Jorge Trabulo Marques
(…) Ir sozinho para o mar, é partir
em demanda dos mais ténues rumores e labirintos sagrados!
É viajar na senda dos séculos passados, - era volvida -
ou dos que ainda hão-vir por vontade divina!
Apelar ao instinto animal (que raramente se engana, tal como o
da ave)
É vidência! Deslumbramento! Itinerário transfigurado.
É trocar o certo pelo incerto
- Sem todavia saber que próximo futuro o aguarda,
a que portos poderá arribar,
que enseadas de ilhas frondosas o esperam,
que recortes de orlas vai contemplar,
que escolhos vai ter pelo caminho,
que perigos e ameaças vai encontrar!
Sulcar a superfície do mar é ir em demanda
da sumptuosa beleza ou do terrível sufoco e destruição!
É navegar por extensões de horizontes que tanto o inquietam
e atormentam, como poderão tranquilizá-lo e sossegar-lhe o coração!
Que tão depressa lhe aterrorizam ou embriagam os sentidos
como, com igual surpresa, o afrontam com imprevisível provocação.
a tranquilidade de um lar - e partir
mar fora numa frágil piroga
ou até em barcos maiores e bem equipados,
singrando o ondulante manto líquido,
trocando o certo pelo incerto, o desconhecido,
não receando os revés da ousadia e a má sorte,
não temendo as partidas da omnipresente imagem da morte,
alheio a tudo: às inesperadas variações dos ventos,
à dança e contradança de correntes poderosas
súbitos vendavais, "súbitas trovoadas temerosas!"
ímpia e devastadora a visão do mar e do céu!
Quando, após
enormes adversidades,
num
permanente desafio à sorte,
após se deixarem
para trás da imensa vastidão
negríssimas
cerrações da cor da fuligem e do breu,
vigílias
infindáveis, pavorosas incertezas,
em noites de
angústia e assombração,
vogando à
flor de turbulentas, enegrecidas águas,
fitando
continuamente a mesma infinda abstração,
ir de velas
enfunadas, é sentir a alma rubra!
Alheia aos
perigos que rondam por toda a parte,
subindo ou
imergindo
dos
insondáveis abismos!
Navegar à
flor das águas agitadas é ter por companhia
a menos de
um palmo ou da grossura de uma tábua,
a cova funda
e horrível da mais funesta e imensa sepultura
.
Deixar,
enfim, que o mar e o vento cumpram a sua palavra!
Não pensar
em horários
nem perder
tempo em coisas banais
Ser sonho
ousado que se cumpra e nada mais!
Excertos - Jorge Trabulo Marques
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