expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

terça-feira, 3 de março de 2020

Entrevista a Adelino Palma Carlos - Primeiro-Ministro do 1º Governo Constitucional – Palavras para a História de Portugal - Faro, 3 de Março de 1905 — Lisboa, 25 de Outubro de 1992 - Se fosse vivo teria hoje 115 anos.


JORGE TRABULO MARQUES  - C  ENTREVISTA PARA A HISTÓRIA DE PORTUGAL –  3ºPARTE DA ENTREVISTA QUE ME CONCEDEU EM SUA CASA - COMO ELE VIU A REVOLUÇÃO DE ABRIL




Adelino Palma Carlos –  Primeiro-ministro do Iº Governo Provisório (de 16 de Maio a 18 de Julho de 1974, nomeado pelo General Spínola  – Como 11.º bastonário da Ordem dos Advogados Portugueses teve um importante papel na consolidação institucional e na internacionalização daquela corporação. Foi grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, a principal organização da maçonaria portuguesa. Foi fundador do escritório de advogados actualmente designado de A.Palma Carlos. Faleceu aos 87 anos, em Lisboa.  

“Professor universitário, advogado e político português. Personalidade forte, inteligente, culto e de extraordinária capacidade de trabalho” Dou-me a honra e o prazer de me receber em sua  casa e de ali me conceder uma interessante entrevista acerca de alguns dos mais importantes passos da sua vida profissional e politica, nomeadamente, como opositor ao regime ditatorial de Salazar, defensor dos presos políticos, da alegria que sentiu  - até às lágrimas - quando tomou conhecimento do golpe vitorioso da Revolução do 25 de Abril, assim como de vários episódios relacionados com a sua participação como 1º Ministro do 1º Governo Provisório 

Palma Carlos, neste excerto, fala   da Revolução de  25 de Abril, que o fez chorar de alegria  até às lágrimas  e do Governo que formou com a participação de Álvaro Cunhal (um ministro consensual E também do seu ideal republicano. da sua oposição ao Salazarismo e dos revolucionários que defendeu, como advogado.

Professor, advogado e político. Destacou-se como primeiro-ministro do I Governo Provisório -(Faro, 3 de Março de 1905 — Lisboa, 25 de Outubro de 1992 (Faro




COMO ELE VIU A REVOLUÇÃO DE ABRIL

 «…fiquei contente!...Chorei, quando soube que era a Revolução!.. Que era para acabar com a ditadura!... Chorei! Chorei comi uma criança!... Não tenho vergonha nenhuma de dizer: chorei!!..

JTM  - Entretanto, chegou o 25 de Abril: o Sr. Prof. foi nomeado Primeiro-Ministro!
APC – Olhe… Essa história é engraçadíssima!... Eu não fazia  ideia nenhuma de que ia haver a Revolução… Aliás, eu era Presidente das companhias reunidas de gás e eletricidade: tinha sido convidado pelo General Gaspar dos Santos e era Presidente das Companhias… Quando eu vim para as Companhias, encontrei lá instalado, um coronel na Reserva, que era o coordenador de segurança das Companhias de Gás  e Eletricidade, da Sacor, da Companhia das Águas, da Companhia Nacional de Eletricidade  e da Petroquímica… Bom, esse homem, estava perfeitamente a par de tudo o que se desenrolava!... E até tinha uma coisa engraçada!... Sabendo que eu era uma pessoa, contra a situação, ele recebia todos os panfletos (não sei da onde) que saíam contra a situação e dava-mos para eu ler!... Ele é que fazia propaganda, junto de mim, contra a situação!... E estava sempre a par!... Quando foi da reunião dos capitães, em Évora, na Intentona de Março, ele disse-me: “Isto está mau!!..Agora o Movimento de Oficiais, em Évora!... Não se o que isto vai dar!...
Bem , continuámos, pacatamente!... No dia 25 de Abril de Madrugada!... Estava a dormir!...Aparece-me uma das empregadas, com o telefone, dizendo-me: “Sr. Douro! É o engenheiro da  Companhia do Gás, que tem muita necessidade de falara consigo!..” -Então traga lá o telefone!
Era o homem a dizer: “Sr. Presidente! Rebentou a Revolução?!...”
- Rebentou a Revolução?!...
-  “Rebentou a Revolução!!”
- E então o coronel, o que é que faz?!...
- “O Coronel, não está cá!... Não se sabe do coronel!...
Telefonei para o coronel, que eu tinha aí o número de telefone dele (que morreu, coitado, dois ou três meses, depois da revolução) … estava a dormir, como um anjo!...
- Então, Sr. Coronel!... Está uma revolução na rua!
- “Esta uma revolução na rua?!...”
- Está!... E então o Sr. não sabe de nada?!...
Está  a ver!... Fui eu que informei o Coordenador de Segurança, que tinha rebentado a revolução!...

Bom, eu fui para a Companhia, juntámo-nos lá os Membros  da Comissão Executiva,  que cá estávamos, que éramos cinco só, e passamos o dia, ali… Veio uma Ordem do Ministério do Interior, por intermédio da Direção Geral dos Serviços Elétricos (a que nós estávamos subordinados) para que se interrompesse a corrente elétrica, lá para cima, par o Parque Eduardo VII… E o Engº da Companhia disse: se nós interrompemos a corrente elétrica, nós ganhamos nada com isso!... Eles têm geradores e continuam a emitir da mesma maneira!
- E então eu disse: há alguma ordem escrita?!..
- Não há nenhuma ordem escrita!
- E então diga-lhe que mandem a ordem por escrito!... Nós estávamos subordinados ao Governo!... Era uma companhia concessionária!... Mandaram a ordem escrita… E então interrompeu!... Até que, às tantas, à tarde, eu mandei ligar!... Porque, já não havia Governo!... Não havia nada!..
Bom, estivemos ali todo o dia, sem saber o que se passava, com a televisão aberta!... Com a telefonia aberta!... Almoçámos, mesmo lá, na cantina da Companhia!. E olhe, nos dias seguintes, fiquei contente!...Chorei, quando soube que era a Revolução!.. Que era para acabar com a ditadura!... Chorei! Chorei comi uma criança!... Não tenho vergonha nenhuma de dizer: chorei!!..




JTM – Depois, foi entretanto nomeado Primeiro-ministro!...
APC – E depois… aí é que a coisa, começa a ter um certo pitoresco, começaram a ouvir dizer-me que eu ia ser nomeado Primeiro-Ministro!... Não sejam tontos!... Porque é que eu havia de ser nomeado Primeiro-ministro?... Que ideia é essa?!...
- Mas eu acho que você é que vai ser o Primeiro-ministro!.. Você é que vai ser o Primeiro-ministro!..
Até, que, um domingo (tenho este telefone, que não está na lista) e ligara-me por este telefone (era confidencialíssimo) as era da Presidência da República, era ali de Belém); era o Capitão António Ramos, a dizer-me: - Ó Sr. Dr.! O Sr. General Spínola, tem muita necessidade de falar consigo!” - Então está bem
Eu conhecia o Spínola, já há bastante tempo: “então quando é que ele quer que eu vá falar com ele?”
- “Amanhã às quatro horas! – No dia seguinte, às quatro horas eu fui lá, e ele disparou:
- Tenho um Governo pronto! Falta-me o Primeiro-ministro!... Você tem de ser o Primeiro-ministro!
- Não me fale nisso!.. Não tenho a minha vida organizada para isso!... Vivo da minha profissão!.. Não pode ser!... Deixe-me pensar!...
- Então pense até amanhã!...
Eu resolvi pensar dois dias mas não pude!... No dia seguinte, telefonava-me ele outra vez!..

JTM – E teve que aceitar!
APC – E tive que aceitar!.. Pronto!...
JTM – Foi um tempo agitado, na altura?
APC – Olhe!... Foi o pior tempo da minha vida!.. Foi o pior tempo da minha vida!... Extremamente agitado!... O Governo era um Governo não homogéneo!... Porque tinham querido fazer um Governo de coligação  - Quem  fazia o Governo não era o Primeiro-Ministro: o que estava na Lei Constitucional nesse tempo:  era o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, só fazia trabalhos num Governo, que lhe tinham oferecido!...
E eu dizia: façam um Governo de Gestão, que é o que é preciso, nesta altura.
-“Ah mas é melhor fazer um Governo de coligação….”
- “Então façam um Governo de coligação” – Eu tive lá, desde o Álvaro Cunhal, até esse homem monárquico, que aí anda, o Ribeiro Teles!.. A Pintassilgo!... Estava no meu Governo!..

JTM - Havia então alguma confusão…
APC- Devo-lhe dizer que, nas reuniões do Conselho de Ministros, havia às vezes divergências… Pois cada um tinha a sua opinião sobre os problemas que se colocavam… Havia muitos problemas a resolver... Havia divergências!... Eu tentava soluciona-las mas elas … mas é uma justiça que eu nunca deixo de fazer ao Cunha, é esta:  é que, quando a coisa estava numa situação quase de impasse, o Cunhal encontrava sempre uma solução de equilíbrio, que todos acabavam por aceitar!... É um político extraordinário!...

JTM – Acha que o Partido Comunista Português devia ser chamado também a contribuir, também no Governo?
APC – Quando eu era Primeiro-ministro, veio cá, o Mitterrand e o d’Ferry, vieram cá: fora-me visitar. Estava um bocado preocupados por haver comunistas no Governo; era o Álvaro Cunhal e mais o Adelino Gonçalves, Ministro do Trabalho, que era um sindicalista bancário, o Porto, que tinham metido lá… O Mitterrand, às tantas, disse-me: - “mas você não se preocupa pelo facto de ter comunistas no Governo?”
- Bom, não sei porque é que você me faz essa pergunta, quando, você, agora, constitui em França,  a União de Esquerda, de Socialistas e de comunistas!... Se você lá, anda de braço dado com eles, não sei  porque estranha que eu tenha aqui dois ministros comunista, num Governo!... Onde estão numa minoria flagrante!...

JTM – Olhe, na altura quais foram os problemas mais difíceis que teve de enfrentar nesse período?
APC -  Tive logo de entrada uma greve dos correios… Passados, dois ou três dias, não havia correios, não havia telefones, não havia coisa nenhuma… E eu disse: isto não pode ser!... Não podemos estar sem comunicações… Chamei o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, que era o Costa Gomes, e disse-lhe: ó Sr. General! Nós temos de ocupar militarmente os correios para acabar com isso!...
- Oh diabo! Isso é uma coisa complicadíssima!"

NOTAS BIOGRÁFICAS  -Adelino Hermitério da Palma Carlos nasce a 3 de Março de 1905, em Faro, vindo a falecer a 25 de Outubro de 1992, em Lisboa. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, com a nota final de 18 valores, foi delegado da Faculdade de Direito à Federação Académica. Conclui o doutoramento em Ciências Histórico-Jurídicas, também na Universidade de Lisboa, em 1934. Advogado reconhecido, defendeu inúmeras figuras oposicionistas à ditadura, como Norton de Matos, Bento de Jesus Caraça e Vasco da Gama Fernandes. Foi também professor na Escola Rodrigues Sampaio, no Instituto de Criminologia de Lisboa e, como Catedrático, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, da qual viria a ser director. Foi jubilado em 1975. Em 1949, foi mandatário da candidatura do general Norton de Matos à Presidência da República. Em 1951 exerceu funções como Bastonário da Ordem dos Advogados portugueses. A 16 de Maio de 1974 é nomeado primeiro-ministro do I Governo Provisório, pedindo a demissão a 18 de Julho desse ano. Em 1975 funda o Partido Social-Democrata Português. Foi mandatário e membro da comissão de honra da candidatura do general Ramalho Eanes à Presidência da República (1979). Pertenceu ao conselho consultivo do Partido Renovador Democrático. Em 1986 recebe a insígnia de Advogado Honorário. Adelino da Palma Carlos | 1905-1992 - Memórias da .


Adelino Hermitério da Palma Carlos - Faro, 3 de Março de 1905 — Lisboa, 25 de Outubro de 1992-  Professor universitário, advogado e político português. Personalidade forte, inteligente, culto e de extraordinária capacidade de trabalho, foi primeiro-ministro do I Governo Provisório (de 16 de Maio a 18 de Julho de 1974). Como 11.º bastonário da Ordem dos Advogados Portugueses teve um importante papel na consolidação institucional e na internacionalização daquela corporação. Foi grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, a principal organização da maçonaria portuguesa. Foi fundador do escritório de advogados actualmente designado de A.Palma Carlos.

Adelino Hermitério da Palma Carlos foi um professor universitário, advogado e político português. Antifascista desde a juventude, cidadão de grande estatura intelectual, era uma personalidade forte, inteligente, culto e de extraordinária capacidade de trabalho. Apesar da sua assinalável competência como jurista, foi afastado compulsivamente de todas as funções no Estado, em 1935, apenas por perfilhar opiniões políticas divergentes, e sem que lhe fosse imputada qualquer infracção disciplinar ou menor dedicação ou competência no exercício dessas funções.
Fez parte de um afastamento colectivo de 33 funcionários públicos, demitidos das funções que exerciam, em 14 de Maio de 1935, ao abrigo do DECRETO-LEI N.º 25:317 assinado por Carmona e Salazar, (“Diário do Governo”, I Série, n.º 108, de 13 de Maio de 1935), nos seguintes termos: «Os funcionários ou empregados, civis ou militares, que tenham revelado ou revelem espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituição Política, ou não dêem garantia de cooperar na realização dos fins superiores do Estado, são «aposentados ou reformados, se a isso tiverem direito, ou demitidos em caso contrário», não podendo ser «nomeados ou contratados para quaisquer cargos públicos nem admitidos a concurso para provimento neles.» - EXCERTO DE  https://www.facebook.com/FascismoNuncaMais/photos/adelino-da-palma-carlos-1905-1992adelino-hermit%C3%A9rio-da-palma-carlos-foi-um-profe/716643091778406/


Nenhum comentário :