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sábado, 30 de abril de 2022

Alda Graça do Espírito Santo – A Grande Mãe das Ilhas Verdes do Equador, nasceu em S. Tomé a 30 de Abril de 1926 – Deixou-nos há 12 anos, em Angola 9 de Março de 2010


SÃO TOMÉ E 
PRÍNCIPE
 –  AS ILHAS MARAVILHA QUE GERAM POETAS E CONVIDAM À CONTEMPLAÇÃO E À POESIA  -   - Por Jorge Trabulo Marques - jornalista e investigador 


A beleza natural de São Tomé e Príncipe é meio caminho andado para ser-se poeta – e estas ilhas têm grandes poetas: desde um  Costa Alegre, a Francisco José Tenreiro, passando por Francisco Stockler, Alda do Espírito Santo, Conceição Lima, a Olinda Beja, entre outros, são nomes de elevada craveira, que atestam uma extraordinária literatura poética

ALDA- Duas sílabas numa só palavra - Acrescida do apelido divino " do Espírito Santo - Nome da Inesquecível Musa, a Mui Amada e  Grande Mãe das Ilhas Maravilha - A Grande Inspiradora Poetiza da liberdade e da Beleza! A Grande Irmã da Dor e do Amor e do sentimento amargo e mui dolorido sofrimento ancestral de um Povo - Quem esquecerá o seu rosto? 

Não partiu para o exilio mas, mesmo sob a vigilância da antiga policia politica (PIDE) nem por isso deixou de usar a palavra, os seus versos, como a voz mais ativa e interveniente pelo seu Povo  - Considerada, por isso, como expoente máximo do nacionalismo são-tomense, pós independência. Alda Graça, morreu em Angola para onde foi evacuada  por razões de saúde. Morreu na terra dos seus compatriotas de luta pela independência nacional, como Mário Pinto de Andrade. Um dos nomes de Angola que Alda Graça muitas vezes citou nas suas intervenções públicas. – Excerto deAlda Graça do Espírito Santo

Lá no «Água Grande»

Lá no «Água Grande» a caminho da roça
negritas batem que batem co’a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.

Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.

Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta,
brincam na água felizes…
Velam no capim um negrito pequenino.

E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam miúdos lá na hora do regresso…
Jazem quedos no regresso para a roça.

 (Poesia negra de expressão portuguesa, 1953)

 Fevereiro

lda Graça do Espírito Santo

Poeta santomense: 1926 – Faleceu em 9 de Maraço de 2010
Nasceu a 30  de abril  de 1936 , na cidade de São Tomé, capital do Arquipélago de São Tomé e Príncipe, Alda Neves da Graça do Espírito Santo. Filha de uma professora primária e de um funcionário dos Correios, ainda nova faz seus primeiros estudos em São Tomé. 1940: Em meados de 1940, muda-se com a família para o norte de Portugal, anos depois a família muda-se para Lisboa onde Alda inicia seus estudos universitários. 1950: No início dessa década, morando em Lisboa com a família, Alda Espírito Santo faz contato com alguns dos importantes escritores e intelectuais que viriam a ser os futuros dirigentes dos movimentos de independência das colônias portuguesas de África, como Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, Francisco José Tenreiro, entre outros. A casa de sua família, no número 37 da Rua Actor Vale, funciona como local de encontros do CEA (Centro de Estudos Africanos). Os encontros regulares na casa de Alda promoviam palestras sobre temas diversos como Linguística, História e também sobre a consciência cultural e política acerca do colonialismo, do assimilacionismo e da defesa do colonizado.  Excerto de Vidas Lusófonas - Alda Espirito Santo

Combatente da luta pela independência nacional, poetisa, considerada expoente máximo do nacionalismo são-tomense, pós independência. Alda Graça, morreu em Angola para onde foi evacuada desde a última semana por razões de saúde. Morreu na terra dos seus compatriotas de luta pela independência nacional, como Mário Pinto de Andrade. Um dos nomes de Angola que Alda Graça muitas vezes citou nas suas intervenções públicas. – Excerto deAlda Graça do Espírito Santo




sexta-feira, 29 de abril de 2022

Ilha do Príncipe – Comemora hoje o 27º aniversário de Autonomia Regional - RAP - O Ministro Jorge Amado, da Defesa e Ordem Interna, representará o Primeiro-ministro Jorge Bom Jesus

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista desde 1970 - Estes trabalhos são feitos sem fins lucrativos

Hoje é um dia de festa na Ilha do Príncipe - Além de ação plenária especial na Assembleia legislativa regional, estão previstas atividades culturais, desportivas e recreativas, com vista  assinalar o 27º aniversário da autonomia da Ilha do Príncipe.

 A formosa lha do Príncipe é a segunda maior ilha do arquipélago de São Tomé e Príncipe, administrativamente, desde 29 de Abril de 1995, constituída por uma região autónoma, formada pelo distrito de Pagué. A ilha tem uma área de 142 km² e uma população estimada, em 2006, de 6737 habitantes.. A capital é Santo António.

Meus Parabéns ao Presidente Governo Regional Filipe Nascimento, desejando-llhe os melhores êxitos  de progresso económico e de bem-estar às suas populações 


MINISTRO JORGE AMADO – Desde segunda-feira, na maravilhosa ilha irmã do Príncipe, disse à imprensa local “sentir-se em casa”,

Refere a STP-Press, que à semelhança daquilo que efetuou em outras regiões militares na Ilha de São Tomé, Jorge Amado que “a ideia é tomar contacto com a situação real, saber como é que militares vivem aqui, as condições sociais

“Há militares que estão distantes dos seus entes queridos [em São Tomé] … e receber essa visita naturalmente que dá-los um outro alento”, disse titular da Defesa.

Jorge Amado, fez-se acompanhar nesta primeira visita oficial à Região Autónoma do Príncipe - RAP - desde que assumiu o pelouro da Defesa Nacional, de alguns membros da hierarquia militar nacional, com destaque para o brigadeiro-general, Idalécio Pachire, chefe de Estado-maior das Forças Armadas - Diz agencia noticiosa santomense

Estive, pela última  vez na Ilha do Príncipe, em Janeiro de 1971, aquando das comemorações do  V centenário da descoberta da Ilha do Príncipe, cerimónias presididas pelo   então Governador Cecílio Gonçalves, depois de, em 1969,  ter ligado as duas Ilhas numa frágil piroga, que me haveria de causar alguns problemas por parte da PIDE: uns dias nos calabouços, depois de uma valente sova por suporem que eu teria tentado escapar-me para o Gabão para me juntar ao MSTP, ali sedeado. A que se seguira uma pesada coima por parte da Capitania dos Portos.

Felizmente,  deu-se a circunstância de, nessa altura, se encontrar o chefe de  redação da revista angolana, Semana Ilustrada, que me convidaria a contar a história nesta publicação, o que fiz em várias edições, passando então a ensaiar os meus primeiros trabalhos jornalísticos  Estas as palavras, com que     iniciava a reportagem  para a revista Semana Ilustrada, de Luanda, alusiva à efeméride. "A Ilha do Príncipe, a linda irmã Ilha de S. Tomé, teve no passado dia 17 (Janeiro de 1971),  um dia de grande festa, ao comemorar  com assinalável brilho,  a  passagem  dos 501 anos da sua descoberta.

O QUE É DITO DO SEU PASSADO HISTÓRICO

S. Tomé 2015

A cidade de Santo António foi fundada em 1502 e era um centro de cultivo de cana-de-açúcar. Em 1695, o Forte da Ponta da Mina foi construído na entrada da baía de Santo António. Em 1706 a cidade e a fortaleza foram destruídas por corsários franceses. Em 1753, devido à grande instabilidade em S. Tomé, a capital foi transferida para Santo Antônio do Príncipe, retornando em 1852.

Em Julho de 2012, foi declarada a primeira reserva mundial da Biosfera pela Unesco do arquipélago são-tomense, e a primeira reserva africana a integrar a rede mundial da biosfera costeira.  Parabéns ao seu Presidente do Governo Regional, Filipe Nascimento e votos dos melhores progressos na sua economia e no bem -estar das suas popopulações

Ilha do Principe

O descobrimento das ilhas do Golfo da Guiné está mal referenciado na documentação antiga, motivo esse que têm suscitado alguma controvérsia entre historiadores, contudo, admite-se que tenham sido os navegadores João de Santarém, Pedro Escobar e João de Paiva, contratados por Fernando Gomes, no reinado de D. Afonso  V para que descobrissem as  terras a sul da Serra Leoa:  - Ao afastaram-se do rio Congo, foram descobrindo S. Tomé (21 de Dezembro de 1470), Príncipe (antes Santo Antão, em 17 de Janeiro de 1471); Ano Bom (Pagalu), no 1º de Janeiro de 1472 - A ilha de Fernando Pó (Bioco) teria sido descoberta pelo navegador pelo qual passou a ser conhecida, não havendo a certeza quanto a data exacta, admitindo-se que tenha sido em 1472 ou 73 

Ambas as ilhas, foram cedidas a Espanha em 1778,  pelo Tratado de El Pardo em troca de terras espanholas na América do Sul, que seriam posteriormente anexadas ao Brasil (faixas de terras do atual Rio Grande do Sul).

António Carneiro em 1500 iniciou a colonização de S. Antão, depois Ilha do Príncipe, depois de D Manuel lhe ter concedido a doação da capitania e da alcaidaria-mor. Na mesma data D. Manuel concedeu o primeiro foral aos habitantes da ilha.

Visando incentivar o seu povoamento, em 1502 tornou-se uma donataria, denominada como "Ilha do Príncipe", sendo-lhe introduzida a cultura da cana-de-açúcar. Fora nomeada ilha do Príncipe por D. João II de Portugal. O rei tanto adorava o seu único filho e herdeiro Afonso, Príncipe de Portugal (1475) que, em sua homenagem, designou como "Príncipe" a ilha mais pequena do arquipélago de São Tomé e Príncipe.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Ação de Socorro ao rebocador italiano Grecale Secondo nas águas do Golfo da Guiné, pelo Navio patrulha “Zaire”, da Marinha Portuguesa – Mares onde a pirataria continua a causar perturbações, sendo motivo, de 25 a 28 de Abril, de uma cimeira na Abuja, capital da Nigéria


Jorge Trabulo Marques - Jornalista desde 1970 - Os textos editados neste blogue, não visam fins lucrativos, não são renumeados por ninguém 

O Navio patrulha “Zaire”, da Marinha Portuguesa, operado por uma guarnição mista constituída por militares portugueses e santomenses, nos dias de 19 a 21 de abril, salvou de uma situação difícil o navio rebocador italiano “Grecale Secondo”, construído em 1976, com uma tonelagem bruta 196 toneladas, que se encontrava à deriva nas proximidades do Ilhéu das Rolas, contribuindo para a segurança marítima na zona sul da Ilha de São Tomé.


O vasto Golfo da Guiné é considerado a zona marítima mais turbulenta e perigosa da pirataria do mundo, fortemente associada ao roubo de cargas de petróleo e à pilhagem das instalações petrolíferas

Por esse facto, e com vista a fazer face a essa séria ameaça, é que  países africanos membros da Comissão do Golfo da Guiné (CGG) acordaram reunir-se  numa cimeira de chefes de Estado e de Governo, em Abuja, capital da Nigéria, de 25 a 28 de Abril, durante a qual serão abordados os problemas relacionados com a paz e a segurança,

Angola é membro fundador da Comissão, criada em 1999, e que atualmente inclui Camarões, RDC, Congo, Gabão, Guiné Equatorial, Nigéria e São Tomé e Príncipe

Tal como é sublinhado, pela STP-Press, o referido navio prossegue a sua missão, sendo um exemplo em matéria de cooperação bilateral entre os dois países lusófono e contribuindo, através de um esforço conjunto, para a segurança marítima das águas santomenses, em particular, e para a segurança marítima do Golfo da Guiné, em geral.

Após reconhecimento do estado do navio, realizado por militares da guarnição do “Zaire”, constatou-se que o navio se encontrava com uma avaria mecânica e sem os aparelhos que permitem que o navio fundeie em segurança. Por se constituir um perigo à navegação, configurando-se um potencial risco ambiental, as autoridades santomenses solicitaram que o NRP “Zaire” procedesse ao reboque do navio, tendo este sido iniciado na manhã de 20 de abril, com destino à Baía de Ana Chaves

 

segunda-feira, 25 de abril de 2022

O 25 de Abril 1974 em S. Tomé - Carlos Tiny, um dos heróis Santomense, foi sepultado na tarde sábado - A alvorada da revolução, quase não foi notada - Fui testemunha e jornalista desses factos - Bati-me pela sua defesa numa revista angolana, de que era correspondente – Liberdade de expressão, que me ia custando a vida

Jorge Trabulo Marques - Jornalista desde 1970 - Os textos editados neste blogue, não visam fins lucrativos, não são renumeados por ninguém 


O 25 de Abril devolvera a liberdade ao Povo Português e a promessa da libertação dos povos sob o jugo colonial. A censura foi erradicada e a imprensa passou a publicar livremente os seus artigos, reportagens e a exprimir as opiniões. A minha experiência na Roça, fora suficiente dura e dececionante para  tomar  consciência de que o colonialismo, não servia nem os povos das ilhas nem sequer muitos dos pobres colonos, que para ali iam na esperança de uma vida melhor.  Também fora enganado. 

Todavia, para que a prosperidade possa abranger o sacrificado povo destas tão maravilhosas e férteis ilhas, onde o ordenado mínimo ronda as 2.500 dobras (cerca de 100 euros), pelos vistos, há ainda muito para fazer 


Carlos Tiny, antigo membro do Comité Central do MLSTP e elemento activo  da Associação Cívica no âmbito da luta pela independência do País, que depois viria a desempenhar o cargo de ministro são-tomense da Saúde, que faleceu em Portugal vitima de doença, foi sepultado no seu pais na  tarde de  sábado  no cemitério de Alto São João num cenário de dor e consternação entre familiares, amigos e entidades públicas do País com destaque para Presidente da República, Carlos Vila Nova, Presidente do Parlamento, Delfim Neves e Primeiro-Ministro, Jorge Bom Jesus. - Refere STP-Presshttps://www.stp-press.st/2022/04/24/o-ultimo-e-doloroso-adeus-a-carlos-tiny/

Viva o 25 de Abril e a liberdade de Expressão – Bati-me pela sua defesa em S. Tomé, numa revista angolana, de que era correspondente – Ia-me custando a vida: uma forca pendurada à porta de minha casa por alguns colonos, pneus do meu carro furados à navalhada, agressões violentas na rua, entre outras diatribes, pelo que tive que me escapar de canoa para a Nigéria


Ainda entrevistei algumas das vítimas - "Prenderam-me durante 45 dias. Houve a ideia de arranjar mão-de-obra gratuita. E daí surgiram as prisões, mais prisões sem quaisquer razões para isso. Procurava-se emprego e não se encontrava. No entanto, as rusgas sucediam-se e as pessoas que encontravam eram presas. É claro que houve um ou outro que reagiu sobre essas atitudes." Declarações de Bartolomeu Cravid 



NÃO ME MATARAM PORQUE ME ESCAPEI NUMA CANOA PARA A NIGÉRIA - Largando à noite, discretamente, da Praia Melão, em quase 13 dias de terríveis tempestades e podres calmarias -

MAS ANTES DE PARTIR, CHEGUEI A ESTAR REFUGIADO NO MATO EM CASA DE AMIGO SANTOMENSE – DENTRO DO QUE ME FOI POSSÍVEL, FIZ O REGISTO DA CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS E TESTEMUNHEI HISTÓRIA - 
O que profundamente lamento é o comportamento do  comerciante de origem portuguesa, Sr. Jorge Moisés Teixeira Coimbra, que,  tendo ido buscar os   milhares de negativos a casa da  minha companheira, uma amável nativa santomenses (única pessoa que me viu partir rumo ao desconhecido, numa noite profundamente escura e com o horizonte rasgado por sinistros relâmpagos,  tornado esse, que horas depois, me envolveria no seu fantasmagórico carrossel de alterosas vagas), sim, que, em posterior aventura,  não teve a gentileza de até agora me entregar o meu espólio  

UNS MESES DEPOIS, APÓS INVADIREM O PALÁCIO DO GOVERNO E DE INSULTAREM O GOVERNADOR – MAL ME VIRAM NAS IMEDIAÇÕES, UMA AUTÊNTICA MULTIDÃO DE COLONOS  ENFURECIDOS, MUNIDOS DE MACHINS, DESATOU A CORRER ATRÁS DE MIM  - O QUE ME VALEU FOI TER DESCOBERTO A ESCADA DE UMA PORTA ABERTA E REFUGIAR-ME NO TELHADO DESSE PRÉDIO

Ao saírem do palácio, depois de insultarem, o Governador, Pires Veloso – mal me viram sentado na esplanada do Restaurante Palmar, – onde pretendia inteirar-se daquela estranha ocorrência -, imediatamente correram furiosos atrás de mim!  E eram umas largas centenas. Se me apanhassem, naquele momento, estou convencido que me  tinham esmagado e linchado. -

Mesmo assim, quando corria à sua frente, ainda levei com uma pedra nas costas e outra na cabeça  - Depois de descarregarem toda a ira e ódio na minha modesta viatura, furando-lhe os quatro pneus à navalhada, arrombara-me a casa, partiram-me tudo: escaqueiraram-me a máquina de escrever, onde nem sequer ficou um simples copo inteiro para beber água - Não satisfeito com a malvadez, deixaram uma forca pendurada na porta, e, na parede ao lado,  uma cruz desenhada e a inscrição: " a morte sanciona cada traidor".


TIVE QUE ME REFUGIAR, EM CASA DE UM SANTOMENSE: dos pais do Constantino Bragança, que, tendo assistido à perseguição, se deslocou à noite ao local para me colher no seu modesto casebre, algures no mato: Sr. Jorge! Pode descer, que os brancos foram todos para o quartel da Polícia Militar e do Cinema Império e venha para a minha casa


A minha casa ficou irreconhecível, num monte de destroços. Como não me apanharam lá no seu interior,  deixaram-me à porta  o laço da prometida forca de corda. Pelos vistos, em qualquer parte do mundo, os jornalistas são sempre as primeiras vítimas. É neles que descarregam todos as iras e ódios. Ainda hoje, ao escrever estas linhas, se me toldam os  olhos, tal os maus momentos por que passei. Ao meu modesto carro, por duas vezes, lhe furaram os pneus à navalhada.- Não me importo de ser confrontado com os elementos  da natureza mais hostil, mas ser  atingido pelo ódio humano é mil vezes pior!...Não é medo é um sentimento de profunda tristeza e revolta


PIRES VELOSO ALUDE,  NO SEU LIVRO:  “VICE-REI DO NORTE – Memórias e Revelações” À INESPERADA INVASÃO DOS COLONOS AO PALÁCIO DO GOVERNADOR

A manifestação podia ter acabado numa tragédia: havia o desejo de pegar em armas e atacar os defensores da Independência Total. Estes depressa galvanizaram as populações e o movimento do pró era imparável. Só se matassem o povo inteiro. Houve quem estivesse quase a perder as estribeiras.

Faltou-lhes lá o Tenente-Coronel Ricardo Durão a liderar a revoltaque, uns dias antes, desembaraçara no aeroporto de São Tomé. Se o Tenente-Coronel Pires Veloso (hoje General), não o obrigasse a voltar no mesmo avião, estou certo de que, as águas que correm nas pacíficas Ilhas de São Tomé e Príncipe, ter-se-iam toldado por muitas manchas de sangue. E, sobretudo, se o Governador, não apelasse à calma dos manifestantes: os quais se rebelaram por motivos absolutamente injustificáveis, pois ninguém os molestou - Seguiram, depois, para  o quartel da Polícia Militar e Cinema Império. Porventura, na perspectiva de que, Ricardo Durão, os viesse comandar -  Já que a o episódio do seu regresso forçado não fora tornado público.

CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS  - DA REVOLUÇÃO DE ABRIL EM S. TOMÉ- 

Era naquela altura - aliás, desde meados dos ano 70 - correspondente da Revista Semana Ilustrada, de Luanda - Naturalmente, que,  a repercussão do 25 de Abril, nas Ilhas Verdes do Equador, nomeadamente, em S. Tomé, onde residia, não podia passar despercebida  ao  jornalista - De resto, com o fim da censura, não havia mãos a medir  Muitos dos meus trabalhos, não passavam no crivo dos censores, em Angola, pelo que, finalmente, com a despertar da liberdade de expressão, havia que aproveitar os novos ventos da história ,que, aliás, muitas contrariedade me haviam de trazer, da parte dos colonos  - Na edição da semana seguinte, fiz um relato circunstancial dos principais acontecimentos na Ilha, que julgo ter sido o único a nível da imprensa - Só que era-me difícil  encontrar a revista onde fiz essa publicação. 

DE SEGUIDA VOU REPRODUZIR ALGUNS EXCERTOS DOS QUE JÁ DESCREVI DESENVOLVIDAMENTE  NOUTROS POSTS DESTE SITE -  SOBRE A CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS APÓS O GOLPE DA REVOLUÇÃO DE 24 PARA 25 DE ABRIL


Alvorada da revolução do  25 de Abril, de 1974, não foi praticamente notada neste dia em S. Tomé e Príncipe, senão para quem acompanhava as emissões estrangeiras de rádio, que  não era, naturalmente, o grosso da população  mas quando raiou foi como um rastilho que se ateasse a um foguete – Mesmo assim, houve quem quisesse ofusca-la – E pouco faltou para que os roceiros provocassem um banho de sangue e  Movimento das Forças Armadas  ali fosse abortado – Ou antes, um pouco retardado, já que a população, galvanizada pelas manifestações populares, não o ia permitir

Mas eu soube da notícia ao raiar dessa alvorada. Era operador na rádio local e correspondente da revista angolana, Semana Ilustrada. A estação encerrava à meia-noite e abria (se a memória não me falha) às cinco e meia da manhã. 

Nesse dia, eu era o técnico escalado para abrir a estação e pôr o Hino Nacional no ar, seguido de  um programa de música variada – era mais uma das bobines gravadas que recebíamos regularmente da extinta Emissora Nacional. Poucos depois, chega o Raul Cardoso, que, na redação, passava ao papel as noticias transmitidas, em onda curta, por aquela estação, para depois serem lidas nos noticiários da "província". Pois não dispúnhamos de fax.

Houve um golpe militar!!... Há uma revolução em Lisboa!", Confessava-me, mal   pôs os auscultadores à escuta.  Porém, as notícias dos acontecimentos em Lisboa, foram encaradas com reservas e a sua divulgação, começou por ser bastante lacónica - Só, depois do pôr-do-sol. já noite, às 19 horas, é que  O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T

2014 - Recebido pelo PR Manuel Pinto da Costa
"Perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade que o Governo e as Forças Armadas da Província continuarão a assegurar."
Frente ao Portal da  Praia da Roça Uba  Budo   anos 60

«S. Tomé-25. O dia amanheceu sereno e calmo como outro qualquer. As pessoas dirigem-se para os seus locais de trabalho habituais. Um sol resplandecente e equatorial banha de luz e de vida a pequena cidade de S. Tomé. A vida parece continuar com a mesma rotina dos demais dias da semana. Porém, para um número muito restrito de cidadãos, começam a chegar os primeiros rumores de que algo de estranho se passava na capital do País. Há interrogações. Expectativa geral. Tudo o que se fala e se sabe, é escutado de estações de rádio estrangeiras. Por isso a dúvida subsiste. As perguntas sobre o que há ou não, de verdade, sobre a situação em Lisboa, começam a suceder-se a cada instante. E a não encontrar uma resposta exacta, Tudo o que se fala é incerto e impreciso.

S. Tomé-25. É quase meio-dia. O Governador da Província é já conhecedor das noticias que pela manhã começaram a ser radiofundidas por Emissões do exterior. Terá, naturalmente, como qualquer outro habitante alertado sobre as ocorrências, mantido as suas reservas e dúvidas. Toma conhecimento do teor do comunicado emanado pela Repartição do Gabinete do Governo de Angola, transmitido pela Estação Oficial deste Estado. Que nada de correcto diz, pois é bastante lacónico.


S. Tomé-25. Estamos no começo da tarde. Chega-nos ao conhecimento que parte do efectivo militar aquartelado na cidade entra de prevenção. Notícias não confirmadas começam a partir de agora a circular com maior intensidade pela população que, com crescente expectativa, se interroga ansiosamente.

S. Tomé-25. São 19 horas. O Emissor Regional difunde o seguinte comunicado da Repartição do Gabinete e distribuído pelo C.I.T

"Perante notícias de alteração da Ordem Pública na Metrópole, o Governador informa que o Governo Central está em pleno exercício das suas funções. A população tem dado um magnífico exemplo de calma e tranquilidade que o Governo e as Forças Armadas da Província continuarão a assegurar."

Lampejos de um defunto moribundo. Pois escusado seria dizer que àquela hora ainda o Governo derrubado estaria no exercício pleno das suas funções. Um comunicado, portanto, que não veio trazer luz alguma sobre as dúvidas que já existiam. Maior confusão, porventura, estamos certos, foi o que veio provocar.


Pois se as estações estrangeiras já àquela hora estavam fartas de deitar cá fora a noticia do golpe militar aos quatro ventos. Um caso mais ou menos consumado, era a ideia que começava já a prevalecer em muita gente, tal a veracidade e o pormenor com que o desenrolar dos acontecimentos passavam a ser pelas mesmas relatados. Uma sensação de alívio notava-se nas pessoas, se bem que juntamente com alguma inquietação pela incerteza que, não obstante, ainda pairava. Oficialmente nada de concreto se sabia, apenas o conteúdo daquela comunicação que, àquela hora,  e dada de maneira  como foi redigida, terá sido bastante inoportuna. S. Tomé-25. E a hora de fechar o Emissor Regional. Ouvem-se os últimos acordes do Hino mas até àquele momento a grande verdade, de que já muita gente não tinha dúvidas, não chega a ir para o éter pelas ondas hertzianas desta Voz Portuguesa no Equador. E isto porque a Emissora Nacional, de que faz parte, continua no seu mutismo em relação à sua emissão para o Ultramar. Continua com a sua normal programação, apenas com a diferença dos noticiários serem demasiado breves.

S. Tomé-26. É meia-hora da madrugada. Algum do pessoal do E. R. de S. Tomé e Príncipe que se havia mantido em escuta depois de encerrada esta estação, houve e regista, em fita magnética, as primeiras palavras do grande general António Spínola. Fala como Presidente da Junta de Salvação Nacional, que então se constituira após o Glorioso Movimento das Forças Armadas, em tão boa hora levado a cabo, segundo as sua próprias palavras, no seu memorável comunicado à Nação Portuguesa, de que, a partir daí, assumira a enorme e pesada responsabilidade da condução dos novos destinos.


S. Tomé-26. São cinco e meia da manhã. O Emissor Regional, embora tivesse já pleno conhecimento da situação e das palavras do Presidente da Junta de Salvação Nacional, abre a sua emissão como habitualmente. O programa musical continua a cumprir-se na íntegra. Não faz qualquer referência, entretanto, sem autorização superior. Apenas uma ligeira alteração na programação: Não transmite o noticiário das 6.30.



S. Tomé-26. Aproxima-se as sete horas de um novo dia. De um dia que traria de facto uma bela e risonha mensagem a toda a população destas ilhas. Era a mensagem de um Portugal livre. De um Portugal para um futuro melhor, cujo raiar havia começado já na madrugada da véspera do dia anterior. 


Fermino  Bernardo - Meu antigo camarada do ERSTP
(....) S. Tomé-26. São 10.30. O Emissor Regional de S. Tomé e Príncipe lê uma comunicação das Forças Armadas da Província dando conhecimento do telegrama por elas enviado à ]. S. N. e com o seguinte teor: "Tomado conhecimento proclamação]. N. S., Forças Armadas de S. Tomé e Príncipe garantem total apoio destes objectivos. Política Nacional anunciados. Mais asseguram perfeita calma e tranquilidade população e controle situação local". S. Tomé-26. 19.00. Uma comunicação do Governo da Província anuncia que, segundo telegrama do Ministério do Ultramar, o Governador de S. Tomé e Príncipe é reconduzido.


S. Tomé-27. O Comandante Militar em exercício, tenente-coronel Ricardo Durão, é chamado pela Junta de Salvação Nacional a desempenhar importante cargo no Ministério da Defesa Nacional. Função essa que, segundo posteriormente veio a público, não chegou a ocupar visto ter sido mais tarde designado delegado da J.S.N. junto do Ministério das Corporações.

S. Tomé-29. Em cumprimento de um despacho da Repartição de Gabinete, o pessoal da extinta D.G.S. é obrigado a abandonar o edifício onde se situavam as instalações desta corporação, feito o espólio de todo o material e recheio à mesma pertencente e entregue ao Comando Territorial Independente de S. Tomé e Príncipe. Segundo o mesmo despacho, as ditas instalações passavam a pertencer, o 1.0 andar à Guarda Fiscal, e o rés-do-chão à Policia Judiciária.


S. Tomé-29. Perante a surpresa geral, o governador de S. Tomé e Príncipe, coronel Cecílio Gonçalves, anuncia que, embora reconduzido e tendo na sequência dessa recondução garantido adesão aos princípios da Junta de Salvação Nacional, não havendo assim quaisquer motivos de consciência, mas que no interesse da Província achava melhor entregar a encarregatura do Governo ao Intendente Administrativo, Pinto de Souto.


S. Tomé-29. São cerca de 18.30. Verificam-se os primeiros passos, por parte de um grupo de democratas na ilha, para a criação de uma Associação Democrática. O mesmo grupo, em reunião havida naquela noite, decide convidar todas as pessoas que partilhem dos sentimentos democráticos e estejam de acordo com os objectivos preconizados pela J. S. N. a fazer um "abaixo-assinado" a manifestar o seu inteiro e incondicional apoio a esta Junta. S. Tomé-30. Por despacho do Encarregado do Governo, é anunciada a dissolução em S. Tomé e Príncipe das comissões de Freguesia, Concelhia e de Província, da A. N. P.

 Cerca das 16 h. da tarde regista-se o embarque do coronel Cecílio Gonçalves. A sua partida foi sentida com bastante comoção por todas as pessoas que se encontravam presentes no aeroporto. O caso da partida do Sr. coronel Cecílio Gonçalves, segundo sublinha a folha dominical, "O Dia do Senhor" deu a impressão geral de tratar-se de um dia de luto para a população. O ex-Governador amava S. Tomé. Confessava com frequência que gostava das gentes de S. Tomé ... e assim o demonstrou até ao fim. O coronel Cecflio Gonçalves, segundo diz ainda a mesma folha, para além do mais, possuía o dom da sensatez, raro em nossos dias, o equilíbrio e serenidade mental, o apreço da justiça, a firmeza de um militar, a visão clara dos problemas e a vontade de resolver com urgência os que fossem do interesse comum; simplicidade e entrega ao trabalho no silêncio. A educação, as comunicações, o operariado, o turismo, a indústria mereceram-lhe atenção e carinho. S. Tomé fica a dever-lhe muito nestes diversos sectores.

S. Tomé-30. No noticiário da noite do Emissor Regional é tornado público um despacho, ainda emanado pelo Governador cessante, que eleva para novos limites mínimos os salários dos trabalhadores rurais, em regime transitorial, enquanto não é devidamente revista nova legislação sobre o problema. Os ditos aumentos de salários foram pois acolhidos com certo agrado pela população rural, mas, dada a pequena margem acrescida com que foram contemplados, cremos ainda estarem muito aquém da satisfação "dos justos desejos da classe trabalhadora rural.

S. Tomé-1 de Maio. À semelhança do que aconteceu pelo País fora, também o Dia do trabalhador de S. Tomé foi vivido com manifestações do mais veemente apoio ao novo regime português, no qual se depositam as melhores esperanças para uma nova vida e um futuro mais próspero para todos, designadamente para o trabalhador, até agora o menos favorecido e regra geral o mais injustamente remunerado de todas as classes sociais.
O Sindicato dos Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura convidou todos os seus associados e trabalhadores para uma manifestação cívica frente ao Palácio do Governo, à qual, de facto, compareceram em peso tendo, após a mesma, seguido em cortejo até às instalações da sede social daquele organismo.

S. Tomé, 2 de Maio. A Direcção do Sindicato dos Empregados do Comércio, Indústria e Agricultura de S. Tomé e Príncipe, interpretando os direitos de liberdade proclamados pela J.S.N. resolveu em reunião extraordinária apresentar à Assembleia Geral o seu pedido colectivo de demissão, proporcionando assim aos associados desse sindicato o direito à livre escolha dos seus dirigentes.

S. Tomé, 2 de Maio. - Os corpos Gerentes da Caixa de Previdência dos Funcionários Públicos de S. Tomé e Príncipe, reunidos em sessão conjunta aprovaram uma exposição ao Encarregado do Governo, pela qual solicitavam a exoneração dos actuais Corpos Gerentes, visto que, embora há longo tempo no exercido das suas funções, nelas não se têm mantido por vontade própria durante todo esse lapso de tempo.
Na mesma exposição, pediam simultaneamente, disposições adequadas onde se determine a constituição de uma Assembleia Geral de todos os da Caixa que eleja, sem quaisquer restrições, salvo o pleno uso dos seus direitos de associados, uma Direcção e um Conselho Fiscal.

S. Tomé, 3 de Maio. - É extinta a Comissão de Censura, nomeada por despacho n.019-1966, de 4 de Abril de 1966, publicado no B.O. do mesmo mês e ano.
S. Tomé, 3 de Maio. - É criada nesta Província uma comissão "adhoc", para controlo da Imprensa, Rádio, Televisão, Teatro e Cinema, de carácter transitório até à publicação de novas leis que regulem estes meios de comunicação sociais.

S. Tomé, 5 de Maio. A rádio de S. Tomé vive momentos altos desde a sua fundação, devido à intensa divulgação e abertura dada à informação que passou a verificar-se a partir do dia 26 de Abril. Por outro lado, a imprensa vive a sua hora mais morta de sempre. O jornal" A Voz de S. Tomé", que era propriedade da extinta A.N.P. continua a ter a sua publicação suspensa, Por seu turno, a folha dominical, "O Dia do Senhor", que devia sair neste dia, não foi autorizada a sair pela Comissão "ad-hoc", por inserir afirmações segundo declarou a própria comissão controladora, de carácter ambíguo e pouco expirei to em relação a referências elogiosas a instituições do regime anterior. Tal suspensão acontece pela primeira vez na existência desta publicação semanal»'

A ABOMINÁVEL Polícia Internacional e de Defesa do Estado NÃO DESMOBILIZA E CONTINUA   ACTIVA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

O prémio da travessia de S. Tomé ao Principe
Enquanto,  na  Rua António Maria Cardoso, capital do Império Colonial, os PIDES se entrincheiravam, metralhando quem se lhe opusesse ou eram presos e humilhados onde fossem localizados, em São Tomé, nada parecia perturbá-los: mesmo depois de já não existirem dúvidas, quanto ao êxito do Movimento dos Capitães de Abril, a PIDE teimou manter-se em atividade por algumas semanas, fazendo de contas que a situação na colónia não se ia alterar: porém, à cautela, houve o cuidado (com a conivência das secretas do CTI de STP)levarem os arquivos para aquele quartel e limparem os cadastros. 

Vi lá um Tenente, daqueles serviços, muito lesto à frente do edifício a conduzir as operações da remoção e transporte do recheio, que lhes interessava apagar. Fotografei a situação mas os negativos, infelizmente (tal como algumas centenas) ficou-me um colono com eles. Depreendi imediatamente que havia por ali marosca. 

Não me enganei. Pois, logo que foi permitida  a consulta pública dos arquivos da PIDE/DGS, na Torre do Tombo, me inteirei de que o meu processo  levara sumiço:  só lá encontrei as capas do dossier. Fora espancado e preso pela PIDE (na sequência da minha travessia de canoa ao Príncipe) e tinha a certeza que deveria lá ter alguns registos. Constatara que haviam limpado tudo.  Restavam as capas e o nome. Creio que fizeram o mesmo em todos os arquivos da PIDE/DGS  naquelas Ilhas. Duvido que tivessem deixado quaisquer folhas com os relatos dos seus abusos . E não foram poucos.Era uma questão que gostaria de apurar..

Por seu turno, a velha raposa do inspector (Nogueira Branco), ao dar-se conta de que o curso da revolução era irreversível, receando perder o comboio da história, quis armar-se em democrata e foi um dos primeiros subscritores do chamado Partido Democrático. - Um felizardo!... De regresso a Portugal, foi-lhe retido o "bago" mensal. Mas um oficial superior (seu amigo pessoal e conterrâneo), que havia ali comandado a Companhia de Caçadores de São Tomé e Príncipe , intercedeu e, a ovelha carneira de cabeleira branca,  lá continuou a receber a avultada mesada por "honrosos serviços prestados à pátria" - Foi-me dito, recentemente, pelo próprio oficial. 

Por sua vez,  os agentes também não pareciam nada preocupados.  Na esplanada do Rialto, continuavam a refastelar-se com cervejas, tendo-lhes ouvido dizer que "o novo governo vai precisar de nós". Passeavam-se ao estilo dos mesmos figurões do costume. Todavia,  um artigo de minha autoria, na Semana Ilustrada, desmoronar-lhes-ia quaisquer ilusões. “PIDES À SOLTA! QUEM OS RECOLHE?” Logo que o escândalo veio a lume, foram enviados para a Quinta de Santo António. Essa gente era perigosa; os seus dias, já pertenciam ao passado. Eles e a quase generalidade dos colonos, continuavam a pensar, como se nada tivesse acontecido. Recuavam-se a compreender a nova realidade


INDEPENDÊNCIA TOTAL, CÁ CU PÔVÔ MECÊ”

Cartaz com que foram dadas as boas vindas ao então Tenente Coronel Pires Veloso - O Primeiro e o último governador pós 25 de Abril - Este o aviso de que a vontade do povo santomense era soberana e imparável, por mais obstáculos que existissem.

 Os ativistas – pró-independência - não enveredaram pela luta armada mas causaram forte contestação e instabilidade, não dando tréguas a qualquer ideia ou projeto que não visasse a total libertação do povo oprimido do arquipélago. Promovendo uma constante onda de agitação política e social. Não deram hipóteses a que os movimentos federalistas ou neocoloniais, conquistassem adeptos e se implantassem. 



Independência-Já” era a palavra de ordem mais ouvida nos comícios e manifestações de ruaE, nos cartazes, os slogans mobilizadores pautavam-se, sobretudo, por um claro e único objetivo, expresso em linguagem popular : “Independência total, çà cu pôvô  mecê ”  -  Independência total é  tudo o que povo quer. Os jovens ativistas da Associação Cívica, foram a principal força interventiva e conciencializadora durante o processo de descolonização –. Sem a sua coragem e o seu dinamismo, porventura, ainda hoje as duas ilhas, eram colónias, tal como sucede a outros territórios que estão nas mãos de 61 países

TODAVIA,  DECEPCIONANTE AMARGO É CONSTATAR, QUE, 47 ANOS DEPOIS, AS CONDIÇÕES DE VIDA DAS POPULAÇÕES,  NÃO SÓ NÃO MELHORARAM COMO CONTINUAM A DEPARAR-SE COM EXTREMAS CARÊNCIAS.

2014
As antigas instalações das roças estão irreconhecíveis e são escassos os modelos de desenvolvimento: - grande parte das plantações foi votada ao abandono. - Não se morre se fome, porque,  a fertilidade dos solos, mesmo não sendo devidamente cuidados, têm sempre frutos para oferecer. Porém, não basta: o clima húmido e quente é bom para o turista se maravilhar com o verde luxuriante das florestas ou se  refastelar nas praias por uns dias mas é propício ao aparecimento de doenças tropicais, para quem aqui vive, e, não havendo dinheiro para medicamentos e outras necessidades básicas,  morre-se de morte lenta e penosa, que é justamente o que está acontecendo com o horrível sofrimento das mais dolorosas e estranhas doenças.


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