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segunda-feira, 8 de março de 2010

QUANDO OS TUBARÕES ATACAM NAS HORAS DESOLADAS E MORTAS...Os pequenos capturava-os; os gigantes, atacavam-me - Meu confronto de náufrago com os tubarões no golfo da guiné a bordo de uma frágil piroga - ....São os temíveis tubarões gigantes!... Surgem nas horas malditas!... Nas horas aziagas que antecedem as tempestades, os habituais tornados,

Algures na vastidão do Golfo da Guiné - Nov 1975
Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo navegador solitário no Golfo da Guiné em pirogas de S. Tomé


Imagem captada no momento do ataque do tubarão - o barrote que se vê, estava atravessado de través e servia para ajudar a conferir algum equilíbrio à canoa, na triste deriva em que vogava

Image captured at the time of shark attack - the beam can be seen, was crossed abeam and served to help give some balance to the canoe, in which floated sad drift.




VIGÉSIMO SÉTIMO DIA - Excertos do Diário.

É já manhã do 27º dia... Passei uma noite chuvosa. Quase sempre acordado para tirar água fora da canoa. Estou todo molhado, todo alagado em água!...


Dois Pequenos tubarões capturados

Já tive a visita do perigoso tubarão, que investiu logo contra a minha canoa!... Dei-lhe umas machinadelas e foi-se embora!... Entretanto já apareceram aqui dois tubarões martelos e fiquei mais descansado ... Afastam os escuros, os mais perigosos!..

São aí três da tarde. ..Há pouco tive a impressão de ter visto terra mas afinal de contas não vejo nada!... Estou cheio de fome e está um calor de matar!... É mesmo um calor forte! Sinto-me cansado

É talvez a uma da manhã. Está uma noite de luar. ..Até agora o tempo tem estado bom; o mar é que tem estado agitado.

Todas as noites vêm aqui dormir á popa e á proa da canoa, duas aves... Parece que são as mesmas...Uma branca e outra é preta.
.

.
ATACAM NAS HORAS MAIS FATÍDICAS!.


O mar não me dá tréguas!...
Não me dá uma pausa de descanso!...
Raros os momentos de absoluta tranquilidade!...
Tenho sempre o meu coração suspenso, em sobressalto!
Todos os meus sentidos em alerta máximo!.

.


Mas a minha tristeza e o meu infortúnio
nem sempre me deixam isolado... também têm
os seus visitantes inesperados!... – Mas muito indesejados!...
Mesmo assim, ignoram os meus pacíficos sentimentos
e não deixam de voltar com assiduidade!..
- Quando vêm em cardumes, não se demoram...
Espalham-se para todos os lados, e, conforme chegam,
assim desaparecem!... Mas, quando solitários e bem maiores,
noto que não há nada no mar ou fora das águas
que os amedronte e lhes refreie o ínvio instinto
de vorazes predadores: rodopiam e avançam velozes...
Jamais se aquietam e acalmam!.. - Não dormem, nem param!

São os temíveis tubarões gigantes!...
Surgem nas horas malditas!... Nas horas aziagas
que antecedem as tempestades, os habituais tornados,
quando o horizonte se reveste de ameaçadoras névoas,
o céu se cobre e tinge de cinza, a cor do mar se altera:
passa de azul cobalto a um mar de chumbo ondulado!...

São a imagem viva da morte aos olhos aterrorizados
dos náufragos e desamparados!... Atacam quase sempre!...
Até parece que sabem escolher os momentos fatídicos
para serem bem sucedidos com os seus fulminantes golpes!...


Peregrino do mar e da terra - em demanda da claridade e do conhecimento..



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ATACAM NAS HORAS MAIS FATÍDICAS!.


O mar não me dá tréguas!...
Não me dá uma pausa de descanso!...
Raros os momentos de absoluta tranquilidade!...
Tenho sempre o meu coração suspenso, em sobressalto!
Todos os meus sentidos em alerta máximo!.

.


Mas a minha tristeza e o meu infortúnio
nem sempre me deixam isolado... também têm
os seus visitantes inesperados!... – Mas muito indesejados!...
Mesmo assim, ignoram os meus pacíficos sentimentos
e não deixam de voltar com assiduidade!..
- Quando vêm em cardumes, não se demoram...
Espalham-se para todos os lados, e, conforme chegam,
assim desaparecem!... Mas, quando solitários e bem maiores,
noto que não há nada no mar ou fora das águas
que os amedronte e lhes refreie o ínvio instinto
de vorazes predadores: rodopiam e avançam velozes...
Jamais se aquietam e acalmam!.. - Não dormem, nem param!

São os temíveis tubarões gigantes!...
Surgem nas horas malditas!... Nas horas aziagas
que antecedem as tempestades, os habituais tornados,
quando o horizonte se reveste de ameaçadoras névoas,
o céu se cobre e tinge de cinza, a cor do mar se altera:
passa de azul cobalto a um mar de chumbo ondulado!...

São a imagem viva da morte aos olhos aterrorizados
dos náufragos e desamparados!... Atacam quase sempre!...
Até parece que sabem escolher os momentos fatídicos
para serem bem sucedidos com os seus fulminantes golpes!...

.
.

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Vêm sempre ladeados por uma autêntica flotilha
de pequenos peixes zebrados! – Lembram
pequenos submarinos de guerra!... Há quem os endeuse
e diga que são seres pacíficos... Mas tudo isso é muito contingente...
Aqui portam-se como feras! - Quais sinistras criaturas vigilantes,
a fazerem em surdina os seus giros... Com a barbatana dorsal
singrando à flor das águas, tal qual uma navalha apontada aos céus!..
- Investem com inesperada ferocidade!.. . -Afasto-os à machinada!..
Depois deixam-me em paz... Uma paz podre, temporária...
Até agora tenho tido muita sorte...


.


Pobres náufragos de todos os tempos e de todos os mares!
Tristes miseráveis desamparados! - Quando a estrela
mais misteriosa do fundo do mar ou a mais alta na Via Láctea
vos abandona e vos não protege, oh má sorte a vossa!!...
- À mercê de todos os perigos!
Vogando em pequenas balsas
ou em troncos escavados,
empurrados por tempestades,
desviados do vosso destino!
Na iminência de serdes tragados
na voragem das vagas
ou de servirdes de felino repasto
à irracionalidade predadora de vorazes esqualos!
..

Oh angústia das noites eternas e agitadas por tempestades!
Em turbados mares de cóleras selvagens e corações desesperados!
Oh olhos perdidos na solidão nocturna de erráticos caminhos!
Oh desamparo imenso que habita as horas malditas e incertas!
Oh inconsoláveis mágoas na linguagem antiquíssima das espumas!

Ó Senhor dos Navegantes! Ó coração piedoso pai dos Mareantes!
As preces e gritos ecoam no vazio mas as vozes são vos dirigidas!
Não as entregueis a tão triste sina - Nos derradeiros instantes,
lançai-lhe uma corda salvadora, um olhar largo solidário e amigo
mas, sobretudo, mão carinhosa que as socorra e afaste do perigo!

Jorge Trabulo Marques.