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quarta-feira, 25 de março de 2020

BOCAGE " Ó TREVAS QUE ENLUTAIS A NATUREZA “ – Versos do mais importante poeta português do século XVIII. – Evocada nestes dias de isolamento e de incerreza


Jorge Trabulo Marques - Peregrino da Luz - Luis de Raziel




O trevas que enlutais a Natureza
Longos cipestres desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza;

Manes, surgidos da morada acesa,
Onde de horror sem fim Plutão se goza,
Não aterrais esta alma dolorosa,
Que é mais triste que vós minha tristeza

Perdi o galardão da fé mais pura,
Esperanças frustrei do amor mais terno,
A posse de celeste formosura,

Volvei, pois, sombras vãs, ao fogo eterno;
E lamentando a minha desventura,
Movereis à piedade o mesmo inferno"



Em 1797 Bocage foi preso ao divulgar o poema Carta a Marília, cujo verso inicial é “Pavorosa Ilusão de Eternidade”.

Pavorosa Ilusão de Eternidade,
Terror dos vivos, cárcere dos mortos;
D’almas vãs sonhos vão, chamado inferno;
Sistema de política opressora,
Freio que a mão dos déspotas, dos bonzos
Forjou para a boçal credulidade;
Dogma funesto, que o remorso arraigas
Nos termos corações, e a paz lhe arrancas:
Dogma funesto, detestável crença,
Que envenena delícias inocentes! (...)

Biografia de Bocage - "1765-1805 - foi o mais importante poeta português do século XVIII. - Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal, às margens do rio Sado, em Portugal, no dia 15 de setembro de 1765. Filho de José Luís Soares de Barbosa, juiz de fora e ouvidor, e de Mariana Joaquina Xavier l'Hedois Lustoff du Bocage, descendente de família da Normandia, região histórica do noroeste da França.
Em 1783 Bocage alistou-se na Marinha de Guerra, embarcando para a Índia três anos depois, onde foi promovido a tenente e mandado para Damão, desertando logo depois
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Ao fugir da Marinha, viveu em Macau e de lá retornou ao seu país em 1790. No regresso à Lisboa, apaixonou-se pela mulher do seu irmão e entregou-se à boemia. Nessa época, escreveu versos sobre a desilusão amorosa e as dificuldades financeiras.
Bocage e o Arcadismo
Considerado como o grande poeta do Arcadismo de Portugal, apesar de ter deixado fama de poeta satírico, Bocage é um dos maiores poetas líricos da literatura portuguesa.
Com o pseudônimo de Elmano Sadino, participou da associação de poetas denominada “Nova Arcádia” ou Academia das Belas-Artes, que surgiu em Portugal em 1790, escrevendo poesias que falam de pastores, ovelhas e da mitologia clássica.
O próprio nome do movimento faz referência à Arcádia, região da Grécia onde, segundo a mitologia, pastores e pastoras levavam uma vida inocente e feliz, em contato com a natureza.
A academia publicou algumas poesias sob o título de Almanaque das Musas e teve curta duração, conquistando prestígio somente com a produção de Bocage e de José Agostinho de Macedo. Indispondo-se com o mesmo, ao satirizar os confrades, afastou-se da academia. Mais pormenores em https://www.ebiografia.com/bocage/




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