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sábado, 30 de setembro de 2023

A baleia também abalroa - Não ataca como a orca assassina ou o tubarão mas é um perigo à solta - Há 48 anos, só não me voltou a piroga, talvez por milagre de Deus - Provoca naufrágio na Austrália - Matou um homem e feriu outro que estariam a pescar

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador - Antigo navegador soliário  em pirogas no Golfo da Guiné

Algures no Golfo da Guiné, 24 de Novembro de 1975

A baleia não ataca como o tubarão ou como a orca assassina, mas é um enorme perigo solto no mar - Quem se aproximar onde elas andem a abocar os cardumes ou então se levante debaixo de alguma pequena embarcação, o mais provável ou é ser engolido no meio de outros peixes ou então ser afogado

É noticia da Lusa, de que, "dois homens estavam a pescar numa lancha quando uma baleia se aproximou e provocou o acidente, na costa leste da Austrália - Que se virou por volta das 06:00 (21:00 de sexta-feira em Lisboa), nas águas de La Perouse, 14 quilómetros a sudeste de Sydney, disse a polícia..

Diário de Bordo 1 Já é manhã do 35º dia. Acordei com o barulho de uma enorme baleia aqui próximo da canoa....De noite trovejou... Choveu um pouco mas passei-a normalmente. Claro, quase sempre acordado


Sim, tal como  desabafei para o meu registo gravado, que guardo no contentor de plástico  que se vê na imagem (a outra do lado, é a cauda de uma das baleias avistadas acordei mais cedo e assustado, com o barulho de enorme balanço,  Acordei estremunhado. Ato contínuo, ergui-me a ver o que era, supondo que tivesse sido apanhado pelas ondas da quilha ou da esteira de algum barco. Mas o  rugido e o cheio  nauseabundo a peixe , fez-me  logo pensar que era um enorme  cetáceo que tinha vindo à superfície a respirar, que se levantou abruptamente a escassos metros  da proa. Expelindo um bafo tremendo, que parecia ter emergido das profundezas  mais fundas dos abismos. 

Não sei como a não a escaqueirou. Deu uns valentes esguichos e até ainda  me molhou com uns espirros . Apanhei em cima de mim uma espécie de chuva miudinha,  mas a tresandar a uma podre maresia. 

Ainda o vi mergulhar e desaparecer. Levantou-se, deu uns sopros e umas borrifadelas, seguidas de alguns rugidos  e mergulhou outra vez, da mesma maneira e no mesmo sítio onde se levantou - Mais parecia um mostro pré-histórico, que subitamente havia emergido do fundo dos tempos ou um negro e volúvel submarino vivo, que, depois de errar no seu alvo, se ergueu com a cauda assente nas águas e o focinho nos ares, estrebuchou, guinou, mergulhou e desapareceu.

Não é a primeira vez que  se levantam junto à canoa. Mas desta vez, corri o risco de ser abalroado.  Foi mesmo muito rentinho.... Tive muita sorte!... Mas elas são cautelosas e eu até gosto de as ver - Deus as proteja dos assassinos que as pescam e de forma tão bárbara; se calhar veio por curiosidade para  ver que estranho  corpo era o da canoa, que tem o costado como a barriga dos  peixes. Ainda por cima de um  azulado claro  - Um gesto amável dos pescadores do Hornet, nos dias que passei a bordo do pesqueiro americano, de São Tomé a Ano Bom, onde fui largado - Foi pena não ter sido na corrente equatorial, um pouco mais a sul,  mas, enfim, estava escrito que deveria ser este o meu destino. . Estava pintada de alcatrão, pelo pescador santomense, que a talhou num tronco da floresta  - Se tivesse mantido a mesma cor, certamente que não teria sofrido tantos ataques dos tubarões, atraídos que são por tudo quanto se movimente, brilhe ou branqueie. Não sei se é por esta mesma razão que à volta da canoa, há  quase sempre peixes das mais variadas espécies -  e sobretudo muitos  tubarões pequenos. Felizmente que os perigosos gigantes, solitários, que a atacam, são mais raros. 





Diário de Bordo 3 - Sim, realmente, já não tenho a menor dúvida de estar numa enorme baía!... Baía ladeada de altas montanhas!... Que ora estão escondidas ora ligeiramente descobertas!... Mas quase sempre escondidas...



Estou exausto!... Estou fraco!... As forças cada vez fraquejam mais... A canoa está cheia de água!... O fundo está cheio de água, devido às constantes chuvadas que caíram esta manhã... Mas eu hei-de aproximar-me de terra... Eu sinto isso...

Estou completamente exaurido!...Não sinto nada no estômago... É um saco de fole... Há uma fraqueza geral em mim...mas o espírito permanece forte...A confiança é inabalável.... Eu sei que estas palavras que tenho pronunciado têm sido poucas... Tenho-me remetido num autêntico mutismo...
.
São aí quatro da tarde. O tempo mantém-se sereno... Pouco vento. Tenho andado à deriva visto o vento ser muito fraco.

Apanhei Há bocadito  um peixe  à mão. Foi para mim uma festa!... Estou mais satisfeito agora.... Evidentemente que o comi, crinho!... Mesmo quase vivo... Soube-me também!.. Ah! o meu estômago andava tão vazio!... Assim ficou melhor!...

Continuo a beber água das chuvas, misturada com água do mar. Não tenho anzóis para pescar. Mal me posso mexer, mas lá tenho que pegar no vertedouro para escoar a água que rapidamente se veio juntar à  salmoura já existente, que chocalha constantemente no fundo da canoa. Que não cessa de entrar pelas pequenas rachas e de se avolumar. Sinto-me fraco mas  também já nem sei até que ponto esta banheira ainda possa resistir. Se quem vai ceder primeiro, serei eu ou é a canoa que se vai abrir e voltar. Este tempo chuvoso, rouba-me as fracas energias que ainda vão dando  vida ao meu tão maltratado corpo. Estou enregelado, sinto-me entorpecido dos pés à cabeça, ensopado de água até aos ossos. A chuva não pára de cair e as horas arrastam-se lentas, ensopadas, penosas e desgastantes.

No entanto, mesmo desconhecendo a quantas ando, o dia segue o seu curso – Nada que se comparem às horas noturnas.  Mesmo decorrendo chuvosas e em gélida cadência, não têm a mesma cor das horas mortas de uma infinita  noite escura. Avançam alheias ao meu tormento, mas nem por isso se desligam do próprio compasso do tempo.  Um dia no mar, mesmo brumoso e chuvoso, nunca se pode comprar ao tumulto de um  mar agitado, rodopiando e tumultuando sob um céu espesso e cavernoso, imerso de solidão e liquefeito de  trevas.  Serão umas quantas da tarde, não sei. Já parou de chover mas estou todo partido. Não faço a menor ideia. 

Entretanto, o horizonte clareou, desfez-se da brumosa neblina em que se havia encoberto desde o meio da manhã e, embora cinzento, estende-se agora por um círculo, claramente mais amplo e afastado. O mar é agora um espelho lânguido, morno e calmo. Não se vêm os peixes em redor da canoa. Até parece que a vida se extinguiu. Ainda hoje não vi um raio de sol, contudo, paira em torno de mim uma estranha beleza e quietude. Tudo se confunde e dissipa num extenso manto de harmoniosa placidez e calmaria.


 Solitário e sem destino, sob um céu cinzento e deserto de uma manhã  brumosa, envolta por um horizonte encoberto  por densas névoas e por saturadas neblinas,  povoado  por silenciosos e enigmáticos sortilégios - Ó abençoada claridade das madrugadas, que sucede à cerração impenetrável das trevas, às longas horas de espera,  aos infinitos momentos de angústia e resignação! Afável serenidade, confiança e audácia  do meu ser, que me iluminas e abraças!... Vagueando esfomeado, transitório e frágil à superfície de um ondulante e vastíssimo manto de lívidas ondas,  que os turvados céus tingem e confundem, vogando à superfície  de um mar brumoso e infindo. 

Não choro o meu abandono, porque, apesar da  incerteza que me domina, vogando à deriva na vasta solidão que me rodeia,  dentro de mim não há lugar nem para  a derrota nem para o desespero; ainda vibra o silêncio que acalenta e não esmorece.  Subsiste   a intacta e vital vibração  da  esperança que não falece, que transforma o sofrimento em vitória. Porém, oh, Deus!... Vós, que até agora me acompanhais, lá do alto, que certamente olhais  os imensos caminhos da  minha náutica e errante aventura, sabereis, com certeza, a dor que   vai  dentro da minha alma!...   O quanto está   debilitado e  enfraquecido o meu corpo, quanta incerteza  vai o meu coração! E qual o peso do calvário por onde me arrasto e vou sendo arrastado.



Constantemente torturado pelas minhas  angustias, sinto que física  e psicologicamente me encontro  noutro mundo. Não, não, este não é o mundo de quem vive com os pés assentes em terra. Flutuo continuamente à flor do abismo, dentro de uma urna muito frágil, que ora se ergue ora vai a cambalear, mas nem é isso que ocupa mais os meus pensamentos, pois já estou familiarizado, mas a fraqueza que me invade. No entanto, mesmo no limiar das minhas forças, se a minha canoa resistir, tenho a certeza que eu não vou desistir de lutar... Estou resignado  a suportar, com infinita paciência, todos os reveses e adversidades da minha triste sorte. Resignado, sim, mas não me vou render; o que eu não quero é  sofrer ainda mais. Só cruzo os braços quando me deito, quando me estendo no fundo da canoa e junto as mãos ao peito. Porque, eu sei, que, em cada alvorada,  há o renascer de um novo dia, de uma noite que se extingue e a luz  apaga,  uma nova promessa e uma renovada esperança..  

Parcas têm sido  as minhas palavras para o meu diário de bordo,  tal como no dia de ontem, porém, imensos os meus pensamentos, inarráveis os tormentos que assolam o meu coração


Geralmente, só adormeço de cansaço, quando a madrugada já vai entrada. Raro acontece antes da meia-noite. Por um lado, é o grande desconforto de ter o estômago vazio e o fundo da canoa ser duro e estar encharcado. Pois o colchão (de praia) há muito rebentou e de nada me serve, Por outro lado, são os muitos pensamentos, a imensa incerteza de que a canoa não resista. .É o que mais me preocupa.  E também  tenho muito receio  de ser abalroado - Sim, já vi alguns barcos no horizonte e já uma manhã um cargueiro passou muito próximo de mim - E eu agitar a minha capa, agitar e apitar  e ele a passar ao meu lado, como um monstro....É talvez ainda maior o desapontamento e a crueldade, que quando se mostra um rebuçado a uma criança e se lhe nega, ante os seus olhos ávidos e espantados.... É intraduzível a tristeza e a deceção que se apoderou de mim... Senti-me então a criatura mais abandonada  e triste deste mundo....E mais me convenci que só podia depender de mim, da minha força de vontade.

Além disso, de noite nunca sei para onde as correntes me arrastam..  E as correntes são quase como os ventos, nem sempre tomam o mesmo  sentido. Por vezes, até me parecem pequenos rios. São correntes dentro de outras correntes. Receio que me aproxime da costa e seja atirado contra a rebentação de algum penedo.. Tenho o sono dos gatos, à mínima coisa, acordo. Ainda não consegui dormir uma noite inteira. Ou porque chove ou porque, mesmo sem chover,  as constantes pancadas e balanços das vagas na canoa, atordoam-me, perturbam-me o descanso. O chape-chape deixa-me a cabeça num frangalho - É um  autêntico martírio! . Porém, a manhã já raiou, embora sombria e  com ameaça de trovoadas, por agora, cá vou indo,  levado, não sei para onde. 

Se olhar para a bússola, sei a direcção que a canoa toma, mas os ventos e as correntes fazem-na mudar constantemente.  . Tanto pode ser empurrada para norte, sul, leste ou oeste. Se não fosse isso, já tinha dado a qualquer ponto da costa.  Vou para onde me empurrar o vento e os caprichos das correntes. .Eu sou um zé ninguém e a minha canoa uma tábua flutuante...  Estou muito cansado de tanto olhar para o horizonte e para a bússola... Lá ponho a vela, quando o vento é favorável, mas com muito esforço... Ainda se tivesse um remo apropriado, mas o que improvisei, é demasiado tosco . Por isso, vou-me entregando à mercê de Deus...Aqui no mar sinto um grande apelo às minhas raízes cristãs. A fé é um bom suplemento de energias . E estou convencido que tenho um olhar divino a estender-me a sua bênção. Mas em terra eu não sou assim tão crente.

Também já tenho  avistado muitos golfinhos. Nadam em fila lado a lado, uns dos outros. Lá vão à sua vida, e eu continuo na minha. Uma noite resolveram brincar comigo. Fizeram do casco o seu arco. Como estava muito escuro, deixavam um rasto luminescente...Exprimiam uns grunhidos, muito estranhos, saindo do fundo das águas, como  foguetes da escuridão, deixando um rasto luminoso. Era cambalhota atrás de  cambalhota por sobre a canoa.  Até parecia um foguetório. . Receando que algum caísse dentro da canoa e ma partisse, dei umas apitadelas com o apito que trago sempre pendurado no pescoço e  desapareceram. Se calhar vieram-me acordar-me para a vida. , Foi numa daquelas noites muito tristes, em que me sentia muito fraco  e  deprimido. Mas agora já estou mais acostumado a viver com a minha fraqueza. Não tenho comido nada. Tenho estômago, mesmo duro e encolhido. Quanto arroto, parece que até me vem à boca, o gosto às minhas vísceras.  Vá lá que não me tem faltado água das chuvas. Houve uns dias em que não choveu e só bebi água do mar. .. Bebia de vez em quando  aos golinhos para não me fazer mal e também para não me desidratar. Não havia uma nuvem no céu e nem  uma aragem corria... Eram calmarias atrás de calmarias,,  Que tormento o meu!. Antes apanhar água das chuvas em cima do corpo, de que não chover e morrer de sede.

Numa tarde, era tanto, tanto  o calor que me queimava a garganta, quase me sinta  sufocado (sim, este é um mar equatorial, em que o sol sob a pino e os dias e as noites são sempre iguais) que lasquei um pedacinho da borda da canoa, que estava húmida e fiz uma espécie de chiclete. ... Meu Deus!... No mar a  fome é dolorosa, mas a sede é ainda  pior  - É uma tortura insuportável!  - E, todavia, tanta água à minha volta!...Que suplício!... Eu lá ia bebendo uns golitos de água salgada, mas ficava sempre com sede. Não é a mesma coisa que a das chuvas ou água potável. Serve para amenizar mas pouco mais dava que ir molhando os lábios e humedecendo a garganta.  . Mesmo assim, ás vezes lá ia fechando os olhos, tomando-lhe o gosto e bebendo um pouco mais. 

Curiosamente, agora que estou com o estômago completamente vazio e encolhido, estou mais resignado. Sentia-me menos adaptado, quando tinha água e alimentos, até cheguei a chorar. Não de desespero mas por algo estranho a mim, misto de uma imensa tristeza a e abandono. Agora, não sei porquê, não choro, secaram-se-me  as lágrimas. Se Deus me levar, que seja essa a sua santa vontade. A sepultura  está sempre aberta ao meu lado.  Não vou dar trabalho  a ninguém.  Mas a fome  é  realmente um suplício  terrível! .E, então,  dormir de estômago vazio e encharcado, pior ainda!... Ainda se ao menos pudesse repousar!.... Bebo água e arroto, com um sabor desagradável vindo do estômago.  Costuma arrotar quem tem a barriga cheia, mas eu aqui arroto por ter a barriga vazia.  É o meu saco de fole  a implorar-me comida e eu não ter nada com que matar a fome. Ainda se ao menos conseguisse pescar alguma coisa. Fico debruçado sobre a borda da canoa, momentos infindos, tentando apanhá-los à mão, mas agora nem isso já consigo. Já não sou tão lesto.

 Quem vai à praia sabe o apetite que traz de lá quando volta a casa. O mar desgasta muito. Enfim, cá  me vou acostumando a viver com a minha fraqueza e com a minha fome.. Estou mais resignado... Vou-me  entregando pacientemente  ao meu silêncio e à  minha solidão. Claro, que não me sinto vencido. Vou lutando com as minhas forças, conforme posso.  Vivo num estado em que é o sentimento da própria tristeza que me alimenta e  me conforma. Sim, sem desespero e sem blasfemar contra ninguém, alimento-me de marezia e de tristeza.  Se calhar até desgasta mais a alegria de que a resignação.  Naquela noite, em que os golfinhos me visitaram, eu estava mesmo muito abatido!".. E não me queria deitar... Receando que me desse alguma coisa de noite e não mais acordasse.    Será que vieram acordar-me e despertar-me para a vida?!...É bem possível..  E  a baleia?!... Não terá sido a mesma coisa?!....Vá lá malandro!... Acorda lá que já são horas de te levantares....E, de facto, há terra à vista. Resta saber se lá chego hoje e não sou afastado para longe, como já me tem ao acontecido.

O horizonte está brumoso. vejo para lá, de uma densa neblina, uns recortes escuros. Não sei bem o que será. Umas vezes parecem-me nuvens escuras e encasteladas, , outras vezes fazem-me lembrar  perfis de montanhas. Oxalá seja terra.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Tejo - Este é o lendário Rio mais tranquilo, menos conhecido e menos cantado, mas não menos poético. Mas bem mais surpreendente com os seus maravilhosos estuários e contrastes que ladeiam as suas íngremes margens a montante e nas quais haverá ainda muita história inscrita e longínqua mas perdida ou esquecida nalgumas faces das suas xistosas pedras

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista 




A lembrar as encostas do Douro, ambos nascidos nas terras dos nuestros hermanos Agora mais cheio, pelas chuvadas de setembro, mais limpo e belo, despido do verde poluído que as secas e outros poluentes lhe infligiram e o atormentaram.


Liberto de cacilheiros, veleiros e dos navios sofisticados, cruzeiros ou mesmo fantasmas que o percorrem no seu mais largo estuário ao espraiar-se antes e se perder e desaguar nas águas do Atlântico.

Pois longe vão os dias das frágeis caravelas, cantadas pelo épico poeta Luís Camões, que de Belém partiram para desbravar mares nunca dantes navegados e desconhecidos. Os tempos agora são menos de aventura e mais de consumismo e exibicionismo.

Estas algumas das muitas e belas imagens que registámos e pudemos contemplar de regresso à capital através de uma das janelas do comboio, para já não falar das que se podem admirar ao longo da Serra da Estrela, que também fotografámos.

Sim, este é o rio mais extenso da Península Ibérica . Que tem outro encanto visto ao longo de uma parte daquela linha férrea – Onde não há a mesma monotonia paisagística de outras viagens de carro ou de comboio. Lembrando alguns dos contrafortes e margens do Douro, tanto de xisto como de granito. Mas talvez ainda mais singulares

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Não tem as vinhas durienses, mas é revestido por belos olivais, pinhais, corredores de miradouros, quintas e praias fluviais - Acabando depois por se alagar e estender à medida que entra no termo do Entroncamento, Santarém e Vila Franca de Xira, rodeado de maravilhosas lezírias de pomares, de milhos, hortas, campos de milhos. vinhedos e arrozais.


Vai cheio, despido do verde poluído e mais belo. Nasce em Espanha — onde é conhecido como Tajo — a 1 593 m de altitude na serra de Albarracim, e após um percurso de cerca de 1 007 km, desagua no oceano Atlântico formando um estuário em Lisboa. A sua bacia hidrográfica é de 80 600 km² (55 750 km² em Espanha e 24 850 km² em Portugal), sendo a segunda mais importante da Península Ibérica depois da do rio Ebro.

Nas suas margens ficam localidades espanholas como Toledo, Aranjuez e Talavera de la Reina, e portuguesas como Abrantes, Santarém, Salvaterra de Magos, Vila Franca de Xira, Alverca do Ribatejo, Forte da Casa, Póvoa de Santa Iria, Sacavém, Alcochete, Montijo, Moita, Barreiro, Seixal, Almada e Lisboa.


segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Santuário Rupestre da Pedra da Cabeleira de Nª Srª- Surpreendente imagem de teia de aranha na manhã do Equinócio do Outono, pendurada à entrada a borda superior do semi-arco da graciosa gruta que atravessa e se assemelha à réplica solar que ali se pode contemplar ao nascer do sol que a ilumina de ponta a aponta através do seu eixo central no primeiro dia dos equinócios

                                     Jorge Trabulo Marques - Jornalista e Investigador 



Na manhã do último sábado, dia 23, na já tradicional sessão de boas-vindas ao primeiro dia do Outono, que decorreu ns Pedra da Cabeleira de Nª Srª, coforme postagem anterior, num dos sítios do maciço dos Tambores, que é atravessada pelos raios solares do nascer do sol nos Equinócios do Outono e da Primavera, proporcionando um deslumbrante espectro solar, sim, quem haveria de imaginar que ali iriamos deparar como uma espécie de réplica da imagem que ali íamos contemplar e, de algum modo também a fazer lembrar a da imagem do entrançado da pintura rupestre que ali existe num nicho do seu interior, que, um estudo da toponímia local, do Prof. Moisés Espírito Santo, classifica como símbolo solar

Coincidência?.. Diz a sabedoria popular que nada acontece por mero acaso – Seja como for, não deixou de surpreender especialmente a Drª Antonieta Maria de Jesus Rosendo, uma das nossas peregrinas, quando ali se debruçou junto ao gracioso portal e nos chamou atenção daquela tão curiosa teia, que ali estava pendurada , não resistindo ao fascínio de se ajoelhar e de entrar pela gruta adentro e observar atentamente o seu teto e a pintura rupestre ali existente.

Estudo em nave espacial, em 2020, revelou interessante comportamento  aranhas - Foi referido que, um par de Aracnídeos, que passaram dois meses flutuando na Estação Espacial Internacional para uma experiência científica por um grupo de cientistas suíços e americanos, revelaram um comportamento muito curioso , sobre como estes insectos produzem suas teias na ausência de gravidade .. Os resultados da observação de dois meses foram publicados no começo na revista científica Science of Nature.



Tal como já dissemos, vários têm sido os investigadores deste santuário, que ali se têm deslocado e debruçado sobre o monumental megálito - Além do estudo de Adriano Vasco Rodrigues, o primeiro académico e arqueólogo a pronunciar-se dobre a Pedra da Cabeleira de Nª Srª, sim, do prestigiado Director Jubilado da Schola Europaea , U.E. Bélgica. Ex-Professor Associado da Unividade Portucalense, antigo colaborador do Instituto Superior de Investigação Cientifica de Angola, autor de numeoras publicações sobre educação, pré-história, arqueologia e arte africana,de que evidencia Arqueologia da Península Hispânic

Também o referido templo solar foi objecto de especial atenção por parte Moisés Espírito Santo, autor de várias obras na área da sociologia e etnologia, professor catedrático jubilado em Sociologia e Etnologia das Religiões, desde 2004, um dos fundadores e membros do Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões (1991-2004), do Instituto Mediterrânico (1991-2004) e da Associação de Estudos Rurais (1991-2004), cujos estudos  contribuiram decisivamente, com as suas investigações, para o conhecimento científico da origem e da identidade da Língua Portuguesa, com origem no Noroeste da Península Ibérica   e cuja matriz deriva das variantes de que foi objeto o Fenício, o Hebraico antigo e o Hebraico,

No seguimento da sua deslocação ao Santuário e à minha aldeia, Chãs, freguesia de V. N. de Foz Côa, diz ter dado particular atenção aos nomes dos sítios e das pedras dos calendários. Frisando que, o que ali observou e pôde interpretar “não consta nos livros de História de Portugal” onde - segundo afirma -, “crassa ignorância e uma verdadeira fobia quanto à cultura dos nossos antepassados lusitanos. 


Castro do Curral da Pedra - Mancheia-Tambores

Os historiadores e arqueólogos procuram fazer-nos crer – acrescenta o investigador - “que os lusitanos eram uma horde de selvagens, atrasados e ignorantes, quando foram o povo que «durante mais tempo se opôs aos romanos», conclui o Catedrático, citando Estrabão

Poderei citar muitos mais testemunhos da riqueza pré-histórica da região, os quais localizei através das minhas prospecções, entre eles, necrópoles, grutas, abrigos, castros e dos mais representativos a Estátua-menhir de Longroiva, representando um homem, possivelmente um caçador, acompanhado pelo mesmo equipamento do homem encontrado na geleira do Tirol, em Setembro de 1991, entre a Itália e a Suíça, conhecido por Ossi.

"Pedra da Cabeleira é o nome da pedra grande através de cuja fenda se vê o sol nascer nos equinócios. Excluirmos a lenda da «cabeleira que Nossa Senhora aí deixou» por ser uma adaptação recente do nome original à religião católica popular. Como a fenda da pedra serve para ver, nos equinócios, o nascer do sol, Cabeleira é uma corrupção de qabal awra [lê-se: cabalaura] em que qabal (do acádico) significa «no meio, mediano, posição ao meio», e awra (do cananita e hebraico) «aurora, nascer do sol».


Portanto qabal awra significou literalmente «posição ao meio do nascer do sol», isto é, «posição do nascer do sol ao meio» do ano, «posição mediana do nascer do sol», sendo os equinócios a posição do sol «ao meio» do seu aparente percurso celeste. Em hebraico, qbl [lê-se: qabal] também significa «aceitar, recolher, acolher»; qbl awra seria então «aceita, recebe, acolhe o nascer do sol», tratando-se duma significação complementar (a fenda acolhe o sol nascente).

O QUE DIZ O PRIMEIRO ESTUDO DA PEDRA DA CABELEIRA DE Nª SRª

O Prof. Adriano Vasco Rodrigues, um grande entusiasta por estes lugares, nomeadamente pela Pedra da Cabeleira, que, já em 1956, havia visitado e classificado como “um local de sacrifícios ou culto do crânio”, diz o seguinte:

- “Em 1957, tive oportunidade de estudar a fraga conhecida com o nome da Cabeleira de Nossa Senhora, que classifiquei como santuário pré-histórico, integrado cronologicamente na revolução neolítica. Pelas suas características sugere a existência de um culto ao crânio, característico, na Península Hispânica, da transição do Paleolítico para o Neolítico, segundo o Prof. Pericot. A identificação com uma entidade feminina, que sofreu consagração à Virgem Maria, acompanhada de lenda popular, sugere um culto inicial à Deusa Mãe, símbolo da fertilidade.

O início da agricultura está ligado ao culto da Deusa Mãe, privilegiando a germinação das plantas. Foi trazido do Médio Oriente para o Ocidente peninsular pelos primeiros povos agricultores.

Junto deste santuário localizei uma pequena cavidade em forma de concha, que poderá ter servido para recolha de sangue proveniente de sacrifícios. Em frente de uma das entradas do abrigo interior daquela fraga, havia uma pedra quadrangular, com 1,5 m. de lado, em forma de arco, que se adaptava perfeitamente, deixando uma abertura suficiente para permitir a entrada dos raios solares.

O jornalista Jorge Trabulo Marques, natural das Chãs, do concelho de Vila Nova de Foz Côa, que meritoriamente tem pesquisado toda esta área, levantou o problema de se tratar de um calendário solar, tendo o homem pré-histórico aproveitando este monumento natural e adaptando-o, como se comprovou pela presença da pedra, que atrás referi. Esta hipótese não foi levantada despropositadamente, pois está comprovado por testemunhos de períodos coevos em que foram levantados calendários relacionados com a marcação de solstícios de Verão e de Inverno. O culto ao Sol é fundamental nas sociedades primitivas e o conhecimento do calendário das estações para poderem fazer as sementeiras. O culto à Deusa Mãe e ao Sol dos primeiros agricultores está relacionado.

Também já num tempo pré-histórico mais próximo dos nossos dias, temos o exemplo de Stonehenge, convidando à observação do Sun rose e do summer solstice. Na Irlanda, o túmulo chamado New Grange, mostra uma abertura pela qual entra a luz solar no dia do solstício de Inverno percorrendo a câmara até à sua parede final.

Dou os meus parabéns ao jornalista e fotógrafo Jorge Trabulo Marques pela iniciativa do turismo cultural que vem levando a efeito com tanto sucesso.”

INTERESSANTES OBSERVAÇÕES DE TOM GRAVES

Autor do famoso livro - Agulhas de Pedra, A Acupunctura da Terra – o escritor e radiestesista, Tom Graves, que veio expressamente da Austrália para visitar o local

O autor da obra sobre a influência da terra na alma e vida do ser humano, deslocou-se, em Outubro de 2008,  da Austrália aos Templos do Sol para ali confirmar a sua teoria de que «Em toda a parte existe uma interação entre as pessoas e o lugar – e o lugar também tem as suas escolhas.»tom graves veio da austrália para estudar as pedras

Espantoso achado, encontrado nos Tambores  – pelo autor deste blogue – Denota faltar-lhe uma parte e a ponta - 



Na anta da Cunha·Baixa (Mangualde), a que me referi a cima, Pág.71, encontrei um objecto de granito, com a conformação indicada na figura 73: o objecto tem de comprimento 1m,20 e de maior largura om,20, apresentando ao longo uma serie de sulcos feitos com toda a regularidade; estava deitado à entrada da camara. Não me parece fácil determinar precisamente o uso d'este objecto. Nunca vi outro igual, conquanto tenha encontrado dentro das antas pedras mais ou menos compridas e irregulares, que talvez lá não fossem postas sem especial intuito I. Num livro do sr. Joly s vem o desenho de um objecto que represento na fig. 74, o qual não deixa de ter alguma parecença com o de cima, embora  talvez seja muito menor, e de outra substância; o A. denomina-o registre-se de  comptes, Inclino-me a crer que o objecto Cunha-Baixa representa um troféu, designado os sulcos

A linha de água do Vale da Ribeira Centeeira, ou Graben de Longroiva, mais conhecido por Vale dos Areais, vai desaguar ao Côa, depois de tomar o nome de Ribeira dos Piscosem cuja foz  se situa um  dos principais núcleos de gravuras rupestres classificados como Património da Humanidade. 

Do lado de lá, as encostas são xistosas e ficam localizadas as povoações da Pestana, Cornalheira, Gamoais e Vale do Pereiro, onde se estendem lindíssimas vinhas  - Sobranceiras ao vale, situam-se duas magnificas quintas, muito bem aproveitadas, a Quinta da Veiga e a Quinta da Canameira – A Quinta dos Areais, outra das áreas fertilíssimas, onde até o Salazar ia deliciar-se com a sua fruta e a comida regional,  lamentavelmente, nos últimos anos  tem estado praticamente desaproveitada - Com  um extenso pomar de pereiras, carregado de peras,  inundado de arbustos e de silvas, em terrenos onde se chegaram a cultivar belas hortas e meloais – A propriedade é pertença dos antigos herdeiros de um  médico de Salazar, que residem em Viseu, onde há mais pinhais de que hortas.

graben de Longroiva é o prolongamento para Sul do graben da Vilariça. É uma depressão tectónica formada com o desnivelamento dos blocos laterais e abatimento do bloco central de uma fracturação paralela numa faixa de 0,5 a 1 km de largura na Falha da Vilariça. O bloco Oeste desenvolve-se em patamares desde a Ribeira da Centeeira, que corta o vale, a altitudes da ordem de 300m, até à região de Mêda, a altitudes de 650 a 750 m. O bloco Este forma uma escarpa de falha de 150 a 200 metros de altura. https://www.geocaching.com/geocache/GC3G5EN


sábado, 23 de setembro de 2023

Equinócio do Outono 2023 – Recebido em manhã suave e luminosa, em Chãs - Vila Nova de Foz Côa –. Poucos, mas imbuídos de calorosa alegria, em ação de graças aos frutos que a terra nos oferece

                                               Jorge Trabulo Marques - Há videos a editar

O primeiro dia do Outono, por estas paragens do maciço granítico dos tambores, nos templos do Sol, foi recebido com momentos de poesia, iluminados pelo esplendor solar, cremos que por todo o concelho de V. N. de Foz Côa e região envolvente, coroado por um céu de um azul límpido e brilhante, a fazer esquecer os dias de ventanias e chuvadas mais invernias de que de despedida da estação mais quente do ano

Agradecimento especial à Junta de Freguesia – Pelo cuidado que teve em mandar limpar de giestas e das silvas uma parte do recinto, facilitando-nos, deste modo, a celebração do evento.

O CALOROSO ABRAÇO DE GRATIDÃO

À sempre amável e preciosa presença de  António Lourenço, José Lebreiro e Pedro Daniel, bem como ao Vasco Costa Marques, que aguardou na sua residência em Foz Côa, conhecida pelo solar do Conde de Pinhel, a vinda de sua  esposa de Tavira, Algarve,  Antonieta Maria de Jesus Rosendo e sua amiga Ana Paula Serrão Martins – Que, mesmo depois de uma longa viagem, não hesitaram em vir saudar o primeiro dia do Outono, tendo-nos proporcionado momentos de calorosa simpatia e alegria

A todos a minha sincera gratidão por não olharem ao incómodo  de se levantarem cedinho, com um tempo mais convidativo a  ficar no quentinho da caminha de que a ter que sacrificar mais algumas horas de merecido repouso

Lemos poemas, cujos registos contámos editar, logo que possível, de Manuel Daniel, nosso saudoso e distinto amigo, que ali se deslocou algumas vezes, uma das quais pouco antes do seu falecimento, dia 22 de Janeiro de 2021 e  de Dom Manuel António Mendes dos Santos, ex-Bispo de S. Tomé, que  nos honrou com a sua presença no Equinócio do Outono de 2019, bem como dos poetas, António Ramos Rosa e de sua esposa, Agripina Costa Marques, Manuel Alegre, Maria de Assunção carqueja, saudosa esposa de Adriano Vasco Rodrigues, que também ali chegou dar-nos o prazer da sua participação, juntamente com Adriano Vasco Rodrigues, o primeiro investigador a debruçar-se sobre a Pedra da Cabeleira de Nº Sra, assim como  dos poetas Miguel Torga e Teixeira de Pascoais, da poetiza Fernanda de Castro, Alda do Espírito santo e também de dois poetas do concelho de Foz Côa, Hamilton Tavares  e Orlando Marçal