JORGE TRABULO MARQUES - JORNALISTA .
Mercado Municipal de S. Tomé |
Em Luanda, o antigo mercado do povo, apelidado de Roque Santeiro, por razões urbanísticas megalómanas, já fechou há muito, mandaram-se os pequenos comerciantes para muito longe da cidade:
O mesmo vai suceder no emblemático mercado municipal de S. Tomé, para acolher mais uma torre, descaracterizando o coração da cidade e favorecer uns poucos em detrimento de milhares, que vão ser empurrados para 3 km na periferia da capital
Empresários muito contentes na
pescada do espaço do Mercado Municipal -: Empresários dispostos a investir na
requalificação do mercado municipal O grupo privado Noor liderado por Ramy Zayat,
manifestou disponibilidade em investir no projecto de requalificação que foi
exibido ao sector privado. Nós também vamos participar dando a nossa colaboração para
execução deste projecto», afirmou o empresário António Alves, mais conhecido em São
Tomé e Príncipe, por António Navalhada ou António Dolores
Todavia, vale a pena recordar a poesia e a tradição
desse velhinho mercado, que, desde que foi construído, no período colonial,
praticamente nunca sofreu obras e foi desprezado, tal como sucedeu a muitos outros
edifícios - E que agora vai levar a estocada final.
Era
assim, durante muitos anos e antes da Covid servir de pretexto para saciar o
apetite insaciável de oportunistas e gananciosos
"No Mercado
Municipal, tudo é comercializado,
ou mesmo cá
fora, ao lado, tudo é vendido a olhómetro:
Não há
medidas de peso, litro, decalitro, decilitro ou decalómetro.
Em diversificada, colorida e perfumada oferta! - Restringido
Em diversificada, colorida e perfumada oferta! - Restringido
a humildes e
exíguos montinhos espalhados por esteiras ou trapos:
De piripiri, pimenta, canela, mandioca, baunilha safú ou matabala
Das cestas ou
dos coalos, contam-se as mangas pelos dedos!
O mesmo se
faz das pinhas de bananas e de todos os
frutos!
Cocos, jacas, safús, limões, abacates, pau de canela,
fruta pão, papaia ou mamão, maracujá, pitanga, nona, carambola,
sementes de izaquente, pimenta e baunilha, cana do açúcar!
Vinho espumoso e branco de palma!- O dinheiro é vilão!
Mas quem o não tem faz-lhe muita falta!
– A “dobra” é a moeda de troca
e a nota de papel é contada aos “contos!
Tal como antigamente, no tempo do escudo colonial!
onde há muito por onde escolher e muito para vender.
tem para ver ou comprar: peixe seco ou fumado,
banana prata, oiro, macâ, macaco roxa ou banana-pão
azeite engarrafado de dendém, abóbora, pimentos e pimentão,
azeite engarrafado de dendém, abóbora, pimentos e pimentão,
repolho, mandioca, batata-doce, abobrinha, tomate e alho,
malaguetas, salsa e quiabo – sei lá quão mais!
Quão profusa tela colorida e luzidia se lhe abre ao olhar!
Tela composta por tantos e tão saborosos produtos
nascidos da húmus da terra vermelha, húmida e fértil!
Colhidos das hortas ou por baixo das eritrinas
que dão sombra aos cafezeiros e cacauzais
ou mesmo no seio do espesso mato florestal!
.
exuberante manto arbóreo, do qual são talhadas as
frágeis pirogas
para os ágeis e corajosos pescadores partirem na aventura ao mar largo
e fazerem depois na praia as suas pequenas lotas de pescado.
-Não há balanças: é ao molho, molhinho, a púcaro, garrafa ou a copo:
tudo isso é variado, verdadeiro e genuíno,
vem do azul do mar ou da terra húmida
e tudo é fresco, puro e casto.
É um hábito ancestral ! - Frutos
e produtos hortícolas expostos em cestas,
sarapilheiras, cestos ou simples esteiras,
estendidos em panos brancos, já muito manchados
pela seiva acastanhada que escorre e os mascara,
É a antiga tradição que prossegue - Só que agora,
toda essa suculenta e apetitosa amostra que se espalha ,
se compra e vende, não é sinónimo dos tempos coloniais das roças
dos serviçais dos pés descalços, maltratados, esfarrapados, chicoteados
do longo período das trevas, dos dias da escravidão:
Agora o pescador “angolar” já não zarpa da borda da praia,
da sua humilde e pobre cubata, coberta por folha de andala
construída de cana de bambu, de madeira da floresta
ou coberta de chapa,restringido quase à margem da praia:
a roça era senhora de tudo e só faltava empurrar
os miseráveis casebres para o meio das águas:
Sim, agora as pirogas navegam livres e voam soltas,
como as aves que esvoaçam os ares da densa floresta
ou sobrevoam o ventre ubérrimo da luxuriante “capoeira”!
Vão a remos ou já de vela erguida, desde a orla azul e
cristalina,
desde a sua aldeia, mar fora! Vão pescar o peixe-voador, o cangá, a raia,
o gandú (tubarão) a garoupa, atum, robalo, carapau,
bonito, malaguita, cherne,
chinchi, concó, agulha, bacuda, gangá, lula, linguado, sêlê, mulato,
peixe-espada,choco, o polvo - e tantos outros variadíssimos frutos do mar !
–
Já não há os humilhados e os reprimidos como antigamente!
A mando do todo poderoso capitão dos portos!
Ou vítimas de capatazes, de chicote na mão, nos terreiros e
senzalas
Excerto - Jorge Trabulo Marques
12 de Julho 2011 http://www.odisseiasnosmares.com/2011/07/36a-nos-de-independencia-parabens-sao.html
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