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domingo, 31 de julho de 2022

As roças e a saúde em S. Tomé e Príncipe - O Governo vai enviar doentes para tratamento em Israel. Porque não investir na recuperação dos antigos hospitais, mais deles construídos nos mais belos sítios das grandes propriedades agrícolas e fazer os tratamentos no país – O PM já apontou o exemplo de querer reabilitar o hospital de Monte Café para a Covid-19 – Mas há outros!

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

 

 Noticia a STP-Press, que O Governo de São Tomé e Príncipe vai enviar doentes para tratamento e recuperação em Israel, disse há dias, em São Tomé, a ministra da Saúde, Filomena Monteiro. 

Além de Portugal, o governo justificou que o envio de crianças para “tratamento e recuperação” naquele país se deve a “abertura do Governo de Israel nesse sentido com São Tomé e Príncipe”. Relativamente a Portugal, a governante disse que no ano transato o país enviou mais de 150 doentes e este ano o número já ultrapassou 150 com os custos diversos que isso provoca ao país

E voltou agora também a prestar importante apoio 

"Saúde para Todos” alivia crise de reagentes nas unidades de análises clínicas – Diz noticia do Téla Nõn, dando conta de que "todas as unidades laboratoriais do sistema nacional de saúde, vão receber meios complementares de diagnósticos, ofertados pela cooperação portuguesa.

Estado do antigo Hospital da Roça Rio do Oiro


Quem dera a muitos países africanos, europeus e de outras partes do mundo, disporem de tão maravilhosos cenários ambientais e paisagísticos, tão belos e idílicos  para tratarem dos seus doentes, como é a colina onde se ergue o próprio hospital Central Dr. Ayres Menezes, antigo Hospital Central Dr. Oliveira Salazar, aos maravilhosos espaços onde foi  construída, na maioria das roças, na fase colonial das grandes plantações de cacau, do café e outras culturas tropicais,  uma importante rede de estabelecimentos hospitalares,    enfermarias, farmácias, creches e postos sanitários, que, em cumprimento de disposições legais,  as empresas agrícolas particulares, segundo a sua dimensão,  tinham  à disposição dos seus trabalhadores, com vista a assegurar-lhes a necessária assistência médica, unidades essas consideradas, verdadeiramente modelares no campo da assistência privada, comparativamente ao que se passava no resto de África e até na chamada metrópole, no  Portugal continental.

Pena que ao menos não se soubesse preservar uma herança, que também foi obra do suor de milhares de trabalhadores e de muitos colonos, sobretudo empregados de mato, cuja dureza de vida, em muitos casos,  que só podia gozar a chamada graciosa nas suas terras de origem, de quatro em quatro anos e não ficavam atrás de miseráveis salários pagos aos nativos e contratados, 200$00

Passados 47 anos, é lamentável que pouco ou nada se tenha feito para recuperar esse importante património - Em todo caso, nunca é tarde de mais, conquando se tomem boas iniciativas .
Antigo Hospital da Roça Monte Café

O governo são-tomense, anunciou, em Setembro passado,  que  vai  reabilitar uma parte do Hospital de Monte-Café para internar doentes de Covid-19, prevendo ainda para este ano a reparação de toda a infraestrutura de modo a melhor o sistema de Saúde do País

Bom Jesus explicou, na altura, que, a recuperação do Hospital de Monte Café, inoperante há mais de 15 anos, surge como uma “solução rápida” para internamento de doentes em estado grave por coronavírus, tendo em conta o aumento significativo de casos nos últimos dois meses.

.Em 1964, uma pequena monografia, intitulada S. Tomé e Príncipe, divulgada pela Agência geral do Ultramar, dava conta da seguinte situação de saúde, neste arquipélago:  

O território de S. Tomé e Príncipe está dividido, para efeitos de assistência médica à população, em duas delegacias de saúde cujas áreas correspondem, respetivamente,  à ilha de S. Tomé e à Ilha do Príncipe.

A rede sanitária da província é constituída pelas seguintes formações; Hospital Central Dr. Oliveira Salazar

Laboratório central de Análises Clínicas; Centro  Materno Infantil, incluindo uma consulta pré-natal e um Dispensário de Puericultura.

Delegacia de Saúde, com Posto de Assistência Médica; Dispensário Antituberculoso; Grafaria, Farmácia Central; 3 maternidades – Nove postos sanitários localizados nas vilas de Neves, Guadalupe, Santo Amaro, Nossa Senhora de Fátima, Trindade, Santana, Ribeira Afonso, S. João dos Angolares

Na Ilha do Príncipe

Delegacia de  Saúde do Príncipe; Hospital Regional; Maternidade.

A manutenção e funcionamento dos estabelecimentos sanitários citados esta a cargo de 16 médicos, 1 farmacêutico, 38 enfermeiros e ajudantes, 1 económico e diverso pessoal administrativo.

No intuito de  proporcionar  à população das ilhas uma sólida educação sanitária, foi criado em 1962 um Quadro de Serviço Social, estando prevista a entrada  em funcionamento, num próximo futuro, de um Instituto  e Serviço Social.

sábado, 30 de julho de 2022

Antiga Fortaleza de São Sebastião, em São Tomé, que conta a história do arquipélago - atual Museu Nacional de STP – está sendo reabilitada -

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista


Construída a partir de meados do século XVI (cerca de 1566), no extremo sul da Baía de Ana Chaves, tem forma de estrela quadrangular, com três faces voltadas para o mar. Segundo Lopes de Lima, a razão para a sua construção deveu‐se ao conhecimento que o rei tinha relativamente aos ataques provocados pelos corsários franceses e Holandeses nas outras ilhas atlânticas ocupadas pelos portugueses.


As obras de reabilitação do museu nacional, muro de contenção e quebra-mar, encontram-se a bom ritmo, prevendo que esteja concluída dentro de 3 meses, refere o governo santomense 

A constatação foi feita pelo Ministro do Turismo e Cultura, Aérton do Rosário Crisóstomo, numa visita efetuada na manhã da passada terça-feira, 26 de Julho, a este património cultural nacional, na companhia do Diretor Geral da Cultura, Guilherme Carvalho.

HISTÓRIA - Referem documentos: “Tem esta ilha uma Fortaleza. Na qual se acham montadas 26 peças de bronze, e 11 de ferro com duas mil e novecentas e vinte e uma balas com os mais apetrechos de guerra necessários”
Foi o primeiro edifício com carácter defensivo erguido em São Tomé, no qual foi instalado o Museu Nacional a partir da independência e também a albergar, no largo térreo fronteiriço, as estátuas de João de Santarém, Pêro Escobar e João de Paiva, cujos nomes se ligam ao descobrimento do arquipélago.

Em 1866 passou a abrigar um farol, reconstruído em 1928 e restaurado em 1994. Sofreu intervenção de restauro em fins da década de 1950 com projeto assinado pelo arquiteto Luís Benavente, tendo sido escolhido pelo governo português, em 1960, para sede do Comando de Defesa Marítima da Província -

UM BALUARTE CONTRA A USURPAÇÃO DA PIRATARIA - Que não colonizava mas saqueava

Em 1567 os corsários franceses atacaram a ilha de S. Tomé, roubaram -na e devastaram-na, os prejuízos e a perturbação foram grandes, tendo, efeitos perniciosos na mal consolidada ordem, e na precária economia social da província. -Diz Francisco Mantero, referindo, que os holandeses, em menos de 50 anos, fizeram sentir, por duas vezes, e estrondosamente, no desenvolvimento moral e material da província, os efeitos de barbáries investidas, com o objetivos de rapinarem e destruírem .

Em 1600, os marinheiros duma esquadra, comandada por Wanderlen, saquearam e devastaram a cidade; abandonaram-na em seguida, mas as circunstâncias internas tornaram a investida particularmente ruinosa


A segunda vez foi em 1641 ; uma esquadra com bastante gente de desembarque invadiu novamente a ilha e tomou posse da fortaleza de S. Sebastião, que defendia a Bahia de Ana Chaves, por capitulação dos seus mal organizados defensores.

Sob a nefasta influência dos invasores se atrofiou a agricultura e o comércio, durante alguns anos, até que em 1644, em troca de importantes somas em dinheiro, diz-se, ou ante a presença, na baia, de forças vindas de Portugal e do Brasil, os holandeses abandonaram a ilha restabelecendo-se o exercício da autóctone cidade portuguesa.

O século dezoito não foi menos fecundo em atos praticados pelos colonos, pelas autoridades e pelos estrangeiros, favoráveis á agitação e à desordem, em cujo estado é impossível 0 desenvolvimento material e o avanço da civilização.

Os franceses, em 1706, desembarcaram na ilha do Príncipe, retirando-se depois de a terem saqueado; em 1709 obrigaram a fortaleza, que defendia a Baia de Ana de Chaves em S. 1 Tomé, a render-se por capitulação, e saquearam os cofres da província lançando fogo á cidade.

 


quinta-feira, 28 de julho de 2022

Exposição em S. Tomé - SOBREVIVER NO MAR DOS TORNADOS 38 DIAS À DERIVA NUMA PIROGA. – De 28 a 30 de Julho - Inaugurada há 7 anos no Centro Cultural Português

 Exposição - No Centro Cultural Português, em S. Tomé - 28 a 30 de Julho  de 2015- 

 SOBREVIVER NO MAR DOS TORNADOS - 38 DIAS À DERIVA NUMA PIROGA

Experiência de vida única” que é “também a demonstração do querer humano sobre as adversidades”  “davam um  filme” – Palavras de Olinto Daio”,  do então Ministro Educação, Cultura e Ciência de S. Tomé e Principe

Escrevia eu no meu blogue, Canoasdomar, há 7 anos Finalmente, graças à compreensão e ao louvável acolhimento da Embaixada de Portugal em São Tomé e Príncipe vou poder concretizar um velho sonho: apresentar, na capital destas maravilhosas ilhas, e no Centro Cultural Português, a exposição fotográfica e documental, que esteve patente no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, de 10 de Março a 10 de Abril de 1999, inserida no espírito da Expo98, “Os Oceanos”, subordinada ao título: SOBREVIVER NO MAR DOS TORNADOS – 38 DIAS À DERIVA NUMA PIROGA.

Sou natural da aldeia de Chãs do concelho de Vila Nova de Foz Côa, onde, nos últimos anos, após ali ter descoberto, em 2002, vários alinhamentos pré-históricos, com os equinócios e solstícios, tenho sido o responsável pela coordenação de vários eventos culturais. Sou jornalista (da ex-Rádio Comercial RDP), tendo vivido vários anos em São Tomé – ilha onde desembarquei, em Novembro de 1963, para um estágio, na Roça Uba-Budo, da Companhia Agrícola Ultramarina, do meu curso de Agente Rural, da Escola Agrícola de Santo Tirso. Várias foram as profissões que aqui exerci, até os primeiros passos do jornalismo, assim como também muitas foram as vicissitudes, bem como os dias mais felizes da minha vida, aqui vividos, entre aquela distante data e Outubro de 1975, cujas histórias dariam talvez matéria para alguns livros. Mas ficará para ocasião oportuna.

Postagens que então editei, de que agora exatraí alguns excertos de texto, imagens e videos

https://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/em-s-tome-encerramento-da-exposicao.html

https://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/exposicao-em-s-tome-no-centro-cultural.html

https://canoasdomar.blogspot.com/2015/07/em-s-tome-e-hoje-no-centro-cultural.html


Jornal Novo – 25.9.1976 “Ele correu perigos que assustariam o mais corajoso, incorreu em temeridades que não visavam o lucro mas uma meta mais longínqua. Um insatisfeito desejo de se afirmar e de demonstrar que moram no homem, e com ele vivem , recursos insuspeitados e adormecidos. Não se pense que se referimos a um aventureiro gratuito, que apenas pretende chamar sobre si as atenções, sem objectivos louváveis. Nada disso.(...) "

"As gravações a que procedeu no mar são empolgantes e transmitem o estado de espírito do homem que se encontra só e não conta senão com ele e com Deus. A resistência do homem á fome, à sede e ao desespero, constituem uma constante do seu relato. É comovente a transcrição do feito de Jorge Marques, o qual justificava a publicação de um livro, contendo, em pormenor, o que a escassez do espaço de um jornal não comporta."

A descrição que passou á deriva numa piroga no Golfo da Guiné, se levada ao cinema, daria um filme memorável, principalmente se o realizador extrair da odisseia a espantosa variedade de facetas que ela oferece.” Excertos do Jornal Novo





Na verdade, há momentos que, por tão tormentosos e solitários na vasta imensidão oceânica,  são verdadeiras eternidades – Que o digam todos aqueles que passaram pela dramática e dificílima situação de náufragos. Outros, nunca o terão podido expressar, visto terem ficado sepultados para sempre no silêncio eterno do fundo dos  abismos submarinos. Pessoalmente, quis Deus ou o destino que fosse um dos  sobreviventes, de entre os milhares de vitimas, que, por esta ou por aquela razão,  anualmente, são tragados pela voragem dos oceanos e  pudesse transmitir o testemunho daquilo  que o engenho, a força de vontade e o querer humano, poderão lograr, face às maiores provações.

                    “Contar-te longamente as perigosas
                      Cousas do mar, que os homens não entendem,
                       Súbitas trovoadas temerosas,
                       Relâmpagos que o ar em fogo acedem,
                       Negros chuveiros, noites tenebrosas,
                       Bramidos de trovões que o mundo fendem,
                       Não menos é trabalhos que grande erro,
                        Ainda que tivesse a voz de ferro.”

                                      Camões

Na sessão do encerramento, escreveria eu estas palavras :






Encerrou, ao fim da tarde de ontem, pelas 17.30, no Centro Cultural Português, a exposição” Sobreviver no Mar dos Tornados, 38 dias à Deriva – Acontecimento cultural, que contou com a presença do Ministro da Educação, Cultura e Ciência, Olinto Daio, Presidente do Tribunal de Contas José António Monte Cristo, da Ministra da Saúde, Maria dos Santos Trovoada e o Secretário do Gabinete do Sr. Primeiro-Ministro, Mário Gomes Bandeira, do Bispo de S.T.P., Dom António Manuel dos Santos, acompanhado pelo Rev. Padre Fausto, - Presidente da Comissão Eleitoral, Alberto Pereira,  vários membros do Gabinete da Presidência da República, nomeadamente, Coronel Victor Monteiro e  Amaro Pereira de Couto,  Chefe da Casa Civil;  Embaixador do Brasil,  José Carlos de Araújo Leitão; ex-primeiro Ministro Leonel D’Alva;  Adido da Defesa da Embaixada de Portugal, Sr. Coronel Lourenço Saúde; Diretora do Centro Cultural Português, Margarida Mendes; os excelentíssimos representantes das embaixadas da Guiné Equatorial e da Nigéria, respetivamente, Teodoro Elangui e Aburime Kenneth, assim como  da poetiza e escritora, Conceição Lima, o historiador e escritor Albertino Bragança, Maria Alves, Luís Beirão, Ambrósio Quaresma, Ana Ribeiro e Nuno Bruno, Cláudio Coralle, Manuel da Trindade Costa, artistas  da Associação Pica Pau, entre outras personalidades, empresários, muitos santomenses anónimos ou dos mais diversos setores de atividades  (a que conto vir ainda a referir-me) e alguns meus compatriotas, residentes ou em gozo de férias

Nestes últimos três dias, revivi tantas emoções, sim,  ao confrontar-me com as imagens das minhas aventuras, narrando alguns dos episódios, não só às várias personalidades, que me honraram com a sua presença, como também às muitas pessoas anónimas que me distinguiram com as suas palavras amigas, que outra expressão não me ocorre, senão a de começar por expressar  um profundo agradecimentos  a todos.




A minha singela Homenagem aos bravos pescadores de S. Tomé – A quem devo, em grande parte, estas minhas aventuras;

A Vós bravos homens do mar! - A vós heroicos
pescadores, testemunhos mártires de um povo antigo,
raízes sofridas em pavorosos naufrágios, sangue derramado e vertido,
na opressiva ocupação e domínio da vossa maravilhosa terra,
a vós, meus irmãos dos mares! - A vós meus amigos!
Eu me dirijo e vos saúdo, lídimos filhos das águas,
pioneiros de um longínquo e histórico passado,
legítimos herdeiros de uma ancestral memória...
Viajantes hábeis,  mestre e corajosos marinheiros
vindos da Mãe-África, de lá embarcados,  de lá idos,
sulcando estranhas águas, enfrentando violentos tornados
ou prolongadas e podres calmarias e sol abrasivo,
velejando e remando, noites e dias inteiros
navegando em mar aberto e desconhecido!

Aqui vos evoco: mares das epopeias anónimas
e das muitas tragédias sem glória e sem história!
De muito sofrimento, angústias, dores!
- Vós, mares do antanho e do presente,
sabeis, como ninguém, quantas vidas já destroçastes
a esses humildes  mas arrojados  pescadores!...

 

MARES DA MINHA VIDA...

A vós, lendários mares do sul, eu vos saúdo
com todo amor e bondade do meu coração!
Eu vos bendigo em exaltação ao génio Criador!
Eu vos evoco pelos momentos de rara beleza e de imensa alegria,
e também de outros de não menor tristeza e dor, por mim vividos,
durante dias e dias a fio, no meio da vossa vastidão!
- Obrigado por haverdes compreendido a minha temeridade.
a minha intenção!... Fui um homem de sorte!... - Obrigado, também,
por, antes de mim, haverdes poupado outras vidas às garras da morte!


Recordo e choro, às vezes, ainda o pesadelo,
a angústia sentida desses cruciais instantes!...
Relembro-os e perscruto-os de olhar triste e magoado,
como se estivesse ainda a ver as cristas brancas
a ondularem ao largo, a levantarem-se do fundo das sombras,
tão altas que até quase tocavam as difusas estrelas,
e, subitamente, a estrondearem e a desfazerem-se ao meu lado!
- E eu, pobre de mim, vagueando, nesse horror alucinante!...
Rolando, rolando, pela noite adiante, só e desamparado!
Errando, errando, na pequena piroga, sem rumo e sem destino,
no meio do tumulto avassalador, no centro rodopiante,
do turbilhão fervente e ameaçador! - Transido
pela humidade! Ensopado como um trapo. Mortificado
pela sede e esfomeado!… Um verdadeiro farrapo!
Todavia, lutando, resistindo,
não resignado, não vencido!


es.



Ó Deus Omnipotente e Salvador!... Ó JESUS CRISTO!...Ó BELO E MAGNÍFICO EXEMPLO  SENHOR MEU!... Que maior tormento e suplício aquele!... Deitado no duro  fundo daquele inconstante, encharcado, tosco e frágil madeiro escavado!… Porém, mesmo assim, quão doce e infinito era aquele meu tormento!... Quantas vezes, me lembrei da tua cruz e do teu calvário!... Quando já estavas prostrado e rendido às leis da morte e da vida para te lançarem estendido ao sepulcro!.. Quantas!... Quantas vezes!... Quando tudo à minha volta me parecia revolto e perdido… Sim, no meio avassalador daquelas espessas trevas e noites de breu, cercado pelo tumulto escuro do mar e do céu! E, ante a imensa e tenebrosa solidão, apenas se me afigurava vislumbrar o perfil do teu piedoso rosto… Embora triste e macilento, banhado de suor e de lágrimas!... Mas coroado de esplendorosa caridade e de compaixão… por aqueles mesmos que te traíram e não compreenderam a tua humana, divina e nobre missão! Mas aos quais a áurea que iluminava a tua face, me parecia resplandecer apenas emanada por  um infinito sentimento de amor e perdão


Depois de me sentir suficientemente preparado, que simplesmente a empreender as habituais saídas de canoa, na praia Maria Emília ou ir até à Fortaleza S. Jerónimo, na piroga que ali comparara a um velho pescador por 200$00, decidi fazer um teste um pouco mais ousado, indo de canoa desde a Baía Ana de Chaves até à praia de Anambô. Este é o local onde se encontra o padrão que assinala a chegada dos primeiros navegadores portugueses, justamente no ano em que se realizavam as comemorações do V centenário do seu desembarque, em destemidas e frágeis caravelas, filhos de um pequeno país, mas que, graças à sua notável valentia, à grande gesta destes e de outros navegadores portugueses, haveriam de mudar a história e a geografia do mundo, em admiráveis epopeias marítimas, cantadas nos épicos versos de Luís de Camões, corajosas façanhas que muito admiro, contrariamente a vários aspetos da colonização, cuja dura realidade também a senti no corpo e no espírito. A viagem de ida e volta, foi bem sucedida, não me oferecendo grandes dificuldades, concluindo que estava habilitado a outros desafios mais arriscados.

Um mês depois, aí estava eu, tal como aqueles intrépidos navegadores, e à semelhança dos arrojados pescadores destas maravilhosas ilhas, quando o tornado os arrasta para o desconhecido, a desafiar a vastidão do mar, num simples madeiro de ocá escavado.

Larguei à meia-noite, clandestinamente, pois sabia que se pedisse autorização esta me seria recusada, dada a perigosidade da viagem, levando comigo apenas uma rudimentar bússola para me orientar. No regresso de avião a São Tomé, fui preso pela PIDE, por suspeita de me querer ir juntar ao movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, no Gabão, o que não era o caso. Levei três dias e enfrentei dois tornados. À segunda noite adormeci e voltei-me com a canoa em pleno alto mar. Esta era minúscula e vivi um verdadeiro drama para me salvar, debatendo-me como extrema dificuldade no meio do sorvedouro denegrido das águas.

Cinco anos depois, numa piroga um pouco maior, fiz a ligação de São Tomé à Nigéria. Uma vez mais parti sem dar a conhecer os meus propósitos, ao começo da noite, servindo-me apenas de uma simples bússola. Ao cabo de 13 dias chegava a uma praia ao sul deste país africano, tendo sido detido durante 17 dias por suspeita de espionagem, após o que fui repatriado para Portugal. Os jornais nigerianos destacaram em primeira página o feito.


Os objetivos destas travessias visavam demonstrar a possibilidade de antigos povos africanos terem povoado as ilhas, situadas no Golfo da Guiné, muito antes dos outros navegadores ali terem chegado, contrariamente ao que defendem as teses coloniais, que dizem que as ilhas estavam completamente desabitadas. E a verdade é que, entretanto, já foram encontradas antigas cartas em arquivos, com nomes árabes que testemunham esses contactos. Contributos esses que, de modo algum, poderão pôr em causa o mérito dos ousados feitos dos navegadores portugueses.

Regressado a São Tomé, ainda no mesmo ano, e já com São Tomé e Príncipe independente, tentei empreender a travessia ao Brasil, com o propósito de reforçar a minha tese, evocar a rota da escravatura através da grande corrente equatorial e contribuir para a moralização de futuros náufragos, à semelhança de Alan Bombard. Segundo este investigador e navegador solitário, a maioria das vítimas morre por inação, mais por perda de confiança e desespero, do que propriamente por falta de recursos, que o próprio mar pode oferecer. Era justamente o que eu também pretendia demonstrar. Navegando num meio tão primitivo e precário, levando apenas alimentos para uma parte do percurso e servindo-me, unicamente, de uma simples bússola, sem qualquer meio de comunicar com o exterior, tinha, pois, como intenção, colocar-me nas mesmas condições que muitos milhares de seres humanos que, todos os anos, ficam completamente desprotegidos e entregues a si próprios. Porém, quis o destino que fosse mesmo esta a situação que acabasse por viver. 

A canoa foi carregada num pesqueiro americano para ser largada, na corrente equatorial, um pouco a sul de Ano Bom. Porém, à chegada a esta ilha, o comandante propôs-me abandonar a canoa e ficar a trabalhar a bordo, alegando que a mesma estorvava e que a aventura era muito arriscada. Na impossibilidade de ser levado para a dita corrente, decidi-me pelo regresso a São Tomé para tentar a viagem noutra oportunidade. Foi então que uma violenta tempestade me surpreendeu em plena noite, tendo perdido a maior parte dos víveres, os remos e outros apetrechos. Ao sabor das vagas, num simples madeiro escavado, é difícil imaginar pior situação. Mesmo assim, com a canoa completamente desgovernada, não cruzei os braços e nunca me dei por vencido. Peguei num dos mastros e coloquei-o de través para garantir algum equilíbrio. Um dos bidões foi amarrado a uma corda e largado para servir de âncora flutuante. No dia seguinte improvisei um remo com um dos barrotes do estrado da canoa e pedaços da cobertura, a fim de conseguir dar alguma orientação. Mas de pouco me haveria de valer face à fúria dos constantes tornados. Como bóia de salvação utilizei o resto do estrado e adaptei-lhe um pequeno colchão de ar; frágil recurso para forças tão descomunais!

Foram momentos de extrema aflição, que me pareceram verdadeiras eternidades, durante 38 longos e difíceis dias, 24 dos quais a beber água do mar e das chuvas, e duas semanas sem alimentos que não fosse algum peixe que ia apanhando (e quando acontecia) ou ave que, entretanto, pousando, sacrificava. Enfrentando tempestades, sucessivas, incluindo ataques de tubarões. Ainda cheguei a pescar alguns de pequeno porte, enquanto tive anzóis. Mas, até estes, mais tarde, me haveriam de faltar.

Acabei por ser arrastado pelas correntes até à Ilha de Fernando Pó, já no limiar da minha resistência física, onde fui tomado por espião, algemado e preso numa cela de alta segurança, a mando do então Presidente Macias Nguema, após o que fui repatriado para Portugal, tal como me acontecera na Nigéria. Mas, agora, graças a uma pequena mensagem que levava do então jovem Governo de São Tomé e Príncipe, que recentemente tinha ascendido à sua independência, para saudar o povo irmão brasileiro, quando eu aportasse na sua costa.

Os objetivos dessas minhas travessias foram vários: antes de mais, o fascínio que o mar exerceu em mim desde o primeiro dia que desembarquei, do velho Uíje, ao largo da baía azulinha da linda cidade de São Tomé; o desejo de me encontrar a sós com a solidão e a vastidão do oceano e, de perante esse cenário, me poder interrogar, ainda mais de perto, sobre a presença e os mistérios de Deus. Mas também por outras razões de carácter histórico-científico e humanitário, tais como evocar a rota da escravatura, ao longo da grande corrente equatorial, lembrar esses ignominiosos tempos do comércio de escravos e chamar atenção para esse grave problema que, sob as mais diversas formas, continua afetar a existência muitos seres humanos na atualidade. Mais, demonstrar a possibilidade de antigos povos africanos terem povoado as ilhas, situadas naquele imenso Golfo, muito antes dos navegadores portugueses ali terem chegado. Por último, contribuir para a moralização de futuros náufragos. Felizmente quis a minha boa estrelinha e, creio, com ajuda de Deus, que pudesse resistir a tantos dias de angústia, de sobressaltos e de incerteza.

Já se passaram vários anos, porém essa minha experiência ainda está muito presente na minha memória. E duvido que algum náufrago possa alguma vez esquecer os seus longos momentos de abandono e de infortúnio.

Jorge Trabulo Marques


São Tomé

julho 2015



quarta-feira, 27 de julho de 2022

CEEAC – XXI Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Central, em Kinshasa, decorreu de forma positiva- Reconhece o Presidente de S. Tomé e Príncipe e a Guiné Equatorial

Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

A República Democrática do Congo acolheu de 22 a 25 deste mês a XXI Sessão Ordinária da Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Central.

Criada em 18 de outubro de 1983, com sede em Libreville, Gabão, a Comunidade Econômica dos Estados da África Central é composta por 11 países: Camarões, Gabão, Guiné Equatorial, Chade, Congo, República Centro-Africana, Angola, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Burundi e Ruanda.

Com duração de três dias consecutivos em Kinshasa, República Democrática do Congo, a XXI Sessão Ordinária da Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CEEAC foi a plataforma na qual os 11 países membros da união discutiram questões que desestabilizam a segurança da a sub-região, e retardar o desenvolvimento econômico das nações da comunidade..

O Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova , no seu regresso ao pais  , preveniente de Kinshasa, Congo-RDC, onde participou na XXI Sessão Ordinária da Conferência da CEEAC, declarou à imprensa que tendo “os trabalhos decorreram bem e de forma positiva”.

“ Conseguiu-se aquilo que era esperado”, disse Vila Nova, sublinhado que os Chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) acabaram por adotar o relatório de trabalho do Conselho de Ministros após algumas correções e alterações finais realizadas no evento.

Também a Guiné Equatorial, que participou com uma alta delegação chefiada por S.E. Teodoro Nguema Obiang Mangue, reconheceu, sobre as questões que ali foram discutidas  sobre a segurança da  sub-região,  Guiné Equatorial implementou políticas de combate ao terrorismo, atos de vandalismo e pirataria marítima. A participação do vice-presidente equatoguinense na conferência deveu-se, por um lado, ao desejo de reafirmar a ideia da Guiné Equatorial de criar uma força conjunta para combater tais atos na sub-região; já que a instabilidade de um país pode repercutir no outro e, consequentemente, em toda a sub-região.