Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo navegador solário
As ilhas Tinhosas, são consideradas como o mais importante berço de
nidificação de aves marinhas no Golfo da Guiné. confirmou o estudo que
alimentou a candidatura do Príncipe como património mundial da Biosfera pela
UNESCO.
Não duvido minimamente da importância da
sua biodiversidade - Pessoalmente pude testemunhar esse prodígio solitário, num
dos 38 dias em que andei à deriva numa canoa, por aqueles mares – Pena ter sido
ao escurecer – Pois, tão inesperada visão, acompanhada pelo grito
das aves, assustou-me mais de que me deslumbrou Além disso, sabia que, se ali aportasse,
além de me ser muito difícil acostar, correndo o risco de a canoa ser
despedaçada, mesmo que lograsse trepar pelas suas rochas, me era impossível ali
sobreviver, sob pena de ser devorado pelos piolhos das aves e, porventura,
atacado por inevitáveis picadas.
Estranha visão! - Mal o sol começou afundar-se a oeste.
Ainda me esforcei por me aproximar, com o remo improvisado, remando com imensa dificuldade e contra a corrente, que me puxava para Norte - Mas as sombras já começavam a cobrir o mar e aquele vulto passava a assumir contornos ainda mais ruidosos e fantasmagóricos.
De facto, tal como refiro no registos gravados do meu diário, eu apercebera-me dos bandos de aves a sobrevoarem-me, o que me levou a pensar que não estivesse muito longe de terra.
Porém, o fim de tarde era de uma imensa calma e os meus olhos estavam imersos na paz e na serenidade, no deslumbramento dos raios solares que se estendiam de oeste até mim.
– Por isso, quando me dei conta do recorte daquele morro, quase ao revés do mar, muito a custo ainda dei algumas remadas na sua direcção, porém, às tantas, fixando mais atentamente os recortes petrificados daquele fantasma, que cada vez mais enegreciam, desisti, deixando-me de novo ir ao sabor da corrente, que me arrastava para lugar incerto, envolvido pelas mesmas trevas e escuridão.
FANTASMAGÓRICA E RUIDOSA VISÃO SOLITÁRIA DE UM OUTRO MUNDO!
Foi pouco depois do pôr do sol do 15º dia, que descobria um enorme penedo, terrivelmente solitário, recortando-se, a curta distância de mim, mas já o avistando um pouco a sul, sobre a vastidão do mar, quase aos resvés do horizonte. Passei num dos lados e não me dei conta - Visto esvoaçarem aves por cima da minha cabeça e todos os lados.
Depois que uma violenta tempestade me fizera perder a maior parte dos mantimentos e apetrechos, tornava-se-me tremendamente difícil navegar com o auxilio de um remo improvisado. Mesmo assim, poderia ter-me aproximado mas hesitei. - Não ocorreu porque tive mais medo do penedo que do mar. Receando que a canoa se despedaçasse de encontro às rochas e que as aves me pudessem atacar.
Impossibilitado de tentar a travessia oceânico, um pouco a sul da Ilha de Ano Bom, uma pequena ilha e província da Guiné Equatorial, localizada no Atlântico Sul, a 350 km da costa oeste do continente africano e 180 km a sudoeste de S. Tomé, muito por culpa do comandante do pesqueiro americano, Hornet, que me tendo prometido, em S.Tomé, que me largaria a sul de Ano Bom, na influência da corrente equatorial que me arrastaria para o Brasil - rota que pretendia seguir - me trocou as voltas, quando fundeou a Norte e ao largo daquela ilha: ou fica a bordo ou canoa ao mar -
Optei pelo regresso a S.Tomé - E, navegar no Golfo, em plena época das chuvas e dos tornados, numa frágil canoa, era opção quase suicida, de vida ou de morte - Apesar de tudo, quis o destino que, mesmo tendo sido atingido por violenta tempestade, logo na primeira noite, que me causaria a perda de quase todos os apetrechos e víveres, fosse um homem de sorte.
À popa e ao longe e a sul ia ficando Ano Bom |
Optei pelo regresso a S.Tomé - E, navegar no Golfo, em plena época das chuvas e dos tornados, numa frágil canoa, era opção quase suicida, de vida ou de morte - Apesar de tudo, quis o destino que, mesmo tendo sido atingido por violenta tempestade, logo na primeira noite, que me causaria a perda de quase todos os apetrechos e víveres, fosse um homem de sorte.
A ilha maior que compõe as
tinhosas tem 20 hectares e a pequena tem 3 hectares. Espaço, privilegiado pelas
aves marinhas do Golfo da Guiné, para se procriarem, mas não só. As Tinhosas,
são também visitadas por outras espécies de aves marinhas como o rabo-de-palha-de-bico-vermelho Phaethon
aethereus, atobá-grande Sula dactylatra, atobá-de-patas-vermelhas Sula
sula e a fragata-de-Ascenção Fregata Aquila, assegura o trabalho
de investigação da bióloga Esterline Matilde - Excerto Ilhas
Tinhosas são o mais importante berço das aves
Ilhéus das Tinhosas, eram assim
designadas no tempo colonial – E, na verdade, não são ilhas mas pequenos
ilhéus. Era para ali que geralmente se dirigia a traineira do Macôco. Único
colono que trouxe as artes piscatórias da sua terra e que convivia com os
pescadores das Ilhas, taco a taco.
Pois,
além de aves, também por lá havia bancos de ricos cardumes de peixes em redor
das suas águas - O maior problema eram os tornados - De volta e meia, lá ia o
pescado e vidas!... E hoje?!...
- Hoje, além dos tornados, há outras
ameaças - Já nem traineiras nem as canoas se safam “Na ilha do
Príncipe os pescadores, estão preocupados com a falta de segurança no mar da
Região. Tudo por causa da constante presença de navios de origem desconhecida
ao largo da ilha «Sempre aparecem barcos que lançam redes e levam todo peixe. Pescadores da ilha do Príncipe
vivem amedrontados ..A pirataria
no Golfo da Guiné ameaça a soberania de São Tomé e Príncipe
Quem voe de S. Tomé ao Príncipe, as
"Tinhosas" revelam-se como as primeiras sentinelas a
denunciar a primeira aproximação à princesa do Golfo da Guiné.
E, se a rota aérea ou marítima, ainda for
a mesma, certamente que é a surpreendente imagem com que se depara: a de dois
enormes e solitários penedos! - A Tinhosa
Grande, a maior ilhota, com 55m. E a Tinhosa Pequena, mais
a Norte, com um 64m de altitude, localizadas há 22 quilómetros da
ilha do Príncipe
No entanto esta pérola do Golfo da Guiné está sujeita a uma crescente pressão humana. A destruição de habitat, juntamente com a ausência de monitorização e conhecimento sobre a fenologia das espécies, são as maiores ameaças ao ecossistema nativo.
Um protocolo entre o governo de São Tomé e a empresa Agripalma definiu uma concessão de 5.000 hectares para exploração de óleo de palma, e os trabalhos de desflorestação e plantação ocorrem desde 2010. De acordo com Agripalma, este é o tamanho mínimo necessário, a fim de assegurar a rentabilidade do empreendimento.
"O guano é coletado em várias ilhas do
Oceano Pacífico (principalmente nas do Peru) e em outros oceanos. Estas ilhas
tem sido o habitat de colônias de aves marinhas por séculos, acumulando vários
metros deste material.
No século 19 os europeus invadiram as
ilhas peruanas e do Caribe depredando quase todos os recursos de guano
existentes na costa do Pacífico, fortunas foram feitas e a exploração do guano
se propagou a todos os cantos da Terra..
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