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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Pico Cão Grande - S. Tomé e a escalada Vertical Luso-são-tomense - Eleve-se a Património da Humanidade a majestosa agulha basáltica e proteja-se a área envolvente, santuário de árvores endémicas e de aves, que estão a desaparecer por excessiva desmatação



  

Escalada luso-São-Tomense – Concluída depois de  várias dezenas de escaladas de 1970-1975 -  Um português, o autor destas linhas e mais dois valorosos são-tomenses - e mais dois generosos guias - arriscaram a vida nas paredes basálticas e aprumo desta monumental torre  - Uma das agulhas geológicas mais difíceis e imponentes do mund

As fotos foram extraídas de reportagens que eu fiz para a revista angolana Semana ilustrada, de que era correspondente em STP. Tenho pena não poder dispor das fotos que fiz dessa escalada, pelas razões expostas em  https://canoasdomar.blogspot.com/2008/02/sao-tome-atitude-do-empresario-jorge.html

"Este é um dos picos mais altos em forma de agulha "vulcânica" na Terra (300 m), talvez ainda mais impressionantes do que a Torre dos diabos em Wyoming"


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e pico Cao Grande. Une merveille de la nature très peu connue mais à mon sens une des plus belles manifestations de la nature que j’ai vue. -- Gabon > Sao Tome depuis Libreville - Accueil

BIG DOG IN SÃO TOME - THE GREAT PEAK CLIMBING THE VERTICAL "This is one of the highest needle-shaped "volcanic plug" peaks on Earth  -In The Dark Tower: Found!

O manto verde que cobria toda a zona sul de São Tomé, santuário de pássaros e árvores endémicas, está a desaparecer e a dar lugar a extensas áreas desmatadas, afetando o clima e ameaçando a  biodiversidade.

DEVIA SER DECLARADO PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE - OU MONUMENTO NACIONAL - De modo também a preservar a sua área envolvente, santuário de árvores endémicas e de aves, que estão a desaparecer por excessiva desmatação – Além de simbolizar muitas lendas e histórias   Veja-se o exemplo do Devils Tower -  Monumento Nacional  - Devils Tower National Monument -  localizado na região nordeste do estado de Wyoming, nos Estados Unidos

Sim, fui eu a  primeira pessoa a iniciar a  escalada sozinho neste pico. Dizia-se que o Cão Grande  tinha feitiço e quem ousasse escalá-lo, ficava lá morto. Por isso, não se constava que alguém ousasse subir as suas paredes verticais. Eu achei que devia quebrar esse enguiço. Mas também por  ser um desafio que se me impôs, desde o primeiro dia que fui trabalhar como empregado de mato para a Roça Ribeira Peixe, em cuja propriedade se situa.

 Pico Cão Grande, (Great Dog Peak) é um pico vulcânico em forma de agulha em São Tomé e Príncipe, no Distrito de Caué, na sul da  Ilha de São Tomé, no Parque Natural Obô, com uma altitude de 663 metros e de 300 a 350 metro de altura, pois há faces ou vertentes mais fundas de que outras, que vistas do exterior se apresentam completamente cobertas pela densa ramagem da floresta equatorial e escondem a sua profundidade.

Pessoalmente, pude  viver as intensas  emoções,  que as escaladas aprumo proporcionam, todavia, sem  perder a serenidade  e o equlibrio mental e físico,  sim, sentir o grande prazer  – misto de glória, apreensão e receio – de, com o Cosme Pires dos Santos (mas também graças ao apoio do Constantino Bragança e dos meus guias, do Sebastião e do Chico),  desfraldarmos, no topo do seu cume,  a Bandeira Nacional de São Tomé e Príncipe, depois de nas sucessivas escaladas, antes da Independência, termos erguido a Bandeira Portuguesa, trepando  as suas vertiginosas faces, que se erguem verticalmente no mais denso manto da selva verde. De sermos os primeiros seres humanos  - pois  há aves que lá nidificam – a pisar as rochas da sua monumental crista!


       Constantino Bragança, as recordações da escalada do Pico Cão Grand

Reencontro com Pires dos Santos - 40 anos depois e as nossas recordações

Outros pormenores das nossas aventuras com o Constantino Bragança


 EQUIPA: Eu próprio, Jorge Trabulo Marques; Cosme Pires dos Santos - pai de uma criança, arriscando a vida e pondo em causa a sobrevivência familiar; o Constantino Bragança, que, por algumas vezes,  também chegou a pernoitar por baixo da cume do pico, onde mal cabiam duas pessoas sentadas  e tínhamos de ficar com as pernas ao dependurão, amarradas por cordas a frágeis arbustos e a cavilhas. Pois era ali que pernoitávamos e se fazia o último assalto ao cume.  Os guias, Sebastião, Banga e o  Chico, que era capataz na Ribeira Peixe. Além de nos  ajudarem a transportar o equipamento até ao sopé, um deles, o Sebastião, chegou mesmo a acompanhar-nos na escalada   até ao acampamento base, situado, sensivelmente, a dois terços da crista.

Desprovidos dos recursos técnicos usados nas grandes escaladas, sem calçado adequado,  luvas ou capacetes, munidos apenas de vulgares cordas e de uma vareta de pontiaguda numa mãos com que nos segurávamos nas reentrâncias naturais ou onde não nos era possível fixar umas cavilhas improvisadas,  com os pés apenas cobertos por vulgares meias, lá íamos subindo descalços.


 A bem dizer a conquista do cume era o culminar de uma proeza ao velho estilo dos macacos da floresta, com que nos deparávamos quando caminhávamos ao encontro do enorme falo basáltico. Mas, enquanto eles podiam saltitar de galho para galho, nós só o podíamos fazer próximo das base, na zona coberta de arbustos, que muito nos facilitariam a nossa acessão: só que, uma vez, um deles descolou da rocha e, só por muita sorte, é que, um dos nossos companheiros, o Pires dos Santos, não se despenhou nos pedregulhos no sopé do arvoredo. 

O Sebastião, que residia numa pequena aldeia, próximo da ponte do Caué,, era quem me acompanhava até ao sopé de um dos flancos. Era caçador de porcos. E aproveitava para, com os seus cães, fazer as suas caçadas.  seguidas de várias subidas solitárias, até que, em Outubro de 1975, na companhia de dois jovens e corajosos santomenses, conseguimos completar a subida.

Por isso, o Cão Grande, assim como toda aquela vasta área de obó que o circunda, desde a perseverança ao Novo Brasil e Monte Mário, zonas de “capoeira” enorme e cerrada, foram pois lugares que, pela sua singularidade,  muitas histórias, mitos e lendas  alimentaram ao longo dos tempos da colonização.

Sim, orgulhámo-nos dessa nossa ousada conquista!  De termos sido as primeiras criaturas humanas a contemplar. lá do alto, toda aquela espetacular beleza circundante! A pisar as rochas da sua monumental crista! A bandeira portuguesa, já havia sido desfraldada, por duas vezes: a última das quais, a escassos metros da sua última ramagem, junto a uma gruta.

Tendo chegado a sugerir, ao PM do então jovem país, Leonel Mário d'Alva, que este pico fosse batizado de Pico Independência. A intenção era de prestarmos homenagem, não só aos que lutaram pelo fim do jugo colonial, como também a todos os que foram escravizados nas roças, nomeadamente naquela área, que eu bem conheci, como empregado de mato, em 1964 – E a vida do empregado de mato, era igualmente bastante dura.

Seja de que ângulo for, de perto ou mais afastado, o Cão Grande é único no seu género: não há conhecimento de  semelhanças no Planeta.

Daí o fascínio que exerce aos olhos de quem o contempla. Mas, sobretudo, o permanente desafio que se revela aos amantes da escalada vertical -  Pessoalmente, pude  viver tais emoções, sentir o grande prazer  – misto de glória, apreensão e receio – Tendo por companheiros o Cosme Pires dos Santos e o Constantino Bragança e os meus guias, do Sebastião e do Chico

Desde já o meu obrigado por me acompanhar na memória à tão difícil escalada de um dos mais  belos e singulares picos do Mundo - Depois, se lhe sobrar um bocadinho do seu tempo, não deixe de  viver algumas das  emoções, por que passei, expressas no diário de bordo dos 38 logos dias numa simples piroga  https://canoasdomar.blogspot.com/2019/11/perdido-no-golfo-da-guine-30-dia-nao.html     https://canoasdomar.blogspot.com/2023/11/preso-na-cadeia-do-inferno-28-11-1975.html


UMA 
CONQUISTA PALMO A PALMO - Com auxilio de meios improvisados

 A escalada ocupava-nos sempre três dias: o primeiro para chegarmos ao sopé e atingirmos o único abrigo - e tínhamos de largar da aldeia dos "angolares", na Praia Grande,  cedinho, onde, aliás, pernoitávamos; o segundo dia era para progressões e o terceiro para descida e o regresso. Mas houve várias escaladas de quatro dias. Cada tentativa ao Pico Cão Grande,  era o recomeçar de novo pelas mesmas paredes rochosas e escarpadas arestas, apoiar os pés nas mesmas cavilhas e ter por baixo dos olhos, a vertigem do abismo abrupto

Foram dezenas de idas e vindas - de persistentes e perigosas escaladas -No abrigo, junto à crista, numa pequena reentrância que ali existe, pernoitávamos apenas com o espaço de nos podermos sentar, com os pés soltos sobre a grande vertigem., amarrados pela cintura a uma corda que pendíamos a uma cavilha de um lado e do outro. Era praticamente uma noite inteira de vigília: - imersos em cerradas trevas de névoas, era-nos  muito difícil adormecer e pregar olho.

As horas eram infinitas, uma sensação horrível!... Aí  respirávamos mais humidade (nevoeiro)  de que ar atmosférico. Passávamos o tempo a tossir.  Houve um dia em que fui apanhado pela noite na floresta. Pois nem sempre o Pires dos Santos ou o Constantino, estavam disponíveis E o Sebastião, levava-me lá mas depois ia-se embora. Lá ficava eu entregue ao meu silêncio e à minha sorte. E, nesse dia, eu não esperei por ele, choveu e a rocha estava muito escorregadia, tive que me vir embora - Mas anoiteceu-me no caminho.. Surpreendido pela  escuridão, comecei andar por um ribeiro abaixo, como um tolo: no emaranhado da floresta era impossível caminhar. Mas desisti, pois escorregava, caía e mergulhava nos pequenos açudes a cada passo. Queria era fugir aos mosquitos, que os apanhava na cara às mãos cheias e quase me devoravam vivo. Mas lá tive que os suportar até que amanheceu, sentado na boda da linha de água, que às tantas (devido a uma trovoada a montante) engrossou de caudal e me ia arrastando.

Cavilha que nos soltasse das mãos, não mais a víamos O equipamento rudimentar e todo improvisado. Cada  um dispunha de uma verga de ferro, com cerca de dois metros de comprimento (das  usadas no betão da construção civil), recurvada num dos extremos e pontiaguda, com o ferrão da  qual, por vezes, nos elevávamos para escalar ou transpor faces das rochas ou outros obstáculos onde não nos era possível fixar cavilhas ou estribos de corda. Aliás, graças à mestria do Constantino, era com essas vergas que também fazíamos as cavilhas.  No entanto, não nos davam muita confiança. O risco era permanente: mas tínhamos que nos habituar a conviver com ele. O apelo ao cume, era maior - O Pico  fascinava-nos!


NO DIA EM QUE,  AO SUBIR  A ESCADA, SENTI TREMURAS NUMA DAS PERNAS – E tive de me abraçar aos degraus para não me estatelar ao fundo do enorme precipício  
Falando, por mim: houve momentos em que cheguei a recear que não ia aguentar: que podia voltara a ter mais alguma cãibra . Eu já as havia tido no degrau de uma escada, de 20 metros, com secções de cantoneiras de 3m em alumínio, que lá montámos, para vencermos uma rocha maciça sem fendas regulares onde não conseguíamos meter uma cavilha. que fixámos por arames e com uns apoios do mesmo material . Os degraus eram muito finos. Às tantas, deixei de ter resistência numa das pernas e senti  tremuras. Valeu-me o Pires dos Santos, que já tinha subido e me mandou uma corda, à qual me amarrei à escada, até atenuar a cãibra. 

Enquanto, no sopé, era segurada pelo Constantino. Os últimos cinco metros eram inclinados, o que impelia a escada a de soltar-se a cada instante e a projetar-nos no espaço - Sempre que pisávamos esses últimos degraus cimeiros e nos desviávamos da vertical, era uma sensação que provocava  alguns calafrios

Nunca subíamos ao mesmo tempo, receando que, com o peso dos dois, se  desprendesse. Enquanto, um subia, o outro ficava a segurá-la na base. Depois do primeiro subir, este aguardava lá em cima, com uma corda pronta para qualquer emergência. A nossa sorte é que, a partir dali, havia quase sempre nuvens ou nevoeiro e não víamos nada lá para baixo. Mas era sempre uma sensação estranha de abismo e de vazio.

Era preciso ter muita serenidade e presença de espírito. Nada de pressas!...Era a nossa vida que estava em risco...Cada movimento era feito com muita calma. Requisitos que fomos adquirindo com o tempo e à medida que nos íamos adaptando à convivência com as alturas. Porém, só Deus sabe!... O risco era constante e exigia-nos muita agilidade, paciência e um enorme esforço. Os nossos olhos só viam o cume... e parecia-nos sempre tão perto!... 
Até parecia que nos desafiava: vinde, amigos a ter comigo! Eu sou a ponte no meio do Mundo entre a Terra e o Céu!... Deus vos abençoará!...

Esta notícia é falsa A primeira tentativa de escalar o Pico Cão Grande foi em 1975 por uma equipa portuguesa de escaladores, e a primeira subida bem sucedida foi completada por um grupo japonês de escaladores em Fevereiro de 1991. Seus nomes são Yosuke Takahashi, Kenichi Moriyama, Naotoshi Agat

Climbing Pico Cão Grande - This news is not true, it is false  “The first attempt to climb Pico Cão Grande was in 1975 by a Portuguese team of climbers, and the first successful climb was completed by a Japanese group of climbers in Feb 1991. Their names are Yosuke Takahashi, Kenichi Moriyama, Naotoshi Agata. https://en.wikipedia.org/wiki/Pico_Cão_Grande

Constantino Bragança -Um dos valorosos membros da equipa  - Então com 19 anos - Reside em Lisboa, numa situação de precaridade. O Pires dos Natos, em S. Tomé- ficou aleijado num dos pulsos para o resto da vida, devido a uma opedra que lhe caiu em cima   - Imagem à direita, nos degraus de uma escada  para vencermos uma superfície, dura e lisa, onde não era possível cravar cavilhas e que, se resvalasse, nos atiraria para o fundo do abismo nublado

CÃO GRANDE -  MONUMENTO GEOLÓGICO À  DIVINDADE DA FLORESTA – E LOCAL DE REFÚGIO

Dizia-se que o Cão Grande  tinha feitiço e quem ousasse escalá-lo, ficava lá morto. Por isso, não  constava que alguém tivesse ousado subir as suas paredes verticais. 

Eu achei que devia quebrar esse enguiço. Mas também por  ser um desafio que se me impôs, desde o primeiro dia que  fui trabalhar como empregado de mato para a Roça Ribeira Peixe   - E ainda como um apelo  irresistível e mais intenso, depois de abandonar aquela propriedade agrícola. Impunha-se-me a sua conquista como uma espécie de  desforra às humilhações de que fui alvo por parte da administração desta roça e da Roça Uba-budo, pertencentes à mesma empresa: A companhia Agrícola Ultramarina


É certo que nunca por lá se me depararam  quaisquer desses homens de barbas até à cintura e com mais de trinta  e tantos anos de mato, como por vezes me contavam. Mas acreditei que lá os houvesse, pois apercebi-me  dos vestígios da sua presença, nomeadamente cabanas de folhagem e até de buracos nas rochas. E, à noite, quando pernoitava, lá pelas alturas do Pico, também tive  ocasião de ver pequenos clarões  de fogueiras a refulgirem  por entre o negrume espesso e rumorejante  da floresta, donde, aliás, chegavam , simultaneamente,  como que sussurros de vozes  humanas, em jeito de cânticos ou monólogos  em surdina, misturados com o vozear  dos macacos  e com outros sons característicos do obó, dando-me, por isso, a indicação segura por ali estariam acoitados alguns seres humanos

         ENVIADO COMO ESCRAVO PARA A ROÇA RIBEIRA  PEIXE -  

 Propriedade da Companhia Agrícola Ultramarina - A que pertencia toda aquela vasta área do Caué - Onde se erguia o Pico Cão Grande

O administrador mandara-me para ali de castigo a contar cacaueiros, numa área abandonada e infestada pela cobra-preta, pelo facto de me ter recusado a tratar os trabalhadores por tu e de forma autoritária, ao velho estilo colonial

Na contagem, andava eu com um trabalhador cabo-verdiano: ele de caldeirinha na mão cheia de água de cal para marcar os cacaueiros que eu ia contado.   Eu andava de galochas e ele descalço: um dia uma serpente picou-o e morreu no local. Nesse mesmo dia à noite abandonei a Roça. 

Por isso, quando conclui a escalada o meu pensamento não deixou de me lembrar daquele triste episódio, como homenagem silenciosa a ele e a todos aqueles que  sofreram as agruras da vida escrava nas roças. Pena que, as condições de vida, em muitas dessas propriedades, em vez de terem melhorado, pelo contrário, agravaram-se: “no tempo da escravatura, tínhamos comida e medicamentos, agora que somos livres, não a temos, falta-nos tudo” – Este um dos desabafos que ouvi  de algumas vozes de origem cabo-verdiana na antiga Roça Rio do Oiro, a que foi dado o nome de Agostinho Neto, após a independênci

Pena que, as condições de vida, em muitas dessas propriedades, em vez de terem melhorado, pelo contrário, agravaram-se: “no tempo da escravatura, tínhamos comida e medicamentos, agora que somos livres, não a temos, falta-nos tudo” – Este um dos desabafos que ouvi  de algumas vozes de origem cabo-verdiana na antiga Roça Rio do Oiro, a que foi dado o nome de Agostinho Neto, após a independência.  

Sim, orgulhámo-nos dessa nossa ousada conquista!  De termos sido as primeiras criaturas humanas a contemplar. lá do alto, toda aquela espetacular beleza circundante! A pisar as rochas da sua monumental crista! A bandeira portuguesa, já havia sido desfraldada, por duas vezes: a última das quais, a escassos metros da sua última ramagem, junto a uma gruta.

Tendo chegado a sugerir, ao PM do então jovem país, Leonel Mário d'Alva, que este pico fosse batizado de Pico Independência. A intenção era de prestarmos homenagem, não só aos que lutaram pelo fim do jugo colonial, como também a todos os que foram escravizados nas roças, nomeadamente naquela área, que eu bem conheci, como empregado de mato, em 1964 – E a vida do empregado de mato, era igualmente bastante dura



A escalada do Pico Cão Grande, em 12 de Outubro de 1975, foi tema de uma palestra  promovida pela Associação Desnível  Intitulada  40 anos sobre a Escalada do Pico Cão Grande  – Três horas de entusiástico convívio e fraternal diálogo, em que as ilhas de S. Tomé e Príncipe, embora bem longínquas, estiveram  continuamente no pensamento  de todos os presentes, não apenas do tema em questão mas sobre  outras abordagens

CÃO GRANDE A TESTEMUNHA SILENCIOSA DE MUITO  SUOR, MALÁRIA E LÁGRIMAS – Mas, hoje, grande parte da zona envolvente do Pico Cão Grande, está invadida por plantações de palmeiras 


O Pico Cão Grande, que se ergue no coração da floresta equatorial, ao sul  da Ilha de São Tomé, não é apenas um gigantesco falo de pedra basáltica, é,  indubitavelmente, uma das mais singulares maravilhas  geológicas da terra e deveria ser declarado Património da Humanidade: não tanto pela altitude mas pela forma e verticalidade. 

Quem o vir de longe,  seja da clareira da floresta,  seja ao surgir da curva de uma estrada ou até a levantar-se  à frente dos olhos, irrompendo no meio de uma pequena reta, não poderá deixar de  sentir o pasmo de uma majestosa aparição,  de ser tentado a contemplar, algo  que parece divinizar toda a natureza selvagem envolvente – Qual gigantesca testemunha, simultaneamente, terrena e cósmica! Ou qual expressão  genuína de  um monumento, erguido da terra, aos céus!  

Autêntico dedo gigantesco apontado aos céus!- que se destaca do coração da floresta mais densa e exuberante da zona meridional da ilha, próximo da linha do Equador, onde a queda pluviométrica oscila, entre 4500 a 5000mm anuais  – Monólito  de origem vulcânica com  663 metros de altitude, com um perímetro na base, talvez superior à  superfície rochosa que se levanta aprumo, sobre o manto verde, que se calcula acima dos 300 m de altura  - ou mais, conforme a vertente que se escalar.

 Algumas das suas escarpas, além de encobertas pela floresta, confundem-se  com o próprio monte donde emerge, desnudam-se dele e vão quase até à  linha das águas, que correm ou jorram junto dele,  excedendo muito além das três centenas de metros calculados, que é possível medir em área livre e aberta. 

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 Não é façanha  para se fazer em jeito de turismo, ao estilo "mambo italiano"  – Cujos autores, vieram gabar-se de,  em três dias, terem escalado  dois picos e ainda terem tempo de darem por lá numas passeatas, em comedorias e pernoitas, num hotel  e outras veleidades no Ilhéu das Rolas".


MONSTRUOSO PÁRA-RAIOS - EM DIAS DE TEMPESTADE  - É  de tal  maneira fustigado por faíscas e relâmpagos, que, mais lembra uma Torre Negra, incendiada do Inferno  - A sua forma, quase esférica e pontiaguda, funciona como um portentoso para-raios! - Várias vezes vi esse espetáculo pirotécnico noturno  da Roça Ribeira Peixe, quando ali trabalhava, como empregado de mato - Dizia-se lá: "Olha lá está o Cão Grande a ser bombardeado pela fuzilaria do diabo!!...  - Não tarda a  trovoada a vir por aí abaixo!...

Curiosamente, mais das vezes, as nuvens faziam por lá a descarga e a chuva não atingia o  terreiro da roça, que ficava ali junto ao mar - É, sem dúvida, a zona onde chove mais! - Em São Tomé há cinco microclimas - Que vão desde os 300mm na cidade São Tomé, até aos 5000mm, onde se situa aquele pico.

Daí o fascínio que exerce aos olhos de quem o contempla. Mas, sobretudo, o permanente desafio que se revela aos amantes da escalada vertical -  Pessoalmente, pude  viver tais emoções, sentir o grande prazer  – misto de glória, apreensão e receio – com com a minha valorosa equipa de santomenses; Pires dos Santos e Constantino Bragança e dos meus guias: Sebastião e do Chico.

MARAVILHA GEOLÓGICA DO PLANETA TERRA – Única no  género no mundo    - Verdadeiro ex-libris do Sul da Ilha de São Tomé, mas que devia ser também rentabilizado oficialmente    desportivamente, tal como sucede nas escaladas do Evereste, onde só a concessão  da licença,  por cada membro, ascende a 11 mil dólares, além do pagamento aos guias e carregadores, os sherpas costumam ganhar entre 2.000 e 4.000 dólares – E, em S. Tomé, os guias e carregadores, ficam à mercê da generosidade das equipas. E, depois, se acontece um acidente? – Houve aviso prévio ou acompanhamento dos primeiros-socorros?


Sem dúvida, um permanente desafio para os apaixonados de emoções fortes, amantes da natureza, com nervos de aço e de grande autodomínio psicológico na escalada livre às majestosas paredes verticais ,  que  se ergue no coração da floresta equatorial, ao sul  da Ilha de São Tomé

Pois não é apenas um gigantesco falo de pedra basáltica - que chegou a ser batizado de  "Caralhete"  elevando-se acima de 300 m de altura em relação ao solo, por 663 m de  de altitude, acima do nível do mar. é,  indubitavelmente, uma das mais singulares maravilhas  geológicas da terra: não tanto pela altitude mas pela forma e verticalidade.

 

CONQUISTA DO CUME COM SABOR AMARGO

Em 12 de Outubro, de 1975, a minha equipa, conquistava, finalmente, o tão desejado cume do Pico Cão Grande  - Dois anos sozinho, e, por fim, nos dois anos seguintes, 73 e 75,  com a participação de dois valorosos santomenses, o Cosme Pires dos Santos e o Constantino Bragança, além da valiosa colaboração dos guias e carregadores, do  Sebastião e do Chico, atingia-se a crista de um dos mais difíceis e caprichosos monólitos do planeta. 

Não disponho das imagens desse auspicioso momento – se bem que, para nós, fosse mais de pesadelo de que de alegria, dada a iminência de uma tempestade e de não termos a certeza se regressaríamos vivos ao sopé - , sim, não disponho de nenhuma fotografia desse dia, porque, uns dias depois, deixava S. Tomé a bordo do pesqueiro americano, Hornet, para ser largado, numa frágil piroga,  a sul da Ilha de Ano Bom, na corrente equatorial –  O meu espólio, até ficou bem guardado, só, que, mais tarde, tendo pedido a um comerciante, que mo fosse buscar a casa da minha companheira para fazer o favor de mo trazer para Portugal, quando aqui voltasse de férias, sim, ele foi lá a busca-lo, mas, até hoje, não se dignou entregar-mo.

Os últimos 50 metros do Pico Grande, são, de facto,  de um extremo risco – Quem o fizer, terá, certamente, que  aprender a técnica dos macacos da floresta – a usar mais as pontas dos dedos de que a ter que socorrer-se de pitons, martelos, ganchos, cordas e de outros apetrechos: o efeito erosivo das chuvas copiosas e constantes, naquela zona,  a mais pluviosa da ilha, tem provocado, ao longo dos tempos, que, os  últimos 50 metros,  quase permanentemente envolvidos por um denso nevoeiro ou grossos novelos nuvens, se estejam a esboroar e a desmoronar - E se encontrem, em muitas áreas rochosas da   superfície do gigantesco monólito basáltico, de origem vulcânica,  como arestas laminadas, que cortam como navalhas, suscetíveis de se desprenderem facilmente,  tanto por súbitas alterações de temperatura,  como  por um simples  sopro de vento . Salvo a face exposta a poente, mais lisa e com menos arbustos, todo o restante perímetro do Cão Grande, na zona mais aprumo, e também com alguns tetos, é um permanente risco de vertigem e audácia - o passaporte a um voo para a morte.

Lá do alto, do cume do Cão Grande, não se desprendem as  avalanches de neves das frias regiões, porque,  o clima é equatorial, é quente e húmido, mas há outras ameaças, não menos perigosas - Pedras que se soltam! -   Por exemplo, o Pires dos Santos, ainda hoje tem um pulso, com um enorme inchaço, devido a um pedra que se desprendeu e o atingiu. A mim, só por um dedo é que uma pedra, que me passou a rasar uma orelha, não me abriu a cabeça.   E o Constantino, também não foi poupado de uma pedra, que o ia atirando para o abismo.  


ENTRE OS MAIS DIFÍCEIS DO MUNDO



Eric Shipton , nas últimas páginas do seu livro “A Conquista do Ervarest”, depois de narrar a empolgante conquista ao topo da maior montanha do mundo, teve a modéstia de referir a certo passo:

Ouvia-se, com frequência a afirmação de que, infelizmente, após a conquista do Evarest, não restaria qualquer ponto da superfície da terra que o homem não tivesse pisado. Nenhum explorador concordou jamais com tal afirmação: para uma montanhista ela constitui um perfeito disparate”

E mais adiante, acrescenta:  É preciso, também, não esquecermos que parte dos que foram vendidos  (referia-se aos picos gigantes) pertencem ao grupo daqueles que menos dificuldades oferecem. Muitos, de tantos que restam, exigirão muito mais trabalho  e perícia (…) “Enquanto os gigantes se contam por dezenas, há milhares de outros. A grande maioria não tem nome, nem se lhe conhece a altitude. Muitíssimos nem sequer vêm mencionados nos mapas. Alguns deles são bem mais difíceis de que qualquer dos gigantes; e, na verdade, quanto a mim, muitos dos que vi, estão para além do alcance mesmo da mais moderna técnica do montanhismo

CÃO GRANDE - A GRANDE OBCESSÃO – 


Escalar este pico é mais de que um desafio, de orgulho e determinação, algo de psicológico. de muito profundo e complexo no meu espírito, que não me faz desistir e já se me transformou   numa verdadeira obsessão – Penetrar através da floresta, cheirar o perfume da exótica vegetação, impregnar o meu corpo e o meu espírito dos odores desta terra húmida, deliciar o olhar, os meus sentidos, é dos tais prazeres inexplicáveis.

Porém, tudo tem jogado contra mim, até hoje, ninguém me tem ajudado, salvo a companhia inseparável e preciosa do meu guia: o Sebastião. Sem ele nunca mais aqui teria voltado. Não sei se alguma vez ele refletiu sobre o alcance desta minha teimosia. Penso que não: pois ele nunca me perguntou porque é que resolvi escalar esta pedra – No entanto, tenho notado que ele se entusiasmou com o meu entusiasmo desde a primeira hora e está sempre pronto a acompanhar-me com os seus cães. Pois, sempre que me apresento à frente da sua cubata, apressa-se imediatamente a vir ao meu encontro com  um amável sorriso e um caloroso aperto de mão de visível simpatia e acolhimento.

Nos dias em que me acompanha, ele deixa de fazer a sua empreitada na roça: da capinagem, colheita do côco ou de cacau – os serviços mais usuais onde trabalha, deixando assim de auferir o magro salário. Mas também não espera que eu lhe dê alguma retribuição monetária pela troca que faz. Vai comigo porque gosta de me acompanhar e se tornou meu amigo. Instintivamente, sente o meu entusiasmo e a minha aposta. E, para que não fique lesado no seu ganha-pão de cada dia, serve-se dos seus cães, que, além de irem à frente a espantar as cobras, cercam os porcos bravos, barricando-os à volta de uma árvore para que, depois os alveje num golpe certeiro de  zagaia

Estamos em Agosto, altura da Gravana. Há que aproveitar este período, que é apenas de três meses. Depois vêm as chuvas e o Cão Grande é um autêntico  chorão de água, desde a crista à base. As paredes, cobertas de musgo, ficam lisas e escorregadias como o vidro e  não oferecem a menor possibilidade de serem escaladas.

Desta vez, levo comigo outros materiais, vou bastante mais carregado,  mas também com redobrada esperança. Pois, se não for agora, não será nunca. Estou farto de aqui vir  e estas viagens, desde a cidade, ao sul da ilha, além de dispendiosas, já é uma rotina pouco aliciante, confesso que já me vou sentindo enfadado – Porém, uma vez mais se ia repetir o rosário das mesmas estafantes e perigosas caminhadas pelo mato, e, depois, ao chegar junto do sopé, igualmente a repetição das mesmas dificuldades,  o arrostar dos mesmos riscos,  em mais nova escalada, cujas tentativas só viriam a conhecer progressos significativos e o tão desejado êxito, após a colaboração do Constantino Braganças, mas, sobretudo, do Pires dos Santos – Sim, porque a escalada do Cão Grande, não é para ser proeza solitária mas para ser compartilhada.

Na verdade, em 12 de Outubro, de 1975, a três dias da minha partida para uma aventura marítima, a minha equipa, conquistava, finalmente, o tão desejado cume do Pico Cão Grande, tentado por várias equipas estrangeiras, sem êxito - Dois anos sozinho, e, por fim, de, 73 a 75, com uma equipa de valorosos santomenses - Constantino Bragança, Cosme Pires dos Santos, e os guias, Sebastião e o Chico - conquistávamos a crista de um dos mais difíceis e caprichosos monólitos do planeta


A escalada já foi tentada por   equipas de várias nacionalidades mas, só muito recentemente é que lograram escalá-lo - Eu e a minha equipa, fomos os únicos que alcançámos o cume, pela primeira vez e sem os apetrechos de que o alpinismo técnico se serve -  - Em 12 de Outubro, de 1975, a minha equipa, conquistava, finalmente, o tão desejado cume do Pico Cão Grande - Dois anos sozinho, e, por fim, de, 73 a 75, com uma equipa de valorosos santomenses - Constantino Bragança, Cosme Pires dos Santos, e os guias, Sebastião e o Chico - conquistávamos a crista de um dos mais difíceis e caprichosos monólitos do planeta.

Não disponho das imagens de tão auspicioso momento – se bem que, para nós, fosse mais de pesadelo de que de alegria, dada a iminência de uma tempestade e de não termos a certeza se regressaríamos vivos ao sopé - , sim, não disponho de nenhuma fotografia desse dia, porque, uns dias depois, deixava S. Tomé a bordo do pesqueiro americano, Hornet, para ser largado, numa frágil piroga,  a sul da Ilha de Ano Bom, na corrente equatorial –  O meu espólio, até ficou bem guardado, só, que, mais tarde, tendo pedido a um comerciante, que mo fosse buscar a casa da minha companheira para fazer o favor de mo trazer para Portugal, quando aqui voltasse de férias, sim, ele foi lá a busca-lo, mas, até hoje, não se dignou entregá-lo a quem pertence.


COMO TUDO COMEÇOU…

Como nasceu este meu gosto de escalar rochas, tão verticais e tão íngremes, creio que este impulso já veio da minha adolescência – Quando era miúdo, adorava sair da minha aldeia - chãs, de Vila Nova de Foz Côa  - e dar os meus giros até à penedia dos Tambores, andar por lá a trepar e  a saltitar de penedo em penedo, no planalto rochoso de um dos mais insólitos e vastos afloramento graníticos, que se erguem e estendem, num dos extremos da chamada meseta ibérica, na margem direita da ribeira Centeeira, afluente do Rio Côa, ou seja, nos morros ou fragas da grotesca  e dramática penedia, que se levanta  como  enorme muralha natural, ladeando o magnifico vale do  graben de Longroiva, uma linha sísmica que separa o xisto do granito e que, depois de atravessar o Rio Douro, toma o nome de falha de Vilariça  - No qual viria a decobrir antiquissimos calendários rupestres alinhados com o nascer do sol nos equinócios e com o Põr-do-sol no solsticio do Verão.

 Sempre que podia, lá ia eu a dar as minhas voltitas, descalço e quase sempre sozinho, de tal modo que, na Escola Primária, chegaram a chamar-me a camioneta, sem dono, dadas as concorrerias que dava por lá.  -. Tanto mais que, esse desejo de ali ir, começara a forjar-se, no meu espírito, ainda mais cedo:  desde o tempo em que os meus pais eram caseiros na Quinta do Muro, sobranceira ao vale daquela mesma ribeira, situada quase no sopé dos Tambores – Pois de volta e meia, lá tinha eu que subir as íngremes ladeiras, semeadas de rochedos, para levar a marmita ao nosso pastor. Pelo que, não há canada ou penhasco, em que eu não conheça, que  eu não tenha  passado por lá, nas mais diversas horas e circunstâncias. - De resto, foi gosto,  transformado em paixão, que perdura até aos dias de hoje.

Ainda agora é  o meu retiro predileto, o lugar eleito das minhas fugas da cidade para o campo,  para onde vou, sempre que posso, nos meus devaneios espirituais. Pois  é lá, ante a vasta linha daqueles horizontes, que eu sinto, bem presente,  a minha identidade, a suave harmonia das minhas raízes, o genuíno pulsar da minha origem, desde o seu lado mais ancestral, até ao mais próximo.  Porém, mais de que o  torrão que me viu nascer, o que ali revejo e descubro, a cada passo, é a visão de um  lugar sagrado, cenário iminentemente espiritual, que convida à contemplação e à purificação do corpo e da alma - Á inolvidável perceção de quem sente e escuta um hino de serenidade e de louvor a Deus