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sexta-feira, 8 de maio de 2020

São Tomé - E a fidalguia nativa do 1ª Visconde Malanza do século XIX - Tanto quis ostentar a sua vaidade e riqueza, que acabou na pobreza, por ser espoliado das roças que possuía - Um dia quis ir à Inglaterra, como um príncipe das arábias, comprou um Yacht de luxo para levar para S. Tomé. Na volta o carvão, faltou a a bordo para mover o motor a vapor e a tripulação, pôs-se a queimar a madeira entalhada, os doirados do barco,... Quando chegou a Lisboa vendeu o barco por uma côdea”. – Quis fazer vida de luxo junto da frívola e corrupta nobreza e burguesia de Lisboa e Cascais, tramou-se - Carregado de dívidas, ficaram-lhe com as roças

Jorge Trabulo Marques -Jornalista

Visconde de Malanza com familiares e amigos

NESTE POST, OUÇA MAIS ADIANTE  O DIÁLOGO AMIGO  E SORRIDENTE 39 ANOS DEPOIS DE TER PARTIDO NUMA PIROGA  - Com pescadores e antigos caçadores de porcos do mato  ONDE SE FALOU DAS MINHAS E DAS SUAS VIDAS E AVENTURAS MARÍTIMAS E DA ESCALDA AO PICO CÃO GRANDE  

O 1º Visconde de Malanza, de seu nome Jacintho Carneiro de Sousa e Almeida, filho do 1º Barão de Água Izé e Conselheiro, João Maria de Sousa Almeida, tal  como é dito por Manuel Ferreira Ribeiro, no pequeno livro”1º Barão d’Água Izé e seu filho Visconde de Malanza, foi um dos roceiros mais importantes de São Tomé, participou na Exposição Insular e Colonial, realizada no Porto no Palácio de Cristal em 1894, com produtos produzidos na Roça de Porto Alegre, pelos quais foi agraciado com várias medalhas de Ouro e Prata. No final da exposição, os produtos nela expostos f


«Morreu um dia d'estes um preto riquíssimo, que quis por força passar por branco, o que lhe custou  os olhos da cara … Se teima em viver  mais algum tempo acabava a pedir. Rodeara-se d'uma corte  que lhe custava caríssima: lisonjeavam-no e rapavam-lhe o cofre até ao fundo» –












Descente do Barão de Água Izé
Diz, Raul Brandão, em MEMÓRIAS, 1910  –  Descrição inserida, em forma diarística,  no contexto referente ao  ambiente dos costumes, frívolos, corruptos e viciosos, que, nos finas do século  XVIII e princípios do século XIX, caracterizavam a nobreza ou  da gente que fingia de nobre , da ostentação da burguesia vaidosa e dos fidalgos hipócritas e ignorantes,  que se movimentavam entre os salões de festas e bailes ou iam exibir-se nos camarins e corredores do Teatro S. Carlos, em Lisboa ou em  Cascais, “ Alimentado a futilidade, o mexerico, a extravagância - Ambiente fútil e dissoluto que  acabaria por contribuir para o descrédito e  a queda da monarquia, com o assassinato de D. Carlos, a tiro de pistola, no Terreiro do Paço 


Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria
Foi este ousado agricultor quem lançou as bases da colonização  ao sul e Sudoeste da Ilha. E todas as terras, de floresta seculares, que por ali existiam sem exploração alguma, foram transformadas em belas plantações,  e foi dotada toda esta região inculta de notáveis fazendas ou lindas quintas agrícolas ou tropicais, que fazem o encanto de todas aqueles que as têm visitado.

E, na fazenda Porto-Alegre, introduziu o nobre visconde melhoramentos excepcionais.
Montou serrarias a vapor, construiu um caminho de ferro, lançou uma boa ponte sobre o Malanza, preparou uma ampla piscina – a primeira da ilha de S. Tomé – e abriu um campo de aclimatação, aonde trouxe as melhores plantas úteis tropicais.

(…) Não havia na Ilha de S. Tomé meios de transportes fáceis e seguros, em volta da ilha, lutando assim os novos agricultores estabelecidos ao Sul, com grandes embaraços, e então adquiriu  o belo vapor Malanza, oferecendo fácil e rápida viagem aos que se dirigiam às fazendas, para as quais só podia aproveitar a via marítima.
Foi o nobre Visconde o primeiro agricultor de S. Tomé que me navio próprio – no Yatche Vá-Inhá  - fez a travessia daquela ilha a Lisboa..

Por muitas vezes, em terra e n mar, deu provas de grande coragem apresentando-se sempre nos grandes perigos, com o maior sangue frio.

Na exploração agrícola que iniciou no sudoeste da Ilha, e à qual chamou tantos europeus, revelou tal tenacidade de carácter  e tão viva fé no trabalho, que poderia invocar-se esse arrojado empreendimento como uma das suas maiores glórias.
Nos serviçais e trabalhadores tem amigos e é sempre dia de grande festa em Porto-Alegre aquele que faz reunir todas as crianças. Mostra assim o vivo interesse que nel desperta a população trabalhadora, distinguindo, com singular afecto os que foram seus companheiros nos rudes trabalhos agrícolas, que primeiros se fizeram  nas fazendas de S. Miguel e Porto Alegre,

MAIS TARDE VOLTA A PORTUGAL MAS JÁ NÃO REGRESSA A SÃO TOMÉ 



Mais tarde, após o seu regresso a S. Tomé, voltou à capital do Império para fazer figura - Viajou da sua maravilhosa ilha para se ir meter na boca do lobo: levado pela vaidade e por uma certa ingenuidade que ainda hoje se reflete no olhar das  crianças santomenses: - Mostrar a sua riqueza, junto de uma fidalguia e burguesia, que de ingénua nada tinha, mas calculista e hipócrita,   tramou-se: já nem sequer chegou a regressar à sua ilha:

Ainda antes  de morrer: - "Os brancos ficaram-lhe com as roças,  e as propriedades de S. Tomé  foram transferidas para uma sociedade por cotas. É o que consta por aí, enquanto o negralhão estoira com uma pneumonia dupla  - e lá em casa  se toca desaforadamente piano com as janelas abertas de par em par”

Baía de Água Izé 
Bisneto do Barão de Água Izé

Pelos seus relevantes serviços prestados na agricultura, havia recebido o título Visconde de Malanza - Pelas mesmas razões, também já o seu pai, João Maria de Sousa Almeida,(12-03-1816 - 17.10.1869),  havia sido distinguido  como o 1º Barão de Água Izé e Conselheiro do Reino - Era proprietário em S. Tomé e Príncipe e no distrito de Benguela, assim como em Castelo do Sul e Alto Douro, O poeta agricultor, a quem, em 1855, se ficou a dever a   introdução   a cultura do Cacau em S. Tomé, importando-o da Ilha do Príncipe, para onde havia  sido levado do Brasil, pelo então Governador Manuel Ferreira Gomes A que me referi neste site, em  site - http://www.odisseiasnosmares.com/2016/04/barao-de-agua-ize-nasceu-ha-200-anos-12_81.html





VILA MALANZA  - A PEQUENA VILA MAIS A SUL DE SÁO TOMÉ  - Em cuja extensa praia de areia fina, desagua o rio que deu o nome a este pequeno aglomerado populacional e que servira também de título a um importante roceiro nativo 

- Foi justamente nesta pequena vila, que, em Novembro de 2014, ou seja 39 depois de ter partido numa piroga para tentar atravessar o atlântico, me encontrei com um grupo de pescadores,  uns consertando as suas redes que haviam sido destruídas por  tubarões para lhe abocanharem os pescado que havia sido envolvido, outros por ali junto de sorridentes crianças,  dialogando e passando tranquilamente as últimas horas do dia, que ia descambando para o fim da tarde  quase já num descair do fim da tarde 

 Recordando histórias de naufrágios de pescadores, que lograram sobreviver  dias e dias seguidos longe da sua ilha e na vasta solidão do mar, bem como das minhas inúmeras caminhadas  para escalar o Pico Cão Grande, com o guia Sebastião, que morava numa pequena aldeia de angolares da Praia Grande, acompanhado, mais tarde pelos valorosos santomenses, Cosme Pires dos Santos e Constantino Bragança.

A Vila de Malanza, fica situada no extremo  sul de S. Tomé, nas faldas do Monte Mário, ladeando uma das baías de vegetação mais espessa e luxuriante, finalmente  passou a ter acesso à tão desejada energia elétrica - Pelo menos,  durante 6 horas por dia, entre as 17, ou seja meia hora antes do pôr-do-sol e as 23 da noite – Uma boa notícia, dada recentemente, pelos órgãos de comunicação social, desta Ilha -  Velha aspiração  do maior aglomerado  populacional do distrito do Caué, constituído, maioritariamente por angolares e tongas, cujas vidas estão intimamente ligadas à pesca – No tempo em que as roças eram exploradas – Ribeira Peixe, Novo Brasil, Monte Mário, S. Miguel  e Porto-Alegre - , ainda ali prestavam serviços, agora só se for para a exploração do palmar, que ocupa uma vasta área do Cáué e do Parque Nacional do Obó, entretanto ali plantado. 

Para quem já deixou o rio Cáué e vai em direção a Porto Alegre, o único aglomerado habitacional, que, a certa altura, se lhe vai deparar, quando abandona  a última curva do permanente e quase sufocante verde intenso, húmido  e cerrado da floresta, é  um friso de típicos casebres da Vila de  Malanza, lado a lado da estrada, agora sempre plana  e a direito, ensombradas por escassas e altaneiras árvores de fruta pão, depois de dobrada uma ponte sob a qual passa uma pachorrenta linha de água, cujas margens facilmente denotam que o mar também as pode mergulhar ou senão mesmo as enxurradas, vindas lá do interior da floresta, que ali só parece descobrir-se    à distância  – Do lado esquerdo, é a languidez da praia a perder-se no azul do infinito,  e, do lado direito,  ainda a mancha verde, que, devido à abertura da baía, agora parece ter o condão de nos aliviar do grande sufoco florestal.

Vale a pena parar e registar as primeiras  fotos ou então abrandar a velocidade porque, embora  pareça um lugar quase despovoado, não é bem assim.  A vida vai-se revelando, sucessivamente, ao longo da estrada. Os sorrisos das crianças surgem onde menos se espera e aos magotes. E, nas rugas dos semblantes dos mais velhos, sentados isoladamente ou a cavaquear, também facilmente nelas se descobrem histórias de vidas tostadas pelas marés e  de valentias em frágeis pirogas em calemas e tempestades, que ali se encontram perfiladas à beira de suas  casas, que parecem  ser todas da mesma cor com que os céus de cinza e as chuvadas as tisnaram pela sua constante insistência.  

 Excetuando o vai e vém do mar, quando os olhos se estendem além da areia dourada, fina e macia, infinito fora, tudo ali decorre com a maior tranquilidade e paz dos deuses. Lavadeiras cumprem calmamente as suas tarefas nas águas do rio. As crianças, desnudas, cedo se exercitam na arte de navegar  em pedaços de troncos ou restos de canoas - E nem precisa de ser no mar - aproveitam os açudes dos rios, que ali desaguam ou do refluxo da  maré.  Os cães dormem a sua soneca a qualquer hora do dia. Varas de porcos passeiam-se  pela praia  à cata de moluscos,  imagem também frequente nas localidades situadas junto à costa  – Mas não se pense que, tal habituação, conspurca as areias ou pode desencorajar o turista a passear-se à vontade pela praia e a dar os seus mergulhos numa água limpidamente azul e quente! - Em S. Tomé, esse íntimo convívio, com a Natura, faz parte do dia a dia.

 A pobreza não se descobre nos rostos porque a Natureza é bela e fértil e proporciona serenidade, paz e alegria de viver  - Mas existe e é profunda. O artesanato para vender ao turista que faz uma pausa, embora interessante é incipiente, de reduzida expressão.   Excetuando o aproveitamento da copra, da banana, fruta-pão e do  conote, na floresta que ladeia o povoado - produtos usados para consumo local - ou a criação de porcos e galináceos, as suas vidas estão praticamente dependentes dos recursos do mar – E, dir-se-ia que também unicamente para sobrevivência da população, pois  quem é que, além do  Pestana Equador, no Ilhéu das Rolas, lhes poderá comprar o pescado, tão longe é a distância que a separa de São João dos Angolares ou da capital - E onde estão os frigoríficos para guardar o pescado - Salvo o que é seco ao sol, o que ali não é fácil, pois há mais dias de chuva ou de céu encoberto  de que  limpo e desnublado.

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