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sexta-feira, 7 de agosto de 2020

São Tomé e Príncipe – História rodoviária – Dos tempos das carroças, às linhas férreas nas roças, ruas e estradas que não eram esburacadas como agora, aos tempos em que se circulava pela esquerda, às velocidades das Gincanas, motas de grande cilindrada dos jovens hippies, ao brutal acidente de automóvel que ceifou a vida ao Jovem português, Emídio Correia – o hippie modelo dos estudantes da altura, unindo no mesmo funeral a solidariedade de milhares de santomenses e aos atuais motoqueiros, causa da maior sinistralidade nas duas ilhas

JORGE TRABULO MARQUES - JORNALISTA

Postal colonial

Postais colonias 

Em 1963, quando desembarquei do paquete Uíge, num bote, apelidado de gasolina,  que me levaria, com outros passageiros, ao cais da Baia Ana de Chaves, e dali partir num jipe  para um estágio na Roça Uba-Budo,  ainda pude vir a conhecer  todo o tipo de transportes coloniais: em quase todas as roças, ainda existiam linhas ferroviárias ou carroças puxadas a vacas, machos e cavalos para transporte individual – 



Roça Uba-Budo - 2014
Todas essas vias, estão atualmente irreconhecíveis, tal como os edifícios das administrações, hospitais, creches, senzalas, chalés , secadores e oficinas, tudo isso são ruinas


Redes de estradas - Poucas mais vias de abriram depois, que, a antiga colónia, ascendeu à independência, em 12 de Julho de 1975  -   É referido, que, em  2006, havia 320 km (200 mi) de estradas em São Tomé e Príncipe, 218 km (135 mi) de estradas pavimentadas e 102 km (63 mi) de estradas não pavimentadas" - Pois, mas com o piso em péssimo estado de conservação
O país possui a rede de rodovias (comumente como rotas), que consiste em três rodovias principais, a EN1 (São Tomé-Guadalupe-Neves), a EN2 (São Tomé-Santana-São João dos Angolares-Porto Alegre) e a EN3 ( São Tomé-Monte Café). Possui também estradas secundárias, algumas delas na área da ES1, ES2 e ES3. O Príncipe não tem números de rota.
Refere um estudo, que, “em tempos que já lá vão (há 90 anos!), nas mais belas ilhas africanas, também o movimento de peões, viaturas e de animais de tração, que circulassem nas vias de rodagem, fazia-se pela esquerda.

O Governador interino de então, Sebastião José Barbosa, com seis meses de atraso, determinou que, partir das zero horas do dia 1 de janeiro de 1929, a circulação rodoviária alteraria e começava a movimentar-se pela direita, tal como se verifica nos dias de hoje.

Para tal assinou, em 23 de novembro de 1928, o Diploma Legislativo 73, com o primeiro Código de Estrada, composto de 8 capítulos e 44 artigos, que entrou (parte) em vigor a 2 de dezembro de 1928.
1 – Veículo estacionado na via pública à noite só possível com, pelo menos, uma luz branca.
2 – Os veículos quando se aproximarem de bifurcação ou cruzamento devem anunciar a presença com sinal sonoro. http://albertohelder.blogspot.com/2018/08/sao-tome-e-principe-e-as-suas.html

A vida em São Tomé decorre ao pacífico ritmo do leve-leve ou do moli-moli mas não naqueles que conduzem por caminhos ou estradas – Sempre foi assim, desde o tempo colonial e assim parece continuar a ser. Claro que a condução desabrida e perigosa, acontece por todo o lado. Os acidentes rodoviários são uma tragédia constante, desde a invenção do automóvel. É o que se pode dizer a atração do irresistível fascínio da vertigem, que faz subir a adrenalina e convida até à própria aventura. 


Todavia, o fenómeno, em São Tomé, desde que surgiu a profissão de “motoqueiro”, como forma de ganhar uns trocados, como forma de subsistência, constituída maioritariamente por jovens, que são o grosso da população, muitos dos quais impreparados e sem carta de condução, ganhou forma de alarmante  tragédia e perigosidade  - E também de enorme preocupação para as autoridades, quer a nível da segurança nas estradas, quer para as entidades sanitárias


 Os moto-taxistas, ou motoqueiros - como são conhecidos nas ilhas - têm sido as principais vítimas. Imprudência no trânsito e falta de carta de condução são apontadas como principais causas dos acidentes.” – E, no tempo colonial, como era? – Eram e continuam a ser a grande atração dos jovens. Mas, naquele tempo, as vias estão em melhor estado, que atualmente, havia boas marcas e boas motos, mas só uma minoria as podia comprar. Hoje são o meio de transporte mais popularizado – Porém, o acidente, mais brutal e espetacular, aquele que mais chocou a sociedade colonial e também a população santomense, foi o que ocorreu num carro ligeiro, que  ceifou a vida do Jovem Emídio Correia, estudante liceal, nascido no Algarve, mas que ali residia, com os seus pais, desde adolescência 

GINCANA AUTOMÓVEL DOS FINALISTAS DA ESCOLA TÉCNICA

- Escrevia estas linhas, em junho de 1972,   na Revista Semana Ilustrada, de Luanda, de que seu correspondente, Causou o maior interesse, pois, com certeza, e talvez por ter sido organizada pela Escola Técnica Silva Cunha, que nisto de iniciativas em que esteja  em causa o seu bom no.me nunce falta. boa vontade e dedicação  para que tudo corra pelo melhor. E foi assim que deste vez também aconteceu. Os alunos organizaram e levaram a cabo uma gincana automóvel, que contou com apreciável número de concorrentes e despertou o mais  vivo interesse por parte não só dos aficionados do desporto automóvel, veteranos e iniciados, como, até,  de numeroso público, que não quis perder a oportunidade  de se associar A sináptica  lembrança dos finalistas da Técnica .e, igualmente, poder distrair-se com as mirabolâncias de uns tantos “brincalhões”

Foi de facto uma manhã de domingo interessantíssima a que proporcionou  a gincana automóvel . que teve  lugar no próprio recinto da Escola  Técnica Silva Cunha. E isto, não só pelo colorido e variado tipo de “máquinas” em prova, da  destreza, perícia e habilidades dos seus participantes ,como ainda pela nota viva e alegre, que, a assistência, na sua maior parte   jovem, imprimiu ao ambiente.

Foi realmente agradável apreciar, por  exemplo, os apuros em que se colocavam os concorrentes e acompanhantes para vencerem determinada espécie de obstáculos, tais como o de enfiar uma agulha, coisa que parece  simples mas que não o é em circunstâncias como esta em que há sempre uma pontinha  de nervosismo, assim  como o de passar um ovo sobre a concha de uma colher e transportá-lo  de um lado ao outro do carro sem lhe tocar com a mão, e até mesmo o de rebentar, com uma µressão  de ar, um balão  preso por um fio a um suporte de alguns metros de altura e sensivelmente `à mesma distância  do atirador, coisa que igualmente se afigura fácil mas que não o foi para todos, pois que alguns  nem à segunda  tentativa o lograram rebentar.

Ficaram nos primeiros lugares da classificação geral, Manuel Sá. e Zé Manuel, que conduziram, .respectivamente, carros . Austin 1000 e Ford Cortina GT 1600, duas belíssimas máquinas que, nas mãos de bons volantes como de facto eles se mostraram, deram· mesmo que falar. Houve ainda outros, no entanto, que apesar de não se fixarem. nos primeiros postos da tabela (o que só não o conseguiram  por excessiva perda de tempo no vencimento. de certos obstáculos por parte dos seus acompanhantes} tiveram igualmente comportamento  meritório, como  foi o caso, de Acácio Marinho, com um Volkswagen, na qual se revelou uma autêntica pro' messa em competições desta natureza.

Assistiu à Gincana o sr. Governador da Província, coronel Cecílio  Gonçalves, que não quis deixar de estar presente a mais uma manifestação de carácter desportivo. Presentes, ainda, muitas individualidades, oficiais e particulares., professores e família dos finalistas e seus colegas daquele estabelecimento de ensino santomense.
"Uma problema de saúde pública"

Referem noticias que "O cirurgião e diretor dos cuidados da saúde, Pascoal d’Apresentação, já perdeu a conta aos casos de acidentes lhe chegaram as mãos. Este médico diz que, tendo em conta que os mortos ou mutilados são, na sua maioria, jovens, esta situação afeta também a produtividade do país: “Por essa razão consideramos este um problema de saúde pública” 04/09/2013Aumento de acidentes de viação preocupa São Tomé e ..


O ACIDENTE – QUE HÁ, 42 ANOS, IMPRESSIONOU BRANCOS E NEGROS – E OS LEVOU A SOLIDARIZAREM-SE NO MESMO FUNERAL 


Foi notícia, na revista Semana Ilustrada, cujo relato e imagens, hoje trago aqui, em mais um episódio das minhas antigas memórias de jornalista, naquelas Ilhas – Acidente esse, que, em minha opinião,  além do grande impacto e consternação geral que provocou,  transversalmente, desde brancos a negros, se revelou como um dos mais profundos testemunhos de convivência, entre colonos e os santomenses, nomeadamente, nos meios urbanos, que progressivamente passou a existir nos anos  seguintes ao terrível e conturbado período do Governador Carlos Gorgulho.

Sim, é uma verdade inegável, que, no tempo colonial, a  vida nas roças era dura e escrava  para os negros e também para a quase generalidade dos brancos (eu conheci essa escravatura aos 18 anos) , salvo para os administradores e feitores-gerais e chefes de escritórios, porém, fora desses feudos, começavam a registar-se alguns passos significativos – Especialmente, a partir dos anos sessenta,  a nível de diálogo e convivência, entre os portugueses e os negros das diversas etnias Principalmente, no comércio, pescas, indústria  e funcionalismo público, se bem que ainda continuassem a subsistir profundas desigualdades sociais. 

E, se houve alguns avanços, foi mais a nível das mentalidades – Não tanto pela evolução do sistema colonial, porque, este, há muito estava condenado pela história e, mesmo assim, teimava persistir sob diferentes roupagens, aprisionado por uma politica incapaz de ler os sinais dos novos tempos, de perspetivar o futuro, cega e tacanha, divorciada do nos ventos que sopravam, a favor da liberdade e da independência dos povos colonizados.

O ACIDENTE NA ESTRADA QUE FOI QUASE UM DIA DE LUTO GERAL EM S. TOMÉ 

Eis o que então escrevi: "Fim-de-semana marcado a sangue e molhado com lágrimas. Eram cerca das vinte horas de sábado quando o jovem Emídio de Jesus da Conceição Correia, com apenas vinte anos de idade, estudante liceal, sétimo ano, natural de Estombar  - Algarve, filho de Alvarina de Jesus Correia e David da Conceição Correia, tripulava uma viatura “Datsun” ma estrada que liga a Pousada Salazar à cidade de São Tomé. Naquele estabelecimento estivera em alegre convívio com pessoas amigas e alguns turistas estrangeiros, após o que se propusera regressar à urbe. Numa das poucas rectas a escassos quilómetros de São Tomé e em local devidamente iluminado , foi embater, sem esboçar sequer a travagem, com uma camioneta que estava estacionada à berma da rodoviária, tendo dois terços da carroçaria sobre o passeio,
Presume-se  que o condutor do automóvel, o infeliz Emídio Correia,  viesse distraído e a certa velocidade, poia que o embate fez ligar o motor da camioneta que marchou alguns metros. A viatura do Emódio ficou literalmente desfeita, e, do acidente brutal, resultou a morte deste  jovem. O companheiro que com ele seguia ficou em estado grave.

Emídio Correia gozava de gerais simpatias na cidade e o seu passamento foi altamente sentido por parte dos seus colegas e é como é lógico pelos pais e parentes mais próximos.

O funeral que se realizou na tarde de segunda-feira, pelas quinze horas, constituiu enorme manifestação  de pesar e congregou centenas de pessoas e inúmeras viaturas automóveis no cortejo  fúnebre,

Mais uma acidente que na sua brutalidade ceifou uma vida em pleno desabrochar. Os ímpetos da juventude e uma menor responsabilidade transformaram a alegria repousante de um fim-de-semana numa tragédia para a família da vítima.
Que todos os jovens – e aqueles que já o não são – meditem nestas repetidas  e lamentáveis ocorrências  e vejam nos outros a imagem que as loucuras de “carregar no prego” podem acarretar. E quase sempre assim acontece, mais cedo ou mais tarde








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