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domingo, 23 de fevereiro de 2020

Ponte aérea São Tomé – Biafra – 50 anos depois 1 - Meus Testemunhos da ponte humanitária da Guerra Civil da Nigéria-S. Tomé - De Julho 1968 –a Janeiro de 1970 – A PONTE AÉREA QUE SALVOU MUITAS CRIANÇAS ESFOMEADAS MAS QUE TAMBÉM ENCHEU OS BOLSOS A UNS QUANTOS

Jorge Trabulo Marques – Jornalista e antigo correspondente, em S.Tomé e Principe,  da revista Semana Ilustrada, de Luanda – Este um dos testemunhos que vou editar  50 anos após o fratricida  conflito civil

 Imagem editada, nos finais do anos sessenta, pela  Semana Ilustrada de Luanda, de que eu era seu correspondente 

Esta criança biafrense, antes e depois de recuperada, em S. Tomé,   ao fim de 26 dias de tratamento hospitalar  - Das muitas, ali apoiadas, foi uma das poucas crianças adoptadas por famílias nativas e portuguesas –  Hoje, já homem adulto, lembrar-se-á, ainda, do drama  por que passou? - Muitas delas,  também quiseram  ficar na ilha, mas essa vontade não lhe foi proporcionada  - Existem 249 fichas de identificação dessas crianças refugiadas, no Arquivo Histórico de STP, mas não a sua totalidade. 

50 anos depois – E os traumas que a  Guerra do Biafra ainda não sarou – E dificilmente deverá sarar na memória das crianças e adolescentes que sofreram a fome e os tormentos dos  horrores do conflito civil  - Cujo número estimado de mortos está entre 500 mil e 3 milhões de pessoas Na atualidade, além da  violência religiosa na Nigéria,  entre as diferentes crenças,  subiste também  a motivada pela insurgência do grupo jihadista Boko Haram, que visa impor a sharia no país.



A frota da ponte aérea humanitária de S. Tomé ao Biafra, que inicialmente fora designada  pela sigla JCA -  Ajuda da Igreja Conjunta - , passou depois a ser conhecida por aviadores e organizações envolvidas, por  os  Voos de JESUS CHRIST AIRLINES ou Jesus Cristo Airways"., tendo dado origem a um filme, com o mesmo nome - Por sua vez, a própria a guerra, também foi rotulada de diferentes maneiras - Eu hoje - atendendo ao que analisei e observei  - chamar-lhe-ia a  Guerra dos Novos Cruzados da Fé Colonial 

Guerra Civil da Nigéria, também conhecida como a Guerra do Biafra, que durou de 6 de Julho de 1967 a 13 de Janeiro de 1970, conflito político causado pela tentativa de separação das províncias ao Sudeste da Nigéria, como a República auto-proclamada do Biafrafoi um dos maiores genocídios do mundo, que provocou a mais terrível das fomes
Desde Julho de 1968 até Janeiro de 1970, a Joint Churches Aid (Ajuda Conjunta das Igrejas) organizaram desde São Tomé uma ponte aérea humanitária que, graças a perícia dos pilotos de diferentes nacionalidades em perigosos vôos noturnos, burlando a artilharia nigeriana, abasteceu no mais básico aos assediados biafrenses. Os aviões da JCA fizeram inumeráveis viagens (os faziam várias vezes ao longe na noite) e participaram na evacuação da população indefesa onde o genocídio era certo.

De  recordar que,  geógrafo, Xavier Muñoz-Torrent, em  10 de Janeiro de 2013 editou no jornal Téla Nón, um extenso artigo sobre  documentos resgatados  ao  Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe (AHSTP) que  começou a dar a conhecer ao mundo o importante legado documental que dispõe em versão digital, graças à plataforma “Casa Comum”  em parceria com a Fundação Mário Soares (Lisboa) num projeto de tratamento técnico e de publicação em internet dos fundos documentais de arquivos nos países da CPLP, que pode ser consultada no repositório de documentos da Associação Caué, no endereço eletrônicohttp://issuu.com/saotomeprincipe/docs/249biafrachildren1968_1970https://www.telanon.info/sociedade/2013/01/21/12299/249-criancas-biafrenses-em-sao-tome-1968-70/

A PONTE AÉREA QUE SALVOU MUITAS CRIANÇAS ESFOMEADAS - MAS QUE TAMBÉM ENCHEU OS BOLSOS A UNS QUANTOS 

As organizações humanitárias (que se haviam retirado do aeroporto internacional de Bioko, na altura sob o comando de Francisco Macias, e optado por S. Tomé e Gabão,e optado por S. Tomé e Gabão,  assumiam o papel de frota avançada dos novos neo-colonizadores ocidentais, aos quais interessava a independência do Biafra, unicamente para se apoderarem das suas riquezas naturais -  Não tenho a menor dúvida que era mais  as armas,  transportadas, na dita ponta aérea, de que propriamente cargas de mantimentos - Ainda me apercebi de alguns obuses numas caixas - De resto,na Internet, abundam testemunhos desse procedimento.


PARA OS SANTOMENSES, A GUERRA DO BIAFRA ERA APENAS SINÓNIMO.  DOS QUE SE ENCHERAM DE DINHEIRO  E A IMAGEM DE CRIANÇAS MAGRAS, SUBNUTRIDAS, ESQUELÉTICAS 

– "Oh! Parece criança Biafra!" - Esta a expressão que se popularizou, quando alguém via uma criança mais débil ou fraca.

Quase já na fase final do conflito, começaram a chegar à Quinta de Santo António as primeiras crianças, que ali iam ser assistidas e acarinhadas. Quem as podia visitar eram apenas as organizações humanitárias. A maioria dos santomenses não as viu. Mas  ficaram a saber,  através das noticias ou quando eram desembarcadas no aeroporto. O sentimento que então se propalou e generalizou, foi o de que havia guerra e fome num país de África  e que, muitos brancos, se enchiam de dólares  à custa dessa mesma guerra.

Também por lá se viam a circular notas do Biafra, mas ninguém as aceitava ou trocava por dinheiro algum. Se os biafrenses  (que eram quem mais as trazia), não tivessem dólares na carteira, estavam desgraçados!... Ninguém lhes dava dormida. 


 Embora distante dos olhares dos santomenses, lá longe, a Norte do Golfo, corriam rios de sangue pelos caminhos do mato, havia forme, sofrimento, luto e morte. Era a fratricida Guerra do Biafra, a imagem cruel do egoísmo humano: - fomentada por outro tipo de colonialismo, que, hipocritamente,  queria fazer-se passar por solidário e humanitário - Mas, por detrás da máscara, era a sofreguidão,  a insaciável avidez da rapinagem pelos recursos naturais daquela martirizada região africana -  o saque perpetrado do petróleo e gás natural.

Claro que não podemos  culpar completamente as organizações humanitárias, que cumpriram o seu papel e  terão dado o melhor do seu esforço - E, indubitavelmente, enormes esforços e sacrifícios, terão sido dados por parte de muitos dos seus membros -  Mas há uma constatação, que ressalta: que o mais importante, não eram as crianças, mas o petróleo - A guerra do Biafra não era excepção: tem  sido assim aos longo dos tempos: os interesses materiais a sobrepor-se  aos valores éticos e morais


Imagem de Don McCullin In 100 Photographs that Changed the World by Life
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A ESMAGADORA MAIORIA DAS CRIANÇAS PERDEU-SE NOS ESCOMBROS DA FRATRICIDA GUERRA - FAZ PARTE DA IMENSA LEGIÃO DE  VITIMAS INOCENTES E ANÓNIMAS  - Algumas, porém, tiveram a sorte de serem assistidas em São Tomé, com o inevitável trauma parab o resro das suas vidas NA QUINTA DE SANTO ANTÓNIO, EM SÃO TOMÉ
QUEM VIU ESSES ROSTOS FAMÉLICOS, OS SEUS OLHARES ESBUGALHADOS,    DIFICILMENTE OS ESQUECERÁ

Para quem presenciou,  como eu, na Quinta de Santo António, nos arredores da cidade  (para onde, mais tarde,  pós 25 de Abril, haveriam de ser recolhidos os PIDES, os elementos da polícia repressora do regime fascista-colonialista), sim, quem viu os rostos de algumas centenas dessas crianças esqueléticas (as poucas que foi possível transportar ou mostrar) nos voos  apoiados por várias  organizações religiosas e humanitárias, dificilmente poderá esquecer tais são imagens!


Eu tive oportunidade de as ver e as fotografar. E,  ao recuar no tempo,  é como se ainda, hoje mesmo,  lhes  estivesse a ver  os  seus olhos esbugalhados , expressões atónitas e aturdias pela fome e o rebentamento das bombas ao seu lado, mas evidenciando um  ar de uma infinita tristeza e desengano, incapazes  até de chorar e exteriorizar o seu sofrimento.  braços delgadíssimos e as  pernitas, quase como as das aves,  da grossura do próprio osso,  os ventres ostensivamente dilatados e a destacarem-se como barrigas  de vento

Estive lá, numa das visitas efectuadas pelo Coronel Silva Sebastião, governador da colónia, na qualidade  de jornalista da Revista Semana Ilustrada (já depois da ponte aérea haver terminado e o Biafra ter caído sob o domínio do governo de Lagos.
  

Antes disso,  também ali pude registar várias imagens do movimento da ajuda humanitária e dos voos aéreos. 
Dispunha de uma razoável colecção de fotografias desse período,   tal como milhares de negativos, desde  1963, a 1975, mas, infelizmente, não os tenho comigo: em meados de Outubro de 1975, quando deixei S. Tomé para a tentativa de uma travessia de piroga ao Brasil, deixei o meu espólio em casa da minha companheira santomense - e estavam, de facto, em boas mãos  - porém, mais tarde, pedindo ao Sr. Jorge Coimbra, que fosse portador do mesmo para Portugal, até hoje não se dignou entregar-mo - Tal como refiro em http://www.odisseiasnosmares.com/2008/02/sao-tome-atitude-do-empresario-jorge.ht.

BOAS RECORDAÇÕES?!..: - CERTAMENTE PARA QUEM PARTICIPOU NA PONTE AÉREA E À MARGEM DA GUERRA E LUCROU!  - MAS DE MUITO MÁ MEMÓRIA PARA QUEM SOFREU DIRECTAMENTE  OS HORRORES DESSA GUERRA OU FOI SIMPLESMENTE USADO 

O legado da ajuda humanitária da ponte área de S. Tomé-Biafra, deixou recordações indeléveis para os seus intervenientes - Todos terão, com certeza, os  seus episódios para contar - sobretudo os pilotos dos aviões - Mas, no tocante aos reflexos nas população das ilhas, foi uma espécie de meteoro  que vira atravessar-se no firmamento, vira-o à sua frente, mas, conforme apareceu, assim desapareceu  - Nada de útil lhe trouxe, em nada a favoreceu. Pelo contrário, em certos aspectos, até terá deixado muito más recordações. 



C-97, estacionado no hangar do Aeródromo de S. Tomé - Foto recolhida de  WID Planes of the Biafran Airlift - Wi

AVIÕES VELHOS E OBSOLETOS, A CAÍREM AOS BOCADOS - MAS PAGOS A PESO DE OURO: TÃO VELHOS ESTAVAM, QUE ALGUNS ACABARAM POR FICAR ABANDONADOS E  APODRECER POR ENTRE O CAPINZAL NAS IMEDIAÇÕES DA PISTA DO AEROPORTO DE S.TOMÉ - 


OS FACTOS HISTÓRICOS, VALEM  NÃO APENAS PELAS  BOAS MEMÓRIAS, COMO  TAMBÉM  PELAS MÁS  .

PhotobucketPoder-se-á argumentar (e com justificada razão) que, a memória herdada da ponte aérea humanitária São Tomé-Biafra, sob o ponto de vista sentimental,  talvez seja  mais negativa de que positiva, todavia, o mesmo não poderá dizer-se como  testemunhos de um determinado momento histórico, que levou o nome de S. Tomé para os principais jornais e televisões  mundiais.
On the island of Sao Tome, chartered planes were loaded with beans, sugar, and rice for Biafra, mainly on aging Lockheed Super Connies. So many lives were saved thanks to the work of a small group of charities and dedicated volunteers. In Remember Biafr


A ponte aérea de ajuda humanitária de S. Tomé-Biafra,   ocorreu há cinco décadas, uns anos antes da   independência das ilhas verdes – Naquela atura, houve muito quem enriquecesse à custa dessa tragédia: – Armazéns dos roceiros; donos dos restaurantes, bares, esplanadas, lojas comerciais, pousadas (pois ainda não existiam hotéis) quartos particulares  e pensões.- É do que lhe recordaremos num dos próximos posts neste site




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