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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Carmen Dolores – Entrevista há 33 anos O Adeus à Atriz - “Os dias de Rádio foram muito agradáveis “- “Todas as Idades têm o seu encanto” - Declarou-me em sua casa.

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista 


O Adeus à Atriz Carmem Dolores –  O Adeus à Atriz -Entrevista há 33 anos “Os dias de Rádio foram muito agradáveis “- “Todas as Idades têm o seu encanto” - Declarou-me - Morreu, em Lisboa, na segunda-feira, aos 96 anos. 



Na entrevista, que me concedeu, amavelmente em sua casa, tinha acabado de chegar da APOIART, de uma reunião sobre o projeto da Casa do Artista, de que viria a ser cofundadora, inaugurada anos depois, a 5 de Maio 1999, por um grupo de atores, tendo como primeiras finalidades a residência para artistas e o Teatro Armando Cortez.

Recordou-me vários aspetos da sua vida, nos tempos dos folhetins radiofónicos, assim como na séries de Televisão, nas peças de teatro e no cinema, do seu gosto pela escrita e pela leitura

“Comecei a ler desde muito nova; o meu pai era jornalista, e havia sempre em casa, imensos livros, imensos jornais e revistas, e lia muito: comecei a interessar-me por tudo. E lembro- de aos 13 anos, eu li toda a obra de Dostoiévski

Falou-me do projeto da Casa do Artista, de que viria a ser a cofundadora, de um sonho muito antigo dos atores e que viria a ser concretizado em 5 de Maio de 1999 – E do que pensava da Velhice, quando, um dia atingisse esse período da vida, respondeu-me que todas a idades têm o seu encanto, conquanto haja a saúde: “Não me assusta a velhice: se a pessoa tiver saúde até ao fim, acho que a velhice não se fará sentir. Não me assusta muito a velhice. Mas, por exemplo, na minha profissão, pois, se continuar a tralhar. Se continuar haver papéis para todas as idade, por isso, não me assusta muito

Falou-me da sua participação no filme da Badalada do Cães, que tinha sido realizado no ano anterior por José Fonseca e Costa, baseado na obra original de Cardoso Pires

Á pergunta se gostava mais de fazer teatro ou cinema, respondeu-me que, ultimamente vinha fazendo mais teatro de que cinema,

Ultimamente dediquei-me mais ao teatro de que ao cinema, e também porque é muito difícil fazer

No principio da minha carreira, fiz muito cinema, mas depois dediquei-me mais ao teatro. E também porque é muito difícil de fazer uma vida paralela, como atriz de teatro e atriz de cinema, acabei por estar muitos anos sem fazer cinema. Fiz um filme de António Macedo, há uns anos, e, o ano passado, a Balada da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires, uma realização de José Fonseca e Gosta; gostei imenso! E apetece-me imenso voltar a fazer cinema!

Entre o Teatro e o cinema, se tivesse que optar?

Essa é uma pergunta muito difícil: eu gosto muito de teatro mas o teatro é muito cansativo… Quando se faz teatro, com continuidade, esse compromisso diário, não é que me canse ou assuste a monotonia, porque nunca é igual: é isso que o teatro tem de vivo de atual e de atuante.

Falou-me do livro, que tinha escrito, de memórias, “ O Retrato Inacabado” quando residiu em Paris, com o seu marido

Disse-me que gosta muito de escrever; tenho necessidade confiar ao papel muitas coisas que não digo – Não escreve poesia, mas quando era rapariguinha, teve uma tendência para escrever poesia, mas depois achei que não valia a pena, porque não era boa a escrever

Estas algumas das questões, de que me falou, na entrevista de 20 minutos que amavelmente me concedeu, cuja audição recomendo

Em julho de 2018, a atriz foi condecorada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, no âmbito de uma homenagem no Teatro da Trindade à atriz, que incluiu a estreia da peça "Carmen", inspirada nas suas memórias, e o batismo da sala principal com o seu nome.

O grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuído pelo então Presidente da República Jorge Sampaio, a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa, o prémio Sophia de Carreira, da Academia Portuguesa de Cinema, e o Prémio António Quadros de Teatro constam também do palmarés da atriz.- Lusa

Traços Biográficos – “Iniciou o seu percurso na rádio, como declamadora e atriz e aos 19 anos estreou-se no cinema em "Amor de Perdição" (1943), adaptação de António Lopes Ribeiro do romance de Camilo Castelo Branco. Entrou também nos filmes "Um Homem às Direitas" (1945), de Jorge Brum do Canto", "A Vizinha do Lado" (1945), também de António Lopes Ribeiro, e "Camões" (1946), de José Leitão de Barros.

Estreou-se nos palcos no Teatro da Trindade, na capital portuguesa, em 1945, integrada na Companhia Os Comediantes de Lisboa, na peça “Electra, a mensageira dos deuses”, de Jean Giraudoux, encenada por Francisco Ribeiro (Ribeirinho).

Em 1951 passou para o palco do Teatro Nacional D. Maria II, sob a direção de Amélia Rey Colaço, e participou em várias peças, entre as quais "Frei Luís de Sousa", de Almeida Garret

Nascida em Lisboa, a 22 de abril de 1924, Carmen Dolores teve uma carreira de mais de 60 anos com um percurso que passou pela maioria dos palcos portugueses, companhias independentes, cinema, rádio e televisão.

Iniciou o seu percurso na rádio, como declamadora e atriz e aos 19 anos estreou-se no cinema em "Amor de Perdição" (1943), adaptação de António Lopes Ribeiro do romance de Camilo Castelo Branco. Entrou também nos filmes "Um Homem às Direitas" (1945), de Jorge Brum do Canto", "A Vizinha do Lado" (1945), também de António Lopes Ribeiro, e "Camões" (1946), de José Leitão de Barros.

Estreou-se nos palcos no Teatro da Trindade, na capital portuguesa, em 1945, integrada na Companhia Os Comediantes de Lisboa, na peça “Electra, a mensageira dos deuses”, de Jean Giraudoux, encenada por Francisco Ribeiro (Ribeirinho).

Em 1951 passou para o palco do Teatro Nacional D. Maria II, sob a direção de Amélia Rey Colaço, e participou em várias peças, entre as quais "Frei Luís de Sousa", de Almeida Garrett.

Foi uma das fundadoras do Teatro Moderno de Lisboa e participou num projeto que levou à cena novas encenações de peças de autores consagrados como Fiódor Dostoiévski, William Shakespeare, August Strindberg ou José Cardoso Pires.

Na década de 80 trabalhou no cinema com José Fonseca e Costa, em "A Mulher do Próximo" (1988) e "Balada da Praia dos Cães" (1987).

Em 1998, de novo no teatro, foi dirigida por Diogo Infante em Jardim Zoológico de Cristal de Tennessee Williams, no Teatro Nacional.

Teve também vários papéis em televisão em telenovelas como "Passerelle", "A Banqueira do Povo" e "A Lenda da Garça".

“Copenhaga”, no Teatro Aberto, com encenação de João Lourenço, foi a peça com que, em 2005, se despediu dos palcos após uma carreira de 60 anos.

Em julho de 2018, a atriz foi condecorada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, no âmbito de uma homenagem no Teatro da Trindade à atriz, que incluiu a estreia da peça “Carmen”, inspirada nas suas memórias, e o batismo da sala principal com o seu nome.

Carmen Dolores foi ainda distinguida com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuído pelo Presidente da República Jorge Sampaio, com a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa, o prémio Sophia de Carreira, da Academia Portuguesa de Cinema, e o Prémio António Quadros de Teatro, entre outros galardões. https://mag.sapo.pt/.../art.../morreu-a-atriz-carmen-dolores

 


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

“Deus seja connosco no céu e na terra!” – Diz Álvaro de Campos, irmão gémeo de Fernando Pessoa, no que na alma da mesma pessoa heterónima, ressoa e ecoa:


"Deus seja connosco….

Chora a noite a Senhora de(…)

Torcendo as mãos, de modo a ouvir-se que elas torcem

No silêncio Profundo

Deus seja connosco  no céu e na terra,

Ó Deusa Tutelar do Futuro, ó Ponte

Sobres os abysmos do que não sabemos que seja…

Deus seja connosco, e não esqueçamos nunca

Que  o mar é eterno  e afinal de tudo tranquilo

E a terra grande e mãe e tem a sua bondade

Porque sempre podemos  n’ella  recostar a cabeça  cansada

E dormir  encostados a qualquer cousa.

 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Petróleo em S. Tomé e Príncipe – Conhecida a existência, em 1912, à beira-mar, pelo químico e Prof. Charles Lepierre, no distrito de Lobata, num estudo encomendado pelo IST de Lisboa – Mas, até hoje, apesar dos vários acordos assinados, ainda nem uma gota foi explorada - Bênção ou maldição?



Jorge Trabulo Marques - Jornalista

"Segundo as informações colhidas o dito óleo nasce à beira-mar na freguesia de Guadalupe, Ilha de São Tomé. O eminente geólogo Paul Choffart  não tinha conhecimento desta formação".- 

Apresenta uma cor acastanho escura; tem o aspeto e cheiro dos óleos minerais empregados para lubrificação" Descoberto, há mais de um século por um investigador francês, Prof de química na Universidade de Coimbra, a pedido do IST de Lisboa, na área costeira do distrito de Lobata, em S. Tomé-  E cujo aproveitamento, para não poluir a Ilha e perturbar a população e o turismo, poderia ser explorado pelo menos para abastecimento interno e sanear o enorme endividamento do combustível, já que o estudo conferia-lhe boas possibilidades de exploração., visto, o das jazidas da sua área marítima, estar muito profundo e envolver enormes custos

 Porventura, tal como o da lagoa Amélia, na Roça Uba-Budo, a que então o estudo não aludiu - E, que, quando ali trabalhei como empregado de mato, chegou a ser usado na iluminação desta propriedade.

No sul da Ilha, há também vestígios numa ribeira, que até passa por baixo de uma estrada, cujo cheiro da água escura, tresanda a petróleo. Mas, até agora, além das antigas roças terem ficado em estado de ruínas e de abandono, nem um pingo foi explorado no mar ou em terra

Numa pesquisa, por mim efetuada, há dois anos, na Biblioteca Nacional de Lisboa, pude tomar conhecimento de um curioso estudo realizado por Paul Charles Lepierre (Paris12-11-1867 — Lisboa, 17-12- 1945), mais conhecido por Charles Lepierre, notável químico e professor universitário de origem francesa, que chefiou em Portugal vários trabalhos de química mineral em vários estabelecimentos de ensino, delegado do Governo Português na Exposição Universal de Paris, em 1988, tendo chegado a preparador e chefe de trabalhos do laboratório de microbiologia da Universidade de Coimbra, distinguindo-se no campo da investigação, nomeadamente no estudo e caracterização físico-química das águas minerais e minero-medicinais de Portugal https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Lepierre

Num estudo publicado, em Abril de 1912, na “Revista de Chímica Pura e Applicada”, na sequência da sessão cientifica de 22 de Março daquele ano, da “Sociedade Chima Portugueza” era feita a divulgação de um trabalho de investigação encomendado pelo  “Instituto Superior Technico”, chefiado pelo Pelo Prof. Charles Lepierre, acerca  da análise de um óleo mineral em S. Tomé, do qual passo a transcrever alguns excertos, no português atual

Tive há tempos o ensejo de proceder â analise dum óleo mineral africano. É o resumo das minhas informações que apresento e que constituem apenas uma  modesta colaboração para o estudo dos produtos portugueses.

Segundo as informações colhidas o dito óleo nasce à beira-mar na freguesia de Guadalupe, Ilha de São Tomé. O eminente geólogo Paul Choffart  não tinha conhecimento desta formação.

Apresenta uma cor acastanho escura; tem o aspeto e cheiro dos óleos minerais empregados para lubrificação

(…) Do exame dos números precedentes e do estudo dos quadros que se seguem resulta nitidamente que o produto examinado tem todos os caracteres dum óleo mineral

Tal como  nos foi apresentado contem apenas 12.7 5%  de produto petrolífero, isto é, suscetível de dar bom petróleo iluminante. Com efeito o petróleo bem retificado destila entre 150º a 300º. Ora o óleo examinado, até 250º,  dá apenas menos de 1% de produto e até 300º passou ao todo  12,75%  de óleo.

C  - Debaixo do ponto de vista petróleo convém pois pesquisar afim de ver se não aparece  produto mais volátil, por meio de sondagem, o que é provável.

D – Mas, sob ponto de vista óleo mineral para lubrificação ou outras aplicações ( combustível, vernizes, etc. ) o produto bruto ( purificado por filtração conveniente ou por um tratamento pelo ácido sulfúrico, seguido de lavagem) poderá encontrar bom emprego

MUITA PARA E  MAIS   LUVA -DE QUE UVA  

Não  têm faltado promessas ou apoios: hoje é o de que Agência de Petróleo e Total anunciam reabertura da Mediateca da Aliança Francesa após renovações-  

Diz a STP-Press que “Agência de Petróleo e Total anunciam reabertura da Mediateca da Aliança Francesa após renovações,– O Director Executivo da Agência Nacional de Petróleo de São Tomé e Príncipe (“ANP-STP”), Olegário Tiny e o Director Geral da Total E&P São Tomé e Príncipe Rui Rodrigues, anunciam a reabertura da Mediateca da Aliança Francesa renovada e apetrechada, ao abrigo das obrigações contratuais de partilha de produção do Bloco 1, onde elegeu-se o sector da educação como eixo de intervenção prioritário" http://www.stp-press.st/2021/02/02/agencia-de-petroleo-e-total-anunciam-reabertura-da-mediateca-da-alianca-francesa-apos-

-"O petróleo pode ser uma bênção ou uma perdição para um país", disse Sachs."A teoria era ajudar São Tomé a evitar a maldição dos recursos". As coisas, no entanto, não funcionaram desse jeito”




Esta citação, a que me referi em aprofundados trabalhos jornalísticos, em 2017, consta num artigo sob o título “O cheiro de óleo traz corrupção para um pequeno país africano” 03 de julho de 2007 “Há uma década, geólogos encontraram sinais de que um dos países menos conhecidos da África, a minúscula nação insular de São Tomé e Príncipe, pode ter o resgate de um rei em petróleo.” !A primeira gota de óleo ainda não foi produzida. Mas, hoje em dia, o pequeno São Tomé pode ter atraído grandes quantidades de outra coisa, sugerem as investigações federais - corrupção relacionada com o petróleo.”

Tudo isso pode não parecer incomum na África, onde petróleo e corrupção costumam andar de mãos dadas. No entanto, São Tomé, uma ex-colônia portuguesa que fica na costa da Nigéria, deveria ser diferente..


Há um ditado em São Tomé, que diz - referido num artigo a respeito destas tão famosas concessões : "Para ficar rico, tudo o que você precisa fazer é ser ministro por 24 horas". - Pelos vistos, assim tem acontecido com algumas figuras ou figurantes, que se servem das Ilhas como plataforma para folgadas passeatas pelo estrangeiro e chorudos negócios privados : Muito se escreveu sobre os escandalosos contratos das concessões - Mas, ao que parece, com o tempo tudo se esquece e já não faz mossa aos principais protagonistas das tais falcatruas, que encheram de milhões os bolsos corruptos. (…) A recente acusação do Departamento de Justiça de William J. Jefferson, um representante democrata da Louisiana, sustenta, por exemplo, que ele exigiu suborno de uma empresa que buscava sua ajuda em uma disputa relacionada ao petróleo envolvendo São Tomé.. https://www.livemint.com/Politics/ZNnz94swUL1Hlhq7HJ1aOO/Scent-of-oil-brings-corruption-to-a-tiny-African-country.html
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Fradique Menezes
(...) O Sr. de Menezes, em 2003, por exemplo,  se aproximou do Sr. Sachs. e disse: " Olhe, nós encontramos um pouco de óleo e os tubarões estão nadando em nossa volta agora, e eu gostaria de ajudar a gerenciar isso corretamente ", lembrou o Sr. Sachs em uma entrevista recente.
Como parte desse esforço, uma equipe da Universidade de Columbia e outros ajudaram a elaborar uma nova lei sobre o petróleo que contenha salvaguardas para garantir que São Tomé gastasse suas receitas relacionadas ao petróleo adequadamente. .
No final de 2005, no entanto, um relatório do procurador-geral de São Tomé, entre outras coisas, descobriu que algumas empresas que conquistaram blocos na zona controlada em conjunto por São Tomé e seus vizinhos foram lideradas por empresários nigerianos com laços políticos, mas sem experiência no setor de petróleo.
O processo de licitação "estava sujeito a graves deficiências processuais e manipulação política", concluiu o relatório. Além disso, o relatório descobriu que algumas grandes empresas petrolíferas multinacionais estavam tão desconfiadas da ERHC que decidiram não oferecer e acrescentou que a ERHC "pode ​​ter feito pagamentos indevidos a funcionários do governo".
(...) O relatório do procurador-geral pode ter precipitado a incursão do verão passado nos escritórios da ERHC em Houston pelo FBI. Entre outras coisas, os agentes do FBI levaram um arquivo marcado como "William Jefferson", uma referência ao congressista da Louisiana, mostra um cadastro público..
(...) Seja como for, a ERHC surgiu até o maior vencedor em São Tomé. Ao longo do ano passado, vendeu vários direitos sobre suas participações em São Tomé, fazendo dezenas de milhões de dólares no processo.
(...) Os novos estatutos de petróleo e anticorrupção elaborados por consultores como o Sr. Bell, o advogado de Washington, tornaram-se lei. Mas com toda a obscuridade e intriga que agora desceu sobre São Tomé, ele, como outros, pergunta se isso fará qualquer diferença."O jogo ainda não está perdido", disse Bell. "Mas é um jogo muito áspero". No Oil Yet, but African Isle Finds Slippery Dealings - The New York ...,,,Traduzir esta página

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

São Tomé – Memória do Batepá -– 68ª aniversário sem a tradicional Marcha da Liberdade da capital a Fernão Dias, em honra aos heróis de 3 de Fev de 1953 - Covid-19 e instabilidade social, com ameaças de greves na saúde e educação, levam a cerimónia reduzida aos titulares dos órgãos da soberania, corpo diplomático e alguns convidados

 Jorge Trabulo Marques - Jornalis


São-Tomé e Príncipe comemora esta quarta-feira, 3 de Fevereiro, dia  dos heróis da liberdade do histórico massacre de 53, com Presidente da República, Evaristo Carvalho, a presidir, pela primeira vez na história da efeméride, uma cerimónia bastante restrita, sem populares nem a habitual marcha de capital-São-Tomé à Fernão Dias, distrito de Lobata, por causa da pandemia da Covid-19 – Diz STP-Press

Recordamos-lhes imagens e entrevistas na marcha de 3 de Fevereiro de 2016

Reduzido aos titulares dos órgãos da soberania, corpo diplomático e alguns convidados, o acto central fica, sobretudo, marcado com a deposição de coroa de flores, a chama [tocha] da liberdade, bem como orações e cânticos de diferentes confissões religiosas, no memorial dos mártires, localizado em Fernão Dias, o histórico espaço do massacre perpetuado pelo então poder colonial do governador Carlos Gorgulho. http://www.stp-press.st/2021/02/02/covid-19-deixa-3-de-fevereiro-sem-tradicional-marcha-da-liberdade-em-honra-aos-herois-de-53/

O FMI aprovou, em Abril do ano passado, uma linha de US$ 12 milhões para São Tomé e Príncipe enfrentar pandemia – Mesmo assim, tem-se revelado insuficiente para superar as enormes dificuldades, tanto a nível   das fragilidades do sistema de saúde, como no sector económico

Além disso, o legado da divida externa, vinda de anos anteriores, que já era avultadíssimo, com a crise provocada pelo Covid-19, quer no turismo, como noutros sectores de atividade, veio,  também, neste pequeno pais africano,  tornar ainda mais difícil a vida à sua população

ONDE FALTA O PÃO NUM PAIS ENDIVIDADO - Todos ralham e ninguém tem razão 

Nestas férteis e maravilhosas ilhas, não falta a fruta-pão, a matabala, a banana-pão e outras espécies de bananas e variadíssimos frutos, mas, o ordenado mínimo, como não vai além dos 50 euros mensais, não havendo dinheiro para medicamentos e outras necessidades essenciais, claro, gera descontentamento, visto ser muito difícil enfrentar as carências do dia a dia

É noticiado pela imprensa local  que os sindicatos do sector da saúde, uniram-se num único bloco, pressionando o Governo de Jorge Bom Jesu, com ameaças de greve, exigindo “melhoradas as condições de trabalho nos postos de saúde e nos hospitais do país, com destaque para o fornecimento de medicamentos, https://www.telanon.info/sociedade/2021/02/01/33552/governo-tenta-repor-o-stock-de-medicamentos-para-evitar-greve-geral-na-saude/

Por outro lado, também é referido que “os professores são-tomenses iniciaram na manhã de hoje uma greve “por tempo indeterminado” , http://www.stp-press.st/2021/02/02/professores-entram-em-greve-mas-governo-diz-ser-ilegal-por-quebra-unilateral-das-negociacoes/

Antes do 25 de Abril, pouco mais poderia expressar que uma grande dor reprimida mas não esquecida




















Um local pantanoso, infestado de mosquitos, embora a escassos metros da praia, onde muitos presos, ou  eram imediatamente acorrentados e lançados ao mar ou, ainda sob o peso de fortes grilhetas,  obrigados a carregar pesadas tinas de água ou grandes blocos de pedra, por forma a que o seu extermínio ainda fosse mais doloroso, porque física e psicologicamente mais sórdido e lento, quando não sufocados pelo terreno movediço da lama para onde também eram atirados ou mortos vivos em valas abertas pelos próprios prisioneiros, que eram obrigados a cavar a sepultura, sob as prepotências e as arbitrariedades de um contratado  de  
angola, um tal Zé Mulato, um inqualificável verdugo que  que as autoridades foram buscar à cadeia,  onde  cumpria pena de assassínio, para chefiar o dito campo de mort


EM PORTUGAL - NUMA REMOTA ALDEIA - TAMBÉM HOUVE OUTRO MASSACRE


Claro que não se pode dizer que, em 1953, os tempos também fossem bons para os portugueses que viviam na “metrópole do império colonial”, muito pelo contrário: eram tempos de repressão, de fome e de miséria – Nas escolas as crianças eram reprimidas à  chibatada  e  com reguadas de deixar as mãos arder e ensanguentadas - 

 E quem poderá esquecer o massacre de a pequena aldeia do colmeal,  onde nasceu o meu bisavô paterno, varrida por ação de um processo judicial, injusto e prepotente, no dia 10 de Junho de 1957, com os seus habitantes despejados à força, com  desfecho trágico de casas queimadas e algumas mortes por balas da GNR- a guarda pretoriana do regime colonial-fascista -, é  também outra das páginas negras da História da Lusitânia moderna – Ver pormenores em http://www.vida-e-tempos.com/2019/09/colmeal-romagem-espiritual-silenciada-e.html


A MÁGOA QUE DIFICILMENTE SERÁ APAGADA DA MEMÓRIA DOS SOBREVIVENTES

Em 1974, entrevistei algumas das vítimas para a revista Semana Ilustrada, de Luanda, duas dos quais em Fernão Dias, no local do famigerado campo de Concentração e outro santomense, ainda  com feridas por sarar numa das pernas, com que foi acorrentada - - Trabalhos jornalísticos esses que me haveriam de custar graves dissabores, violentas reações por parte, de alguns colonos. que me furaram os pneus do meu carro à navalhada, penduraram uma forca na porta de minha casa e me agrediram selvaticamente


BARTOLOMEU CRAVIDE - 20 ANOS DEPOIS AINDA TINHA FERIDAS DAS GRELAS NAS PERNAS E POR SARAR 

"Prenderam-me durante 45 dias. Houve a ideia de arranjar mão-de-obra gratuita. E daí surgiram as prisões, mais prisões sem quaisquer razões para isso. Procurava-se emprego e não se encontrava. No entanto, as rusgas sucediam-se e as pessoas que encontravam eram presas. É claro que houve um ou outro que reagiu sobre essas atitudes."

Pouco depois do 25 de Abril, vi com os meus próprios olhos  essas feridas -  Ainda em chagas vivas por sarar! ... Provocadas por longo cativeiro, no campo de concentração de Fernão Dias, acorrentados a bolas de ferro, tal como aos escravos nos barcos negreiros. Pude entrevistar algumas dessas pessoas para a Revista Semana Ilustrada.



Vi também  a fotografia da famosa cadeira onde os presos eram algemados, submetidos a ignóbeis espancamentos e torturas,  até sujeitos a choques elétricos para os obrigarem a confessar e assinar declarações de factos forjados para os incriminarem o seu envolvimento numa revolta que pretenderia matar o governador e os colonos e aproveitarem-se das suas mulheres  - Mais tarde  a PIDE, enviada   por Salazar, iria negar a existência da conspiração, que depois de ter sido rotulada de comunista, passar a ser provocada por elementos desafetos ao regime .

Escasseava a  mão de obra barata..E o governador planeava construir grandes edifícios à custa do trabalho forçado nas ilhas e  mandou o ajudante de campo armado em soldado nazi a comandar um grupo de milícias para  ordenar o trabalho obrigatório.. Num verdadeiro retorno aos primórdios do ignóbil e duro esclavagismo, até que,  numa remota aldeia perdida no mato,  algures pela Vila da Trindade, alguém se encheu de coragem e reagiu sobre o fogoso e arrogante alferes, que teve a reação popular que merecia  e à altura da leviandade e do desprezo como olhava a  população  e impunha  a sua vontade .

VISITA AO LOCAL DOS TRÁGICOS ACONTECIMENTOS – EM 1974 – 20  ANOS DEPOIS  - TENDO COMO GUIA DOIS SOBREVIVENTES: Manuel dos Ramos e Manuel Carmona


Este o excerto do relato – “O local fica perto da. sede da de pendência Fernão Dias, à Roça Rio do Ouro, à frente de um' mar azul  imenso, bordado de viçosos coqueiros e de um capim que cresce exuberantemente  e, por entre vestígios e recortes de antigas construções, em tempos utilizados para servir a ponte de cais acostável para  os- barcos de longo curso que ali atracam  (...) 
Lá se encontravam ainda, junto à praia conforme nos disse, os dois ta marinheiros onde diariamente eram estendidos os cadáveres e dali transportados, por uma camioneta, para uma vala comum, no cemitério da cidade. 

Mostrou-nos, igualmente, o sítio onde ele também esteve estendido no chão duro, cercado então por arame farpado, e onde ficavam a aguardar o momento do interrogatório ou da pena capital.


Acompanhou-nos ao lugar, onde ficava a casa que o chefe da brigada do campo de concentração e de trabalhos Forçados utilizava para pro ceder às torturas, aos interrogatório e  julgamento das inúmeras pessoas que para ali iam presas. 

Por último, trouxe-nos ao lugar onde os presos partiam brita para construção de uma pista para o aeroporto que a partir de ali se pretendia iniciar e apontou-nos o pântano onde eram também forçados a trabalhar. Na berma do mesmo, encontramos ainda uma argola de uma corrente de ferro, com que eram amarrados. Mata ali e vai pôr junto desses tamarinos e tapa com  chapa”.concentração e de trabalhos Forçados utilizava para pro ceder às torturas, aos interrogatório e  julgamento das inúmeras pessoas que para ali iam presas. 

Tudo isto lhe ouvimos de viva voz com palavras de emoção e tristeza , ao  recordar aqueles horrendos episódios  de que foi vitima e assistiu - Pormenores das duas entrevistas neste site em http://www.odisseiasnosmares.com/2015/02/s-tome-e-principe-memorias-do-batepa-5.html

 A  MÁRTIR POVOAÇÃO DE BATEPÁ

É hoje uma pequena vila, porém, há 62 nos, era apenas um conjunto de algumas modestas casas de madeira –  Mas foi justamente aí, pelo facto dos santomenses se haverem recusado  a trabalharem à força, como escravos,  nas obras públicas e nas plantações do Cacau e do Café das grandes roças, que começaria uma das páginas mais negras da história da colonização portuguesa neste arquipélago – Mas também, por outro lado, a lembrança de um período que haveria de ser marcado pelas mais nobres e corajosas provas de resistência ao repressivo domínio esclavagista. 

 SOBREVIVENTE - A DOR QUE O TEMPO AINDA NÃO APAGOU - ESPANCADA À CRONHADA DEPOIS DE LHE METEREM A CABEÇA NUM TANQUE DE  ÁGUA - Era menina e estava grávida.




Maria dos Santos, mais conhecida por Mena  - Ainda  jovem, e  mesmo grávida, não foi poupada à brutalidade facínora das ordens do então Governador Carlos Gorgulho: arrastada à força de sua casa, levada para um calabouço na então Vila de Trindade, espancada barbaramente, Primeiro deu-se o saque às casas: carregaram o que puderam dos modestos teres e haveres, após o que as incendiaram.


Imagens e palavras de um abominável massacre. O pai de Teresa, esposo de Maria dos Santos, , também vitima da mesma barbárie, depois de lhe terem queimado a casa e o carro (que saquearam antes de a incendiarem) ainda procurou refúgio no mato mas foi apanhado, preso e enviado para o Campo de Concentração de Fernão, onde acabaria por embarcar, com mais 120 homens para serem lançados ao mar, no barco António Carlos. Tal porém não sucederia por  a tripulação do navio se ter oposto, tal como vim  a saber através de outro depoimento, que obrigaram o comandante a deixar os prisioneiros na Ilha do Príncipe, onde acabariam por ficar presos   – 

Um desses  valorosos homens era o cabo-verdiano, Bernardino Lopes Monteiro, pai  do Coronel Victor Monteiro Dias,  que foi  chefe do Gabinete do Presidente Fradique Menezes e de Manuel Pinto da Costa, a  cujo episódio, já me referi  neste site.  ...http://www.odisseiasnosmares.com/2019/02/sao-tome-decorre-hoje-comemoracao-do-3.html