Em São Tomé e Principe -" Quando o
Luar caiu e tingiu de escuro os verdes da ilha- - Pela voz do Poema de
Conceição Lima - Nestes dias de incerteza, solidão e angústia, vale a pena
meditar, rezar ou ter à mão, como lenitivo a leitura da bela poesia ou da
sentida e profunda oração - Leia os belos poemas de Conceição Lima e retomará naturalmente, a tão desejada tranquilidade - Um novo estímulo ou fôlego espiritual - Sugestão de
Jorge Trabulo Marques
Embora
não sendo recentes, os versos que tomei a liberdade de recordar, dir-se-á que,
de algum modo, se refetem no sentimento de ausência e da incerteza dos dias que
passam - Até porque, a palavra poética, contém o dom de fazer refetir e de
acalentar ou de acalmar,mesmo quando pelos versos perpassa a dor ou o
sofrimento da perda ou do amor não correspondido
"QUANDO O LUAR"
tingiu
de escuro os verdes da ilha
cheguei,
mas tu já não eras.
Cheguei
quando as sombras revelavam
os
murmúrios do teu corpo
e
não eras.
Cheguei
para despojar de limites o teu nome.
Não
eras.
sustentam
a tua ausência
recusam
o ocaso do teu corpo
mas
nao és.tingiu de escuro os verdes da ilha
cheguei,
mas tu já não eras.
Cheguei
quando as sombras revelavam
os
murmúrios do teu corpo
e
não eras.
Cheguei
para despojar de limites o teu nome.
Não
eras.
As
nuvens estão densas de ti
sustentam
a tua ausência"
"INEGÁVEL
Por dote recebi-te à nascença
e conheço em minha voz a tua fala.
No teu âmago, como a semente na fruta
o verso no poema, existo.
e conheço em minha voz a tua fala.
No teu âmago, como a semente na fruta
o verso no poema, existo.
Casa marinha, fonte não
eleita
a ti pertenço e chamo-te minha
como à mãe que não escolhi
e contudo amo.
a ti pertenço e chamo-te minha
como à mãe que não escolhi
e contudo amo.
MÃO
e planta no pedaço que te cabe
esta raiz enxertada de epitáfios.
Não seja tua lágrima a maldição
que seqüestra o ímpeto do grão
levanta do pó a nudez dos ossos,
a estilhaçada mão
e semeia
girassóis ou sinos, não importa
girassóis ou sinos, não importa
se agora uma gota anuncia
o latente odor dos tomateiros
"NADA É TÃO REAL COMO ESTA MORADA"
de esplendor e solidão
onde recusamos atraiçoar
a promessa da luz.
Anunciados fomos antes dos erros
enganos e perfídias.
Uma a uma apagaremos
as estrelas de mentira
Removeremos dos caminhos o lixo
e os entraves
Abraçaremos as lavras, sacudiremos
dos livros a poeira.
Nenhum vestígio dos altares erguidos
a deuses absurdos.
Conceição Lima (São Tomé e Príncipe,1961). Poeta e jornalista, licenciada em Estudos Africanos, Portugueses e Brasileiros pelo King’s College de Londres e mestre em Estudos Africanos pela School of Oriental and African Studies de Londres.
Pela Editorial Caminho, de Lisboa, publicou os seguintes livros de poesia: O Útero da Casa (2004), A Dolorosa Raiz do Micondó (1ª edição 2006, 2ª dição 2008) e O País de Akendenguê (2011). Em 2015, publicou Quando Florirem os Salambás no Tecto do Pico. A Dolorosa Raiz do Micondó foi selecionado, em 2014 pelo Programa Nacional de Bibliotecas Escolares do Brasil, PNBE, com uma tiragem de 32.000 exemplares. https://revistaphilos.com/2019/11/07/quatro-poemas-santomenses-por-conceicao-lima/
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