
As Ilhas Afortunadas fazem parte da tradição clássica, desde Ptolomeu a Homero, Plínio, Plutarco.
São muitas as versões que correm sobre a sua localização. Parece, no
entanto, existir um ponto comum: situam-nas no Atlântico, além
mediterrâneo e das colunas de Hércules, próximas da costa africana e são
apontadas como paraísos terrestres, locais eleitos pelos deuses e
heróis míticos. Camões, evoca-as no canto V e Fernando Pessoa, em
Mensagem, surgindo-as como local fora do tempo e do espaço onde os mitos
do
Quinto Império, do
Encoberto, do
Sebastianismo esperam para se concretizar
Desde o arquipélago da Madeira ao do Golfo da Guiné, qualquer dessas ilhas primam pela sua beleza e exotismo
e poderão reclamar o mito atribuído por autores clássicos de Ilhas
Afortunadas. Por isso, vários tem sido os historiadores a darem a sua
interpretação. Charles Ralph Boxer, associa-se ao arquipélago da
Madeira, ilhas encontras pelo cartagineses. Martin Behaim identifica-as
com as Ilhas de Cabo Verde. Por seu lado, Pedro Martyr associa as
Afortunadas com as Canárias.
ILHAS AFORTUNADAS
PODERÁ O MITO IR ALÉM DE MERA FIGURA SIMBÓLICA OU RETÓRICA?!....
O alemão Heinrich Schliemann leu atentamente a Ilíada e concluiu que não havia apenas o lado mitológico, mas também algumas verdades históricas .
"Ao narrar na Ilíada a invasão de Tróia pelos gregos, Homero criou no século VIII a.C. uma das peças imortais da literatura. Nos
últimos anos, graças ao trabalho dos arqueólogos, a obra começou a
ganhar valor de registo histórico. A possibilidade de a Ilíada conter
verdades históricas foi levantada pela primeira vez em 1873. Nessa data,
guiando-se por algumas descrições feitas nos versos de Homero, o
explorador alemão Heinrich Schliemann conseguiu localizar em território
turco as ruínas de Tróia.Objectos de Tróia em exposição -.
.A Expedição Vivaldi Revisitada
livro da jornalista Fernanda Durão Ferreira (actualmente esgotado e que
teve a colaboração da socióloga Sara Santiago) dá algumas respostas:
- Cita Schliemann, Homero e o Libro del conocimient - de autoria de um frade anónimo de Sevilha, no ano de 1405, no qual – sublinha a investigação – “além
de muita informação correcta sobre toponímia africana, constam as ilhas
de Gropis e Quible, situadas na foz do Rio Pampana na actual Serra
leoa, assim como as Ilhas de
Asben,Susan e Melicum, localizadas na parte oriental do Golfo da Guiné”
O REDESCOBRIMENTO DAS ILHAS DO GOLFO DA GUINE - POR SARA SANTIAGO E FERNANDA DURÃO
Fernanda Durao Ferreira, jornalista
e autora de vários livros, no principio desta década, interessou-se
pela origem do povoamento das Ilhas do Golfo da Guiné. Fez um estudo
aprofundado, a que deu o título
A Expedicao Vivaldi Revisitada ,
através do qual apurou que, antes dos navegadores portugueses, ali
terem chegado, já existia o Planisfério Catalão, século XIV, com a costa
africana e as ilhas cartografadas
Sabendo do meu empenho pelo mesmo tema, que
, nos anos setenta, me levaria a fazer várias travessias solitárias em pirogas
para demonstrar a possibilidade das primeiras navegações, entre as ilhas e o
continente, terem sido feitas através desses meios primitivos, Fernanda Durão
teve a gentileza de me informar das suas conclusões, apresentadas na revista
História, edição 71, Novembro 2004 - Num artigo assinado por ela própria e a
socióloga, Sara Santiago, cuja cópia me ofereceu.
Sem pressas e deixando como que intuitivamente
que o tempo se encarregasse de cimentar ainda mais o seu estudo, e também o
florescer do espírito que presidiu a essas minhas arriscadas experiências (pois
não há boas iniciativas que não produzam os seus frutos) constato, pois, numa
pesquisa pela Internet, graças às maravilhas das novas tecnologias, onde os
vários saberes e contributos vão sendo publicados para que não fiquem apenas
condicionados às prateleiras das bibliotecas ou aos arquivos dos museus, que
não existe apenas um mapa, mas vários e ainda mais antigos.
........
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - ANTIGAS ILHAS: ASBEN E SANAN -

Mapa de .Eratóstenes (285 - 194 a.C.) ,....
...Mapa de Eratóstenes...
.
.
Karte_Pomponius_Mela Pomponius Mela (c. 43 CE)Pyramidales: Pyramides d'Égypte : le mini-texte de Pomponius Mela......
«Procuradas durante séculos, a antiga cidade de Tróia foi finalmente descoberta há cerca de cem anos. Heinrich Schliemann
decidiu ler " com outros olhos o texto da Ilíada, seguindo à letra a
descrição de Homero. Afinal o arquipélago de S. Tomé e Príncipe já era
conhecido dos navegantes que desde o séc. XIII viajavam do litoral de
Marrocos até ao Golfo da Guiné»
(...) «E foi sobre um oceano destes que Pero Escobar e João de
Santarém navegaram pelo Golfo da Guiné à procura desta ilha de Asben
que, conforme afirma Duarte Pacheco Pereira, " a mandou descobrir o
sereníssimo rei D.João II" . Quis a sorte que ela fosse
achada no ano de 1470, a 21 de Dezembro, dia do santo descrente que só
acreditava no que via e palpava.Mais confiantes que o apóstolo,devem ter
navegado os dois navegadores portugueses à procura desta ilha pois se o
rei a mandara descobrir, é porque sabia de antemão da sua existência.
Chamaram-lhe São Tomé e zarparam à procura de outras duas. Sanan e
Melicum foram encontradas a seguir, sendo baptizadas de Santo Antão
(passando depois a Santo António, sendo mais tarde Príncipe) e Ilha
Formosa, redescoberta por Fernão Pó, conhecida hoje por Malabo, capital
da Guiné Equatorial.».
NEM TODAS AS ILHAS ERGUERAM ESTÁTUAS COMO A ILHA DA PÁSCOA.E APRESENTAM VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS VISÍVEIS OU IMPONENTES - MESMO ASSIM, JUSTIFICA-SE A SUA INVESTIGAÇÃO
As duas investigadoras, já estiveram em São Tomé: são de opinião de que "no imaginário de em cada santomense, paira a opinião( sou da mesma opinião), de que estas ilhas já eram habitadas antes do período colonial." E avançam com a seguinte pergunta: " Se
a história do descobrimento das ilhas de S. Tomé e Príncipe não merecia
voltar a ser estudada a fundo pelos historiadores portugueses e
investigada pelos arqueólogos. Mesmo que não se consiga chegar a uma
conclusão, podia ao menos levantar-se o problema e deixá-lo em aberto."
Salientam o facto dos jovens "estudantes, manifestarem um crescente interesse " de saberem tudo sobre o seu passado,
muitos estudantes frequentam assiduamente a biblioteca do Centro
Cultural Português onde se destaca em lugar de honra em lugar de honra
um cavalete suportando o monumental Atlas do Visconde de Santana!
Há que ter a coragem" - sublinham - de
informar esses jovens que, apesar do mérito do trabalho desenvolvido, o
visconde historiador fez batota ao não incluir no seu Atlas, o
planisfério Catalão. Datado de 1444, este mapa está guardado na
Biblioteca de Modène, Itália e foi reproduzido por Charles de la
Ronciére na sua obra la Découverte de l'Afrique au Moyen Age. Dele
constam as já citadas ilhas do Golfo da Guiné, bem como os seus nomes
árabes. A ocultação da verdade é uma forma de obscurantismo como
qualquer outra e, neste caso particular, é mais um contributo para a
continuação dos Tristes Tropiques..." - frisam
"Se nada for mudado, corremos o risco de, a
médio prazo, ao consultar um moderno mapa de África para ver a
localização do antigo Arquipélago Português de São Tomé e Príncipe,
depararmos com novos nomes como: Ilha de Asben, ex-São Tomé. Ilha de
Sanan, ex- Príncipe" - Este o alerta deixado no termo do artigo «O
Redescobrimento das Ilhas do Golfo da Guiné»
Sem dúvida, um interessante estudo que,
inclusivamente, teve o cuidado de se debruçar sobre questões de
semântica e derivações de ordem toponímica, de origem árabe, sobre nomes
locais e até com semelhanças no continente africano. Só essa criteriosa
análise - lida com atenção - já bastaria para convencer os mais
incrédulos.
OUTROS ESTUDIOSOS NÃO VÊEM SENÃO NO MAPA CATALAN A FORMA CURIOSA COMO MOSTRA ÁFRICA E NÃO DESCARTAM QUALQUER LEITURA
O texto, que passo de seguida a reproduzif,
revela uma profunda ignorância, pois refere que "não aparece nenhum nome de lugar, o que é falso: clike e veja se há ou não há várias legendas.
246A Catalan-Estense Map, 1450-60.
.
Diz ele que
"A característica geográfica mais curiosa é a forma da África:
no limite do Golfo da Guiné, um rio ou estreito liga o Oceano Atlântico
com o Índico e uma grande massa terrestre surge para completar a base
do mapa. Não aparece nenhum nome de lugar e não está claro se trata-se
de uma parte da África ou de outro continente.-
Mapa-múndi Catalão
....
COMPREENDO QUE A QUESTÃO CONTINUE A SUSCITAR DÚVIDAS OU INTERROGAÇÕES - POIS O PASSADO DISTANTE É SEMPRE ALGO DIFÍCIL DE INTERPRETAR -
HÁ PORÉM UMA CERTEZA - A EXISTÊNCIA DE MAPAS ANTIGOS QUE ATESTAM QUE AQUELES MARES JÁ HAVIAM SIDO SULCADOS E MAPEADOS, ANTES DAS DITAS DESCOBERTAS -
A ABERTURA ÀS NOVAS FONTES DE INFORMAÇÃO, ACABARÁ
POR FAZER RUIR MUITOS DOS FALSOS MITOS E REPOR A VERDADE HISTÓRICA NOS
FACTOS QUE FORAM FORJADOS, OCULTOS OU ADULTERADOS.
O Infante D. Henrique, deveria estar informado das terras que ia descobrir.,
tendo contratado um dos maiores cartógrafos da época, Jafuda , filho do
Mestre Abraão Cresques, da Maiorca, autor do célebre mapa-mundi catalão
de 1375 , cujo original que se conserva em Paris - In
A IMAGEM DO MUNDO E AS NAVEGAÇÕES IBÉRICAS
Que razões terão levado a essa inadmissível omissão?... -A
resposta talvez possa ser compreendida, por um lado, pelo secretismo
que envolvia as Cartas de Marear, por outro, porque sempre seria mais
enaltecedor para a coroa portuguesa, e arvorarem-se os plenos direitos
da sua posse, falar-se de ilhas desabitadas e desconhecidas, de que
aludir-se ao seu prévio conhecimento e ao seu anterior povoamento.
..............
A ORIGEM DO POVOAMENTO DAS ILHAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, É POIS MUITO MAIS ANTIGA DO QUE A DESCRITA PELA VERSÃO COLONIAL - AINDA CONTINUA A SER REFERIDA, NÃO OBSTANTE AMBAS CONSTITUÍREM UM PAÍS SOBERANO E INDEPENDENTE, VOLVIDAS MAIS DE TRÊS DÉCADAS
São Tomé e Príncipe...Hist.Descobrimentos e Exp.Portug.....
É certo, que, até hoje, não foram descobertos monumentos ou vestígios arqueológicos
perenes em qualquer das ilhas do Golfo da Guiné, que pudessem dar-nos
indicações para a existência de antigas civilizações. Não porque não
possam existir, mas talvez mais pelo facto de nunca ter sido encarado a
sério um estudo aprofundado.
Essa investigação deveria fazer-se. Acredito que não faltariam surpresas interessantes. Porém, existe uma prova que continua igual há de milénios atrás: a sua tradição marítima
. Haverá
elo mais genuíno, com as suas antigas origens, que a arte de navegar em
tão frágeis meios primitivos? ....- Canoas frágeis e toscas, é um
facto, mas capazes de resistirem aos mais violentos vendavais
Demonstrei-o, por três vezes, ao ligar as ilhas com o continente. E
assim o haviam igualmente demonstrado as enormes canoas que foram
utilizadas para transporte de escravos, nomeadamente do Gabão, mesmo
depois da alforria, cuja lei muito custou a aceitar aos proprietários
nas grandes roças.
Pessoalmente, ainda vi o fundo de uma dessas enormes canoas, junto ao velho cais daPraia Fernão Dias ,
quando trabalhei como empregado de mato na Roça Rio do Ouro, da
Sociedade Agrícola Vale Flor. Pois, em São Tomé não se construíam canoas
daquele tamanho. As grandes árvores estão pouco acessíveis às praias e estavam sob o domínio das roças. A
costa africana está mais ao nível das praias e oferece mais vastas
possibilidades. De resto, depois da independência, muitos nigerianos
faziam comércio, com São Tomé, servindo-se de grandes pirogas.
PIROGAS - AS EMBARCAÇÕES MAIS PRIMITIVAS DE TODOS OS TEMPOS
Construídas sem pregos e metais, apenas escavadas em toras - Actualmente,
com recurso a machins e a inchós, mas que, noutras épocas, bem poderiam
ter sido talhadas com a intervenção de simples machados de pedra. Não
se pense, que, ilhas tão formosas, estavam ali à espera, ao longo das
eras, até que um punhado de marinheiros-colonizadores, ali fundeasse as
suas caravelas. Sim, foram aventureiros corajosos, mas não eram deuses,
aos quais fosse dada a divina graça de serem os primeiros seres humanos,
a pisar as suas maravilhosas praias e a fascinar-se com sua espantosa
beleza! - Reza a história, que não viram ninguém.A matriz africana no mundo

-
Um manto de verdura reveste completamente a orla das praias até aos cumes das mais altas montanhas e picos, dando a impressão de se aportar a uma terra de ninguém.
Quem, de bom senso, acredita que os povos,
que lá viviam, mal avistavam os invasores, corriam imediatamente para
junto deles?!.. Fizeram-no, mais tarde, mas com persistentes e violentos
ataques: é porque estavam organizados e tinham o sentimento de posse da
sua terra; queriam bater-se pela sobrevivência das suas vidas, do que
lhes eram querido e estava ameaçado.
Antigo Mercado Municipal de São Tomé - foto do autor deste blogue
A história nem sempre é um relato fidedigno dos factos. E a navegação portuguesa, é um desses exemplos. "Se
o Infante D. Henrique e os dirigentes portugueses que se lhe seguiram
proibiram a venda de caravelas ao estrangeiro, mandava a lógica que se
opusessem igualmente à saída de capitães, pilotos, cosmógrafos(...) e
com eles dos roteiros para as novas terras, das cartas de marear e de
tudo que ensinasse a nova ciência da posição e da direcção do navio e,
mais que tudo, da do sol ao meio dia." - In Dúvidas e certezas na história dos descobrimentos portugueses de Luís de Albuquerque
"Temos de encarar esta verdade de um modo corajoso e decidido," diz Luís de Albuquerque, no seu livro "Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses,
distinto e desassombrado historiador já falecido) que me deu o prazer
de o entrevistar em sua casa. Refere o conhecido historiador que temos
de "reconhecer que a culpa da
situação nos cabe na maior parte senão inteiramente a nós, portugueses,
por continuarmos a criar "factos históricos", sem alicerces documentais
sérios e completos, em vez de desenvolver um trabalho aprofundado para
erradicar de vez interpretações sem a mínima verosimilhança e deixar
cair no lixo todos os sonhos irresponsáveis (e ninguém é responsável dos
seus sonhos...) com que se quer fraudulentamente alimentar ou
fortalecer um acrisolado amor pátrio de gente crédula" - Luís de Albuquerque queria referir-se especialmente a "quem sustentou com teimosia a ideia de um descobrimento da América por compatriotas nossos antes de 1424."
Pelo que depreendi, através da leitura do seu livro, ele estende a sua crítica a outras questões. Salvo raras excepções, que ele próprio aponta, é muito cáustico para com os nossos historiadores. Logo no início do estudo sobre Dúvidas e certezas na história dos descobrimentos portugueses frisa que, das “ largas
experiências acumuladas no decurso de mais de quarenta anos, através
dos contactos com historiadores de todos os quadrantes e de um grande
número de países” confessa que teve “oportunidade de verificar que a
credibilidade da historiografia portuguesa dos descobrimentos nunca foi
tão grande; mas bem pior do que isso; no decurso de tal lapso de tempo
pude avaliar também como o nosso crédito de historiadores tem vindo a
diminuir progressivamente, e de modo acelerado.".Figuras - Luís de Albuquerque.
Entendo o desabafo de Luís de Albuquerque, como
a consequência de acaloradas polémicas a que alude no livro. Pareceu-me
uma excelente pessoa, muito competente e culto, incapaz de denegrir
fosse quem fosse. Aliás, ainda não há muito o seu nome foi lembrado e
homenageado. Nós temos maus e bons historiadores, como em todas as
profissões; daqueles que se esforçam em se documentar o melhor que podem
e fazem-no com rigor e seriedade e outros que apenas se limitam atirar o
barro à parede ou a dar seguimento a velhos conceitos ultrapassados.
COMO JÁ ERA AVANÇADA A CARTOGRAFIA EM 1502 - ESTE É O FAMOSO PLANISFÉRIO DE CANTINO Cantino planisphere (1502),
Biblioteca Estense,
Modena, Italy
.Cantino planisphere is the earliest surviving map showing Portuguese Discoveries in the east and west. It is named after
Alberto Cantino, an agent for the Duke of
Ferrara, who successfully smuggled it from
Portugal to
Italy in 1502
"PRESENÇA DO ARQUIPÉLAGO DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE NA MODERNA CULTURA PORTUGUESA" - DE AUTORIA DE AMÂNDIO CÉSAR, PUBLICADA EM 1968
Presumo que tenha sido, uma das antologias, que até hoje reuniu um maior número de autores nos diferentes géneros literários. Está
esgotada. Falei com ele em São Tomé e, posteriormente, em Portugal. Era
uma personalidade extremamente extrovertida, revelando um grande
eruditismo mas ultra-nacionalista-conservador e Salazarista quanto
baste. Num dos textos compilado, lê-se o seguinte:
"É questionável entre os
sábios o facto da descoberta das Ilhas de S. Tomé e Príncipe, Ano Bom e
Fernando Pó, por antigos navegantes Egípcios, Fenícios, Gregos e
Cartaginses. Alguns querem que a
primeira, segunda, e quarta sejam, as que receberam o nome de
Gorgónias, Górgadas, Gorgatas, ou Borcadas; outros dizem que as
Gorgónias ficavam ao Sul, e pouco distantes do Cabo Ocidental, agora
conhecido pelo nome de cabo Verde. Talvez sejam as ilhas dos ídolos. Não
falta quem afirme que as ilha de São Tomé etc. , nunca foram visitadas
pelos navegadores, por ser provável que Hannon, general cartaginês, não
chegou a elas na sua expedição ao longo da costa ocidental da África.No
meio desta incerteza contento-me de apontar aquilo que encontrei em
vários registos da provedoria, e em outras obras a respeito da
descoberta."
Raimundo José da Cunha Mattos, citado por Amândio César , reconhece a lacuna mas é pena que não tenha aprofundo a questão. E persiste em admitir a dúvida como uma certeza: "graves
autores dão por incerto o ano do descobrimento desta ilha pelos
portugueses, e o nome do seu descobridor; entretanto não falta quem
diga, que foi achada a 21 de Dezembro de 1471, em que se venera o
apóstolo de S. Tomé , de quem recebeu o nome; posto que também se
refere, que o primeiro, que lhe deram, foi o de S. Tomás, em memória de
S.Tomás de Cantuária, a quem é dedicada a capela-mor da igreja de Tomar,
cabeça da Ordem de Cristo, de cuja jurisdição dependiam todos os países
novamente descobertos."
"O nome do descobridor é tão incerto,
que já disso se queixava o grande João de Barros, mas há quem diga que
fora Fernão Gomes, e, outros com mais credibilidade, atribuem esta honra
a João de Santarém e a Pero Escobar no reinado do senhor rei Dom Afonso
V"
A MINHA MAIOR DÚVIDA NEM SERÁ TANTO EM SABER SE AS ILHAS DO GOLFO DA GUINÉ ERAM OU NÃO JÁ CONHECIDAS E HABITADAS, MAS QUEM FORAM OS MARINHEIROS PORTUGUESES QUE APORTARAM, PELA PRIMEIRA VEZ, NUMA DAS SUAS ENSEADAS OU BAÍAS
Tudo não passa de pressupostos - O único relato fidedigno existente, foi escrito por um piloto português (século XVI), que descreve a
Viagem de Lisboa à Ilha de São Tomé. Noutra postagem, farei a sua transcrição. Para já, eis um dos
excertos sobre a descoberta das duas ilhas, que extraí da
antologia,"Presença do Arquipélago de S. Tomé e Príncipe na Moderna
Cultura Portuguesa", de autoria de Amândio César.
"Ignora-se, ao certo a data do descobrimento da ilhas de São Tomé e Príncipe e o nome dos seus descobridores.Julga-se,
porém, que devem ter sido descobertas pelos anos de 1471-1472, quando
da viagem de João de Santarém e Pedro Escobar às costas da Mina, de
Benim e do Gabão, aí enviados por Fernão Gomes que obtivera, em 1469, do
Rei D. Afonso V o arrendamento do comércio da Guiné, por cinco anos,
sendo uma das condições o descobrimento de novas terras. Pedro de Sintra
atingira, entre os anos de 146o-1463, o bosque de Santa Maria, avanço
máximo dos portugueses até aquela data. João de Barros (Ásia. Década I,
Liv.II, cap.II) associa a esta viagem o nome de Soeiro da Costa"
"Começou por se chamar de Santo Antão. A
designação do Príncipe ligou-se primeiro a D. João, filho primogénito
de D. Afonso V, o futuro D. João II. D. Afonso V foi o primeiro filho
mais velho dos réis que se chamou Príncipe"
"A Ilha de São Tomé começou a ser
povoada em 1486 pelos colonos de João de Paiva, aos quais o Rei D. João
II, concedera privilégios, no ano anterior; porém a era da sua
prosperidade começou em 1493, quando foi criada a capitania da ilha e
dada a Álvaro de Caminha" - Mas esta ou outras versões do género, podem ser igualmente consultadas na Internet .História de São Tomé e Príncipe
A PRIMEIRA BARBARIDADE DA COLONIZAÇÃO COMEÇOU PELO ENVIO DE CENTENAS DE CRIANÇAS JUDIAS, ARRANCADAS AOS LARES DOS SEUS PAIS

O SENTIMENTO GERAL DAS POPULAÇÕES DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE CREIO QUE
SEMPRE FOI O DE QUE A SUA TERRA É ÁFRICA E POVOADA POR AFRICANOS
O QUE O REGIME COLONIAL FEZ (ONDE SE IMPLANTOU) FOI LEVAR PARA AS
COLÓNIAS MAIS BARCOS CARREGADOS DE ESCRAVOS, EXPLORÁ- LOS E OPRIMI-LOS
- PASSOU A NÃO RECONHECER, NEM AOS QUE LÁ ESTAVAM, NEM AOS QUE PARA LÁ LEVOU, QUALQUER HUMANA IDENTIDADE OU DIREITO DE CIDADANIA.
O facto da situação ainda ter piorado, em certas circunstâncias,
depois dos povos acenderem à independência (dizem que as roças estão
irreconhecíveis) , isso deve-se, em boa parte, à pesada herança
colonial: ao facto de não se haver apostado na cultura e não se terem
preparado quadros.
E não se ter começado por reconhecer (sem qualquer espécie de conflito ou subterfúgio)o seu direito à independência.
Claro que tem havido erros, qualquer país os comete - Mas é a tal
coisa, como diz a letra de uma canção do cantor angolano, Rui Mingas, as
novas gerações têm também que começar aprender como se conquista a
liberdade e uma bandeira
A LEITURA DA CÉLEBRE EXPEDIÇÃO DE THOR HEYERDAHL – KON-TIKI - INCENDIARAM A MINHA IMAGINAÇÃO. -
Thor Heyerdahl é uma das minhas referências e um dos meus míticos heróis .
Os relatos da expedição do norueguês Thor Heyerdahl no seu livro "A Expedição Kon-Tiki -, verdadeiro
clássico da literatura de viagens , exerceu em mim um profundo fascínio
.Não apenas pelo ousado espírito de aventura, mas sobretudo pelo
realismo e consistência científica, com que pretendeu demonstrar as suas
investigações.
Numa jangada de pau-de-balsa, reprodução
exacta às das jangadas índias feitas na América do Sul desde os tempos
da pré-história, Heyerdahl partiu de Callao, no Perú, com uma equipa
composta por seis homens para as ilhas Tuamotu da Polinésia ,
percorrendo mais de 8000 Km, ao longo de três meses..
"Quando os primeiros europeus se aventuraram a atravessar o maior dos oceanos,
descobriram com espanto que, exactamente no meio dele, existiam ilhotas
montanhosas e recifes de coral liso, em geral, segregados uns dos
outros e do mundo por vastas áreas de mar. Cada uma destas ilhas já era
habitada por povos que aí haviam aportado antes dos europeus"
"Sabemos, com absoluta certeza, que a primeira raça Polinésia deve
ter vindo em alguma época, espontaneamente ou não, ao sabor das águas
ou com a força das velas de uma embarcação qualquer, até essas ilhas
longínquas" diz o autor da Kon-Tiki, no seu livro
"(...) "De onde podiam ter vindo essas levas tardias de emigrantes?" (...) Falavam uma língua que nenhum outro povo compreendia” (...) Como e quanto teriam erguido as suas pirâmides e estátuas?!. Do livro
A Expedição Kon-Tiki
Estas foram as questões que levaram Heyerdahl a organizar a célebre
expedição Kon-tiki, . Com esta expedição buscava provar que as ilhas do
Pacífico poderiam ter sido povoadas a partir da
América do Sul.
Fez um estudo das correntes marítimas e dos ventos dominantes e de
alguns aspectos culturais similares, concluindo que o povoamento da
Polinésia só poderia ter sido feito a partir do leste, contrariamente à
clássica teoria que defendia as migrações a partir do sul da Àsia, uma
vez que, as 5000 milhas que supostamente teriam que navegar, sendo
contra as correntes, constituiriam uma façanha pouco provável
Em 1956, a bordo de uma jangada da polinésia, com uma equipa de cinco elementos,
parte de Tahti para o Chile , e quase logrou alcançar a costa sul
americana. .A jangada estava em tão mau estado que teve de abandoná-la e
construir outra. Porém, ao homem de uma vida quase inteiramente
dedicada ao mar e ao estudo das origens dos povos do Pacífico, uma vez
mais a sorte lhe foge, já próximo do destino - E agora com a perda da
vida.
Perto das marquesa, o Tahiti-Nui II é arrastado por uma tempestade.Encalha
e naufraga.. Bisschop foi a única vítima do naufrágio. Ao tentar saltar
para seco, escorregou e partiu uma perna. Por falta de meios e
tratamento, a mesma gangrenou e em pouco tempo causou-lhe a morte .
TANTO
Eric de Bisschop COMO
Thor Heyerdahl FORAM GRANDES AVENTUREIROS DO MAR E GRANDES DEFENSORES DAS MIGRAÇÕES CIVILIZACIONAIS ATRAVÉS DE MEIOS PRIMITIVOS -
Indubitavelmente, os pioneiros das demonstrações
de que era possível fazer grandes travessias oceânicas através de
simples jangadas ou barcos de papiro e que as correntes marítimas e os
ventos favoráveis foram determinantes nas primeiras ligações de
povoamentos e civilizações.
Thor Heyerdahlhor após ter atravessado o Pacífico, voltou-se para a antiga civilização egípcia. "Detectando
um padrão nos achados arqueológicos, nas técnicas e na arte dos incas,
dos polinésios e dos egípcios, o autor começa a considerar a hipótese de
viagens transoceânicas entre o Mediterrâneo e o Atlântico,
Concebe então, para testar essa sua teoria, um
novo e audacioso projecto - o de atravessar o atlântico numa das
antiquíssimas embarcações do país dos Faraós, a que dá o nome de
Expedição Rá," o Deus sol. Expedição RA .
Os Lusíadas (a obra magistral de Camões) foi o primeiro estímulo à minha imaginação. Mais creio que a leitura da A Expedição Kon-Tiki..,.Thor Heyerdahl. , espevitou ainda mais o meu gosto pela aventura
O livro, editado em vários países, era o sucesso do momento.
Havia na cidade de S. Tomé, uma pequena livraria-papelaria - O seu
proprietário (o Sr. Dias) era também barbeiro. Quando ali fui cortar o
cabelo, numa das poucas vezes em que nos era permitido sair da roça, foi
ele que mo recomendou.
Contei-lhe que me tinha metido num "charuto" até ao Ilhéu das cabras. Emprestado pelo fotógrafo com o laboratório em frente à sua papelaria. Então se você gosta de aventuras no mar, leve este livro, - Tenho aí uns poucos que acabei de receber" A vida na roça era muito dura e não havia grande disposição para a leitura. Mas foi o primeiro livro que comprei.
Nessa obra, já não era apenas o lado maravilhoso da aventura, mas a curiosidade que começava a apodera-se de mim, que me levava a reflectir se não teria acontecido o mesmo com o povoamento das ilhas de São Tomé e Príncipe
Naturalmente, que houve outros factores que contribuíram para a minha paixão, pelo mar: em
despertar o meu espírito de aventura, ir mar fora em demanda de algumas
pistas das antigas navegações marítimas(através das grandes pirogas) no
Golfo da Guiné. - Eu sentia um certo apelo, algo inexplicável, que me
impelia a ir ao encontro do misterioso oceano, do desconhecido
Porém, a imagem, simultaneamente, aventureira e romântica, mítica e histórica, que as viagens de Thor Heyerdahl
me transmitiram, creio que terá sido a influência mais decisiva para me
aventurar sozinho em tão frágeis embarcações. E partisse em demanda das
mesmas respostas às interrogações levantadas pelo bravo explorador,
zoólogo e geógrafo norueguês.
.
Tal
como o navegador norueguês, também eu acreditava que, as ilhas do
Golfo (à semelhança das distantes Ilhas da Polinésia), poderiam ter sido
povoadas através de meios primitivos, em que os seus navegadores se
aproveitaram das correntes e dos ventos favoráveis
Tinha a convicção de que a origem dos povos das duas ilhas, ia muito para além da colonização.
Julgo
que não me enganei - conforme pude demonstrar através das várias
travessias que empreendi, cuja veracidade e fundamentos da minha teoria,
poderão, finalmente, ser comprovados nos antigos mapas - Mas eu recuo
ainda mais longe - No entanto, esses mapas, pelo menos, já atestam que o
povoamento poderá ser muito mais antigo, de que o início da colonização
há cinco séculos.
O meu desafio, além de ser extremamente arriscado, só poderia ser feito
clandestinamente - pelo menos assim teve de ser nas duas primeiras
viagens. Se eu manifestasse os meus propósitos, as autoridades
coloniais, impedir-me-iam imediatamente essa veleidade.
Pois,
se para testar as minhas capacidades, numa viagem em volta da Ilha, eu
não fora autorizado, quando mais para tais ousadias!... Lograra apenas iludi-las, em 20 e 21 de Dezembro de 1970, numa curta viagem da Baía Ana Chaves, à pequena Baía de Anambó,
onde se encontra o Padrão, a João de Santarém e Pero Escobar, na altura
em que se comemoravam os 500 anos da sua "descoberta" -HISTORIA CONTEMPORÂNEA -
Naquela altura, a minha iniciativa a Anambó (em
que ali cheguei de canoa com a bandeira portuguesa) merecera grande
relevo na imprensa local e até mandaram lá um fotógrafo - mas já o mesmo
não sucedera com a viagem clandestina ao Príncipe, que tivera apenas
meia dúzia de linhas.
Fui
preso pela polícia do regime!... Ah!... mas se a PIDE soubesse as
minhas verdadeiras intenções, então é que ia recambiado imediatamente
para o Tarrafal, tal como chagara a estar previsto. Foi o próprio
inspector Nogueira Branco, quem mo afirmou: A ele não lhe saía da cabeça
que eu queria ir para o Gabão. "Você é amigo dos pretos e ia juntar-se
aos cabecilhas.
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"Nós sabemos como você se porta na roça. Desta vez não o mandamos para o Tarrafal. Pode agradecer à D. Alice Nunes"
- Esta senhora era enfermeira e irmã da esposa de um primo meu e
gozava de muita .popularidade nos meios coloniais - e até junto da
população. Fazia parte da tertúlia da elite colonial - onde também se
reunia o homem forte da PIDE -
Foi a sua cunha que me salvou Havia sido através dela que eu embarca a bordo do Huige para a roça Uba Budo. da Companhia Agrícola Ultramarina, para ali fazer o meu estágio do curso de Agente Rural. M
as
onde não encontraria o mínimo de condições. Não passava de um simples
empregado de mato, com a mesma categoria de qualquer analfabeto branco.
O Administrador chamou-me um dia à Casa Grande. E disse-me: "Já
o avisaram de que não pode dar confiança aos pretos." (..) Vá
imediatamente ao chalet e prepare a sua mala, que já ali tem no terreiro
um jipe à sua espera para o levar para a Ribeira Peixe"
- Passei a fazer o mesmo trabalho dos serviçais que eram para ali
enviados de castigo, num autêntico degredo: andava eu e um cabo-verdiano
a contar cacaueiros velhos numa plantação abandonada, na zona da cobra
preta - Não vou contar mais pormenores, pois, só isso, dava uma grande
história. - Ficará para próxima postagem
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