Jorge Trabulo Marques – Jornalista e investigador
Não sendo propriamente o católico
tradicional, mas um místico ao meu modo, quis mostrar à Irmã Lúcia o testemunho
da minha admiração e contar-lhe um dramático episódio, que vivi no dia 13 de
Maio de 1956, num domingo, quando caí a um poço com minha irmã, além de alguns
pormenores da minha odisseia de 38 dias perdido a bordo de uma piroga no Golfo
da Guiné -
Anos 80 - Com o poço, já emparedado |
A
minha irmã, Conceição, tirava a água com um caldeiro na
ponta de um picanço para regarmos a horta: eu estava uns metros abaixo a
desviá-lo da única pedra que existia na sua margem. Quando o varal
partiu
e se soltou, ela despenhou-se sobre mim e fomos os dois ao fundo –
Nenhum de nós sabia nadar. Jamais me esquecerei dos gritos de aflição,
implorando: “Nossa Senhora de Fátima! Nossa Senhora de Fátima,
socorrei-nos! -Esse episódio marcaria para sempre a minha vida, que
tem sido um MILAGRRE - E creio que aquele foi o primeiro milagre que eu
conheci - Naquele dia, tinhamos ido à procissão de Festa de Nº Srª de
Fátima, em Tomadias, Santa Comba, após o que dali partimos para regarmos
a horta no Vale Cardoso
.
.
SÓ
QUEM NAVEGA À FLOR DE TORMENTOSO MAR, SOB AS MAIS CERRADAS TREVAS,
SENTE VERDADEIRAMENTE O MÍSTICO E POÉTICO IMPULSO DA CRENÇA OU DA FÉ - Se deslumbra com a solar plenitude do milagre de um amanhecer cintilante e esplendoroso
Por isso, a fé que me conduz e guia, é mais aprendida na intensa experiência da minha vida de que em quaisquer ensinamentos doutrinários – Todavia, muito admiro quem faz da sua existência um devotado e perene sacerdócio de devoção e de fé, dedicado à palavra de Cristo – É o exemplar legado da irmã Lúcia, a quem dirigi uma singela carta, pouco antes de ser chamada para outra missão.
Em mais uma das centenas de orações, como expressão artística |
Embora imbuído por convicções profundamente místicas, não me considero propriamente
o católico apostólico praticante no sentido tradicional do termo, já
que sou mais induzido a devaneios espirituais por força de sentimentos
de circunstância e ocasionais
(que me esforço de poder ter) de que por rígidos conceitos teológicos
ou doutrinários, se bem que os respeite e admire tal como a mítica
figura de Cristo, maravilhoso exemplo de entrega e de virtudes. Mas, a
bem dizer, muitas vezes. nem sei o que sou: ou haverá alguém que seja
sempre inteiramente igual e não tenha os seus heterónimos, as suas
hesitações e divagações?...
Ainda
em vida da Vidente Irmã Lúcia, mandei-lhe uma singela carta, através da
qual lhe descrevi alguns episódios da minha vida - (...) - um deles bem
dramático, em que, num dia, desses meus verdes anos, a 13 de Maio, de
1956, pouco antes de ir a trabalhar como marçano para Lisboa, caí a um
poço, barrento e fundo e me ia afogando com a minha irmã. Também lhe
falei das minhas aventuras marítimas, juntamente com o envio de algumas
imagens, como preito de homenagem e testemunho da minha mais profunda
admiração, pela sua estoica vida, toda ela dedicada ao culto da sua fé .
Desejava-lhe muitos anos de vida, mas no mês seguinte, adoeceu e, não
tendo recuperado, partiu, certamente, de olhos postos na imagem que
tanto venerava.
Tomo
a liberdade de lhe enviar esta minha simples carta, acompanhada do
relato e fotos de uma odisseia, por mim vivida nos agitados mares do
grande Golfo, tendo apenas por companhia uma simples bússola para me
orientar.
A minha saudosa irmã Conceição, que Deus levou muito nova, deixando então duas filhinhas, tinha uma grande devoção em Nossa Senhora de Fátima. E o episódio que lhe vou recordar, ilustra, justamente, esse facto, quando eu tinha onze anos e ela 15 .Foi a um domingo, dia 13 de Maio. Regávamos a nossa horta no Vale Cardoso. Ela retirava a água do poço com ajuda do picanço; eu estava uns metros mais abaixo para afastar a vara e o caldeiro de uma pedra. Nisto, o picanço rebenta, ela cai e arrasta-me consigo para o fundo do poço. Este era fundo e com margens barrentas. A nossa aflição, como deverá calcular, era enorme. Nenhum de nós sabia nadar. Quando vinha ao de cimo, ela gritava por Nossa Senhora de Fátima; eu gatinhava junto à margem, estava aterrorizado e apenas cerrava a boca para evitar engolir mais água. O meu irmão Fernando, então com nove anos, que encaminhava a água, apercebendo-se, corre em nosso auxílio. A minha imã grita-lhe para ir buscar uma cana e para descer até um tufo de juncos que havia na margem, e é o que faz sem perda de tempo. Estende-lhe a cana, ela agarra-se à mesma e consegue gatinhar pela íngreme vereda. Depois, estende-me a mão e salva-me também.
CARTA À IRMÃ LÚCIA
Jorge T Marques . Finais dos anos 50 |
Com um conterrâneo meu - século XXI |
“Lisboa, 18 de Outubro de 2004.
À vidente Irmã Lúcia:
Mais tarde com a primeira filha |
Sim,
dirijo-lhe estas linhas e a descrição dessa aventura, como preito da
minha homenagem e a expressão da minha mais profunda admiração, porque
vejo em si a representação de um espírito abençoado, pelo que só peço a
Deus que lhe dê muita saúde e ainda muitos anos de vida.
Carta publicada no OFOZCOENSE |
A minha saudosa irmã Conceição, que Deus levou muito nova, deixando então duas filhinhas, tinha uma grande devoção em Nossa Senhora de Fátima. E o episódio que lhe vou recordar, ilustra, justamente, esse facto, quando eu tinha onze anos e ela 15 .Foi a um domingo, dia 13 de Maio. Regávamos a nossa horta no Vale Cardoso. Ela retirava a água do poço com ajuda do picanço; eu estava uns metros mais abaixo para afastar a vara e o caldeiro de uma pedra. Nisto, o picanço rebenta, ela cai e arrasta-me consigo para o fundo do poço. Este era fundo e com margens barrentas. A nossa aflição, como deverá calcular, era enorme. Nenhum de nós sabia nadar. Quando vinha ao de cimo, ela gritava por Nossa Senhora de Fátima; eu gatinhava junto à margem, estava aterrorizado e apenas cerrava a boca para evitar engolir mais água. O meu irmão Fernando, então com nove anos, que encaminhava a água, apercebendo-se, corre em nosso auxílio. A minha imã grita-lhe para ir buscar uma cana e para descer até um tufo de juncos que havia na margem, e é o que faz sem perda de tempo. Estende-lhe a cana, ela agarra-se à mesma e consegue gatinhar pela íngreme vereda. Depois, estende-me a mão e salva-me também.
Creia,
já passaram muitos anos, mas a imagem está ainda muito presente na
minha memória. E, sempre que me ocorre, a primeira coisa que me vem à
ideia, são os apelos à Nossa Senhora de Fátima, pois não tenho a menor
dúvida de que ela, nesse dia, nos protegeu.
(....) Aceite, pois, muito humildemente, o preito da minha mais profunda admiração”
O RETORNO AO SAGRADO
Com o escritor Vergilio Ferreira |
A BELEZA E A
SANTIDADE DE UM LUGAR - TIDO COMO ALTAR DO MUNDO - QUE UMA EPIDEMIA INESPERADA
VEIO LIMITAR A PRESENÇA FÍSICA A MILHARES DE PEREGRINOS MAS NÃO SILENCIAR - Em mais um belo poema do poeta e declamador Euclides
Cavaco
Na imagem de família, eu chorei no dia em que a minha irmã fez a 1ª comunhão - Não sei porquê
Foto de família - choramingas |
– Pouco antes da sua morte, telefonei para este Convento a perguntar se ela podia receber correspondência, já que as visitas eram extremamente condicionadas, responderam-me que sim, pelo que tomei a liberdade de lhe enviar, por correio registado, uma pequena carta em 18 de Outubro de 2004, cujo conteúdo publiquei no jornal OFOZCOENSE
Aos 12 anos - um menino marçano em lisboa |
"Lúcia de Jesus Rosa dos Santo, nasceu em
Aljustrel, Fátima, Ourém, 28 de Março de 1907 — E faleceu, em Coimbra, a 13 de
Fevereiro de 2005) foi uma freira da Ordem das Carmelitas Descalças, conhecida
no Carmelo como Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado e pela maioria
dos portugueses simplesmente como Irmã Lúcia, que, juntamente com os seus
primos Santa Jacinta e São Francisco Marto (os chamados três pastorinhos),
assistiu às aparições de Nossa Senhora no lugar da Cova da Iria, em Fátima.
Tinha dez anos e não sabia ler nem
escrever quando alegadamente viu, pela primeira vez, Nossa Senhora na Cova da
Iria, juntamente com os primos Jacinta e Francisco Marto. Lúcia foi a única dos
três primos que falava com a Virgem Maria, a sua prima Jacinta ouvia mas não
falava e Francisco, inicialmente apenas ouvia as palavras de Nossa Senhora, e,
como tal, foi a portadora do Segredo de Fátima. Nos primeiros tempos, a
hierarquia católica revelou-se cética sobre as afirmações dos Três Pastorinhos
e foi só a 13 de outubro de 1930 que o bispo de Leiria tornou público,
oficialmente, que as aparições eram dignas de crédito. A partir daí, o
Santuário de Fátima ganhou uma expressão internacional, enquanto a Irmã Lúcia
viveu cada vez mais isolada. Durante alguns anos ficou na Quinta da Formigueira
em Frossos, Braga, propriedade do bispo de Leiria D. José Alves Correia da
Silva.
Em 17 de Junho de 1921, com 14 anos, o
Bispo de Leiria, José Alves Correia da Silva, proporcionou a sua entrada no
colé gio das irmãs doroteias em Vilar, no Porto, alegadamente para a proteger
dos peregrinos e curiosos que acorriam cada vez mais à Cova da Iria e
pretendiam falar com ela. Professou como religiosa doroteia em 1928, em Tui
(Galiza, Espanha), onde viveu alguns anos. Pouco tempo depois morou em
Pontevedra, Galiza, onde também se lhe apareceu a Virgem em 1925 nas Aparições
de Pontevedra.
Em 1946 regressou a Portugal e, dois
anos depois, entrou para a clausura do Carmelo de Santa Teresa em Coimbra, onde
professou como carmelita descalça a 31 de maio de 1949. Foi neste convento que
escreveu dois volumes com as suas Memórias e os Apelos da Mensagem de Fátima.
Em 1991, quando o Papa João Paulo II visitou Fátima, convidou a irmã Lúcia a
deslocar-se ali e esteve reunido com ela doze minutos. Antes, já se tinha
encontrado também em Fátima com o Papa Paulo VI.
Lúcia morreu no dia 13 de Fevereiro de
2005, aos 97 anos, no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra. O Papa João Paulo
II, nesta ocasião, rezou pela Irmã Lúcia e enviou o Cardeal Tarcisio Bertone
para o representar no funeral. Em 19 de Fevereiro de 2006 o seu corpo foi
trasladado de Coimbra para o Santuário de Fátima onde foi sepultada junto dos seus
primos, Francisco e Jacinta Marto.- Excerto de https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%BAcia_dos_Santos
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