Jorge Trabulo Marques - Jornalista e
Investigador - Este um de vários artigos que temos publicado sobre
alguns aspetos da história da Igreja Católica nas maravilhosas Ilhas de S. Tomé
e Príncipe . Na imagem seguinte, uma das páginas
do relatório de um inspector-escolar - que também era sacerdote - entregue ao Governador da Colónia - E até hoje nunca transcrito dos
arquivos
Uma das páginas do relatório de um padre
e inspector escolar ao Gov. que nunca foi divulgado publicamente - anos 30
Uma das páginas do relatório de um padre e inspector escolar ao Gov. que nunca foi divulgado publicamente - anos 30 |
ILHA DO PRÍNCIPE E A INTOLERÂNCIA
REPUBLICANA - LÁ E CÁ - Documento inédito prá história da igreja católica -
Destruídas igrejas e capelas pela fúria anticlerical - Separação da Igreja do
Estado, na 1ª República, também atingiu a mais primorosa Ilha Verde do Equador.
- Na “Metrópole”: os dias santos passaram a dias de trabalho; dissolvidas
confrarias e irmandades, perseguições ao clero e imposta a censura em jornais
católicos – O Jornal Católico POVO DE FOZ CÔA , dirigido pelo Padre José
António Marrana, também foi perseguido pelos republicanos, que lhe censuraram
textos em várias edições , - A Cidade de Santo António, da Ilha do Príncipe,
que já teve Igreja Catedral, Misericórdia e muitas Capelas e várias Confrarias
e Irmandades de seculares tradições religiosas, viu os atos de culto da sua
Religião, celebrados na dependência de um armazém que o Município, por favor,
lhe cedeu
A separação da Igreja do Estado, na 1ª
República, também atingiu uma das Ilhas Verdes do Equador, com a
destruição de capelas e igrejas - Na “Metrópole”: os dias santos passaram a
dias de trabalho; dissolvidas confrarias e irmandades, perseguições ao clero e
imposta a censura em jornais católicos – É o do que lhe vimos aqui recordar
“Como depois do abandono e secularização
da igreja, deixou de haver na cidade um templo para os actos do culto,
arrumaram-se os objectos, que escaparam à fúria cristianicida da época, num
armazém da Câmara, adaptando-se uma das dependências a capela.
Isto é, a Cidade de Santo António, da
Ilha do Príncipe, que já teve Igreja Catedral, Misericórdia e muitas Capelas e
várias Confrarias e Irmandades de seculares tradições religiosas, viu os atos
de culto da sua Religião, celebrados na dependência de um armazém que o
Município, por favor, lhe cedeu” – Mais adiante, retomamos a descrição.
Há quem diga, que “Não houve perseguição
da I República à Igreja Católica” Que
“essa foi uma ideia construída pela máquina de propaganda do Estado Novo
e de Afonso Costa." In O Portugal
católico da I República é um mito
Mas houve e vimos aqui revelar-lhe
alguns exemplos, que se estenderam além-mar: porventura, não comparável aos dos Cruzados ou perpetrados pela Santa
Inquisição, com a intolerância dos seus fanatismos ou hediondas barbaridades (
historicamente bem documentados) mas a
verdade é que, a natureza humana, quando o ódio lhe ofusca a mente por via de
paixões religiosas ou políticas, não difere substancialmente no seu
comportamento e atitudes.
Separação da Igreja e do Estado em
Portugal (Iª República) em vez de pacificar gerou conflitos
A separação entre a Igreja e o Estado
foi decretada em Portugal em 1911 (20 de Abril), na sequência da instauração da
República em 5 de Outubro de 1910. – Sem dúvida, uma media desejada e
saudada pelas forças politicas mais
progressistas e também por um significativo sector da população – Pois eram bem
conhecidos os exageros a que, um tal
poder absoluto e promiscuidade, vinha conduzindo; - ao misturar-se a religião
com a politica - Que é, no fundo, o que
atualmente acontece nos países muçulmanos – Só que, também naquele
tempo, mais uma vez é a intolerância e o fanatismo a sobrepor-se ao
bom senso, dando lugar às mais violentas perseguições
JORNAL DIRIGIDO POR SACERDOTE - CENSURADO
PELOS REPUBLICANOS
Dantes, a Igreja de mãos dadas com a
Inquisição, desunhava-se na caça às
bruxas, a todo aquele que não professasse a sua doutrina, agora, eram os
republicamos, na caça e no ataque ao clero, às suas igrejas, jornais e
instituições:
O
Jornal “POVO DE FOZ CÔA – do qual aqui lhe mostramos a primeira página de uma
das suas muitas edições censuradas, pelos censores republicanos, instalados na
capital, para onde tinha de ser enviado o jornal antes da sua publicação, sim, é um desses opressores exemplos – Isto
ainda longe do golpe militar de 1926 ter desembocado na ditadura fascista de
Oliveira Salazar, tendo como um dos seus pilares a aliança com a Igreja
Católica.
Veja-se o desabafo do seu diretor, Padre José António Marrana, na edição de
11 de Dezembro de 1916, além de mostrar
o espaço em branco que os censores lhes cortaram, a que deu o título: Da Capital -
Culto à Censura
(…) Podemos atacar os republicanos nos
seus maus actos, declará-los sob a alçada dos tribunaes civis ou criminaes.
Mas quando o fazemos, não atingimos com
as nossas palavras ou escriptos a figura da Pátria tão espesinhada por excessos
e intolerância de toda a ordem.
PARA A HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA NAS
ILHAS VERDES DO EQUADOR
Capela de Nº Srª de Lourdes, na Roça Sundy - Imagem atual - |
Quis um feliz acaso, que, numa das
pesquisas, que a nossa curiosidade e paixão nos move pelo estudo da origem e do
povoamento de S. Tomé e Príncipe – inicialmente através de travessias de
canoas, entre as ilhas e o continente africano; depois vasculhando arquivos ou
palmilhando a orla marítima, em demanda de vestígios arqueológicos – sim, que
deparássemos, entre outra abundante informação, que, a seu tempo contamos
divulgar (parte da qual, acreditamos nunca ter saído da confidencialidade de
velhas prateleiras ou gavetas), como é a descrição que aqui hoje lhe trazemos -
Imagem extraída de São Tomé e Príncipe: Ruínas na Praia
Sim, vimos falar-lhe, não apenas sobre o
lançamento da primeira pedra da
magnifica igreja, no dia 19 de Agosto de 1937, edificada
no Largo Maria Correia, na cidade
de Santo António, como também da vaga
anticlerical, que atingiu esta
maravilhosa ilha, vandalizando e
destruindo os seus mais belos templos religiosos, obrigando o culto dominical a ser realizado num velho
armazém da Câmara Municipal.
O texto seguinte é de um inspetor
escolar, que, por sinal, também era sacerdote, numa vista que efetuou à Ilha do
Príncipe, nos anos 30 – No texto, do
relatório, batido à maquina de escrever
pelo seu punho, a que tivemos
acesso, não é referido o nome, terminando com uma assinatura, que não logramos
descodificar.
COMO DECORREU O LANÇAMENTO DA PRIMEIRA
PEDRA DA ATUAL IGREJA DA CIDADE DE SANTO ANTÓNIO – NO PRÍNCIPE – E POR VIA DE
QUE NECESSIDADE
"Como depois do abandono e
secularização da igreja, deixou de haver na cidade um templo para os actos do
culto, arrumaram-se os objectos, que escaparam à fúria cristianicida da época,
num armazém da Câmara, adaptando-se uma das dependências a capela.
Isto é, a Cidade de Santo António, da
Ilha do Príncipe, que já teve Igreja Catedral, Misericórdia e muitas Capelas e
Várias Confrarias e Irmandades de seculares tradições religiosas, viu os atos
de culto da sua Religião, celebrados na dependência de um armazém que o
Município, por favor, lhe cedeu .
Tornava-se pois necessária a construção
de uma igreja, não só para acudir às necessidades dos que reclamavam, mas
também para reparar de algum modo o desacato feito às crenças de uma grande
maioria e tradições de uma civilização.
Os esforços da actual administração do
concelho e a boa vontade de todos, decidiram levar a efeito esta tão suspirada
obra, sendo escolhido o Largo Maria Correia
No dia 10 de Agosto, depois dos convites
oficiais feitos pelo Senhor Capitão Curado, Administrador do Concelho, foi
benzida e lançada a primeira pedra com as cerimónias do ritual
Em seguida foi celebrada Missa Campal,
com guarda d’ honra, a que assistiram o Administrador do Concelho, toda a
população europeia da Ilha, nativos, muitos serviçais, crianças da Escola, solados e presos, devidamente uniformizados.
Fiz uma prática alusiva ao acto, enaltecendo
as glórias do nosso passado glorioso e as tradições cristãs do Povo Português
que levaram a fé e civilização a todos os domínios , cujos estavam bem patentes
na grandiosa manifestação de fé a que se
assistia.
À tarde, pelas cinco horas, foi
organizada uma procissão ao Cemitério,
em que se incorporaram europeus e indígenas, entoando-se no trajecto o
salmo “Miserere”. Ali cantou-se o R. Libera-me e as orações do estilo, tendo
feito uma alocução sobre a caridade e os deveres que temos d éter para com os
mortos.
Muitas pessoas com lágrimas, me
respondiam responsos por alma dos seus entes mais queridos, benzendo muitas
campas, sendo muito comovente este
espetáculo de luto e de tristeza, mas consolador pela fé e sentimentos que os
inspiravam
Era já noite quando a multidão evacuou o
cemitério, deixando ali pedaços do seu coração retalhado pela saudade dos que
lhes foram caros, mas que ali ficavam alumiados pelos clarões da sua Fé e
conformados pela piedade das suas orações.
Por entre soluções e lágrimas,
reorganizou-se o cortejo de volta à Capela, tendo-se feito o percurso com o
mesmo cerimonial anterior, disparando todos depois, já na cidade, no mais
profundo silêncio.
Foi uma das cerimónias mais comoventes
que tanto impressionou os que a ela assistiram. Durante outros dias,
realizaram-se também muitos baptizados e algumas confissões e
comunhões. Também devo registar, com muito prazer, que na Roça Porto Real ouvi
de confissão dois serviçais, muito conhecedores dos seus deveres cristãos.
Os dois dias que restaram, passeio-os em
actos de culto e noutros deveres inerentes à minha função de Inspector Escolar.”
Contamos voltar a esta questão com imagens de antigas igrejas e capelas destruídas
Contamos voltar a esta questão com imagens de antigas igrejas e capelas destruídas
Nenhum comentário :
Postar um comentário