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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Ilhas Tinhosas - O maior Santuário das aves marinhas do Golfo da Guiné - A FANTASMAGÓRICA E RUIDOSA VISÃO SOLITÁRIA DE UM OUTRO MUNDO! - Que me apareceu quando por ali passei ao 15-º dia, ao pôr-do-sol, numa frágil piroga, depois de uma deriva solitária de mais de 300 Km desde a Ilha de Ano Bom - Dois enormes penedos sem vegetação alguma, cobertos de esbranquiçadas camadas de guano, as tão cobiçadas fezes que, nalgumas ilhas do Pacifico, fizeram as fortunas de exploradores europeus no século, 19 destruindo-lhes a vida selvagem

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo navegador solário


As ilhas Tinhosas, são consideradas como o mais importante berço de nidificação de aves marinhas no Golfo da Guiné. confirmou o estudo que alimentou a candidatura do Príncipe como património mundial da Biosfera pela UNESCO.

Não duvido minimamente da importância da sua biodiversidade - Pessoalmente pude testemunhar esse prodígio solitário, num dos 38 dias em que andei à deriva numa canoa, por aqueles mares – Pena ter sido ao escurecer – Pois, tão inesperada visão, acompanhada pelo  grito das aves, assustou-me mais de que me deslumbrou Além disso, sabia que, se ali aportasse, além de me ser muito difícil acostar, correndo o risco de a canoa ser despedaçada, mesmo que lograsse trepar pelas suas rochas, me era impossível ali sobreviver, sob pena de ser devorado pelos piolhos das aves e, porventura, atacado por inevitáveis picadas.  

Estranha visão! - Mal o sol começou  afundar-se a  oeste. 



Ainda me esforcei por me aproximar, com o remo improvisado, remando com imensa dificuldade e contra a corrente, que me  puxava para Norte -  Mas as  sombras já começavam  a cobrir o mar  e aquele vulto passava a assumir contornos ainda mais ruidosos e fantasmagóricos.

De facto, tal como refiro no registos gravados do meu diário, eu apercebera-me dos bandos de aves a sobrevoarem-me, o que me levou a pensar que não estivesse muito longe de terra.  

Porém, o fim de  tarde era de uma imensa calma e os meus olhos estavam imersos na paz e na serenidade, no  deslumbramento dos raios solares que se estendiam de oeste até mim. 

– Por isso, quando me dei conta do recorte daquele morro, quase ao revés do mar, muito a custo ainda dei algumas remadas na sua direcção, porém, às tantas,  fixando mais atentamente  os recortes petrificados  daquele fantasma, que cada vez mais enegreciam,  desisti,  deixando-me de novo  ir ao sabor da corrente,  que me arrastava para lugar incerto, envolvido pelas mesmas trevas e escuridão.

FANTASMAGÓRICA E RUIDOSA VISÃO  SOLITÁRIA DE UM OUTRO MUNDO!

Foi  pouco depois do  pôr do sol do 15º dia, que descobria um enorme penedo, terrivelmente solitário, recortando-se, a curta distância de mim, mas já o avistando um pouco a sul,  sobre a vastidão do mar,  quase aos resvés do horizonte. Passei  num dos lados e não me dei conta - Visto esvoaçarem aves por cima da minha cabeça e todos os lados.


Depois que uma violenta tempestade me fizera perder a maior parte dos mantimentos e apetrechos, tornava-se-me tremendamente difícil navegar com o auxilio de um remo improvisado. Mesmo assim, poderia ter-me aproximado mas hesitei.   - Não ocorreu porque  tive mais medo do penedo que do mar.  Receando que a canoa se despedaçasse de encontro às rochas  e que as aves me pudessem atacar.


Impossibilitado de tentar a travessia oceânico, um pouco a sul da Ilha de Ano Bom, uma pequena ilha e província da Guiné Equatorial, localizada no Atlântico Sul, a 350 km da costa oeste do continente africano e 180 km a sudoeste  de S. Tomé, muito por culpa do comandante do pesqueiro americano, Hornet, que me tendo prometido, em S.Tomé, que me largaria a sul de Ano Bom, na influência da corrente equatorial que me arrastaria para o Brasil - rota que pretendia seguir - me trocou as voltas, quando fundeou a Norte e ao largo daquela ilha: ou fica a bordo ou canoa ao mar - 
À popa e ao longe e a sul ia ficando Ano Bom



Optei pelo regresso a S.Tomé  - E, navegar no Golfo, em plena época das chuvas e dos tornados, numa frágil canoa, era opção quase suicida, de vida ou de morte - Apesar de tudo, quis o destino que, mesmo tendo sido atingido por violenta tempestade, logo na primeira noite, que me causaria a perda de quase todos os apetrechos e víveres, fosse um homem de sorte.



 A ilha maior que compõe as tinhosas tem 20 hectares e a pequena tem 3 hectares. Espaço, privilegiado pelas aves marinhas do Golfo da Guiné, para se procriarem, mas não só. As Tinhosas, são também visitadas por outras espécies de aves marinhas como o rabo-de-palha-de-bico-vermelho Phaethon aethereus, atobá-grande Sula dactylatra, atobá-de-patas-vermelhas Sula sula e a fragata-de-Ascenção Fregata Aquila, assegura o trabalho de investigação da bióloga Esterline Matilde - Excerto Ilhas Tinhosas são o mais importante berço das aves

Ilhéus das Tinhosas, eram assim designadas no tempo colonial – E, na verdade, não são ilhas mas pequenos ilhéus. Era para ali que geralmente se dirigia a traineira do Macôco. Único colono que trouxe as artes piscatórias da sua terra e que convivia com os pescadores das Ilhas, taco a taco.
Pois, além de aves, também por lá havia bancos de ricos cardumes de peixes em redor das suas águas - O maior problema eram os tornados - De volta e meia, lá ia o pescado e  vidas!... E hoje?!... 
- Hoje, além dos tornados, há outras ameaças -  Já nem traineiras nem as canoas se safam “Na ilha do Príncipe os pescadores, estão preocupados com a falta de segurança no mar da Região. Tudo por causa da constante presença de navios de origem desconhecida ao largo da ilha «Sempre aparecem barcos que lançam redes e levam todo peixePescadores da ilha do Príncipe vivem amedrontados ..pirataria no Golfo da Guiné ameaça a soberania de São Tomé e Príncipe



Quem voe de S. Tomé ao Príncipe, as "Tinhosas" revelam-se  como as primeiras sentinelas a denunciar  a primeira aproximação à princesa do Golfo da Guiné. 

E, se a rota aérea ou marítima, ainda for a mesma, certamente que é a surpreendente imagem com que se depara: a de dois enormes e solitários penedos!  - A Tinhosa Grande, a maior ilhota, com  55m. E a Tinhosa Pequena, mais a Norte, com um 64m de altitude, localizadas há 22 quilómetros da ilha do Príncipe

Dizia-se, naquele tempo, que, devido aos muitos bandos de aves que ali nidificavam, estavam cobertas de manchas brancas de guano., tendo chegado mesmo a falar-se da sua exploração para a composição de adubos – Mas ainda bem que não se cometeu esse atentado e permaneceram selvagens. 

Referem  estudos  que São Tomé e Príncipe é provavelmente um dos últimos refúgios naturais amplamente desconhecidos em África, no que diz respeito à biodiversidade. As florestas do país são o habitat de 28 espécies de aves endémicas, um número extraordinário considerando o tamanho do país. A título de comparação, as ilhas Galápagos têm uma área oito vezes maior, e possuem apenas 22 endemismos de avifauna.

No entanto esta pérola do Golfo da Guiné está sujeita a uma crescente pressão humana. A destruição de habitat, juntamente com a ausência de monitorização e conhecimento sobre a fenologia das espécies, são as maiores ameaças ao ecossistema nativo.


Um protocolo entre o governo de São Tomé e a empresa Agripalma definiu uma concessão de 5.000 hectares para exploração de óleo de palma, e os trabalhos de desflorestação e plantação ocorrem desde 2010. De acordo com Agripalma, este é o tamanho mínimo necessário, a fim de assegurar a rentabilidade do empreendimento.


Infelizmente, e de acordo com visitas anteriores da SPEA e RSPB, estes 5.000 hectares incluem ricas zonas de floresta secundária localizadas na periferia ou directamente dentro do Parque Natural do Obô. Este parque cobre um terço da ilha e é o lar de algumas das aves mais ameaçadas do mundo, espécies Criticamente em Perigo (CR) como a galinhola Bostrychia bocagei, o picanço Lanius newtoni e o anjolô Neospiza concolor. http://www.spea.pt/noticias/detalhes.php?id=499&tipo=


"O guano é coletado em várias ilhas do Oceano Pacífico (principalmente nas do Peru) e em outros oceanos. Estas ilhas tem sido o habitat de colônias de aves marinhas por séculos, acumulando vários metros deste material.

No século 19 os europeus invadiram as ilhas peruanas e do Caribe depredando quase todos os recursos de guano existentes na costa do Pacífico, fortunas foram feitas e a exploração do guano se propagou a todos os cantos da Terra.. 

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