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domingo, 27 de fevereiro de 2022

OS TUBARÕES ATACAM NAS HORAS MAIS FATÍDICAS E MORTAS!...

 Jorge Trabulo Marques


O mar não me dá tréguas!...
Não me dá uma pausa de descanso!...
Raros os momentos de absoluta tranquilidade!...
Tenho sempre o meu coração suspenso, em sobressalto!
Todos os meus sentidos em alerta máximo!...

Mas a minha tristeza e o meu infortúnio
nem sempre me deixam isolado... também têm
os seus visitantes inesperados!... –Mas muito indesejados!...
Mesmo assim, ignoram os meus pacíficos sentimentos
e não deixam de voltar com assiduidade!
- Quando vêm em cardumes, não se demoram...
Espalham-se para todos os lados, e, conforme chegam,
assim desaparecem!... Mas, quando solitários, e bem maiores,
noto que não há nada que os amedronte e lhes refreie o instinto
de vorazes predadores...

Por isso, mesmo antes de os ver, é muito difícil
que a raiz dos meus cabelos, os poros dos meus braços
e dos meus pulmões, a palpitação do meu coração
os não pressintam a rondarem a canoa... a apertarem o cerco!...
Girando em círculos, cada vez mais apertados, concêntricos!...
Até investirem como se fossem disparos de violentos torpedos!...

São os tubarões gigantes!...Surgem nas horas malditas!...
Nas horas que antecedem as tempestades, os habituais tornados,
quando o horizonte se reveste de névoas ameaçadoras,
o céu se cobre de cinza, a cor do mar se altera
e passa de azul cobalto a um agitado mar de chumbo!...
- São a imagem viva da morte aos olhos aterrorizados
dos náufragos e desamparados!... Atacam quase sempre!...
Até parece que sabem escolher os momentos fatídicos
para serem bem sucedidos com os seus fulminantes golpes!...

Vêm sempre ladeados por uma autêntica flotilha
de pequenos peixes zebrados! – Lembram
pequenos submarinos de guerra!... Há quem os endeuse
e diga que são seres pacíficos... Mas tudo isso é muito contingente...
Aqui portam-se como feras! - Quais sinistras criaturas vigilantes,
a fazerem em surdina os seus giros... Com a barbatana dorsal
singrando à flor das águas, tal qual uma navalha apontada aos céus!..
- Investem com inesperada ferocidade!.. . -Afasto-os à machinada!..
Depois deixam-me em paz... Uma paz podre, temporária...
Até agora tenho tido muita sorte...

DESLIZANDO SOBRE O ABISMO
À FLOR DO MAR...
Diário de Bordo 1- Hoje é manhã do 31ª dia. Passei uma noite incómoda. Não consegui conciliar o sono. Fiquei praticamente sempre acordado. O mar muito cavado, fortemente cavado! Devido possivelmente a trovoadas vindas do sul ou de outras bandas...Próximo da canoa apenas choveu ao fim da tarde de ontem... A noite pôs-se normal, até com aberturas de luar muito bonitas!... Eu é que não consegui dormir em toda a noite. A pensar na minha vida... Até agora tenho pensado no mar, nas dificuldades a vencer no mar...mas esta noite estive a pensar em terra.... Porque, efetivamente, eu tenho de ter um destino...certo... Comecei a pensar o que é que eu irei fazer agora... Portanto, esta noite os meus pensamentos ocuparam-se no que vai a ser a minha vida em terra.

MAIS UM TUBARÃO A INVESTIR CONTRA A CANOA

Diário de Bordo 3 Agora, neste preciso momento, talvez quatro horas da tarde, apareceu um enorme! um gigantesco tubarão! Mesmo gigantesco!! Estava deitado no fundo da canoa.... e senti roçar!... Depois vi logo que era um tubarão! Pois investiu várias vezes contra a canoa!... À proa! À popa! Até que eu agarrei no machim e consegui dar-lhe umas machinadas na cabeça! E então fugiu!...Não sei onde é que ele agora se encontra! Mas, efetivamente, é um monstro!!.. Uma coisa pavorosa!... Um monstro autêntico!... A acompanhá-lo havia uma série de peixinhos!...

A canoa a meter água cada vez mais!.... Isso preocupa-me um bocado. A fraqueza a invadir-me o corpo...Não tenho anzóis que deem para pescar os peixes que aqui há. Os anzóis que disponho são para peixes muito grandes e o nylon é fraco. A situação não é desanimadora mas também não é muito agradável. Tenho que ter calma. Muita calma! Mas, sinceramente... Tudo tem limites...

Não tenho meios de comunicar com ninguém. Disponho apenas da orientação de duas bússolas: uma que trago no pulso, como se fosse o meu relógio, outra fixada junto à ponte da proa. Se morrer afogado no mar eu tenho a certeza que ninguém vai saber o que me aconteceu ou chorar nesse momento a minha falta. Mesmo a família, da qual tenho estado bastante ausente.

A minha mãe faleceu, dois anos depois de eu ter chegado a São Tomé . Sei que o meu pai, os meus dois irmãos e a minha irmã me não esquecem. Mas a vida deles e de todos os meu familiares, é como se fizesse parte de outro mundo...Quem é que poderá imaginar onde eu agora estou e a fome que me tortura e a solidão em que me encontro?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

O Dia de São Valentim, não é só de sorrisos - "Mutilação Genital Feminina - A sombra do empoderamento das mulheres na sociedade do Século XXI de Tito Mba Ada" , que vai ser apresentado em Malabo, dia 17, em versão castelhana

Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Sorrisos de Bata - Guiné Equatorial

O livro, intitulado Mutilação Genital Feminina - A Sombra do Empoderamento das Mulheres na Sociedade do Século XXI de Tito Mba Ada" , editado pela Bertrand, em Lisboa, em língua portuguesa, vai ser também apresentado,  em versão castelhana, no Escritório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF-) e o Fundo de População de A Organização das Nações Unidas (UNDPA, no dia 17 de Fevereiro, Quinta-Feira,   no Hotel Colinas em Malabo,  às 10 da manhã,   com o título Mutilación Genital Femenina: La Sombra  do Empoderamiento  Femenino em la Sociedad del siglo XXI -  Ou seja, no dia em que ali será feita a comemoração do Dia Internacional da Tolerância Zero, habitualmente celebrado no dia 6 de Fevereiro.

Na sessão, depois uma saudação aos convidados pela Dra Pamela Nze, será  apresentado um vídeo, sobre o tema da UNICFE e UNFPA, após o qual, o diplomata  Dr. Tito Mba Ada, falará da sua obra, a que se seguirão intervenções do Representante da UNICEF, Dr. France Bêgin em nome do UNICEF e UNFPA, bem como do Terceiro Vice-Primeiro Ministro D. Alfonso Hisue Mokuy -  A informação, foi-nos revelada pelo diplomata ecuatoguineano

Covid-19 põe 2 milhões de raparigas em risco de mutilação genital feminina – Alerta lançado pela UNICEF – “O encerramento de escolas e a interrupção de serviços de saúde básicos causados pela pandemia da covid-19 colocam mais de 2 milhões de raparigas em risco de virem a sofrer uma mutilação genital feminina até 2030, aviso feito  na véspera do dia 6 de fevereiro, pela  UNICEF, do dia Dia Internacional da Tolerância Zero para a Mutilação Genital Feminina

 Embora a prática esteja concentrada principalmente em 30 países na África e no Oriente Médio, ela ocorre também em alguns lugares da Ásia e da América Latina. E entre populações imigrantes que vivem na Europa Ocidental, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia, dizem as Nações Unidas


Sorrisos de S. Tomé e Principe

O 6 de fevereiro vem sendo o Dia internacional da tolerância zero à mutilação genital feminina (MGF), mas o dia dos namorados, em muitas partes do mundo, não é só de sorrisos ou de namorados felizes 

Dia de São Valentim, comemorado anualmente neste dia,   14 de fevereiro em diversos países do mundo, é o dia escolhido por ser a data em que um bispo da Igreja Católica, chamado Valentim, foi morto em Roma pelo fato de ter desobedecido o imperador realizando casamentos às escondidas


Por isso, não esquecer o sofrimento da mutilação genital feminina, uma realidade, que, segundo a Organização das Nações Unidas, afeta cerca de 200 milhões de meninas e mulheres e Nova Zelândia, dizem as Nações Unidas.


"Mutilação Genital Feminina - A sombra do empoderamento das mulheres na sociedade do Século XXI de Tito Mba Ada" 

Painel da Igreja de S. Fernando - Malabo
Embaixador Tito Mba Ada

Uma obra literária oportuna para ler e refletir de autoria do diplomata da Guiné Equatorial, Tito Mba Ada


«A mutilação genital feminina (MGF) envolve a remoção parcial ou total dos órgãos genitais externos femininos ou qualquer outra lesão nos órgãos genitais das mulheres, sem justificação médica. Apesar de ser reconhecida como uma violação dos direitos humanos, cerca de 68 milhões de raparigas/mulheres continuam em risco de sofrer mutilação genital até 2030. É, de facto, uma enorme sombra, em pleno século XXI.


Painel da Igreja de S. Fernando Malabo
Catedral de Malabo

Tito Mba Ada defende, nesta análise, os direitos das mulheres e das meninas, vítimas da mutilação genital feminina (MGF), uma das violações mais brutais dos direitos humanos contra meninas e mulheres. Apela à necessidade de os Governos e das instâncias internacionais, que não só providenciem os meios jurídicos e outros necessários para sensibilizar, proteger e apoiar as vítimas, mas, e principalmente, para que os responsáveis respondam pelas suas atitudes, para que os prazos das ações, nomeadamente do Parlamento Europeu, sejam mais concretos, assim como a adoção de instrumentos vinculativos de combate a esta violência, para que esta prática desumana seja eliminada.(…)» Nota Introdutória – de Avelina Ferraz

 Tito Mba Ada - É licenciado em Direito pela Universidade IUCAI em São Tomé e Príncipe, Pós-Graduado em Cooperação no Desenvolvimento pela Universidade de Valência, Espanha, embaixador representante permanente da Guiné Equatorial junto da CPLP, embaixador da Guiné Equatorial em Portugal e simultaneamente embaixador não residente em Cabo Verde, Guiné Bissa


Livro “A África e o Mundo - circulação, apropriação e cruzamento de conhecimentos -Lançamento na BN ., dia 17 às 18 horas

 Jorge Trabulo Mqrques - Jornalista 

 

A nossa sugestão – Se puder, não falte  O Lançamento do livro A África e o Mundo: Circulação, apropriação e cruzamento de conhecimentos da autoria da Isabel Castro Henriques, numa edição Caleidoscópio, com apresentação de Miguel Bandeira Jerónimo., no Auditório, Sala de Formação e Átrio do Anfiteatro: apresentação obrigatória de certificado digital COVID da EU válido ou comprovativo de vacinação completa ou comprovativo de teste com resultado negativo.


A obra, que reúne um conjunto de textos escritos ao longo de quarenta anos, alguns inéditos, outros dispersos em publicações de natureza diversa, nem sempre de acesso fácil, tem como objetivo refletir sobre as muitas relações da África com outros mundos através de propostas, de objetos, de construções, de práticas introduzidas do exterior, numa pluralidade de situações históricas distintas, entre os séculos XV e XX, procurando no mesmo movimento sublinhar a natureza falsificadora de uma panóplia de ideias ocidentais que rotulavam os africanos como passivos, fechados ao mundo, sem vontade e capacidade de escolha e de mudança social.


O primeiro capítulo visa proceder a uma releitura das perspetivas historiográficas africanas, sublinhando as contribuições de formas do pensamento internacional e de inovações teórico-metodológicas pluridisciplinares, procurando igualmente pôr em evidência dinâmicas sociais inovadoras africanas, criadoras de uma África da modernidade emergente, ligada ao mundo atlântico.


Um segundo capítulo privilegia o documento iconográfico como fonte histórica, sublinhando a sua dimensão histórica e informativa, mostrando formas plásticas sobretudo portuguesas, que dão conta da integração de plantas, técnicas, símbolos, sistemas económicos, comerciais, habitacionais e urbanos, novas formas de organização e construção do espaço, introduzidos da Europa nos territórios africanos, e refletindo a criação de novidades sociais e culturais.


O terceiro e último capítulo pretende pôr em evidência a circulação e cruzamento dos conhecimentos nos séculos XIX e XX, conhecimentos introduzidos sobretudo no âmbito do facto colonial português, apropriados e reutilizados pelos africanos nas esferas do comércio, da habitação e do urbanismo, com o objetivo de renovar problemas historiográficos longamente abordados numa perspetiva colonial, possibilitando novas leituras, interpretações e interrogações. Pensar as relações da África com o mundo permite desmontar conceitos redutores das realidades africanas, mostrar as dinâmicas africanas de integração das novidades vindas do exterior e a capacidade das sociedades de aderir à contemporaneidade, procedendo à emergência de novos espaços, novas realidades sociais, novos sistemas de pensamento, novas formas culturais, preservando valores seculares da sua identidade, no quadro de uma africanidade renovada e dinâmica.

 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

António Guterres – Voltou a elogiar S. Tomé e Príncipe - Considerando, o Presidente Carlos Vila Nova, um “exemplo de paz”

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, que, em 28 de Novembro de 2021,  transmitira  uma mensagem de elogio a São Tomé e Príncipe  pela realização de eleições de forma pacífica, reafirmando  a prontidão das Nações Unidas em apoiar o país nas reformas e desenvolvimento" reiterando a disponibilidade da organização de "oferecer bons ofícios" através da Equipa das Nações Unidas no País e do Representante Especial para a África Central, François Louncény Fall, voltou  agora a tecer rasgados elogios ao Presidente de S. Tomé e Príncipe,  Carlos Vila Nova, um “exemplo de paz” e símbolo de nova geração de políticos do continente africano, na sequência da sua participação quarta-feira numa reunião videoconferência  realizada por este organismo internacional.

Diz a (Lusa), que, uma nota enviada a esta Agência,  refere que, Carlos Vila Nova e o Presidente da Libéria, George Weah, foram os únicos presidentes africanos convidados a tomar a palavra no evento “por serem considerados casos de sucesso no que concerne à prevenção de conflitos e no seu relacionamento com as Nações Unidas e pelo perfil dos chefes de Estado que simbolizam a nova geração de políticos do continente africano”.

“É uma grande honra para mim, mas também para o povo de São Tomé e Príncipe, tomar a palavra neste evento. É para nós um importante reconhecimento do nosso compromisso com a paz no nosso próprio país, mas também o nosso compromisso com a paz na nossa região e no mundo”, declarou Carlos Vila Nova, na sua mensagem em inglês, justificada por a língua portuguesa ainda não ser oficial na ONU.

Vila Nova realçou a celebração dos “75 anos desta experiência multilateral” das Nações Unidas como “um feito notável” e saudou “a reforma que o secretário-geral [Atónio Guterres] tem vindo a implementar audaciosamente, com o simples propósito de corrigir o que é notoriamente mau e melhorar tudo o que já está a funcionar bem” na ONU.

Contudo, o Presidente da República lamentou que o mundo esteja “a assistir a uma profunda crise do multilateralismo e à eclosão de conflitos locais que põem em risco a estabilidade global”.

“Embora São Tomé e Príncipe seja um país pequeno, somos membros de pleno direito da comunidade internacional, e vemos com grande preocupação as tentativas de nos afastarmos dos princípios do multilateralismo. É por isso que saudamos novas ‘formas de trabalho’ das Nações Unidas, tais como este Programa Conjunto e o Fundo de Desenvolvimento e o Departamento de Política e Paz”, disse o chefe de Estado são-tomense

Carlos Vila Nova realçou que “felizmente, São Tomé e Príncipe não conheceu guerras, nem conflitos violentos” apesar de ter sofrido “anos de uma colonização severa com décadas de abusos dos direitos humanos”.

“No entanto, estamos perante uma das guerras mais difíceis de combater para a humanidade, a pobreza. E, além disso, temos uma população extremamente jovem a enfrentar o desemprego e com muitos deles a aperceberem-se tristemente de que só podem ter sonhos se emigrarem”, assinalou Carlos Vila Nova. – Excerto de https://mundoatual.pt/presidente-de-sao-tome-e-principe-considerado-exemplo-de-paz-pelas-nacoes-unidas/

 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

S. Tomé -Sorrisos das crianças das Ilhas Verdes do Equador para as quais o turista é um amigo - Vistas na Poesia do Bispo da Diocese, Dom Manuel dos Santos

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista 


Então disse Jesus: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas". – E, as pacificas crianças de S. Tomé e Príncipe, vêm ao colo e sorriem de quem as acarinhar, sem que peçam algo em troca,

O TURISTA É UM AMIGO  - Mas também para a generalidade da população - Desde que não abuse da sua hospitalidade, o visitante, aonde quer que vá, é sempre bem recebido


PARA AS CRIANÇAS DE S. TOMÉ – O TURISTA É UM AMIGO  - Mas também para a generalidade da população - Desde que não abuse da sua hospitalidade, o visitante, aonde quer que vá, é sempre bem recebido

“Amigo!” – É desta forma como as crianças (mais carenciadas) se dirigem ao turista, em S. Tomé, a que, geralmente, acresce um sorriso.

Certo que é na intenção de lhe pedir alguma coisa – E, a bem dizer, como pouca coisa se contentam:  por exemplo, com uns simples  lápis, esferográficas, cadernos, bonés, peças de  roupa - Talvez até mais de que o dinheiro. Porém, mesmo que a criança não receba nada em troca, senão a indiferença (o que é difícil a um coração mais sensível não corresponder ao menos com uma expressão de simpatia a rostos tão amorosos e gentis, como são os destas Ilhas), as crianças, continuam a sorrir ou a expressar  aquele ar de inocência (nunca de azedume)  que se assemelha mais  ao olhar de pasmo, de descoberta que ao desencanto..

Sim, o forasteiro é visto com simpatia, porque, as pessoas que ali vão de visita, são encaradas como amigas: que vêm descobrir os encantos paradisíacos de uma terra  - Mas também, aos olhos quem aqui vive, elas são vistas como fonte de descoberta: porque toda a pessoa é diferente da outra;  no mundo não há ninguém igual. 
Ambas as duas Ilhas, são  uma das maravilhas da criação. E a razão pela qual o turista (quer por mais novos ou mais velhos,  miúdos ou graúdos) não é visto como o  estrangeiro, que vem usurpar mas  como o amigo que traz uma mais valia à terra, é fácil de explicar: é porque, o temperamento do santomense é por natureza pacifico e, nestas ilhas,  o turismo, além de ser  a principal fonte de divisas,   ainda não logrou corromper os costumes.  Oxalá tal nunca aconteça.


P.Trovoada não tem esta vida
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE  – UM DOS PAÍSES MAIS PEQUENOS E MAIS POBRES DE ÁFRICA – NÃO TEM A VIOLÊNCIA NEM A EXTREMA MISÉRIA  DE OUTRAS NAÇÕES - 
Em S. Tomé e Príncipe, a Natureza é bela e fértil, há frutos por todo o lado e durante o ano inteiro, dificilmente alguém morre de fome, no entanto, sofre as carências de bens essenciais, nomeadamente dos que são importados, e sobretudo na compra de medicamentos, já que, a generalidade média das pensões, ronda os 20 a 30 euros mensais e o ordenado mínimo, à volta dos 60




S. Tomé e Principe, é  talvez dos poucos países onde a pobreza não tem o rosto da fome, que caracteriza a maioria dos 
países de África- A terra é fértil e generosa e oferece os melhores frutos. Contudo, nem só de fruta pão (ou de outros frutos), se pode ter uma existência saudável e condigna: há muitas mais carência, nomeadamente a nível de medicamentos, de apoio escolar, vestuário e de outros alimentos, que são imprescindíveis a um crescimento saudável  e que não estão ao alcance da maioria da  população.



Ambas as duas Ilhas, são  uma das maravilhas da criação. E a razão pela qual o turista (quer por mais novos ou mais velhos,  miúdos ou graúdos) não é visto como o  estrangeiro, que vem usurpar mas  como o amigo que traz uma mais valia à terra, é fácil de explicar: é porque, o temperamento do santomense é por natureza pacifico e, nestas ilhas,  o turismo, além de ser  a principal fonte de divisas,   ainda não logrou corromper os costumes.  Oxalá tal nunca aconteça.


09/04/2018 - 
É uma pequena ilha, quase perdida no oceano, bem na costa oeste da África, mas incrivelmente bela. O que eu não amo neste lugar?… Nada realmente. A natureza aqui é linda, oceano azul em torno da terra, selvas para explorar, montanhas para caminhadas, cachoeiras quase a cada 10 km. Eu o chamei de "paraíso na terra"

As pessoas de São Tomé são únicas. Eles têm o seu próprio jeito de “brincar”, manter a calma e fazer as coisas deles. No início, é um pouco difícil adotar como estrangeiro, mas você rapidamente se acostumará com isso. Além disso, são pessoas muito receptivas, com um enorme sorriso no rosto, e um abraço amigável vai recebê-lo em todos os lugares. Eu não falo português, que é quase a única língua falada nesta terra, mas vou lhe dizer que quase não precisei me preocupar com isso, apesar de estar triste por não conseguir me conectar completamente

Vistas na Poesia de Dom Manuel dos Santos, Bispo da Diocese de STP - São pardilhais à sola, em quintais e ruas

Com chilreios mil e olhos admirados,

Rostos que brilham, sorrisos rasgados,

Pedindo “doce”, sonhando aventuras!

Trilham os caminhos do crescer da vida,

Tantas vezes só, sem um pai ao lado,

Entregues à sorte de viver do fado,

Sonhando amanhãs em ilusão sofrida!

Brincam na areia de praias preguiçosas,

Com pedaços toscos de restos do passado!

De canoas leves, em troncos esculpidas!

Desenham seu mundo em cores sem rosas

Mas na espera de um futuro abençoado,

Onde as ilusões sejam conseguidas!

S. Tomé, 28 de Novembro de 2009

Do Livro MOMENTOS DE VERDE MAR

De Dom Manuel António Mendes dos Santos, Bispo da Diocese de S. Tomé e Príncipe

Nomeado, em de dezembro de 2006 o Papa Bento XVI nomeou-o Bispo Diocesano de São Tomé e Príncipe  - Sobre ele em  https://canoasdomar.blogspot.com/2019/02/o-reencontro-ha-3-anos-com-um-filho-das.html

Manuel António Mendes dos Santos, nasceu a 20 de Março de 1960, em São Joaninho, pequena aldeia do Concelho de Castro Daire, distrito de Viseu, Frequentou os Seminários da Diocese de Lamego até aos 18 anos. Nessa altura, ingressou na Congregação dos Missionários claretianos, tendo sido ordenado sacerdote, na sua terra natal, em 13 de Julho de 1985. Em Dezembro de 1993, teve a primeira experiência de África, ao desembarcar em Luanda, Angola, a caminho de São Tomé e Príncipe, país onde desenvolveu a sua ação missionária até Abril de 1995, seguindo, uns meses depois, para Roma, a fim de continuar estudos de especialização. Regressa a Portugal, em 1997, assumindo a paróquia de São Sebastião, na cidade de Setúbal. Em Abril de 2001 é escolhido como Superior Provincial da sua Congregação, cargo que desempenhou até 1 de Dezembro de 2006, altura em que foi nomeado Bispo de São Tomé e Príncipe. É neste país de África que tem atualmente a sua residência, ao serviço de Deus e das pessoas.

 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

São Tomé - Massacres do Batepá - Pandemia deixa 3 de Fevereiro sem tradicional marcha da liberdade em honra dos seus mártires de há 69 anos – Cerimónia comemorativa, restringirá o ato central deste dia, apenas a 60 convidados.

Jorge Trabulo Marques - O primeiro jornalista,  vinte anos depois a divulgar as imagens dos ignóbeis crimes, na revista de Luanda Semana Ilustrada, de que era correspondente, em STP, tendo sofrido fortes represálias por colonos: agressões físicas, ao ponto de ter que me escapar numa piroga para a Nigéria, travessia que andava a preparar desde algum tempo mas por outras razões  - Pormenores mais à frente

São Tomé e Príncipe comemora esta quinta-feira, 3 de Fevereiro, dia  dos heróis da liberdade do histórico massacre de 1953 - O Governo são-tomense prorrogou o estado de calamidade até ao dia 15 de fevereiro devido à pandemia -  Com a decisão, o Governo, declarou que não se realizará a tradicional marcha da juventude em alusão ao dia 3 de fevereiro, feriado nacional em memória dos mártires da liberdade do massacre de Batepá, de 1953, e restringirá o ato central deste dia para apenas 60 convidados, a que deverá presidir, o Presidente da República, Carlos Vila Nova,  na presença do PM, Jorge Bom Jesus e outras entidades representativas

Foi precisamente há 69 anos mas a lembrança  dos ignóbeis acontecimentos, deverá  permanecer ainda bem viva na memória dos escassos sobreviventes, mas também não esquecida na memória coletiva de um Povo, que  não deixará de, neste dia, se lembrar  dos  que  foram barbaramente espancados ou tombaram para sempre no Campo de Concentração de Fernão Dias

outras postagens sobre os massacres do Batepá

http://canoasdomar.blogspot.com/2015/01/memorias-do-bate-pa-1-auschwitz-em-s.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-memorias-do-massacre-do-betepa-2.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/massacres-dos-batepa-3-hoje-s-tome.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-e-as-memorias-do-batepa-4-ze.htmlhttp://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-e-principe-memorias-do-batepa-5.html

BAPETÁ - A PÁGINA MAIS NEGRA DO PERÍODO COLONIAL


Como a morte ceifou por completo uma pequena aldeia e se alastrou por quase toda a Ilha - Vinte anos depois,  tive oportunidade de registar as confissões do criminoso José Zé Mulato e do "Homem Cristo" que foi crivado de balas e logrou sobreviver, além de outros sobreviventes


  


 A DIVULGAÇÃO DOS ACONTECIMENTOS - Ia-me custando a vida  - Fui o primeiro jornalista a divulgar as imagens que estavam no arquivo do jornal  “A voz de S. Tomé” - Jornal oficial da colónia   -  O Redator e Chefe de Redação, deste jornal, que era também professor no Liceu, chegou junto de mim, no terraço da antiga Pensão Henriques, mostrando-me uma série de fotografias, ao mesmo tempo que me perguntava   se as queria divulgar, dizendo-me, que ele não as ia publicar e que, o mais certo, era deitá-las para o lixo. Aproveitei, então, par as fotografar, pedindo-lhe que não cometesse essa asneira, o que, pelos vistos veio acatar, visto terem passado a fazer parte do arquivo do Museu Nacional, instalado na antiga fortaleza S. Sebastião.
 
Nesse dia, falei no assunto numa reunião da Associação Cívica, no Riboque, onde fui o único português a participar nessas reuniões, tendo exposto o episódio E penso que terá sido forçado a entregá-las  - Mas acho que terei sido  mesmo eu a fazê-lo, já não estou bem certo - O que garanto é que fui eu a primeira pessoa a divulgar as fotos  e evitar a sua destruição  

Pena que o comerciante Jorge Coimbra, não me tenha feito a entrega de várias centenas de peliculas, que deixei em casa da minha companheira, quando parti de canoa - Valeu-me o facto de, mais tarde, o Sr. Afonso Henriques, me ter trazido um album de algumas fotos que ele não levara https://canoasdomar.blogspot.com/2008/02/sao-tome-atitude-do-empresario-jorge.html

Quando entrevistei o advogado  Victor Pereira, ele confessou-me que desconhecia essas imagens e também o número certo de vitimas  - https://canoasdomar.blogspot.com/2015/02/s-tome-e-principe-memorias-do-batepa-5.html


Entretanto, eu já havia começado a entrevistar vários dos sobreviventes para a revista Semana Ilustrada, de Luanda, de que era correspondente, uma das quais ainda  com feridas por sarar numa das pernas, com que fora acorrentada

Trabalhos jornalísticos esses que me haveriam de custar graves dissabores, violentas reações por parte, de alguns colonos. que me furaram os pneus do meu carro à navalhada, penduraram uma forca na porta de minha casa, depois de arrombarem, sim, de um modesto apartamento no edificio do Lima & Gama e deixado tudo de pantanas  - Não satisfeitos, mesmo assim, à noite  sairam de um carro, que estacionaram junto ao edificio e fizeram-me uma espera, tendo-me pontapeado e agredido selvaticamente. 

Vindas de indivíduos que ainda hoje se gabam no Facebook das sórdidas patifarias, que me fizeram .https://www.facebook.com/elvido.ricardodeviveiros?fref=ts.....https://www.facebook.com/manuel.sebastiao.75?fref=ts



Noutra ocasião,  quando umas centenas de colonos das roças invadem o Palácio do Governador  e insultam Pires Veloso,  ao saírem, mal me vendo sentado na esplanada do Palmar, vêm logo de lá a correr como loucos atrás de mim armados de catanas na mão. Valeu-me ter-me refugiado num telhado, frente à farmácia Cabral,  após o que estive uma semana escondido no mato em casa de um santomense, o Constantino Bragança, meu companheiro da escalada ao pico Cão Grande, que, tendo-se apercebido, veio chamar-me à noite para me alojar na sua cubata  

 SE ME APANHASSEM,  TERIA SIDO DEGOLADO E DESFEITO!...  - Em toda a parte os jornalistas são sempre as primeiras vitimas da ira popular, da intolerância e do ódio - Em todos as  guerras e conflitos - Mas não só.

 De  tal maneira, me senti inseguro e me moveram tão feroz perseguição, que me vi obrigado a abandonar a Ilha numa canoa para a Nigéria, travessia que  eu já andava a planear desde algum tempo para demonstrar que as ilhas poderiam ter sido ligadas por canoas, vindas da costa africana, antes da colonização


BARTOLOMEU CRAVID  

- J.M._ Diz-se que o Sr. Cravid também foi uma das pessoas afectadas pelos acontecimentos do Batepá. Que se passou então em relação à sua pessoa?
- B. C. - Lembro-me que fui preso e que estive na cadeia 45 dias. ·
-
 J.M. -Por que é que o prenderam?
- B. C. - Não sei explicar; o certo é que houve a ideia de arranjar mão-de-obra gratuita. E daí' surgiram as prisões, mais prisões mas sem quaisquer razoes para isso. 
 Procurava-se emprego e não sé encontrava. No entanto, as rusgas sucediam-se e as pessoas que encontravam, eram presas. É, claro, ao fim ao cabo houve um ou outro que reagiu sobre esses atitudes. Mas a  verdade é que nem chegou a existir reaccão nenhuma.
- J.M – Na altura, trabalhava em quê?
- B.C – No Tribunal.
- J.M. - Portanto na altura em que foi preso. Mas em que suspeitas se basearam para o prenderem?
- B.C. - Naquela altura só se 'tratava de boatos, mais boatos. O individuo era apontado de estar metido em reuniões. Mas a verdade é que nem sequer havia reuniões.
- J.M. - Durante o tempo em que esteve preso foi muito mal tratado?  
- B.C - Fui. Bateram-me. Puseram-me numa cela, incomunicável, durante 45 dias.
- J.M. - E a alimentação? De que constava?
- B. C - De fuba com feijões, sem um mínimo de higiene. Enfim, tratavam-nos piores que escravos.  
 J.M. --'Tinha lá muitos companheiros? .
- B. C.. -· Sim. Tinha lá muitos companheiros. Muitos funcionários públicos. ·
  J. M. - Eram todos submetidos a igual tratamento?
 - B. C. - Sujeitavam-nos aos mesmos tratos. Puseram-nos descalços. Bastiam-nos ...
- J. M. - Com que é que os castigavam?
- B.C. – Com pauladas. Chicoteadas. Palmatoadas. Enfim…
- JM -  Depois acabaram por o soltar, porque? · Como é que chegaram à conclusão que não havia motivo para o terem preso? · 

- B. C. - Não sei se foi o Juiz que trabalhou Comigo. Não sei explicar como é que isso se passou. O certo é que um dia qualquer chamaram-me e soltaram-me.
- J.M. - E aos outros seus companheiros?
- B.C. - Um outro colega meu foi solto um dia  antes: o Sr. Martins Fernandes de Castro.
- J.M.  - Como é que o Sr. Cravid interpreta a origem desses acontecimentos ? ·
- B. C. – Dá-me a entender que o Governador Gorgulho tinha na ideia escravizar todos os naturais de S. Tomé. Não os queria, até, como funcionários públicos. 'Deu-me· a entender que só os queria na situação de contratados. De verdadeiros escravos.
- Excerto

Escasseava a  mão de obra barata..E o governador planeava construir grandes edifícios à custa do trabalho forçado nas ilhas e  mandou o ajudante de campo armado em soldado nazi a comandar um grupo de milícias para  ordenar o trabalho obrigatório.. Num verdadeiro retorno aos primórdios do ignóbil e duro esclavagismo, até que,  numa remota aldeia perdida no mato,  algures pela Vila da Trindade, alguém se encheu de coragem e reagiu sobre o fogoso e arrogante alferes, que teve a reação popular que merecia  e à altura da leviandade e do desprezo como olhava a  população  e impunha  a sua vontade .

A partir daí o Governador  Gorgulho -  para salvar  a face dos seus desmandos e  prepotências, e, como os grandes erros, nunca vêm sós, para justificar uns cometia outros, cada vez mais graves.  passou acusar os "rebeldes" de comunistas, através da imprensa e da rádio.   E não tardou que os colonos - incentivados  ao ódio à  dita   "hidra comunista", respondessem ao apelo dos muitos boatos propalados

"Há notícias de que foram avistados submarinos soviéticos ao largo e descarregadas armas para apoiar a revolta  dos negros insurretos contra a integridade desta província ultramarina!"  - Foram detidos e presos vários suspeitos. O governo promete firmeza  e mão pesada aos criminosos! . Por toda a ilha mobilizam-se milhares de voluntários."
- E, quilo que  poderia ter sido um caso isolado, depressa é rotulado de rebeldia comunista.

Face a tais atoardas e  falsos alarmes, as roças  passam ao ataque: empregados de mato e dos escritórios, feitores e administradores - e até capatazes negros -partindo em jipes de todas os cantos da colónia, concentraram-se na Trindade, e, fortemente armados,  dirigem-se através dos caminhos do mato ao Batepá, descarregando  tiroteio forte e feio, (naquela e noutras aldeias) sobre as populações indefesas e pacíficas - mães com os filhos às costas,  homens,  mulheres e inocentes criancinhas, e até porcos, cabras e galinhas -, tudo é imediatamente alvejado e varrido!

VISITA AO LOCAL DOS TRÁGICOS ACONTECIMENTOS – EM 1974 – 20  ANOS DEPOIS  - Tendo como guia dois sobreviventes: Manuel dos Ramos e Manuel Carmona

Este o relato – “O local fica perto da. sede da de pendência Fernão Dias, à Roça Rio do Ouro, à frente de um' mar azul  imenso, bordado de viçosos coqueiros e de um capim que cresce exuberantemente  e, por entre vestígios e recortes de antigas construções, em tempos utilizados para servir a ponte de cais acostável para  os- barcos de longo curso que ali atracam 

A ponte destinada então, aquele porto, encontra-se em ruínas, e o sítio onde se localizavam as tais construções, são boje, praticamente, lugares de abandono, preenchidos, apenas, na pequena planura que ali se ergue, por uns tantos pés de coqueiros, que após terem servido de palco  aos tristes como lamentáveis acontecimentos no ano de  1953, ali foram plantados, talvez para quebrar a aridez e tristeza ambiente


Acompanhou-nos ao lugar, onde ficava a casa que o chefe da brigada do campo de concentração e de trabalhos Forçados utilizava para pro ceder às torturas, aos interrogatóri0.e: e julgamento das inúmeras pessoas que para ali iam presas. 

Por último, trouxe-nos ao lugar onde os presos partiam brita para construção de uma pista para o aeroporto que a partir de ali se pretendia iniciar e apontou-nos o pântano onde eram também forçados a trabalhar. Na berma do mesmo, encontramos ainda uma argola de uma corrente de ferro, com que eram amarrados.

UMA MÁQUINA BRUTA A MATAR  - Dizia-me o celerado José Mulato, antes de partir para Portugal,  através da “porta do cavalo” do aeroporto de S. Tomé, disfarçado com as suas habituais vestes de caqui azul de carpinteiro) me confessara ter sido "uma máquina bruta a  matar",  saindo-se com esta abominável expressão,  sem o mínimo de remorsos: "matei mais de mil!" -

Este o carrasco, que, Carlos Gorgulho, fora buscar para capataz-mor   das brigadas de recrutamento de trabalho forçado, e, posteriormente,  promovido a chefiar o Campo de Concentração de Fernando Dias - Escolhido pelo todo poderoso Governador, que, no dizer do então comandante da Polícia e seu ajudante de campo, se portava, em vários detalhes, como um ditador à maneira da Gestapo no tempo de Hitler na Alemanha”, viria a confessar  (na farsa do julgamento mandado instaurar pelo Salazarismo para salvar as aparências) que apenas ordenara a matança de  47 vidas.

 SOBREVIVENTE - A DOR QUE O TEMPO AINDA NÃO APAGOU - ESPANCADA À CRONHADA DEPOIS DE LHE METEREM A CABEÇA NUM TANQUE DE  ÁGUA - Era menina e estava grávida.




Ainda  jovem, e  mesmo grávida, não foi poupada à brutalidade facínora das ordens do então Governador Carlos Gorgulho: arrastada à força de sua casa, levada para um calabouço na então Vila de Trindade, espancada barbaramente, Primeiro deu-se o saque às casas: carregaram o que puderam dos modestos teres e haveres, após o que as incendiaram.






Maria dos Santos, mais conhecida por Mena, agora com 80 anos,  é um  dos rostos debilitados, que ainda hoje espelha o testemunho do incomensurável sofrimento, angústia e lágrimas, por que viveu há 62 anos, - É uma das mártires, ainda sobrevivente dos hediondos massacres de Batepá, que tiveram inicio nos horrores da longa e pavorosa noite de 2 para 3 de Fevereiro de 1953 e que iriam prolongar-se nos ignóbeis espancamentos e torturas,  até à morte, infligidos  a centenas de santomenses, em terríveis interrogatórios, desde brutais choques elétricos, à violenta palmatoada, ao chicote, cacetada e cronhada, a soco e a pontapé,  quer  no afrontoso cárcere da prisão local,  onde os presos, coabitavam  exíguos e afrontosos espaços, em deploráveis e nauseabundas condições higiénicas, quer numa das salas da Fortaleza S. Sebastião (a capitania dos Portos), transformada em laboratório   ao estilo da Gestapo hitleriana, sob a batuta do  famigerado médico Aragão, locais donde partiam para o Campo de Concentração Fernão Dias   


Imagens e palavras de um abominável massacre. O pai de Teresa, esposo de Maria dos Santos, , também vitima da mesma barbárie, depois de lhe terrem queimado a casa e o carro (que saquearam antes de a incendiarem) ainda procurou refúgio no mato mas foi apanhado, preso e enviado para o Campo de Concentração de Fernão, onde acabaria por embarcar, com mais 120 homens para serem lançados ao mar, no barco António Carlos. Tal porém não sucederia por  a tripulação do navio se ter oposto, tal como vim  a saber através de outro depoimento, que obrigaram o comandante a deixar os prisioneiros na Ilha do Príncipe, onde acabariam por ficar presos   – Um desses  homens era o cabo-verdiano, Bernardino Lopes Monteiro, pai  do Coronel Victor Monteiro Dias,  chefe do Gabinete do Presidente Manuel Pinto da Costa, de cujo episódio  conto vir a referir-me neste site.

CULPADOS COM PENAS LEVES OU ABSOLVIDOS –  os que denunciaram o massacre, levaram com a ripada 

Foi o caso de Salgueiro Rego, que, por discordar das arbitrariardes do Governador Carlos Gorgulho, haveria de levar com um processo em cima – Mais tarde escreveria  um livro, a que dera o título Memórias de um ajudante-de-campo (em dois volumes), proibido nestas Ilhas, ao qual será dado destaque numa das próximas postagens

A dado passo escrevia o seguinte:.“Felizmente que o Ministro, a quem escrevi particularmente contando-lhe o que se passava, me mandou embarcar. Mas vieram atrás de mim oito dias de prisão tudo descrito no 1º volume das minhas memórias, castigo que o Ministro não teve coragem de anular sabendo-se de toda aquela pouca vergonha que por lá se passava e obrigou o Governo Central a mandar regressar os três culpados de toda aquela péssima cena que foi sem dúvida um dos factores do que estamos sofrendo em Africa. No meu quartel havia 50 soldados angolanos que tomavam parte em todas aquelas tristes cenas que tendo acabado o tempo e regressado às suas terras temam, contando, ajudado a criar a revolta que estalou e que felizmente tanto lá como em S. Tomé tudo se mantém agora nas mãos de dirigentes respeitáveis, compreensivos e justos tratando os negros como merecem.

O meu injusto castigo cumpri-o e não houve da parte de ninguém que mo tirasse porque, estou certo disso, sabia-se que o Ministro do Exército em Conselhos de Ministros tudo fazia, e conseguiu, promover o Governador a oficial general e há pouco tempo a 2.° Comandante da Legião Portuguesa! !




 CORONEL VITOR MONTEIRO, FILHO DE BERNARDINO LOPES MONTEIRO - ELE CONTA O QUE LOGROU APURAR DE SEU PAI - OUÇA AS SUAS PALAVRAS  E REFLITA



Em Fevereiro de 1953, cerca de centena e meia  de santomenses, iam ser largados no mar  por ordem do Governador Carlos Gorgulho- Tal não aconteceu porque a tripulação, liderada pelo imediato Bernardino Lopes Monteiro,  se sublevou - Porém, alguns anos mais tarde, no caso de prisioneiros de guerra guineenses, persistem  fortes suspeições, de, que o crime tenha mesmo sido consumado, com uma parte da carga humana, engaiolada nos porões e da qual apenas chegou metade ao seu destino - Quem levanta a questão é  um tripulante, que acusa o comandante como uma figura odiada:  "Foi ainda a bordo deste mesmo navio que nos deslocámos de Bissau a Cabo Verde (Tarrafal) na Ilha de Santiago) para ali embarcar supostamente 88 ex-prisioneiros de guerra, mas por razões que nunca cheguei a saber apenas 44 voltaram para a Guiné .Era então Comandante do António Carlos o conhecido e odiado pelas gentes da outra banda, o  "Herói do Barreiro"... Estou a falar-vos do longínquo ano de 1964. (***). - Pormenores em. Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74

sobrevivente
"António Carlos" - navio  de carga e passageiros,  que, anos mais tarde, ainda durante o salazarismo colonial também foi usado  para transportar presos do Tarrafal, como se poderá concluir mais adiante – E, pelos testemunhos, que aqui exponho,  também depreender-se que era através dele  que, o Governador Carlos Gorgulho, em Fevereiro de 1953, quis  levar a cabo mais uma das suas macabras operações de liquidação da elite santomense, que apelidara  de “comunistas” 


sobrevivente
Quem evitou a tragédia de cerca de centena meia de nativos santomenses foi o valoroso Bernardino Lopes Monteiro,  que era então o imediato e que, com outros elementos africanos da tripulação, obrigou o comandante a deixá-los na Ilha do Príncipe, após o que o forçou também de deixá-los no Senegal. Mais tarde, tendo regressado a Cabo Verde, donde era natural, mesmo com outra identificação, foi detido pela PIDE  e levado para o presidiu do Tarrafal.  

FORAM SALVOS DE SEREM AFOGADOS  E DEVORADOS PELOS TUBARÕES MAS  DEPOIS ESPERAVA-OS  UMA CADEIA ONDE ERAM TRATADOS COMO ANIMAIS  - É o que pode depreender-se do relatório de um inspector do  Ministério do Ultramar, na passagem que a seguir passo a transcrever, com data de 1963 – Mesmo 10 anos depois

Sum Marki,  pseudónimo  do  Senhor Marques –  - O escritor de origem portuguesa, nascido nas Ilhas Verdes do Equador, que cativou o coração dos santomenses, pela sua coragem na denúncia dos Massacres do  Batepá, quer antes quer depois do 25 de Abril   
Perseguido e preso pela  PIDE, que lhe aprendeu e queimou várias edições na sua própria tipografia, na Amadora  - E também  mal amado pela critica, que sempre o olhou de sobranceria  pela sua incursão na literatura popular, humor e erotismo da qual se servira como alternativa à de denúncia e de intervenção http://canoasdomar.blogspot.com/2020/06/sao-tome-sum-marky-1911-2003-para.html


QUANTOS OS  QUE TOMBARAM NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE FERNÃO DIAS, NOS BRUTAIS INTERROGATÓRIOS, CASAS INCENDIADAS OU NAS RUSGAS?

Quantos tombaram? – Esta questão foi também levantada num estudo do investigador Gerhard Seibert, que, diz o seguinte: (tradução de francês) “Os vários dados sobre o número de vítimas do massacre  divergem bastante.Mais pormenores em LE MASSACRE DE FÉVRIER 1953 À SÃO TOMÉ - Lusot