Jorge Trabulo Marques - Jornalista -
Ouça as palavras de um grande escritor
português, no video que tenho o prazer de aqui lhe apresentar, recuperado do registo sonoro das memórias do meu vasto arquivo
de repórter e de jornalista na extinta Rádio Comercial - RDP
Desenho de H Mourato |
LUÍZ OLIVEIRA GUIMARÃES - O SINGULAR PERFIL DE INTELETUAL PORTUGUÊS
Magistrado, escritor, jornalista, dramaturgo, ensaísta, cronista, advogado, conferencista, humorista, com cerca de meia centenas de obras publicadas, inúmeras crónicas e artigos da imprensa - Nascido na Quinta do Castelo em Espinhal (Penela), de seu nome completo Luíz de Abreu Alarcão de Oliveira Guimarães, tendo ido para Lisboa, aos 6 anos de idade, cidade na qual passaria depois toda a sua vida.
Jurista de profissão, Luís de Oliveira Guimarães considerado um criativo e humorista por convicção, tendo colocado o seu saber e a sua pena ao serviço das letras como pedagogo humorista, como cronista irónico e como dramaturgo satírico. Figura ímpar da Vila do Espinhal, em particular, mas também uma figura do panorama cultural português do século XX, que assumia na mesma pessoa, a singeleza da cultura de raiz popular, com o fino espírito dos intelectuais do seu tempo.
MEMÓRIAS INÉDITAS DE FERNANDO PESSOA - Hoje completaria 132 anos - O escritor -Luíz Oliveira Guimarães - 1900-1998 - Amigo e contemporâneo de Fernando Pessoa - Entrevistado por mim, em 1981, disse-me:
"O Fernando Pessoa, foi meu vizinho. Eu morava em Campo de Ourique, ele morou também lá: vínhamos. Muitas vezes, íamos os dois para a baixa;
ele frequentava aquele Café da Arcada! Eu, às vezes, ia lá a cavaquear com ele e dávamo-nos muito bem.
Uma dia… Eu não sabia, muito bem onde o Fernando Pessoa, tinha nascido e perguntei-lhe: - Ó Fernando Pessoa! Onde é que você nasceu?
E ele volta-se para mim, e diz-me: “Numa aldeia!”
- Numa aldeia?!...
- Sim, numa aldeia, que, quando se sobe o Chiado, fica à esquerda”… Mete-se à Rua Serpa Pinto e há aí um largo!...É aí o Largo da minha aldeia!...Foi nesse largo, dessa aldeia, que eu nasci!”
Mas, de repente, sentiu um certo remorso de chamar a Lisboa e àquele largo, onde ele tinha nascido, e diz:
- “Mas, você, fique sabendo uma coisa: “É uma aldeia!... Talvez a única no mundo que tem um teatro lírico!”
Era o Teatro São Carlos: ele nasceu de fronte.
LOG – Considerava Portugal, considerava Lisboa. Uma aldeia!... E, naquele tempo, aquilo era uma aldeia.
JTM – E porquê, Sr. Doutor:
LOG – Porque todos se conheciam! As pessoas todas se conheciam e conviviam umas com outras!... O movimento era pouquíssimo, nas ruas!...
-JTM – Fernando Pessoa, acha que era uma pessoa sociável…
LOG – Em certos dias!... Era sociável em certos dias!.. Outros dias, era impossível… Era uma questão de temperamento! Era uma questão de temperamento!… Pois lá tinha os seus desgostos, as suas preocupações…Havia dias, intoleráveis!... E havia dias em que falava… Era muito comunicativo!... Isso acontece a quase todos nós..
LOG – Não, não gostava… Tinha duas ou três pessoas com quem se dava… Mas, do resto, não gostava muito de se relacionar.
Não ligava a mais pequena importância aos versos que fazia…Fazia-os, em regra, à mesa do café… E depois lia-os a um ou outro amigo, que estava à mesa do café, que estava presente… E outras vezes, nem sequer o fazia… Estava ele sozinho… e pegava neles de deitava-os ao cesto dos papéis!...
- Muitos dos versos, que foram publicados, depois dele, foram retirados dos cestos dos papéis... Alguns por mim próprio. E dos chão do café.. Escrevia aquilo…
JTM – Sr. Doutor, quer então dizer, que muitos dos melhores versos, não foram publicados…
LOG – Foram! Foram!... É possível que ele tivesse mais!...Mas, muitos dos versos, que estão publicados, ele não fazia caso nenhum deles!...
JTM – E andavam, então pessoas, de vez em quando?...
LOG – E andavam ali os amigo à voltas, que nos sentávamos à volta dele no café… Escrevia uns versos, li-os: “Ah!... Isto é uma porcaria!... E depois deitava-os fora!... E nós apanhávamo-los! E foram muitos desses versos, que constituem hoje os livros de Fernando Pessoa.
LOG – Ah, não ligava!... Era um boémio! Um boémio literário.
JTM – Há quem diga, que uma vez apareceu na baixa a passer com uma galinha presa por um cordel.
JTM – Ah.. era um boémio!... Um boémio literário!... Era o chamado boémio literário, autêntico!
JTM – Era um homem que gostava de viver a sua vida…
Sim…. Sozinho… Depois teve uns amores!... Teve uns amores!...
JTM – Fale-me desses amores…
LOG - Pois, os amores, não foram por diante!... Por várias razões… Não foram por diante!... E ele ficou sempre desgostoso!... Desgostoso!
JTM – Ele teve assim muitas paixões?
JTM – Ele teve assim muitas paixões?
LOG – Uma! Única!...
JTM – Conheceu a…
LOG – Conheci a senhora… Agora, queria lembrar-me do novo dela e não há maneira de me lembrar…
JTM – Morreu...
LOG – Morreu… Agora não há maneira de me lembrar o nome dela…
JTM – Ele não era correspondido?
LOG – Era correspondido… Era.. Mas a família dela, não simpatizava assim comum namoro, dado à boémia do Fernando Pessoa… E tal… E aquilo continuou … Mas depois ele morreu!...
LOG – Era um boémio!... Um boémio literário!... A gente não pode dizer marginal!... Era um boémio literário!... Tinha lá a sua moda!... Mal visto, como todos os boémios!.. Pelas famílias!... Por certos extratos sociais…Era um boémio! – Em regra, o ator, o poeta!... São boémios!...
LOG – Olhe, não nasci em Lisboa… Embora muita gente, diz que eu nasci no Chiado.. Não… Nasci numa aldeia, que é hoje vila, distrito de Coimbra: E vim para Lisboa, aos seis anos!... E depois aqui fiquei!...
JTM – Então, dedicou-se….
LOG – Aqui fiquei… Fiz a instrução primária, onde tive, como professora, uma filha do poeta, João de Deus! … E depois fiz o liceu… Depois fui para a faculdade de direito… Formei-me e fui para a magistratura… E então fui magistrado!
JTM – Durante quantos anos?
LOG – Durante muitos anos!... Fui magistrado, mas acumulando sempre com a atividade literária.
Continua no vídeo
Figura Luís Oliveira Guimarães - Figura ímpar da Vila do Espinhal, em particular, mas também uma figura do panorama cultural português do século XX, que assumia na mesma pessoa, a singeleza da cultura de raiz popular, com o fino espírito dos intelectuais do seu tempo - A par de um gracioso sentido de humor e de simplicidade
Ouça as palavras de um grande escritor português, no video que aqui tenho o prazer de lhe apresentar, que fui recuperar das memórias do meu vasto arquivo de repórter e de jornalista na extinta Rádio Comercial - RDP, com algumas imagens da cidade de Lisboa, bem como com alguns dos magníficos desenhos do pintor João Neves de Ó, devotado admirador e grande apaixonado pelo perfil e obra de Fernando Pessoa.
POSSUIDOR DE UM VASTO E NOTÁVEL CURRÍCULO
Luíz de Oliveira Guimarães, o Espírito de uma Época
Por: Osvaldo Macedo de SousaEm 19 de Abril de 1900, nasce na Quinta do Castelo em Espinhal (Penela) Luíz de Abreu Alarcão de Oliveira Guimarães, filho de António Alves de Oliveira Guimarães e Maria da Glória Alarcão Vellasques Sarmento A 16 de Julho de 1900 - Baptizado na Igreja Matriz do Espinhal pelo vigário Manuel Parada d’Eça.
Os primeiros passos e as primeiras letras aprendeu-as no Espinhal, onde o seu primeiro mestre escola lhe ensinou que “a instrução serve, principalmente, para avaliar, não o que sabemos, mas o que ignoramos!”. E toda a sua vida será uma eterna pesquisa sobre o que ele ignora, e mais ainda o que todos nós ignoramos.
Ainda criança foi viver para Lisboa, onde acabou seus estudos primários. O primeiro ano Liceal fê-lo no Liceu da Lapa (1910-11), passando depois para o Pedro Nunes (1911-1915) acabando no Liceu Camões.
1917 - Está na Universidade de em Coimbra a cursar Direito, transferindo-se em 1918 para Lisboa onde terminaria o curso a 4 de Dezembro de 1922. A tradição familiar, ligada à Jurisprudência levou-o ao curso de direito, mais não seja por uma questão civilizacional: “/…/ uma civilização só merecerá o nome de civilização quando a luta pela vida se travar no campo do direito. O ideal seria que todas as manifestações da actividade humana coubessem dentro duma fórmula jurídica. Mas se ainda não foi possível atingir esse ideal, se essa possibilidade pode muito bem-estar até, cada vez menos, ao alcance da nossa mão, nada nos aconselha a renunciar á glória suprema de procurar atingi-lo: pelo contrário o nosso esforço deverá redobrar dia a dia, no convívio desse misterioso capricho humano que nos faz desejar mais ardentemente os frutos que não podemos colher. A mais nobre missão do homem e, sobretudo, do homem de leis é a de concorrer, de algum modo, para efectivação desse ideal.” (O Direito ao Riso pág. 11).
1918 - Jornalismo - Inicia-se no jornalismo como corresponde do jornal portuense “Vida-Moça”, um periódico cultural que como ele próprio se definia semanário de teatros, arte, literatura, sport e nas páginas de “A Capital”. Depois nos inícios da década de vinte colaborará com “A Manhã”, “O Mundo”… abrindo assim um caminho de experiências e contactos.
“Ninguém ignora que o verdadeiro escritor, como o verdadeiro artista, não se faz: nasce. O estudo e a prática podem dar, e dão sem dúvida, a cultura e a experiência, - mas não dão a vocação, que constitui uma bênção dos Deuses. O que sucede, frequentemente, é a vocação do escritor e do artista conservar-se adormecida até que uma causa a desperte, em regra uma causa literária ou artística” (O Espírito e a Graça de Fialho pág. 21)
“Há quem se queixe da impertinente curiosidade dos jornalistas. Não é justo. O dever do jornalista é informar. Para informar necessita, previamente, de se informar. A curiosidade constitui parte do seu ofício.
- O que fazia Deus Nosso Senhor antes de criar o Mundo? - Perguntava, uma vez, na catequese, um garoto de dez anos ao padre-mestre.
O padre ficou uns momentos, perplexo e, depois, explicou:
- Preparava o Inferno para os curiosos.
Se assim foi, enganou-se, salvo o devido respeito. Os curiosos não estão no Inferno: estão no jornalismo ou, como agora se diz, na Comunicação Social. A menos que a Comunicação Social não seja o tal Inferno preparado por Deus Nosso Senhor para os curiosos.” (Segredos a Toda a Gente – 7/3/1982).
1923/1932 - O Escritor– Data das suas primeiras publicações bibliográficas:
“Bonecas que amam” (Poesia)
“Arte de conhecer mulheres” (crónicas)
“O Direito ao Riso” (Monografia)
“As Blagues do Dr. Bonifrates” (blagues)
1924 – “O Chiado” (c/ João Ameal) (fait-divers)
“Loló, Biri, Záza” (Novela) (Capa de Fernando Santos)
1925 – “As Criminosas do Chiado” (c/ João Ameal) (novela)
“Saias Curtas” (capa de Cunha Barros) (crónicas)
1926 – “Caixa de Amêndoas” (Poesia) (capa de Ramalho Pedro)
1927 – “Cabelos Cortados” Diálogos)
1928 – “O Diabo , mestre de Dança” (crónicas)
1929 – “O Rei Maganão” (Subsídios para a História)
1931 – “Os Santos Populares” (Monografia)
“O Direito no Teatro de Gil Vicente” (Estudo)
1932 - “O Problema Jurídico do Transito” (comentários juridícos)
…..1923 - CARREIRA JURÍDICA – Inicia-se a sua carreira profissional no universo do Direito a 8 de Agosto, primeiro como Ajudante da 2ª Conservatória do Registo Predial de Lisboa e a partir 8 de Dezembro como Subdelegado do 3º Juízo das Transgressões de Lisboa.
A sua carreira profissional desenvolver-se-á sempre no Ministério Público ao longo de década e meia:
“Bonecas que amam” (Poesia)
“Arte de conhecer mulheres” (crónicas)
“O Direito ao Riso” (Monografia)
“As Blagues do Dr. Bonifrates” (blagues)
1924 – “O Chiado” (c/ João Ameal) (fait-divers)
“Loló, Biri, Záza” (Novela) (Capa de Fernando Santos)
1925 – “As Criminosas do Chiado” (c/ João Ameal) (novela)
“Saias Curtas” (capa de Cunha Barros) (crónicas)
1926 – “Caixa de Amêndoas” (Poesia) (capa de Ramalho Pedro)
1927 – “Cabelos Cortados” Diálogos)
1928 – “O Diabo , mestre de Dança” (crónicas)
1929 – “O Rei Maganão” (Subsídios para a História)
1931 – “Os Santos Populares” (Monografia)
“O Direito no Teatro de Gil Vicente” (Estudo)
1932 - “O Problema Jurídico do Transito” (comentários juridícos)
…..1923 - CARREIRA JURÍDICA – Inicia-se a sua carreira profissional no universo do Direito a 8 de Agosto, primeiro como Ajudante da 2ª Conservatória do Registo Predial de Lisboa e a partir 8 de Dezembro como Subdelegado do 3º Juízo das Transgressões de Lisboa.
A sua carreira profissional desenvolver-se-á sempre no Ministério Público ao longo de década e meia:
1923/1932 - O Escritor– Data das suas primeiras publicações bibliográficas:
“Bonecas que amam” (Poesia)
“Arte de conhecer mulheres” (crónicas)
“O Direito ao Riso” (Monografia)
“As Blagues do Dr. Bonifrates” (blagues)
1924 – “O Chiado” (c/ João Ameal) (fait-divers)
“Loló, Biri, Záza” (Novela) (Capa de Fernando Santos)
1925 – “As Criminosas do Chiado” (c/ João Ameal) (novela)
“Saias Curtas” (capa de Cunha Barros) (crónicas)
1926 – “Caixa de Amêndoas” (Poesia) (capa de Ramalho Pedro)
1927 – “Cabelos Cortados” Diálogos)
1928 – “O Diabo , mestre de Dança” (crónicas)
1929 – “O Rei Maganão” (Subsídios para a História)
1931 – “Os Santos Populares” (Monografia)
“O Direito no Teatro de Gil Vicente” (Estudo)
1932 - “O Problema Jurídico do Transito” (comentários juridícos)
…..1923 - CARREIRA JURÍDICA – Inicia-se a sua carreira profissional no universo do Direito a 8 de Agosto, primeiro como Ajudante da 2ª Conservatória do Registo Predial de Lisboa e a partir 8 de Dezembro como Subdelegado do 3º Juízo das Transgressões de Lisboa.
A sua carreira profissional desenvolver-se-á sempre no Ministério Público ao longo de década e meia: - Excerto de http://humorgrafe.blogspot.com/2008/06/luz-de-oliveira-guimares-o-esprito-de.html
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