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domingo, 9 de agosto de 2020

Na Guiné Equatorial – No dia em que fui rezar e agradecer a Deus, na rua, junto ao mar e numa das mais belas igrejas de Malabo, por ter sobrevivido 38 dias a bordo de uma frágil piroga – Ilha onde voltei em Julho de 2017 – Ou seja, 42 anos depois, onde aportei e fui preso e condenado por suspeita de espionagem – Tendo sido libertado no dia da execução pelo gesto humanitário do então Comandante Obiang, atual Presidente, que arriscou contrariar as ordens do seu tio, o temível Francisco Macias Nguema

Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Um dos  videos com imagens  da Guiné Equatorial 
 na minha estadia em 2017
















Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!
Em meados de Outubro, pouco tempo depois da Independência e após a escalada do Pico Cão Grande, deixaria São Tomé a bordo do pesqueiro Hornet para ser largado numa piroga na Ilha de Ano Bom, 180 Km a sul da linha do Equador, a fim de tentar a travessia atlântica - com uma mensagem redigida pelo ministro da Informação, Justiça e Trabalho  

Em 1975
S, Tomé-Nigéria 13 dias
17 dias detido
Por via de várias contrariedades, em vez de rumar a oeste fui forçado a navegar para Norte, tendo um violento tornado me deixado sem remos e outros apetrechos, acabando por  acostar à Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), onde sou tomado por espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central – para ser executado, já que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver. Considerada, naquela época, a prisão mais tenebrosa que os famigerados campos de concentração nazis




     Pude preservar os registos fotográficos e o diário gravado num contentor do lixo




A canoa foi carregada a bordo do pesqueiro Hornet, em 15 de Outubro, de 1975, ao largo da Baía Ana de Chaves.  No dia 18, de manhã,  o pesqueiro fundeou  ao largo da Ilha  de Ano Bom- Próximo daquela que era então a Ilha mais esquecida do Mundo, apenas com uma ligação com Malabo 


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Exposição - No Centro Cultural Português, em S. Tomé - 28 a 30 de Julho  2015 - SOBREVIVER NO MAR DOS TORNADOS. 38 DIAS À DERIVA http://www.odisseiasnosmares.com/2015/07/em-s-tome-encerramento-da-exposicao.html

 Ao pôr do sol, inesperadamente,  a canoa foi arreada por ordem do comandante, alegando que a canoa estorvava a pesca e que já não podia deixar-me na zona da grande corrente equatorial, que me arrastaria a oeste ao longo do oceano. Penso que, àquela hora, com a noite prestes a cair, o fez mais para me atemorizar e me convencer a desistir.

Construçao da canoa
Mas enganava-se: eu já havia enfrentado  vários tornados, noites escuras e tempestuosas e, na minha mente, havia uma ideia longamente amadurecida e bem determinada: - Ir novamente ao encontro da imensidade atlântica! Ir ainda mais longe, custasse o que custasse!... Ninguém podia demover-me desse propósito e do significado que lhe pretendia atribuir. - 


Semanário  O SOL

 Estando o mar calmo, não havendo vento, dada a proximidade da Ilha, havia pois o risco de poder  ser assaltado... Praticamente, não consegui sair do mesmo sítio e sempre com os olhos na pequena ilha que tinha ali bem próximo, receoso que alguma canoa saísse de lá.  Até porque as últimas palavras que ouvira do alto do convés, foram bem esclarecedoras: "escapa-te daqui o mais depressa que puderes, senão te roubam!!"... 




Neste contentor pude preservar o dário gravado e maq. fotog


Já com as primeiras sombras do curto crepúsculo e após um  giro em torno do horizonte, o referido barco aproximou-se de mim e voltou a carregar-me a piroga, prometendo largar-me no dia seguinte. Às tantas da noite, já com o pesqueiro de novo fundeado ao largo e envolvido por enorme agitação, varrido de  proa à popa,  pela já habitual tempestade noturna da época das chuvas, que o assolara já nas anteriores noites, sim, depois de muitos dos tripulantes virem junto de mim, tentando persuadir-me a  ficar a bordo com eles ("
Jorge! Não vês, como está o mar?!... Vais morrer!!.. Fica connosco!.." ) o imediato veio falar comigo para me apresentar na cabine do Comandante: quis dissuadir-me a desistir da viagem,  convidando-me a trabalhar a bordo.  Não tendo aceite a sua proposta, obrigou-me assinar um termo de responsabilidade.


E lá parti de calções e descalço, sem dinheiro no bolso, sem relógio e despojado de tudo; confiante de que a canoa seria o meu único soalho e o meu único abrigo e não me deixaria ficar pelo caminho.

Todavia, sem saber por quanto tempo e os trabalhos que haveria de ter pela frente....Certo, no entanto, de que (à semelhança das duas anteriores viagens: de São Tomé à Ilha do Príncipe e São Tomé à Nigéria), haveria de encontrar dias e noites de paz e de calma (momentos maravilhosos!) e outros dias e noites de sobressalto, de tormento e agitação

Na manhã seguinte, a  "Yon Gato", é  finalmente arreada ao largo de Annobón, com rumo de retorno a São Tomé - Mal o  sol equatorial  raiara, como que emergindo do fundo do vasto manto azul circular: à voz de "canoa ao mar"! Lá fui sozinho à minha vida, rumo ao Norte, munido apenas de uma simples bússola! Desiludido por não ter sido largado um pouco mais a sul e a oeste, lá parti, de regresso a São Tomé, pelo desconhecido oceano a fora, a pensar em refazer nova viagem e com o apoio marítimo  de alguém que não me traísse! - . 

Após um dia de navegação normal, com vento pela popa e à vela - mas sempre perseguido por duas canoas  para me roubarem os alimentos, dada a extrema penúria vivida naquela ilha - surge o inevitável temporal: um violento tornado, ao princípio da noite, vindo do sudeste,  uma súbita rajada de vento seguida por uma enorme vaga, apanha-me desprevenido e ainda com a nova casca de noz,  mal acabada de experimentar,  solta-me o leme (que lhe adaptei - e só por milagre também eu não fui atirado, com a cana do leme, para o seio daquela escurissima confusão, que só a curtos espaços os relâmpagos iluminavam) deixa-me a piroga atravessada à vaga e desgovernada, varrendo-me os apetrechos e forçando-me alijar da maior parte de viveres para aliviar o lastro e não ir ao fundo


âncora flutuante - Um dos bidões

- Lá foram mandados ao mar três bidões de água potável  e  as latas de conserva  oferecidas a bordo do Hornet. 

Apressei-me a enrolar a vela e a colocar o mastro (suplente) de través para lhe conferir alguma estabilidade e a lançar o 4º bidão de plástico, meio de água, preso a uma corda para fazer de âncora flutuante de modo a forçá-la a estar de proa à vaga.. O colchão insuflável, coloquei-o à proa com a lanterna, sobre o estrado) para o que desse e viesse, sim, era a única boia que dispunha e eu não sabia ainda muito bem como a canoa iria resistir e se comportar.. 
Escusado será dizer que a noite fora pavorosa!...Não há palavras para a descrever..De manhã improvisei um remo com um barrote e uns bocados que arranquei da cobertura, junto à popa..Sim, nunca cruzei os braços, nunca me dei por vencido: foram infinitos os momentos em que a vida esteve sempre presa  por um fio. Mas havia que lutar.


No dia seguinte ao violento tornado 
Era o começo de um longo e exaustivo tormento . Encontrava-me no Atlântico Sul , em pleno mar alto,  a 350 km da costa oeste do continente africano  e 180 km a sudoeste da ilha de São Tomé. As chuvas constantes da primeira semana, com o horizonte sempre encoberto, impedir-me-iam de avistar São Tomé. Mais tarde avistei a Ilha do Príncipe e Ilhéu das Tinhosas, mas, a falta de remo adequado, não me permitiram a aproximação. Por fim, a 27 de Novembro, acostei numa praia de Bioko (ex-Fernando Pó) .Onde fui preso e encarcerado por suspeita de espionagem.o condenado levasse.





Com o Embaixador Tito 
Voltei à Guiné  Equatorial,   42 anos depois, em Julho  de 2017, em Malabo  e em Bata, para agradecer ao  Presidente Obiang, ter-me salvo da forca,  quando, em finais de Novembro de 1975, ali aportei numa frágil piroga, depois de 38 longos e penosos dias ao sabor das vagas e fui tomado por espião. Tendo sido libertado pelo então jovem comandante das Forças Armadas e Policiais,  Obiang Nguema Mbasogo, que três anos depois  derrubaria seu tio, em 3 de Agosto de 1979, através do chamado   Golpe de Libertad   

Com  o Secretário-geral do PDGE
 Andei à vontade por onde quis e me apeteceu. Não vi as miseráveis e humilhantes barracas, que existem no demais continente africano e proliferam nas preferias das grandes cidades europeias,  asiáticas ou das Américas mas confortáveis e aprazíveis bairros sociais e as cidades mais bastante limpas e com os mais belos edifícios e avenidas, que não é fácil encontrarem-se no chamado velho mundo civilizado

 OBIANG SALVOU-ME A VIDA




Cabelo enegrecido por óleo de coco


Conheci este homem há  45 anos - No dia 4 de Dezembro de 1975. Chama-se  )Teodoro Obiang Nguema Mbasogo - É o Presidente da Guiné Equatorial. Salvou-me de ser condenado pelo seu tio,  o auto-proclamado Presidente Vitalício Francisco Macias Nguema, que derrubaria em 3 de Agosto de 1979 - 
Estive aqui preso alguns dias 


Ao cabo de 38 penosos dias, ao sabor das vagas, num simples madeiro escavado, acabo por acostar à Ilha de Bioko (ex-Fernando Pó), onde sou tomado por espião e encarcerado numa cela da Cadeia Central – para ser executado, já que este era o destino de quem ali era condenado: entrar vivo e sair cadáver. Considerada, naquela época, a prisão mais tenebrosa que os famigerados campos de concentração nazis

 Entregue ao Emb do Brasil em S. Tomé
Felizmente, havia de ser uma mensagem,  autenticada pelo MLSTP, escrita expressamente  para saudar o Povo Brasileiro - admitindo que pudesse fazer a travessia de : Tomé ao Brasil -  que   haveria de  contribuir para me salvar a  vida. 




Mesmo assim, dada a  persistente desconfiança do então Presidente Macias, que nem depois de  enviar o seu barbeiro pessoal (o santomense, Sr. Bandeira) se convencera, nem da veracidade da referida mensagem, nem dos meus argumentos,   quem  acaba por ordenar a minha soltura é o seu sobrinho, o então comandante das Policias e das Forças Armadas, o atual Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, a quem fico a dever a vida. A ele, pois, , um caloroso abraço de gratidão.  

"Durante o chamado "reinado do terror", o ditador macias Francisco Macías Nguema liderou quase um genocídio  (...) Nos últimos anos de seu governo,  a Guiné Equatorial, chegou mesmo a ser conhecida como a "Auschwitz da África" - In Malabo 
"Guineans believed their first president had supernatural powers. Using the knowledge of witchcraft he inherited from his sorcerer father, President Francisco Macias Nguema built a huge collection of human skulls at his homestead to beat his subjects to submission" In FRANCISCO MACIAS NGUEMAThe mad man from Equatorial


Nov - 1975 - OUVIA DA MINHA CELA NAUSEABUNDA, OS GRITOS LANCINANTES DE EXECUÇÕES E ESPANCAMENTOS  – ONDE APENAS TINHA UMA LATA PARA FAZER AS NECESSIDADES E UM BANCO COMPRIDO PARA ME DEITAR


"Dizer Black Beach é dizer a morte.Quando um prisioneiro chega a essa prisão, sua família começa a preparar o caixão".


Depois de ter sido encarcerado numa  das mais tenebrosas prisões de África, por ordens expressas do seu tio, o então jovem Obiang, confessava-se extremamente intrigado com o  insólito desembarque clandestino de um português numa canoa e  quis inquirir-me pessoalmente.  
A referida cadeia  fora mandada construir no tempo colonial espanhol.  Chamavam-lhe, naquela altura,  a Cadeia Central e situava-se junto à Praia Negra, da cidade de  Malabo,  capital da Guiné Equatorial , Tratava-se, efetivamente, da famigerada Black Beach

Quando um prisioneiro, ali dava entrada, era o sinal dado à sua família de que tinha de preparar  o caixão para o ir buscar. Uns dias depois de ali ter sido encarcerado, fui conduzido ao edifício do Comando da Polícia e das Forças Armadas (aliás, contiguo à cadeia) onde se encontrava, Teodoro Obiang, sendo ele, então, o supremo  comandante,  que me mandou chamar ao seu gabinete - Foi o primeiro gesto de cortesia que eu encontrei a nível das autoridades policiais - Estou ainda hoje persuadido de que foi ele que me salvou de ser condenado.

"Havia todos os tipos de tortura. Eles penduravam os presos pelos tornozelos, amarraram-los em posições improváveis, vencê-los sem aviso prévio e em qualquer momento que eles queriam. Os guardas Black Beach tinham apenas a tarefa de espancar os prisioneiros",  Outro problema era a comida: muitos prisioneiros morreram de fome. "E o cheiro. As células foram eram tão  estreitas que uma pessoa não se poderia esticar, estavam sempre no escuro, e seu cheiro era muito forte, insuportável. Às vezes cheguei a pensar  em me matar."iais - Estou ainda hoje persuadido de que foi ele que me salvou de ser condenado. 

Dois dos seis tubarões capturados
Sei, que este meu gesto, não vai ao encontro do chamado “politicamente correto”, do sectarismo imposto por certos analistas, que fazem tábua rasa do colonialismo europeu, que transformou o continente africano, numa manta de retalhos, não se importando da sua ancestralidade cultural e étnica, escravizando, retalhando, deportando, sem dó nem piedade, milhões de negros, fazendo deles párias nas suas terras de origem – Sim, omitem essa  tragédia, desviando as atenções da opinião pública mundial, desses hediondos crimes contra a humanidade – Por meu lado, não vou nessas modas, nesse juízo fácil e ao correr das modas, porque também fui uma das vitimas do colonialismo: não me mataram, porque não calhou - E aponte-se-me qual o governante, completamente  de mãos limpas e cofres vazios na Europa, na América, Ásia ou  Oceania?  - Só em África? - E o que se diz do atual liberalismo selvagem, neocolonial e  global?...

DEPOIS DE TANTAS INCERTEZAS, PELAS NOITES NEGRAS E ASSOMBRADAS DAS TEMPESTADES, AINDA TER QUE SUPORTAR TAMANHA INSTABILIDADE EMOCIONAL - Mas vá lá que prevaleceu o bom senso e a humanidade de quem era suposto dar a última ordem de Macias.






Mal me arrastava de fraqueza mas sentia-me como se estivesse a viver as aventuras de um inesperado Robinson Crusoe - E, mesmo ainda hoje, não sei se sentiria vontade de sair dali tão cedo. Porém, quando me apercebi de que havia um carreiro, muito batido, que ali desembocava e que poderia ser sinal de que a praia não era totalmente selvagem (de resto, pouco depois do nascer do sol e antes de a abordar, já ali tinha visto, na pequena língua do negro areal, um homem à cata de ovos de tartaruga) pelo que não tive outro remédio senão seguir aquele mesmo careiro, que me levaria a uma finca  - à sede de uma plantação de cacau.  Tal facto, ia-me custando a vida. Tomado por espião e depois de ter passado a primeira noite nos calabouços de uma esquadra, fui transferido algemado para Punta Fernando, onde ainda hoje se "encontra a famosa prisão de Black Beach também conhecida como prisão de Blay Beach onde foram encarcerados e torturados em numerosas ocasiões líderes políticos proeminentes

PIOR DE QUE CELA, AUTÊNTICA LIXEIRA DE RATOS E DE CHEIROS NAUSEABUNDOS

Quem fornecia a comida aos prisioneiros, eram os familiares. Lá dentro não havia cozinhas nem refeitórios. Ao lado da minha cela, situava-se a casa de banho dos guardas prisionais,  que me mandava um pivete insuportável, mas que eu não podia utilizar. Havia baratas e percevejos por todos os lados. As ratazanas entravam na minha cela, chegavam a passear-se por cima de mim e a morder-me nos dedos dos pés, quando me deitava - Por vezes no chão, pois não conseguia estender-me e segurar-me no  banco. Também nem sequer dispunha de uma torneira ou de um lavatório. 

Para beber um copo de água tinha de  o implorar aos guardas, que só mo levavam quando lhes apetecesse. Por outro lado, também tinha de levar com o cheiro das minhas fezes, pois, só de manhã eram recolhidas. Como se não bastasse o estado de desnutrição, que quase me arruinara, tinha agora que levar com os suores e cheiros do meu corpo, pois não tinha onde me lavar. Daí que, quem ali desse entrada, não tardasse a que, ao fim de alguns dias, tivesse a sensação de que, em vez do prisioneiro se sentir um ser humano, se identificasse como um pária e ficasse assim mais propenso a aceitar a condenação como um castigo justo e inevitável. Felizmente, nunca me deixei abater, porque, as adversidades do mar, me haviam  preparado para todo o tido de dificuldades, no entanto, a passagem por aquela prisão (breve é certo) constitui uma marca negra nas minhas recordações da Guiné Equatorial e na minha vida.

MAS QUE MAL TERIA FEITO EU, PARA, APÓS OS 38 DIAS DE SOFRIMENTO  NO ALTO MAR, DAR ENTRADA NUM PRESIDIO DOS CONDENADOS À MORTE?!... - CHEGUEI MESMO A PENSAR SE NÃO TERIA VALIDO MAIS A PENA TER FICADO NA BARRIGA DE UM TUBARÃO.




Naquela altura, o pior que me poderia acontecer era acostar em qualquer ponto da Guiné Equatorial, ou nalguma das suas Ilhas ou no continente. Eu sempre pensei que os maiores riscos, não eram tanto as dificuldades no mar, mas a grande incerteza das condições em que poderia ser recebido onde fosse aportar. Quando fiz a viagem de São Tomé à Nigéria, depois de 13 dias solitários no mar, eu não fui maltratado mas não me livrei de ter sido privado da minha liberdade durante 17 dias, após o que me repatriaram para Portugal -  Na viagem dos três dias de São Tomé ao príncipe, fui preso e espancado pela PIDE - Ó sorte macaca! Que no mar me protegeste  e em terra me abandonaste!

"QUE ATREVIMENTO É ESSE!!" - QUASE ME IAM MATANDO QUANDO HASTEEI A BANDEIRA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

Na viagem à Nigéria, levei as duas bandeiras: a de São Tomé e Príncipe e a de Portugal Mas, nesta viagem,  apenas levei o pavilhão do jovem país independente aonde regressei sem um centavo na algibeira, onde encontrei todo o apoio que precisei para mandar construir a canoa e para a aparelhar.- Sim, e donde parti para grande aventura.  No meu cárcere, em Bioko, um de dia resolvi hastear a  Bandeira Nacional de São Tomé e Príncipe,  - Quando o carcereiro, que, de volta e meia vinha  espreitar a minha cela, topou, mas que heresia!... Foi buscar imediatamente a chave da cela e, ao entrar lá dentro, deu-me um empurrão contra a parede, e, ao mesmo tempo que agarrava nela e a amachucava, levando-a, berrava: Su mercenário! ¿Qué descaro!! Qué falta de vergüenza!! - Não posso dizer que fosse  agredido fisicamente, mas humilhado e submetido a uma incerteza psicológica terrível. É que, após ter dado entrada naquele maldito presídio de condenados à pena capital, contava sempre com o pior: de resto, os presidiários que me visitaram pela janela e me levaram comida, avisam-me logo, com esta pergunta: "És político?!..- A que eu respondi: "Não!" Diz um deles: "Então talvez te safes. Mas não digas mal do Presidente, senão... podem decapitar-te!

POUCOS  DIAS DE CATIVEIRO, MAS AUTÊNTICAS ETERNIDADES - QUEM NÃO RECEBESSE COMIDA DO EXTERIOR, MORRIA DE FOME

A cadeia não fornecia  alimentação: tinham de ser os familiares. Nos primeiros três dias, quem me passou alguma comida (massa de mandioca, regada com  óleo de palma, que mais das vezes a vomitava para a lata das necessidades, pois eu estava magríssimo e, o meu estômago, já não estava habituado a comer alimentos sólidos, há muitos dias), sim, quem me deu alguma comida,   foram os próprios condenados, que trepavam curiosos à minha janela gradeada, durante o curto recreio que dispunham, num átrio para a qual a  minha cela estava voltada. Creio que, naquela altura, devia ser o único europeu preso. Agora, depois que houve por lá uma tentativa fracassada de Golpe de Estado, em Março de 2004, estão lá presos alguns dos implicados. Mas nada que se compare às tenebrosas condições daqueles tempos.  

Nos dias seguintes, passei a receber uma cestinha, com frutos e outros alimentos, por parte  do barbeiro do Presidente Nguema, um amável são-tomense, que era também o representante diplomático e que ali tinha ido a seu mando para  recolher informações a meu respeito - E, se não fosse o facto de ter comigo uma mensagem autenticada pelo MLSTP, que lhe entreguei para a mostrar a Nguema, dificilmente de lá sairia vivo - A mensagem  destinava-se a saudar o Povo Brasileiro,  viagem que não consegui realizar, pelo facto do comandante do pesqueiro americano se ter recusado a deixar-me na corrente equatorial, mas junto à Ilha de ANO BOM, onde os ventos e as correntes tomavam a direção Norte, tendo, nessa mesma noite, sido surpreendido por um violento tornado, que me fez perder a maior parte dos alimentos e apetrechos 


Muitos são os homens que perseguem um ideal, que procuram dar um sentido às suas vidas. Porém, muitos deles acabam por serem surpreendidos pelas emboscadas da tragédia e da morte – Felizmente, ciladas de morte  tive-as sempre por companhia ao meu lado, em perigosas escaladas e nas várias  aventuras marítimas em que  me envolvi, mas foram os ditames da vida, a força de vontade  a levarem a melhor de vencid

Depois de ter realizado uma viagem costeira, desde a Baía Ana de Chaves (onde se situa a cidade), até à praia onde se encontra o padrão que assinala a chegada dos primeiros navegadores portugueses, precisamente na véspera  do dia em se iniciavam  as comemorações dos 500 anos da descoberta das ilhas – 20 e 21 de Dezembro de 1969 -  (experiência que serviria também de teste para outras viagens mais arrojadas), parti então para a primeira aventura, que foi a travessia de São Tomé ao Príncipe.
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Larguei à meia-noite, clandestinamente, pois sabia que, se pedisse autorização, me seria recusada, dada a perigosidade da viagem, levando comigo apenas uma rudimentar bússola para me orientar. Fui preso pela PIDE, por suspeita de me querer ir juntar ao movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, no Gabão, o que não era o caso. Levei três dias e enfrentei dois tornados. À segunda noite adormeci e voltei-me com a canoa em pleno alto mar. Esta era minúscula e vivi um verdadeiro drama para me salvar, debatendo-me como extrema dificuldade no meio daquele denegrido  sorvedouro  das águas 

Cinco anos depois da travessia de São Tomé ao Príncipe, numa piroga um pouco maior, fiz a ligação de São Tomé à Nigéria. Uma vez mais parti sem dar a conhecer os meus propósitos, ao começo da noite, servindo-me apenas de uma simples bússola. Ao cabo de 13 dias chegava a uma praia ao sul deste país africano, tendo sido detido durante 17 dias por suspeita de espionagem, após o que fui repatriado para Portugal. Os jornais nigerianos destacaram em primeira página o feito,


OBJETIVOS DAS TRAVESSIAS

Por um lado,  demonstrar as capacidades das canoas em longas travessias, indo assim ao encontro da origem do povoamento das Ilhas do Golfo da Guiné,  por outro, norteado pelo admirável  exemplo de Alan Bombard,  comecei a matutar e amadurecer a ideia de que, um dia, deveria  deixar as pequenas viagens de praia em praia,  ir mais longe! Demonstrar aos pescadores que, mesmo perdida a terra de vista, no meio da tempestade,  o mundo não ia desmoronar aos seus pés: - Não deviam cruzar os braços resignarem-se à fatalidade de um destino incerto. Confessavam-me eles:  quando o pescador se perde, “só gente de feitiço é que vai parar  ao  Príncipe ou ao Gabão; outra pessoa morre pelo caminho: “gandú” vira-lhe a  canoa e come-lhe a perna”


 Ora, foi justamente contra estes velhos fantasmas,  entretanto incutidos pela presença do colonizador,  que lhe teriam  feito esquecer as extraordinárias aventuras dos seus antepassados, a sua memória ancestral, por que me bati, contraditando esses estigmas, restabelecendo-lhes a confiança de antigos e corajosos navegadores das grandes travessias, entre o continente e as ilhas. – Estou convicto de que as minhas teses, estão amplamente comprovadas – De resto,  assim também o testemunham  antigas cartas marítimas, anteriores à colonização, que permaneciam ocultas nos arquivos e que, investigadores dedicados e esforçados, lograram trazer à luz do conhecimento – Sobre estas questões, o leitor poderá encontrar desenvolvidos textos no meu site: Odisseias nos Mares dos Tornados e Tubarões. SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - ILHAS ASBEN E SANAM, POVOADAS POR CANOAS AFRICANAS

Diário de Bordo .... 15ª dia -  UM GRANDE BARCO PASSOU AO MEU LADO ***** ******.....17ª Dia - Se me perguntassem qual era o meu maior desejo ..... ....;BIOKO À VISTA - ILHA DO “DIABO......***.;NÁUFRAGO - 18ª DIA – MAIS UM BARCO PASSOU A CURTA DISTÂNCIA ......; 19º Dia – Sinto muita sede  ...     ...; 20ª Dia Estou envolvido por enorme cardume,...........;21º DIA – “Sinceramentejá tenho pena de ter ferido aqueles tubarões n............;Náufrago 22.º dia - A canoa esteve há pouco à beira de se virar .......;23º Dia -Vi uma borboleta!    ..24º Dia - É tubarão!.... Filho da mãe....... 25º diaEstou cheio de sede e de fome............26ª Dia Não tenho comidaÁgua também não. .      . 27ª dia  mar nunca se podem fazer cálculos seguros!...........28º Dia - Grandes vagas alterosas entravam dentro da minha canoa!.        29ª dia - Passei a noite todo encharcado.....       30º Dia - Não comi nada: limitei-me a comer uma das barbatanas do tubarão. .......... 31º Dia - A canoa a meter água cada vez mais!.... .............. .32º Dia -Estou comendo o coco! Avidamente!... Sofregamente!................33º Dia - Estou exausto!.........Dia 34º -  Sinto uma grande dureza no estômago..........35ºDia - Acordei com o barulho de uma enorme baleia aqui próximo da canoa ....36º Dia - Comi a ave que apanhei ontem! (...) Tenho a costa de África muito próxima... É já noite"... Estou a velejar! Estou-me a precipitar como um suicida. Tenho fome! ... Não posso demorar mais tempo!......37ª Dia Estou partido! Tenho o estômago metido para dentro...Estou realmente bastante fraco..





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