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domingo, 10 de junho de 2012

10 de Junho dia de Portugal, de Camões ou mais um dia dos políticos se exibirem?! - No tempo colonial celebrava-se o Dia da Raça. Eram as paradas da propaganda ao serviço do regime: confundia-se a aventura marítima com a expansão imperial e o domínio dos povos. E agora o que mudou?!...

TEMOS VERDADEIROS HERÓIS DO MAR - MAS NÃO SOBEM  ÀS TRIBUNAS...

Já não assistimos à imposição de medalhas aos familiares dos que perderam ingloriamente as vidas numa guerra longa e injusta, e mesmo a alguns vivos por haverem cumprido (com total entrega) um dever que lhes fora imposto – Quando os ventos em África sopravam a favor da libertação dos povos, nós continuávamos orgulhosamente sós afirmar que Portugal ia do Minho a Timor. 


E, agora, quais são os novos heróis de merecido mérito?!... Continua haver comendadores e amedalhados – Claro,  mais deles por serem grandes devotos de quem lhes confere o distinto galardão. Mudou o regime mas as varejas são as mesmas - Portugal já não tem mais império mas tem muita água salgada e está à venda; os principais compradores são os filhos dos novos ricos que colonizámos - Saúdo o meu país profundo que mais sofre e continua a viver a meias com a pobreza e as lindas Ilhas de São Tomé e Príncipe, para onde meu coração se reparte e cuja população aguarda ainda a sua oportunidade 

 


JÁ NÃO TINHAM QUE TRAGAR, JÁ NÃO TINHAM QUE BEBER - BEBERAM ÁGUA DO MAR: COMERAM  UMA TARTARUGA QUE PESCARAM  - E MATARAM O POBRE CÃO QUE TINHAM A BORDO PARA  MITIGAREM  A FOME

 *******- Não deixe de ouvir o testemunho de um dos meus heróis -  Tinha 16 anos. Foi um dos 73 sobreviventes do naufrágio do bacalhoeiro João Costa, que sairá de Lisboa, em   15/04/1952 para os Bancos da Terra Nova e Gronelândia – Na viagem de regresso, um circuito eléctrico, provocou um incêndio a bordo,  levando o barco ao fundo. Foram largados os 23  doris, que acabariam por andar sete dias à deriva, até que foram localizados a cerca de centena e meia de milhas dos Açores, pelo navio americano, o STEEL EXECUTIVE que recolhera 35 pescadores a bordo em 8 dóris; tendo os restantes  27, sido encontrados pelo navio Alemão HENRIETTE SCHULTE que os recolhera dos 6 dóris. - Tenho pena de não ter ficado com o nome deste bravo lobo do mar, devido a um problema de ordem técnica com a gravação. Mas aqui fica, porém, o testemunho de um dos verdadeiros heróis do mar   - Aqueles que são esquecidos e dificilmente  medalhados - Os pormenores do naufrágio poderão ser lidos em: RECORDANDO O NAUFRÁGIO DO NAVIO-MOTOR  BACALHOEIRO JOÃO COSTA

FIGURAS QUE TÊM AINDA NOS ROSTOS OS SULCOS DO  GRANDE OCEANO - OLHOS QUE SE SOFRERAM OU SE DESLUMBRARAM COM AS MARÉS - HERÓIS ANÓNIMOS QUE CRUZARAM OS GÉLIDOS MARES DA TERRA NOVA  - E  QUE AGORA  VIVEM  DE UMA MAGRA  REFORMA E DAS SUAS MUITAS RECORDAÇÕES. - A  sua terra natal é a Figueira da Foz e o seu país é Portugal.




Fomos um país de marinheiros - E hoje o que somos?!..."Não tínhamos mais nada, tínhamos água. Essa ideia da extensão da plataforma continental é sempre a mesma, a de que agora não temos terra, mas temos água" Eduardo Lourenço, hoje no DN"

"O nosso mar já vale cerca de 10 a 11% do PIB" - Diz Assunção Cristas Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território" Numa entrevista ao DN, afirmando que "Não precisamos de abater barcos. Precisamos de modernizá-los - Mas onde é que estão os barcos?!... - A resposta vem do Almirante Fernando José Ribeiro de Melo Gomes "Antes do 25 de Abril tínhamos 150 navios comerciais de 300 toneladas; hoje temos 12. Deixámos de ser grandes empresários do mar"

Hoje, o saudosismo português, vive da memória do que fomos ou do que pelo menos sonhamos vir a ser. Pelo que depreendo do extenso trabalho, que o DN, dedicou aos heróis do mar no Dia de Portugal - não há os heróis de antigamente mas não faltam por aí candidatos  - Até porque "o negócio mostra que o futuro está no peixe que não vem do mar".E, na verdade, não é por falta de tubarões à solta e fora da água que o negócio deixa de se fazer.Por outro lado, podemos também dormir descansados: "Sei que o petróleo existe" - diz a mediática ministra do mar- " em princípio não há dúvidas quanto a isso. A única dúvida é sobre se é rentável explorá-lo" Também São Tomé vive na mesma miragem: dizem os especialistas  que há petróleo em abundância  nas suas águas profundas mas a altos custos - E, se houver?! - A quem serve?!..Angola vai criar fundos especiais para São Tomé e Príncipe........Sonangol está claramente interessada no petróleo de São Tomé,.............SONANGOL ADQUIRE 51% DAS ACÇÕES DA STP AIRWAYS
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Todos os países celebram o seu dia nacional - Nos regimes governados por ditaduras, tudo é pretexto para se enaltecer o opressor e os seus cúmplices, confundindo-se o conceito de nação com a figura intocável do caudilho.  Nas democracias, não é a mesma coisa, mas não deixa de ser mais um dia de cerimónias de aparato e circunstância para os políticos se exibirem  - Não seria mais sensato, que, em vez do habitual folclore do regime, se desse aos cidadãos a oportunidade de  manifestarem o seu patriotismo, conforme entendessem,  tomando as iniciativas  que achassem por bem defender os seus interesses e que, os políticos, ficassem de fora a observá-los?! -  Sim, porque,  uma nação é algo mais do que a  história do seu passado, é também o presente e o futuro -  De modo algum, é   um conceito abstrato, mas é todo um povo. E, como é compreensível,  nem todo ele se revê nos discursos de ocasião.

 

De facto, hoje é o dia de Portugal, de Luís de Camões e das Comunidades Portuguesas. É mais um dos feriados nacionais - Para tornar a vida ainda  mais dura aos assalariados, no próximo ano haverá menos quatro - Vão os religiosos e até o 1º de Dezembro, dia da Restauração Nacional, não se safa! 

Mas, o 10 de Junho,  por agora ainda se mantém - Já não é o dia da raça e dos racismos;  o tempo desse,  já lá vai e não deverá deixar saudades. A 12 de Julho do próximo mês comemora-se o aniversário da independência de São Tomé e Príncipe. Que completará os seus 37 anos como nação soberana. Desembarquei na Baía Ana de Chaves, a bordo do paquete Uíge, em Novembro de 1963. Só doze anos mais tarde, voltaria à minha aldeia. Cheio de saudades. Mas, hoje, creio que são mais as que tenho de São Tomé das que tinha de Portugal, quando de lá regressei.   Sou português e admiro as odisseias  marítimas dos meus antepassados. Especialmente o grande épico Luís de Camões, que, de forma tão elevada,  ele que também foi marinheiro , soube interpretar, como ninguém,  "as cousas do mar, que os homens não entendem" 

.Nasceu no ano de 1524 e morreu a 10 de Junho de 1580, em condições miseráveis.  Aprecio a leitura de Os Lusíadas  mas já  não nutro   a mesma simpatia e admiração pelo expansionismo e domínio colonial - Os tempos áureos dessa expansão, também  foram difíceis para a grande maioria do  povo português, cuja população dos meios rurais, vivia agarrada aos campos, debatendo-se com mil dificuldades, mal fazendo face à sobrevivência. Ou a trabalhar de sol a sol para os senhores feudais. Hoje, esses mesmos campos, estão ao abandono e as cidades transformadas em colmeias e com muitas "abelhas" a passarem fome. Em África, por essa altura, não se pode dizer que os africanos (antes de serem colonizados) vivessem no paraíso das delícias, pois, entre eles, também já existiam os sobas e os súbditos. E também o comercio escravo, nomeadamente com os árabes. No entanto, tudo se complicaria ainda mais com a chegada dos cruzados: que desembarcavam com a cruz numa mão e na outra a espada. E o mais ignóbil foi a deliberada dessacralização dos seus ídolos e dos seus deuses, impondo-lhes crenças e cultos (à força) que não eram os seus  e que assentavam (assentam, ainda hoje), na hipocrisia. Já que a doutrina de Cristo, há muito foi subvertida e usada como forma se subjugarem as almas e de se explorarem gratuitamente os corpos.

1600 - A partir desta data, os Jesuítas , que se tinham estabelecido em Angola, concentrarão  os seu esforços em Luanda, onde fundarão um colégio.
Paralelamente, envolver-se-ão no comércio de escravos - a Companhia  de Jesus dispôs  dos seus próprios barcos no Brasil -, alegando que a melhor forma de converter um negro era a sua venda  para as plantações da América do Sul, que a Companhia de Jesus igualmente detinha, onde melhor poderiam ser  introduzidos na Cristandade.


Também é verdade que, em muitos casos, o fim do colonialismo, não se traduziu no tão desejada progresso e bem-estar dos povos. Uma nova elite tomou o lugar dos colonos e tem-se portado ainda pior.Aliás, foram buscar os  que mais  os exploraram, para que, com a sua experiência,   a exploração humana fosse ainda mais severa e despudorada. 

Claro que não estou a particularizar e apontar exemplos mas a dizer o que vai por esse velho continente adentro e afora. Até porque são questões muito delicadas para se expressarem em duas penadas e corre-se o risco de se ser mal interpretado. Bom, mas também não é esta a intenção deste  post. Hoje quero falar das coisas positivas: da coragem dos antigos marinheiros - Quer dos portugueses, que partiram mar fora em frágeis caravelas, quer dos homens das canoas, que   abandonaram o litoral africano e foram em demanda destas maravilhosas ilhas.   É para eles que vai a homenagem deste meu post. 
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“Toda a História foi um instrumento ao serviço da propaganda”

 

 Já o disse noutros passagens deste site. O que foi narrado para a posteridade, acerca das descobertas portuguesas e a colonização, que lhe sucedeu, não traduz  a verdade dos factos, mas aquilo  que mais convinha ao reino e aos patrocinadores das navegações marítimas. Ainda hoje é assim nos jornais. Quem os controla, usa a sua "verdade". Instrumentaliza-os de acordo com a sua ideologia ou os objectivos políticos ou económicos que tem em vista

Mas, já agora, vale a pena saber o que diz um dos estudiosos sobre o Dia de Raça, que daria lugar  a um outro significado mais humanista e menos imperialista  - o chamado Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas"

VISÕES DO SIGNIFICADO DO 1O DE JUNHO

Conceição Meireles, numa análise publicada no Jornal Primeiro de Janeiro, diz o seguinte: “Quando se tenta exaltar o Dia da Raça, é a raça do povo português entendida de uma forma geral, global”. O que está em causa é a “originalidade” e “a capacidade dos portugueses”, explica Conceição Meireles. 
“O Estado Novo sempre quis sublinhar a originalidade do povo português face aos outros povos europeus. Por alguma razão este pequeno povo tinha uma História de séculos; era dos Estados mais antigos da Europa e tinha um Império colonial que quase nenhum outro país europeu possuía”. 
Esta era a “raça do povo português que tinha de ser “exaltada a todo o custo”, era a “raça no sentido do dia do povo português”, explica a historiadora. O conceito de raça no Estado Novo deve ser entendido no sentido em que significa “um povo diferente, aparentemente frágil, mas com valores que lhe permitiram grandes realizações”. No dia da Raça e de Camões “exaltava-se a nação e o império, a metrópole e as colónias” - Excerto de Estado Novo: 10 de Junho é "Dia da Raça"


 ORIGEM 

A origem do Dia de Portugal encontra-se nos trabalhos legislativos após a Proclamação da República, a 5 de outubro de 1910. Um decreto que definia os feriados nacionais é publicado, sendo que alguns feriados religiosos são eliminados, para reduzir a influência social da Igreja Católica e na criação de um Estado laico.

(...) Antes da Revolução dos Cravos, 10 de Junho era o ‘Dia de Camões, de Portugal e da Raça’ (este último epíteto criado por Salazar na inauguração do Estádio Nacional,em 1944). A partir de 1963, esta data tornou-se também numa forma de homenagear as Forças Armadas. A Terceira República converte a celebração, em 1978, para ‘Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas’ - Excerto de10 de junho, Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas


OPINIÃO DE UM ESCRITOR E MÉDICO BRASILEIRO


"Portugal é um país de pequena extensão territorial e população igualmente diminuta. No entanto, ao longo de sua existência como nação, que já se vai aproximando do primeiro milênio, tem dado ao mundo exemplos extraordinários de qualidade e operosidade de sua gente.
Cinco séculos passados maravilhou o mundo de então com suas descobertas de além-mar que deram “novos mundos ao Mundo”.  10 DE JUNHO. DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS


.NÃO ME CRUZEI COM AS  VELAS DOS MARINHEIROS DAS CANOAS, MAS IMAGINEI-OS, MUITAS VEZES, NAQUELES MESMOS MARES, TAL COMO TAMBÉM, OS NAVEGADORES QUE ALI PASSARAM, MAIS TARDE, NAS SUAS CARAVELAS

 
 
Repetindo que escrevi noutras postagens anteriores  

Há que realçar a coragem dos marinheiros lusitanos, que se fizeram ao mar apenas munidos de um mero astrolábio - Não dispunham de sextante, nem de cronómetro ou sequer de almanaque náutico que lhes possibilitasse algum rigor da navegação - Não iam completamente às cegas, porém,  embora dispondo de alguma informação, iam à aventura! - Foram, indubitavelmente, grandes navegadores aventureiros!




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Sou português  e não descuro os feitos marítimos dos meus antepassados. Mas também não quero fazer  como a avestruz e meter a cabeça debaixo da areia. Nem fazer dos compêndios coloniais a bíblia sagrada.  

Sem deixar de admirar a coragem dos antigos navegadores,  busco outras interpretações. Eu próprio me desloquei de canoa, em Dezembro de 1970, desde a Baía Ana de Chaves ao recanto de  Anambó Local onde é suposto terem aportado pela primeira vez, João de Santarém e Pero Escobar  
  
Curiosamente, (confrontando as imagens Padrão dos Descobrimentos - Anambó,***e   :Anambó ) vejo que o sítio está agora mais bem conservado do que estava naquela altura, onde passei uma noite horrível, com as costas sobre lascas e gogos de todos os tamanhos e feitios (pois ali não existe praia de areia), mesmo quase sobre a margem onde as ondas vinham bater, embrulhado pelas palmas dos coqueiros mas constantemente a ser espicaçado e mordido por enormes caranguejos do mar e da terra, que não me deram um minuto de descanso 

Não me deitei no mato, receando as cobras negras. E, ao alvorecer, perante aquele vetusto e simbólico padrão,  rodeado de palmas, tão belas, sonoras e verdejantes, não me importei de  homenagear os marinheiros de quinhentos, com a bandeira portuguesa.  .


HÁ QUE DISTINGUIR A EPOPEIA MARÍTIMA DA COLONIZAÇÃO , QUE SUBJUGOU E TIRANIZOU OS POVOS.

Uma coisa é a verdade histórica (e foi essa que eu procurei através de várias travessias em pirogas e que ainda hoje questiono), outra, as omissões ou  a que convinha ao Reino..
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Todavia, quer os portugueses, nas frágeis caravelas, quer os primeiros povoadores, nas suas toscas pirogas, foram lobos do mar e heróis desbravadores à sua maneira.

Também as canoas africanas, à semelhança das grandes migrações no Pacífico, se fizeram ao mar alto: Fizeram extensas travessias no Golfo da Guiné, tal como os primitivos navegadores da Polinésia, considerados os "navegadores supremos da história":  que, velejando  em linha, cada uma à distancia da visão da canoa  que lhe seguia atrás, até qualquer delas divisar uma ilha habitável, atravessaram vastas extensões daquele imenso oceano, colonizaram as mais remotas ilhas, algumas a milhares de milhas, umas das outras, não dispondo sequer de uma bússola ou de qualquer outro instrumento náutico

Quase assim procedi: munido de uma simples bússola, sem bóias, meios de comunicação com exterior, encaixado num frágil esquife, quase desprovido de tudo. Recuando, tanto quanto possível, às condições precárias em que foram sulcados os mares pelos antigos povos que ligaram a costa africana às ilhas do Golfo da Guiné








Do alto das velhas muralhas do Fortim de São Jerónimo, onde tantas vezes olhava a espuma que ali ia rebentar nas rochas negras e contemplava o mar ao largo, sim, muitas vezes ali me envolvi em prolongadas cogitações. E só via o mar... Só pensava, obsessivamente, nas distâncias e nas entranhas do mar.!.. Olhava-o com pasmo e respeito, mas queria sentir-me também parte dele! Ser mais um elemento do mítico e misterioso oceano! Ir por ali a fora numa das ágeis pirogas.! Desvendar segredos esquecidos no tempo!...



       A MINHA HOMENAGEM 


                   A todos os homens do mar, de todos os continentes e cantos da Terra.
                    Aos marinheiros e navegantes que, do Cais do Tejo,  partiram pela barra do rio afora, em frágeis caravelas, rumo ao misterioso oceano, em demanda de novas terras e outras gentes, sofrendo horas infinitas em escaldantes e podres calmarias ou “fugindo à tempestade e ventos duros.”
                   E, por via disso,e, porventura, devido a desmesurados sonhos ou ao desamor e à compaixão de ímpios deuses, a quantos perigos e adversidades se não expuseram!


                    “Contar-te longamente as perigosas
                      Cousas do mar, que os homens não entendem,
                       Súbitas trovoadas temerosas,
                       Relâmpagos que o ar em fogo acedem,
                       Negros chuveiros, noites tenebrosas,
                       Bramidos de trovões que o mundo fendem,
                       Não menos é trabalhos que grande erro,
                        Ainda que tivesse a voz de ferro.”

                                      Camões

         “E vendo-as todos em tão grande perigo, ficaram assombrados,
          e fora de si, temendo, e julgando ser esta a derradeira hora da vida,
          e com este temor se chegaram todos a um padre da companhia de    
          JESUS (....). E depois de confessados, e se pedirem perdão uns aos
         outros, se puseram todos de joelhos pedindo a Nosso Senhor
         misericórdia.”
                                    ( in naufrágio de Albuquerque Coelho)

                      
                      “Ó mar salgado, quanto do teu sal
                       são lágrimas de Portugal!
                       Por te cruzarmos, quantos mães choraram!
                       Quantos filhos em vão rezaram!
                       Quantas noivas ficaram por casar!
                        Para que fosses nosso, ó mar!”

                                          Fernando Pessoa




Náufragos! De ontem e de  Hoje!
Aqui, elevo aos deuses as preces
que não acabastes de rezar!
As clamorosas súplicas,
que proferistes, em vão,
beijando, perdidos,
enlouquecidos, ícones, rosários,
relíquias sagradas.
E choro,
choro as mesmas lágrimas,
de sal e de dor.
E comungo convosco
os eternos instantes,
as horas infindas de pavor,
o incontável rosário
de todas as vossas aflições!...
Sim, porque, o mar, não  mudou;
o mar de hoje é o mar antigo de ontem,  de outrora....
É o mar eterno, sem fim e sem  história!...
A sua voz é a voz dos tempos!... 
O cheiro a maresia é o mesmo,   
as ondas continuam a enrolar-se sem descanso
nos areais de todas as praias de todos os continentes!...
Ao largo, o cenário também é igual -
O mesmo círculo a estender-se,  indefinidamente -,
e, à volta do círculo, ainda o abandono,
a solidão de todas as eras...
Além disso, sei que, ouvindo o grito grave das gaivotas,
 ainda ouço os vossos gritos
 à mistura com o uivar desgrenhado do vento
 e o cavo ribombar do trovão,
que sucediam aos relâmpagos
que incendiavam e fundiam as espessas trevas!...

Excerto de um poema de minha autoria,que acompanhou uma exposição que apresentei no  Padrão dos Descobrimentos, em 1998