana. Parece-me que  muito mais próximos. Portanto, espero que, amanhã,  finalmente consiga a minha aproximação. É isso que eu desejo.

Esta tarde falei  de que a água tinha uma cor mais clara, mais verde. De facto, nesta zona que eu ando, entre Fernando Pó e a Nigéria, as águas não são muito profundas. Por vezes a cor ilude, pois tanto está de um azul-escuro, como passa a um azul claro. Depende da claridade do sol. Portanto, eu devo ter sido iludido pela luminosidade solar.... A distância não é muita... De qualquer forma a cor, só mudará muito próximo de terra. Só as águas ribeirinhas. costeiras,  é que têm uma cor mais clara.
Está aqui uma ave ao meu lado... aí a um metro. Vou ver se lhe deito a mão... É um bocado difícil, porque ela é um bocado esperta...Vamos lá a ver se eu consigo apanhá-la.

SACRIFICANDO MAIS UMA AVEZINHA - QUE ERA SÓ ESQUELETO - TALVEZ DOENTE E CANSADA

Vinham pousar à proa e à popa
 Que Deus me perdoe! Mas a fome martiriza-me e torna-se-me numa avidez, quase selvagem, impossível de conter. Ainda se fossem muitas as aves, que pousassem na minha canoa, talvez até nem me importasse tanto, mas geralmente, apenas pernoitam umas duas ou três.Se calhar até são as mais doentes e cansadas do bando, que, por incapacidade física, procuram acolhimento na minha frágil embarcação, como último reduto. 

Este fogareiro que  assava as aves - Reduzidas a ossos
Travessia S. Tomé-Nigéria 13 dias
Quando fiz a viagem para a Nigéria, todas as noites pousavam perto de mim, algumas dezenas delas. De manhã, quando acordava, até parecia que viajava a bordo de um pombal ou gaiola de aves. Porque será que agora não pousam tantas?!... De certo, porque, contrariamente àquela viagem, me está faltando comida e,  elas, com o seu instinto de conservação, porventura ao aperceberem-se que as suas vidas, ao lado de uma criatura esfomeada, pudessem correr sério perigo, evitam-me. É capaz de ser por essa razão, sabe-se lá. Pois, ao fim da t

arde, eu bem as vejo passar por cima de mim, em grandes bandos Se calhar até são as mais doentes e cansadas do bando, que, por incapacidade física, procuram acolhimento na minha frágil embarcação, como último reduto.

Diário de Bordo  - 12 Tem piada que consegui apanhar a ave. Tenho-a aqui. Andava com a dar umas voltinhas e ainda apanhei em pleno voo... Ela está-me a morder, é brava!...Mas vai ser o meu jantar...Vou aproveitá-la imediatamente... Então!!...Estás chateada?!... Queres fugir?!...É gordinha, dá um jeitão...

Não havia maneira de pousar. Andava de um lado para o outro a sobrevoar a canoa e foi preciso deitar-lhe as mãos em pleno voo. Pelos vistos, estava a adivinhar  a sorte que a esperava. Coitadita!...Já está para ali morta e depenada a um canto, preparada para o dia de amanhã. Afinal, era magrita, tinha mais penas e ossos de que carne. Encheu-me todo cheio de piolhos. Pois, estas aves, são realmente muito piolhosas. Agora, andam-me aqui a incomodar pela barba e pelo cabelo. Era o que me faltava para me ajudar a passar melhor a noite...


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