Jorge Trabulo Marques - jornalista e
antigo co-respondente, em STP, da Revista Semana Ilustrada, de Luanda - 1970 a
Março de 75
Em Nov de 2014 - Quando me recebeu na residência oficial em Trindade |
O EX-PRESIDENTE DEFENDE O DIÁLOGO INTER-PARTIDÁRIO E COM A SOCIEDADE CIVIL PARA A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS DO PAIS - Manuel Pinto da Costa - a mais prestigiada e carismática figura histórica do MLSTP, diz que
"temos que criar condições para permitir que os não
militantes do MLSTP possam intervir e ter um voto!”
... "Aqui em São
Tomé, pela experiência que eu tenho: ganhámos as eleições!... Sim senhor!...
Mas, aqui, em STP, um partido político, mesmo que ganhe as eleições com 55
deputados, se não levar a cabo uma politica inclusiva, e se não tentar
encontrar o diálogo com todas as forças politicas e a sociedade civil para nós
identificarmos pontos de consensualidade que dizem respeito ao desenvolvimento
do país, não governaremos!
O primeiro Presidente e fundador da Nacionalidade Santomense,
continua acreditar nas potencialidades do seu pais - Reconhece que
“São Tomé e Principe tem um enorme desafio, de um pais no Golfo da Guiné,
potencialmente rico , com muitas possibilidades!... Não tem que ter
necessariamente petróleo!..Temos uma situação geográfica invejável no
mundo de hoje" - . Palavras da honrosa entrevista que me concedeu, na sua
residência, em S. Tomé, quando me
desloquei a Convite da Associação de Jornalistas de STP, a participar no 3 de Maio de 2019, Dia Mundial da Liberdade da
Imprensa.
Manuel Pinto da Costa - 1- São Tomé e Principe Podemos jogar um papel muito importante, aí neste Golfo da Guiné! - Por uma razão: como pequeno país, nenhum dos grandes pensarão, que nós temos atores potenciais, imperialistas!... Podemos jogar um papel muito importante, aí neste Golfo da Guiné!
São Tomé e Príncipe, encontra-se, atualmente, mergulhado numa profunda crise de múltiplas facetas - politica, social, moral e politica- , por via das restrições impostas pelo confinamento e do pânico gerado à volta do Covid-19, tendo o Governo de Jorge Bom Jesus, decretado a Situação de Calamidade Pública, a entrar em vigor na madrugada de terça-feira, dia 16, e só termina no dia 31 de Julho de 2020. https://www.telanon.info/wp-content/uploads/2020/06/Comunicado-CM-12.06.2020.pdf com desconfinamento da população a ser materializado em 3 fases, tendo ainda estabelecido, medidas gerais e transversais de combate a Covid-19 http://www.stp-press.st/2020/06/13/covid-19-governo-declara-situacao-de-calamidade-publica-e-lanca-medidas-gerais-e-transversais-de-combate/
A turbulência política, em STP, nem mesmo em tempo de confinamento, cessa de conflituar – As oposições no interior dos partidos vão-se extremando e conflitualizando cada vez mais. Cada clientela politica prefere extremar posições e não deixar espaço para a interpenetração e apaziguamento.
Agora, já não se fala de outras doenças – a não ser do Covid-19 - Doenças essas que continuam a matar, tal como o paludismo e a gripe, a tuberculose, entre outras – E, então, com a Gravana à porta, porventura, o mais provável é meter-se tudo nas mesmas estatísticas, tais as dúvidas e a confusão que corre pelo resto do Mundo, como se apenas houvesse uma única doença capaz de matar.
Erguem-se fantasmas, que só contribuem para gerar estados de angústia, sentimentos de depressão e pânico – É o que se pode depreender por noticias divulgadas e nas redes sociais. Noticias, mais recentes, dão conta do registo de 9 casos positivos de covid-19, elevando o total para 659, tendo-se ainda registado novas recuperações que passam de 168 para 176 recuperados, anunciou a porta-voz do Ministério da Saúde. http://www.stp-press.st/2020/06/13/covid-19-sao-tome-e-principe-com-mais-9-casos-total-sobe-para-659-e-com-novas-recuperacoes
Quem já se esqueceu da "chamada doença desconhecida?" |
É INDISPENSÁVEL MANTER A SERENIDADE E PROMOVER O DIÁLOGO - HÁ QUE TER SERENIDADE COM A PANDEMIA COVID-19 -E NÃO EXTREMAR POSIÇÕES
“Eu vendi utopias! Vendi Ilusões! Vendi esperanças!... Que não são concretizadas!... E eu não posso, de maneira nenhuma, tendo forças, como tenho! – a cabeça ainda funciona! - Eu não posso dizer que não me meto nisso!...
O que eu tenho dito às pessoas é o seguinte: Eu não tenho ambições de liderar nada mas estou disponível a dar o meu contributo naquilo em que eu possa ser útil! Estou completamente disponível!... Porque, São Tomé e Principe é um desafio enorme!...Grande desafio!...
Um país no Golfo da Guiné!...Potencialmente rico!... Com muitas possibilidades!... Não tem que ter necessariamente petróleo!... Não.
Além do peixe ( da agricultura), temos uma situação geográfica invejável no mundo de hoje!... E não é por acaso, por exemplo, que nós tivemos a visita do Presidente do Brasil, Lula da Silva, duas vezes!
Porquê?... Por amor a São Tomé?... Não!... Pela importância geográfica que São Tomé tem –
JTM - E apontou as escassas horas de voo, que podem ligar os dois país, bem como os países vizinhos do Golfo da Guiné, assim como Angola, e África do Sul, frisando:
MPC - “Nós situamo-nos numa posição ideal; ainda por cima, São Tomé e Principe, não tem fronteiras terrestres, com nenhuns países africanos, pode, jogar um papel importante na busca de paz e de tranquilidade para toda esta zona. Servindo de intermediário”
Por uma razão: como pequeno país, nenhum dos grandes pensarão, que nós temos atores potenciais, imperialistas!... Podemos jogar um papel muito importante, aí neste Golfo da Guiné!
Os peritos santomenses, infelizmente não têm ainda consciência do valor e da importância do seu pais.
Mais: eu digo-lhe, aqui em São Tomé, pela experiência que eu tenho: ganhámos as eleições!... Sim senhor!... Mas, aqui, em STP, um partido político, mesmo que ganhe as eleições com 55 deputados, se não levar a cabo uma politica inclusiva, e se não tentar encontrar o diálogo com todas as forças politicas e a sociedade civil para nós identificarmos pontos de consensualidade que dizem respeito ao desenvolvimento do país, não governaremos!
Em 1985, eu fiz um discurso no Principe, e, naquela altura, eu dizia. Meus senhores!...Camaradas!
Nós vamos passar para a 10ª classe!... De 75 para 85!... Mas temos que reconhecer que, nós chumbámos em muitas matérias!... Portanto, não vamos cometer os mesmos erros que cometemos até hoje....
Em São Tomé e Principe, nós temos militante do MLSTP!... Mas a maior parte da população, não são militantes do MLSTP!... Mas têm os mesmos direitos e os mesmos deveres, que os outros!
Temos que criar condições para permitir que os não militantes do MLSTP possam intervir e ter um voto!... - Só que, naquela altura, eu não falei ainda dos partidos.
Foi nessa altura, que mudámos os estatutos do MLSTP e introduzimos o direito à tendência no seio do partido para as várias sensibilidades!... – Isso foi feito no meu tempo...Foi em 85: abrimos, portanto, um espaço no seio do próprio partido!... Isso deu a possibilidade, de muitos elementos, que eram da Associação Cívica, que não mandavam no MLSTP, regressaram ao MLSTP. ... Eu faço, uma tendência especial no seio do MLSTP
Em 86 apareceu o Banco Mundial!... Foi na altura, em que no meu discurso, eu dizia o seguinte: ter o poder absoluto, não nos leva a lado nenhum!... Porque, o que nós tínhamos, em São Tomé, a estrutura do Estado, era toda ditatorial...
Em todos os países africanos, o que é que nós tínhamos?... Partido único!... E acontece, que os países com partido único, surgiram apoiados pela própria potência colonial!... Por uma razão: em África, o que é que nós tínhamos?.... Rivalidades tribais!.... Se nós deixássemos, que a potência colonial, favorecesse o surgimento de vários partidos, pois, só nos Camarões, teríamos mais que 100 etnias!... Gabão, teve mais que 30 etnias!... São 30 partidos!... 200 partidos!...Isso iria contra os interesses da própria potência colonial... Em tanta confusão, já não tinha todo o interesses da própria potência colonial!... Já não teria tanto interesse, em ter um partido único!
(...) O processo, que eu iniciei em 85, culminou em 89 com a Conferência Nacional, que abriu espaços a outros partidos”
JTM - Nessa altura. Manuel Pinto da Costa, não concorre, afasta-se da política?.
MPC –Sim. Para deixar às novas forças, campo aberto a outros partidos, porque, a figura de Pinto da Costa, era uma figura muito pesada...
JTM – Quis permitir que as pessoas pudessem discutir!... Mas depois, houve alguns atritos...
MPC - Deixei também a liderança do MLSTP
JTM- Para que o Partido tivesse mais liberdade
....o MLSTP, que nós temos hoje, não tem nada a ver com o MLSTP dos anos 75 e 80, que teve de se adaptar às mudanças (globais)
Manuel Pinto
da Costa – O Diálogo e o Papel Santomense no Golfo da Guiné! – 12 de Julho de
2015 -
JTM Aliás, no seu discurso de 12 de Julho de 2015, recordei-lhe ter afirmando que “o diálogo nunca é uma causa perdida"
Mas deixe-me dizer-lhe: eu vi sempre, em si, uma vida entregue a esta pátria!... Era estudante, sacrificou uma vida, e sempre foi uma referência ideológica e democrática! ... Porque, há pessoas, que, internacionalmente, que o classificam de marxista! De mão de ferro!... Enganam-se!... Enganam-se, porque, é graças a si, que, São Tome e Principe, é um exemplo único em África, onde o processo democrático evoluíu, sem carnificinas, sem violência
MPC – Eu vou explicar: nós tivemos dois esforços no seu do MLSTP. Nos anos 75:
Quando cheguei a São Tomé, havia um movimento, Associação Cívica, por exemplo, que era (um bocado extremista – a expressão é minha)!... Eu acompanhei-os nalgumas discussões) no seio do MSTP; quis-se definer que o objetivo do MLTP, era construção de todos no socialismo científico!...
E, apontando, de novo para um rascunho, sobre a sua secretária, recorda o que então afirmou, apontando um algarismo:
Esse número era difícil!... Isso era uma utopia!... Eu vivi num país num país socialista 10 anos !...(Alemanha do leste)... Eu conheço o fundo socialista da Alemanha!... Tinha estrutura socialista mas não tinha um homem socialista!... Um homem socialista, independente, não existe!...
No momento, que nós estamos a viver!...(nesses primeiros anos pós a independência) Está bem.... Só, dentro de três ou quatro gerações, é que poderá surgir esse ideal socialista!... Mas, neste momento, vocês querem o socilaismo em São Tomé e Principe?!...
Onde é que está a classe trabalhadora?!...Onde está o apoio ao campesinato?!... É uma utopia!...
Além disso, o que é que vocês percebem do marxismo Leninismo?!.. Nada!... Não aprenderam nada!... Portanto,não se deixem impressionar com essa propaganda!...
– Já agora, aqui um aparte, eu era na altura jornalista da Rádio Comercial , e fui ao aeroporto! E, quando me viu, veio logo ao meu encontro: “Então, Jorge Marques!” – E houve uma pergunta dos jornalistas, se o pluraralismo, ia mesma avançar? – Sim, sim! – Responde
MPC – “O Estato do MSTP, então era o de que, São Tomé e Principe, vai evoluir para um sistema não capitalista: o que é isso?... Não é nada!... Não é socialismo! Não é capitalismo!... Isso não é nada!..
Bom, isso resultou de várias discussões! no sentido de encontrarmos um meio termo!... Que também, no fundo, não era nada!...
Manuel Pinto da Costa, recuando, ainda aos números da sua memória, que ia traçando num rascunho sobre a sua secretária e à minha frente, aponta, sem margem para dúvidas, que a primeira Conferência Nacional, que se fez em África, foi feita em São Tomé.
Nessa conferência Nacional, estiveram presentes, os homens de Benin!... Só depois da conferência Nacional de São Tomé, é que, Benim, realizou a sua conferência nacional!.... E, Benin, aparece hoje em África, como o primeiro país africano, que realizou a primeira conferência nacional, não foi!... E,porquê?...
Por uma razão simples: a França, depois, com o seu poder, é que lançou o Benin!... Mas, antes, esteve na nossa Conferência Nacional, assistir!
Quando fizemos, a Conferência Nacional, eu recebi, aqui, uma delegação da Hungria!... Uma delegação da Polónia!...Uma delegação da União Soviética!... Todos! Para verem, em São Tomé e Principe, este processo de mudança!... Como é que está a correr!... Porque eles também estavam a viver um processo.
JTM – Para verem, como é que as coisas, estavam a evoluir em São Tomé!
– Recebi uma delegação da União Soviética, com a presença do Embaixador da União Soviética, que vivia nesta casa, alí em frente – Apontando o braço em direção à residência que então habitava.
MPC – Vieram para me dizer que, os soviéticos, estão muito preocupados com toda a evolução, aqui em São Tomé e Principe!...
Eu olhei para o Embaixador, e disse-lhe: ouça lá!... Por respeito ao Povo da União Soviética, eu não vos ponho na rua!... Porque, aquilo que nós estamos a fazer em São Tomé, é aquilo que o povo quer!...- Pressentiam o Gorbachev, que acabava de entrar...
Aquilo que estamos a fazer, em pequena escala, aqui em são Tomé e Principe, eles serão obrigados a fazer em grande escala!... Ou muda!... Ou então será enterrado!...
Porque, o Mundo de hoje – e movimentando os dedos das mãos, diz: é um mundo que se vai desagregando!
– Porque, o mundo atual, já não tem nada de solidário... Mesmo as grandes potências!.. Tanto a China, já não é a mesma que no tempo de Mao Tse Tung, que conheceu!
E, Manuel Pinto da Costa, aponta-me o retrato do grande líder da revolução Chinesa, exposto sobre uma mesinha, ao lado da sua secretária, dizendo:
MPC - Está ali!...
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