Jorge Trabulo Marques –
Jornalista e antigo correspondente, em S.Tomé e Principe, da revista
Semana Ilustrada, de Luanda – Este um dos testemunhos que vou editar 50
anos após o fratricida conflito civil
Imagem editada, nos finais do anos sessenta, pela Semana Ilustrada de Luanda, de que eu era seu correspondente
Esta
criança biafrense, antes e depois de recuperada, em S. Tomé, ao fim
de 26 dias de tratamento hospitalar -
Das muitas, ali apoiadas, foi uma das poucas crianças adoptadas por famílias nativas e portuguesas – Hoje, já homem adulto, lembrar-se-á, ainda, do drama por que passou? - Muitas
delas, também quiseram ficar na ilha, mas essa vontade não lhe foi
proporcionada - Existem 249 fichas de identificação dessas crianças refugiadas, no Arquivo Histórico de STP, mas não a sua totalidade.
50 anos depois – E os traumas que a Guerra do Biafra ainda não sarou – E dificilmente
deverá sarar na memória das crianças e adolescentes que sofreram a fome e os
tormentos dos horrores do conflito civil
- Cujo
número estimado de mortos está entre 500 mil e 3 milhões de pessoas Na atualidade, além da violência religiosa na Nigéria, entre as
diferentes crenças, subiste também a motivada pela insurgência do grupo jihadista Boko
Haram, que visa impor a sharia no país.
A frota da ponte aérea humanitária de S. Tomé ao Biafra, que inicialmente fora designada pela sigla JCA - Ajuda da Igreja Conjunta - , passou depois a ser conhecida por aviadores e organizações envolvidas, por os Voos de JESUS CHRIST AIRLINES ou Jesus Cristo Airways"., tendo dado origem a um filme, com o mesmo nome - Por sua vez, a própria a guerra, também foi rotulada de diferentes maneiras - Eu hoje - atendendo ao que analisei e observei - chamar-lhe-ia a Guerra dos Novos Cruzados da Fé Colonial
A Guerra
Civil da Nigéria, também conhecida como a Guerra do Biafra, que
durou de 6 de Julho de 1967 a 13 de Janeiro de 1970, conflito político causado
pela tentativa de separação das províncias ao Sudeste da Nigéria, como a
República auto-proclamada do Biafra, foi um dos maiores genocídios do mundo, que provocou a
mais terrível das fomes
Desde Julho de 1968 até Janeiro de 1970, a Joint Churches Aid (Ajuda Conjunta das Igrejas) organizaram desde São Tomé uma ponte aérea humanitária que, graças a perícia dos pilotos de diferentes nacionalidades em perigosos vôos noturnos, burlando a artilharia nigeriana, abasteceu no mais básico aos assediados biafrenses. Os aviões da JCA fizeram inumeráveis viagens (os faziam várias vezes ao longe na noite) e participaram na evacuação da população indefesa onde o genocídio era certo.
De recordar que, o geógrafo, Xavier Muñoz-Torrent, em 10 de Janeiro de 2013 editou no jornal Téla Nón, um extenso artigo sobre documentos resgatados ao Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe (AHSTP) que começou a dar a conhecer ao mundo o importante legado documental que dispõe em versão digital, graças à plataforma “Casa Comum” em parceria com a Fundação Mário Soares (Lisboa) num projeto de tratamento técnico e de publicação em internet dos fundos documentais de arquivos nos países da CPLP, que pode ser consultada no repositório de documentos da Associação Caué, no endereço eletrônico: http://issuu.com/saotomeprincipe/docs/249biafrachildren1968_1970https://www.telanon.info/sociedade/2013/01/21/12299/249-criancas-biafrenses-em-sao-tome-1968-70/
A PONTE AÉREA QUE SALVOU MUITAS CRIANÇAS ESFOMEADAS - MAS QUE TAMBÉM ENCHEU OS BOLSOS A UNS QUANTOS
As organizações humanitárias (que se haviam retirado do aeroporto internacional de Bioko, na altura sob o comando de Francisco Macias, e optado por S. Tomé e Gabão,e optado por S. Tomé e Gabão, assumiam o papel de frota avançada dos novos neo-colonizadores ocidentais, aos quais interessava a independência do Biafra, unicamente para se apoderarem das suas riquezas naturais - Não tenho a menor dúvida que era mais as armas, transportadas, na dita ponta aérea, de que propriamente cargas de mantimentos - Ainda me apercebi de alguns obuses numas caixas - De resto,na Internet, abundam testemunhos desse procedimento.
PARA OS SANTOMENSES, A GUERRA DO BIAFRA ERA APENAS SINÓNIMO. DOS QUE SE ENCHERAM DE DINHEIRO E A IMAGEM DE CRIANÇAS MAGRAS, SUBNUTRIDAS, ESQUELÉTICAS
– "Oh! Parece criança Biafra!" - Esta a expressão que se popularizou, quando alguém via uma criança mais débil ou fraca.
Quase já na fase final do conflito, começaram a chegar à Quinta de Santo António as primeiras crianças, que ali iam ser assistidas e acarinhadas. Quem as podia visitar eram apenas as organizações humanitárias. A maioria dos santomenses não as viu. Mas ficaram a saber, através das noticias ou quando eram desembarcadas no aeroporto. O sentimento que então se propalou e generalizou, foi o de que havia guerra e fome num país de África e que, muitos brancos, se enchiam de dólares à custa dessa mesma guerra.
Também por lá se viam a circular notas do Biafra, mas ninguém as aceitava ou trocava por dinheiro algum. Se os biafrenses (que eram quem mais as trazia), não tivessem dólares na carteira, estavam desgraçados!... Ninguém lhes dava dormida.
As organizações humanitárias (que se haviam retirado do aeroporto internacional de Bioko, na altura sob o comando de Francisco Macias, e optado por S. Tomé e Gabão,e optado por S. Tomé e Gabão, assumiam o papel de frota avançada dos novos neo-colonizadores ocidentais, aos quais interessava a independência do Biafra, unicamente para se apoderarem das suas riquezas naturais - Não tenho a menor dúvida que era mais as armas, transportadas, na dita ponta aérea, de que propriamente cargas de mantimentos - Ainda me apercebi de alguns obuses numas caixas - De resto,na Internet, abundam testemunhos desse procedimento.
PARA OS SANTOMENSES, A GUERRA DO BIAFRA ERA APENAS SINÓNIMO. DOS QUE SE ENCHERAM DE DINHEIRO E A IMAGEM DE CRIANÇAS MAGRAS, SUBNUTRIDAS, ESQUELÉTICAS
– "Oh! Parece criança Biafra!" - Esta a expressão que se popularizou, quando alguém via uma criança mais débil ou fraca.
Quase já na fase final do conflito, começaram a chegar à Quinta de Santo António as primeiras crianças, que ali iam ser assistidas e acarinhadas. Quem as podia visitar eram apenas as organizações humanitárias. A maioria dos santomenses não as viu. Mas ficaram a saber, através das noticias ou quando eram desembarcadas no aeroporto. O sentimento que então se propalou e generalizou, foi o de que havia guerra e fome num país de África e que, muitos brancos, se enchiam de dólares à custa dessa mesma guerra.
Também por lá se viam a circular notas do Biafra, mas ninguém as aceitava ou trocava por dinheiro algum. Se os biafrenses (que eram quem mais as trazia), não tivessem dólares na carteira, estavam desgraçados!... Ninguém lhes dava dormida.
Embora distante dos olhares dos santomenses, lá longe, a Norte do Golfo, corriam rios de sangue pelos caminhos do mato, havia forme, sofrimento, luto e morte. Era a fratricida Guerra do Biafra, a imagem cruel do egoísmo humano: - fomentada por outro tipo de colonialismo, que, hipocritamente, queria fazer-se passar por solidário e humanitário - Mas, por detrás da máscara, era a sofreguidão, a insaciável avidez da rapinagem pelos recursos naturais daquela martirizada região africana - o saque perpetrado do petróleo e gás natural.
Claro que não podemos culpar completamente as organizações humanitárias, que cumpriram o seu papel e terão dado o melhor do seu esforço - E, indubitavelmente, enormes esforços e sacrifícios, terão sido dados por parte de muitos dos seus membros - Mas há uma constatação, que ressalta: que o mais importante, não eram as crianças, mas o petróleo - A guerra do Biafra não era excepção: tem sido assim aos longo dos tempos: os interesses materiais a sobrepor-se aos valores éticos e morais
Imagem de Don McCullin In 100 Photographs that Changed the World by Life
.
A ESMAGADORA MAIORIA DAS CRIANÇAS PERDEU-SE NOS ESCOMBROS DA FRATRICIDA GUERRA - FAZ PARTE DA IMENSA LEGIÃO DE VITIMAS INOCENTES E ANÓNIMAS - Algumas, porém, tiveram a sorte de serem assistidas em São Tomé, com o inevitável trauma parab o resro das suas vidas NA QUINTA DE SANTO ANTÓNIO, EM SÃO TOMÉ
Claro que não podemos culpar completamente as organizações humanitárias, que cumpriram o seu papel e terão dado o melhor do seu esforço - E, indubitavelmente, enormes esforços e sacrifícios, terão sido dados por parte de muitos dos seus membros - Mas há uma constatação, que ressalta: que o mais importante, não eram as crianças, mas o petróleo - A guerra do Biafra não era excepção: tem sido assim aos longo dos tempos: os interesses materiais a sobrepor-se aos valores éticos e morais
Imagem de Don McCullin In 100 Photographs that Changed the World by Life
.
A ESMAGADORA MAIORIA DAS CRIANÇAS PERDEU-SE NOS ESCOMBROS DA FRATRICIDA GUERRA - FAZ PARTE DA IMENSA LEGIÃO DE VITIMAS INOCENTES E ANÓNIMAS - Algumas, porém, tiveram a sorte de serem assistidas em São Tomé, com o inevitável trauma parab o resro das suas vidas NA QUINTA DE SANTO ANTÓNIO, EM SÃO TOMÉ
|
Nenhum comentário :
Postar um comentário