"Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada
Miguel Torga, in 'Câmara Ardente'
"Pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, autor de
uma produção literária vasta e variada, largamente reconhecida. Nasceu em S.
Martinho de Anta em 1907. Depois de uma experiência de emigração no Brasil
durante a adolescência, cursou Medicina em Coimbra, onde passou a viver e onde
veio a falecer em 1995. Foi poeta presencista numa primeira fase; a sua obra
abordou temas bucólicos, a angústia da morte, a revolta, temas sociais como a
justiça e a liberdade, o amor, e deixou transparecer uma aliança íntima e
permanente entre o homem e a terra. Estreou-se com Ansiedades, destacando-se no
domínio da poesia com Orfeu Rebelde, Cântico do Homem, bem como através
de muitos poemas dispersos pelos dezasseis volumes do seu Diário; na obra de ficção
distinguimos A Criação do Mundo, Bichos, Novos Contos da Montanha, entre outros. O Diário ocupa um
lugar de grande relevo na sua obra. Também como escritor dramático, publicou
três obras intituladas Terra Firme, Mar e O Paraíso. Recebeu o Prémio Camões em 1989 e o prémio Vida Literária
(atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores) em 1992. https://www.wook.pt/autor/miguel-torga/3951
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